domingo, julho 31, 2011

O Senhor da Boa Viagem - Reeditado e Ilustrado.



A minha amiga e artista de enorme talento, Alexandra Prieto, é a pessoa que tem comigo uma intensa e imensa afinidade artística, interpretando ao seu modo as minhas palavras dando-lhe forma, cor e relevo como mais ninguém o conseguiu até agora.
Fico sempre espantando com o resultado plástico que a Alexandra faz da leitura dos meus escritos, servindo o presente para a republicação de um conto que escrevi há relativamente pouco tempo, mas que, pelo seu tamanho, não terá encorajado muita gente a lê-lo do principio ao fim.
Pessoalmente recomendo-o. É uma estória enternecedora em que muitos dos leitores cá do estaminé se reconhecerão, apesar de ser completamente ficcionada.
A personagem central foi construída a partir de muitos homens que conheci ao longo da vida e que compactei neste Senhor da Boa Viagem que agora vos convido a ler, ou a reler.
Um muito obrigado à Alexandra Prieto por aceitar os reptos que lhe lanço, e que, com as suas ilustrações ( que depois viram telas de enorme êxito!) enriquece este espaço que ao longo destes cinco anos tem procurado ser um sítio onde a criatividade sempre presente não seja palavra vã.

O Senhor da Boa Viagem - Ilustração de Alexandra Prieto


O Senhor da Boa Viagem


Levantou-se de manhãzinha ainda o sol era uma criança de berço. Tratou da higiene matinal em quase absoluto silêncio de modo a não despertar a sua Maria Antónia que, como quase todas as mulheres, tinha maus fígados matinais; da parte da tarde era uma joia de pessoa, mas pela manhã não se podia aturar!

Olhou-se ao espelho, passou as mãos pelas rugas que mais pareciam regos e reviu em cada uma delas um episódio marcante da sua vida.
As primeiras, simbolizavam o nascimento dos filhos que lhe tinham calhado na lotaria da vida o que para o caso presente significava prémio dos grandes. Nove foram os filhos que Maria Antónia lhe dera e todos vivos graças a Deus.

Os outros sulcos que lhe marcavam a face representavam outros tantos episódios da sua vida. A ida à guerra logo em sessenta e um quando esta rebentou em Angola; a passagem a salto da fronteira à procura de vida melhor que a miséria por cá vivida; a epopeia dum campaniço por terras francesas, onde tudo era novo e estranho a começar pela língua.

Anos mais tarde nasceram-lhe ao canto de cada olho duas rugas de alegria: a primeira pela notícia do seu país finalmente libertado, a outra, por poder regressar e com as suas mãos contribuir para a construção desse Portugal Novo que acabara de nascer por vontade do povo a que pertence.

De ruga em ruga, de vinco em vinco, de sulco em sulco foi-lhe o tempo esculpindo o rosto. Hoje, Chico da Horta, como sempre foi conhecido, conta setenta e dois anos e outras tantas estórias vividas numa vida cheia de perigos e de aventuras.

Na Rotunda das Ovelhas em Castro Verde onde passa muitas das suas manhãs, já o não chamam assim; apelidaram-no de Primeiro de Abril, por não vislumbrarem muita verosimilhança nos relatos da sua vida. O narrador sabe que são todos verdadeiros, até porque foi ele que os criou, mas como não pode interagir com os companheiros de rotunda sob pena de manipular os personagens, só pode estar solidário com Chico da Horta que ultimamente se ensimesmou desde que desconfiou que os seus correligionários assassinos do tempo, não davam crédito às suas façanhas.

Estamos em Junho, os dias são os maiores do ano, logo, de manhãs claras e entardeceres serôdios, coisa que faz com que Chico da Horta considere ser esta a altura do ano que mais aprecia, daí não querer perder pitada dela, levantando-se logo o astro-rei dê de vaia lá para as bandas do montado.

Já se aperaltou para o passeio matinal. Não dispensa a bota alentejana que de dois em dois anos compra na feira de Castro ao mesmo sapateiro de sempre, um homem de Almodôvar que tem a reputação no nível BBB: Bom, Bonito e Barato!

Dantes não dispensava o colete tradicional que adornava com a corrente e o respectivo relógio de bolso, herança única de seu pai, coisa que o envaidecia de sobremaneira. Mas, desde que um tal Marroquino de seu nome Mohamed passou lá pela rotunda e lhe vendeu um colete de repórter de cor caqui pela módica quantia de seis euros muito regateados, que Chico não quer outra indumentária.

Antes de sair para a rua faz um check list a todos os bolsos verificando se nada lhe falta.
No bolso de cima não podem faltar: um pequeno bloco de notas e três esferográficas bic de cores diferentes: verde, vermelho e preto. No bolso do lado contrário ao coração o inevitável telemóvel, para que Maria Antónia o possa avisar que as sopas estão na mesa para o caso de se atrasar, o que seria coisa rara, já que pontualidade britânica, não é só uma das suas qualidades, também é um dos seus grandes defeitos.

No pequeno bolso que lhe fica à altura de descansar o dedo polegar, o inevitável relógio de corrente que lhe confere uma espécie de ar aristocrático-popularucho.

Noutro dos múltiplos bolsos do colete multifunções, os inevitáveis sacos plásticos dobrados em trinta voltas que cabem às dezenas no mais ínfimo espaço, não vá o diabo tecê-las e ter de fazer umas mercas e não ter onde transportar os haveres.

Num dos bolsos com fecho de correr é o lugar para o pente e para o espelho, um hábito desde criança enraizado e que Chico da Horta faz questão em cultivar. Se o pente é um banal pente de plástico, já o espelho é uma relíquia que guarda há muitos anos; trata-se de um espelhinho circular que tem na face não espelhada um jogo com duas balizas e uma pequena esfera metálica, jogo esse, com que engana a solidão a que cada vez mais está votado.

Num outro compartimento mesmo por baixo daquele dedicado ao relógio de seu pai, assim numa espécie de vizinhança de longa data, tem lugar assegurado a sua inseparável navalhinha, ferramenta que o tem acompanhado uma vida, tendo ido e vindo a Angola, passado por terras de França e nalguns apertos o ter safado de alguma tuna de porradas. A sua estima por tão apreciado objecto exige que a mesma, também esteja presa por uma corrente que lhe parte do cinto e termina na ditosa amiga de gume gasto pelo passar do esmeril e dos anos.

Para terminar em matéria de correntes só falta referir que também o porta-chaves é contemplado com uma, e assim, Chico da Horta, jamais sai de casa sem as sua três correias ao tiracolo.

Nos bolsos de dentro, portanto locais para as coisas íntimas, coisas do foro pessoal, é onde guarda duas carteiras. Ao lado direito a dos documentos e fotos dos que mais quer, mesmo que amarelecidas pelo tempo. Do outro lado, a do dinheiro que, vá-se lá saber porquê gosta de ostentar, daí andar sempre com quantias significativas, mas sempre em notas de vinte, dez e cinco euros para com o seu volume poder impressionar os poucos que com ele privam. Este bolso para além do fecho de correr é ainda reforçado com uma pregadeira não vá o raio do demo estar atrás da porta.

E para poder sair à rua só falta conferir uma coisa! Se no seu porta moedas de cabedal do género gaveta em forma de ferradura existem os trocos suficientes para o seu vício diário: o café e o jornal com as notícias frescas.

De tanto vestir o colete de fotógrafo, começaram a chamar-lhe de: Repórter X, não só pela vestimenta mas também pela gatafunhagem que faz com as diversas canetas no seu pequeno bloco.

Conta-se até, que foi a este antroponómino camaleão que dois cidadãos viajando de automóvel de norte para sul, para passar o tempo vinham-se mutuamente questionando sobre o nome dos naturais das terras que atravessavam. Os de Lisboa era Lisbonenses, os de Setúbal Setubalenses e por aí fora. Quando estavam perto de Castro Verde não atinavam com o nome dos naturais desta vila. Um dizia que eram Campaniços, o outro teimava que eram Castroverdenses, foi já em plena Rotunda das Ovelhas que abeirando-se do permanente grupo de reformados aí presente que escolheram o Reporter X para serem esclarecidos.

Depois dos cumprimentos da praxe um deles disparou – " Amigo do colete com ar de quem sabe estas coisas. Diga-me lá como se chamam aqui os de Castro?
Chico da Horta, jogou com dois dedos a boina para trás, revelando a alva tez em comparação com o tom amorenado do resto da pele visível. Com os restantes dedos da mão coçava a dita testa em busca de resposta para tão invulgar demanda.
Depois de pensar e repensar deu-se por vencido e resolveu finalizar a questão replicando.
- Eu sou conhecido por conhecer muita coisa e mesmo muita gente, MAS TODOS OS DE CASTRO, confesso que não sei!
A gargalhada foi geral. A resposta dada passou então a fazer parte do anedotário alentejano para regalo das hordas de urbanos semianalfabetos que gostam de pavonear a sua ignorância pelos mais inusitados lugares.

Os dias foram passando; as semanas sendo devoradas pelo calendário; os meses sucumbindo ao ciclo das estações e os anos: ainda mal desaparecia o cu dum já aparecia a cabeça do outro, fazendo do tempo um cavalo selvagem de crina ao vento que galopa sem cessar, marcando cada um deles um novo sulco na sua enrugada figura.

Com o tempo foi ficando cada vez mais retraído; mais taciturno; mais ensimesmado; até que, houve um dia em que deixou mesmo de falar tendo decidido passar a viver para dentro, para um mundo unicamente habitado por si e pelos fantasmas dos seus setenta e dois anos de vida.

Certo dia leu no jornal que um tal João Manuel Serra lá da capital, homem das suas idades que saía à noite de casa para saudar com um aceno e um sorriso os automobilistas que passavam, havia morrido subitamente.

Leu a bizarra história de vida deste homem e alguma coisa mexeu com ele. Como se fosse comandado por essa estranha força chamada destino, sentiu um apelo vindo lá do fundo das entranhas; uma espécie de encarnação; uma metamorfose; um tipo de passagem de testemunho e passou a vestir a pele, a assumir o papel de senhor do adeus.

A partir desse dia abandonou o ar de desiludido da vida e passou a sorrir, a dar de vaia e desejar boa viagem a cada carro que passa na Rotunda das Ovelhas, alegrando assim a praça com o despropósito do seu repetido gesto.

Agora, já não é Chico da Horta; nem Primeiro de Janeiro; nem Repórter X. Hoje em dia, todos os que por ali passam, lhe devolvem o aceno e o chamam carinhosamente de: Senhor da Boa Viagem.

Escrito por pulanito @ julho 31, 2011   9 comentários

sábado, julho 16, 2011

Surpresas de Sábado de Manhã





São oito da manhã de dia de sábado. Acordo acabrunhado com vontade de continuar a dormir, mas o raio do corpo, vá-se lá saber porquê, obriga-me a saltar da cama, como que a punir-me pelos excessos da véspera.

Ao Sábado de manhã, assim numa espécie de ritual solitário, abro a Internet e consulto o Euromilhões. Tenho uma secreta esperança ( eu e mais uns quantos milhões!) de ao abrir o site dos jogos santa casa, possa conquistar a tão desejada independência.
Sábado após sábado, vou cumprindo esse desígnio para que estarei certamente fadado, que é, dizer para com os meus botões. – “P’ra semana é que é!”. E lá vou continuando a alimentar o monstro da incerteza em vez de apostar em mim.
Comparativamente, é mais provável (em termos matemáticos e de reais possibilidades!) que me caia um raio na cabeça agora mesmo que alguma vez ganhe o primeiro prémio do Euromilhões. Mas os insondáveis desígnios da fé têm muito de irracional. É agarrando-mo-nos a esse absurdo e irrealizável prognóstico, que vou mantendo acesa a chama da vitória.

Bem! Isto não tem nada a ver com o que tinha em mente escrever e, que agora, sou obrigado a descrever em poucas palavras.
Ao passar os olhos pelos e-mails dou de caras com mais este trabalho feito em cima do meu poema – Slides – Retratos da Cidade Branca.
Um gajo fica sempre assim para o orgulhoso, quando alguém que não conhecemos nos presenteia com as nossas palavras ganhando vida numa outra forma. Como não sei quem é o autor, só posso dizer obrigado pelo carinho com que as minhas palavras foram tratadas.

Stand da Art On Shoes nma mostra Macaense -Atrás da chinesa de vermelho a torre da igreja da minha terra - Entradas.

Já que falamos de orgulho, também gostaria de assinalar que a minha amiga Xana Prieto já chegou com os seus sapatos a Macau.
Desta coleção de sapatos que são telas para calçar, destacam-se os temas inspirados no livro “Ao Sul” e em especial aqueles dedicados a Entradas e, dei comigo a pensar: Agora até as chinesas da alta roda, já andam com a torre sineira da minha terra nos pés.
Fico engasgado; espantado; admirado, mas ao mesmo tempo absolutamente consciente de que se a Xana Prieto levou a sua arte para tão longínquas paragens, é porque o seu talento é do tamanho do mundo e já não cabe neste pequeno retângulo chamado Portugal.

Escrito por pulanito @ julho 16, 2011   5 comentários

quinta-feira, julho 14, 2011

Afinal Sou Traturista!


Trabalho em turismo desde os meus quinze anos. Sou assim uma espécie de ginecologista veraneante; trabalho onde os outros se divertem. A cada um a sua cruz. E a minha é esta!
Quando era menino, certo dia lá na escola da minha terra, a professora Juvenália fez a cada um dos alunos a sacramental pergunta: O que gostavas de ser quando fosses grande?
As respostas tinham basicamente a ver com o nosso pequeno universo. Ao tempo não havia eletricidade, rádio ou televisão e mesmo o jornal que lá chegava já trazia as noticias requentadas, o que quer dizer que os nossos desejos de futuro, eram feitos à medida desse exíguo mundo que não ia muito mais além daquilo que a nossa vista alcançava.
Neste jogo de inventar porvires, uns diziam que queriam ser carpinteiros, outros sapateiros, outros ainda maquinistas, caixeiros ou mesmo pedreiros.
Quando a professora Juvenália apontou o dedo na minha direção em demanda de resposta, retorqui imperialmente que desejava ser no meu amanhã: Tratorista!
Não sei quantos dos meus companheiros de tábua e pena terão almejado os seus sonhos de menino. A esmagadora maioria, quando chegou a altura de contribuir com a sua força braçal para o orçamento familiar, ou já tinham partido para a grande cidade ou, jogaram-se ao que lhes era oferecido, nomeadamente a guarda de rebanhos, manadas, varas de porcos ou mesmo a casa ou oficina de algum mestre, onde pudessem aprender a ser oficiais do ofício onde eram acolhidos, deixando para outras calendas a realização desse desejo de futuro um dia partilhado naquela sala de aula.
Eu, fui dos que abalei para a cidade banhada pelo rio grande e por lá fui trilhando o meu percurso. Por ser o mais novo de três irmãos tive direito a prosseguir os estudos e de repente todo um novo mundo se me escancarava à frente dos olhos.
Sonhei ser artista plástico, poeta, quiçá escritor, mas acabei por ingressar no turismo pela via hoteleira, deixando para trás os sonhos de adolescente já que o de menino há muito o havia arrumado no baú do esquecimento.
Os anos passaram à estonteante velocidade de um por cada trezentos e sessenta e cinco dias, o que, na minha idade presente, é uma correria vertiginosa.
Estava eu no outro dia a rebobinar estas lembranças, quando me dei conta de que esse desejo de criança afinal se tinha realizado embora metaforicamente.
Afinal sempre me tornei “tratorista”, já que durante os últimos quarenta anos não fiz outra coisa senão “tratar turistas”, o que com um pouco de imaginação, facilmente desemboca nessa nobre profissão.
Agora, lavro com a minha máquina reservas em hotéis; grado desejos de viagem em forma de sonho; escarifico destinos que nunca imaginei e semeio nos ventos da imaginação as tempestades que um dia colherei.

Escrito por pulanito @ julho 14, 2011   2 comentários

domingo, julho 10, 2011

Dia 6. De Palos de la Frontera a Lagos – Dia de Regata

Amadeu consulta os deuses. André crava os olhos no horizonte.


Se a ideia era andar à procura de sensações fortes, pois estas quase vinte e quatro horas, foram (ainda estão a ser!) absolutamente “adrenaliticas”.
O barco em que viajamos, o Gémeos do Mar, está neste momento de pantanas, ou seja; parece que passou por aqui um terramoto, tal foi a força das ondas nas últimas vinte horas. Mas comecemos pelo principio, porque há muita coisa para contar.

Partida das embarcações, vista do Gémeos do Mar.

Amadeu - desenhando mentalmente a estratégia.

Saímos de Mazagón/Palos pelas onze e trinta de ontem 09/07. As previsões de vento, sempre importantes para quem anda à vela, apontavam para ventos de noroeste até às dezoito horas, depois virando a sudoeste ainda com menos nós o que fazia subentender uma regata calminha, talvez com um pouco de emoção aqui ou ali.

Mal saímos a barra, demos de imediato conta de que as previsões que nos haviam chegada eram tudo menos aquelas que estávamos a sentir no mar.

Esta é a minha primeira regata. Logo: a visão ingénua de quem vê isto com os primeiros olhos. Não me debruçarei sobre pormenores técnicos sob pena de cair no ridículo, mas sim relatar o que os olhos vêm e o que o coração pressente.

O quadro é animador. A tripulação está entusiasmada e preparada para as múltiplas tarefas que se avizinham. Amadeu dá as primeiras ordens para se fazer uma mudança de direção das velas, que em linguagem marítima se diz: mudar de bordo.

Muda de bordo - uma operação que requer perícia e sincronismo.

Arrepiante manobra

É preciso afrouxar os cabos. O vento batendo na vela solta provoca um ruído ensurdecedor. Nesta manobra existe toda uma sincronia para que surta na perfeição.
Amadeu dá a voz de comando! João António e António Baião esperam pelo momento para enrolar o cabo que deverá prender a vela do lado contrário onde está agora. Roldanas chiam, os cabos guincham de tanto serem esticados e Filipe no silêncio que o caracteriza, roda a toda a força o mulinete de modo a caçar a vela. É uma operação que exige rapidez, rigor e muita sincronia.
Ao mudar de bordo mudamos de direção. É esta a estratégia do nosso comandante, que aposta tudo em navegar para fora, onde podemos conseguir velocidades perto dos oito nós . Ao efetuar esta manobra, conseguiremos contornar a fraca velocidade que se faz sentir perto da costa e apesar de que, a “milhagem” a efetuar seja maior e se os deuses e os ventos nos ajudarem poderemos aquando da chegada a Lagos estar na frente dos outros concorrentes.

I'm the king of the world - grita Amadeu.

Nesta regata existem duas classes: IRC e OPEN, que é onde nós corremos. Os barcos IRC estão obrigados a outros parâmetros que não os do Gémeos do Mar e, regra geral, chegam em primeiro lugar, o que quer dizer, que são doutro campeonato. O nosso: resume-se a obter a melhor qualificação na classe OPEN, o que já não é nada mau.

Eu numa rara foto e o João António ao leme, Baião a braços com a má disposição e Amadeu aos gritos na proa. Não se vê tudo isto, mas era o que estava a acontecer.

A terra foi desaparecendo no horizonte à medida que milhentos castelos de ondas se formavam; era agora este, o nosso território de navegação.
A embarcação galgava onda atrás de onda em inclinações de arrepiar, chegando mesmo aos 40º, o que, para quem está habituado a isto, não consegue fazer outra coisa senão tentar permanecer sentado ou deitado, imaginem agora um principiante como eu, com mais medo da água que do fogo. Confesso que passei esta noite por uma experiência que não sei se repetirei, mas que foi seguramente marcante para toda a minha vida.

Dá para ter uma ideia da inclinação numa altura em que ainda podíamos fazer fotos.

Quando a noite veio, trouxe com ela mais vento e, a acompanhar, um frio gélido que incomodava de sobremaneira quem estava lá fora a tomar conta das operações.
Estar no poço da embarcação nesta situação, é só para gente forjada na espuma das águas; gente que trata por tu o mar; gente que o respeita, mas que também o desafia.
Movimentarmo-nos com uma inclinação a rondar os 40º, é simplesmente uma aventura que pode trazer consequências graves a quem não siga os preceitos de marinhagem.

O Filipe em pleno contorcionismo equilibrista tentando beber o seu batido. Tarefa quase impossível!

André voando contra a mobilía, mas mesmo assim sorrindo para a foto. Até parecia que estávamos numa câmara sem gravidade.

O António Baião, lá por essa meia-noite teve saudades do Gregório e resolveu chamar por ele, deixando o chão do navio como uma deslizante gosma que durou até de manhã. Quando saía da casa de banho deu um “gandeão” que o atirou contra a mesa de navegação onde estava o Filipe que não pôde fazer mais nada que levar com aqueles noventa quilos de carne, a uns 50 Km por hora (presumo eu, que assisti à cena!). Até a mim me doeu!

Cá está o Tó Baião, antes do seu (quase) acidente. O resto foi demasiado rápido para poder fotografar.

O vento assobiava lá fora, o Gémeos do Mar transpunha onda atrás de onda, e de quando em vez, em vez de a galgar, embatia nela de chapão provocando um estrondo assustador que percorria toda a embarcação num troar assustador.

Amadeu com redobrada atenção. À noite até os gatos são parvos!

Aquando das mudanças de bordo, tudo o que se encontrava dentro de armários, paneiros, gavetas ou alçapões revoltava-se e rebolava para o lado contrário. É certo que não se conseguia fechar tudo, e logo, uma gaveta ou armário se abria explanando no chão todo o seu conteúdo. E o vento continuava a soprar em forte e estas seis almas penadas, entregues ao seu destino na profunda escuridão do mar alto.

Quando a aurora rompeu, quase não houve tempo para presenciar essa espetacular mutação. Um novo borde, uma nova tarefa sob um inclinação que nem lembra nem ao melhor dos equilibristas. E tudo continuava ao “gandeão” dentro da embarcação, não permitindo qualquer movimentação à tripulação sem correr risco de tombar escada abaixo, de escorregar no piso molhado ou mesmo ter de se gritar “ homem ao mar”.

A bem dizer passamos ao plano inclinado desde que a regata começou, o que faz, com que nós continuemos com o barco nas pernas, embora tenhamos atracado há várias horas.

Desculpa lá Amadeu, mas tu mereces esta foto. És aqui, o símbolo da manhã que desponta. Depois, gosto muito da foto e tinha de a publicar, embora este post esteja cheio de fotos tuas.

O Tó Baião já recuperado de uma noite aziaga.

Quando a manhã clareou e o sol vindo lá dos confins do planeta se fez anunciar, o vento de repente amainou, foi então que tivemos o nosso momento gratificante: a companhia dos golfinhos.

Os golfinhos que nos saúdam em forma de manhã.

Em silêncio apreciámos a comitiva de boas vindas destes mamíferos marinhos, que nos brindaram com a sua saltitante presença até à entrada da barra de Lagos, altura em que nos disseram adeus e, num último mergulho regressaram ao seu habitat natural.

Entrando na barra de Lagos.

Não sei em que posição ficámos. Só sei que ficámos em primeiro no ranking da amizade, altura esta e que aproveito em nome de todos os tripulantes, para agradecer ao Amadeu Henriques a possibilidade que nos concedeu de marcarmos “a desejo de voltar”, a oportunidade que nos concedeu.

Não sei se consegui traduzir fielmente a incumbência a que estava destinado. Procurei sobretudo relatar esta semana marítima, pelo ângulo de um medroso ingénuo que dirá que sim de novo, se para tal voltar a ser convidado.

Escrito por pulanito @ julho 10, 2011   11 comentários

sábado, julho 09, 2011

Dia 6. De Palos de la Frontera a Lagos – Dia de Regata



Ó pra nós todos contentes à partida.

São 10.30 da manhã, estamos a minutos da partida para esta que será a minha primeira regata.
Depois de uma noite bem dormida, o moral da equipa é excelente, estando mesmo convictos de que faremos boa figura na classificação final se tudo correr de feição.

A partir de agora estamos oficialmente em competição. Somos o Nº 11.

Os outros concorrentes (cerca de 45 embarcações) aprumam-se agora para partir, desenhando na baía de Palos um quadro verdadeiramente fantástico.
Há embarcações de várias cores, tamanhos e feitios. Uns com pouca tripulação, outros com um exagerado número de participantes.
Poucos ou muitos, todos me parecem orgulhosos dos polos que ostentam e lá no fundo, todos pensam chegar amanhã de madrugada a Lagos primeiro que o segundo.
Bons ventos e boa sorte a todos e que esta a ser distribuída que nos bafeje e já agora numa dosezita mais substancial para cortarmos a linha de chegada em primeiro lugar.

Não se esqueçam de seguir a regata em tempo real, bastando para tal aceder ao link de um dos posts abaixo.

Amanhã cá estarei para o post da chegada e balanço final.

Escrito por pulanito @ julho 09, 2011   3 comentários

sexta-feira, julho 08, 2011

Dia 5 - Mazagón- Mazagón




Aqui fica um pequeno video com as melhores fotos desde o Restaurante Sueste na passada sexta-feira até hoje dia 8 de Julho. Divirtam-se e comentem...


Mazagón, local onde pensávamos vir encontrar todas as condições para usufruir de um dia de marina que reputávamos de qualidade.
Como digo nos post anterior, não tivemos direito a pontão de atracagem, coisa que mesmo durante o dia de hoje continua sem se resolver, tendo mesmo já perdido a esperança de nos movermos daqui. Do mal o menos; conseguimos desviar uma tomada de eletricidade e a coisa ficou meio remediada.

Como a noite foi longa para alguns dos mareantes, quase que dormimos por turnos, o que se revelou uma vantagem na exígua gestão do espaço.
Amadeu levantou-se cedo e logo me chamou para irmos esclarecer vigorosamente este imbróglio em que estávamos metidos contra a nossa vontade.
Um departamento empurrava para outro. A organização portuguesa, atirava as culpas para a espanhola e a gente continuava a apanhar bonés.
Para compor o ramalhete da falta de local de atracagem, não há multibanco, não há Internet, não há mais paciência para aturar estes gélidos espanhóis que se estão nitidamente a borrifar para nós, embora esta seja uma regata internacional com pergaminhos de várias décadas e com o alto patrocínio das edilidades das cidades anfitriãs.

De resto, ontem à noite comemos muito bem na Taberna Nino no centro de Mazagón, local onde finalmente pudemos desfrutar de uma refeição a valer e que a tripulação recomenda a quem vier para estas paragens.

São quase sete da tarde e da Internet não temos qualquer noticia, o que faz com que estas publicações cheguem ao vosso ecrã com alguns dias de atraso, provavelmente depois da regata ter terminado.

Escrevo na mesa da sala do Gémeos do Mar. Aqui por cima sinto o corrupio do comandante Amadeu e do imediato Felipe Neves tentando montar a nova vela que entretanto chegou de Portugal em providencial boleia de um “regateiro” que vinha para esta prova por terra. Veio mesmo a calhar!

A regata começa amanhã às onze da manhã e contamos chegar a Lagos Domingo de manhã...altura em que farei o último relato desta empolgante epopeia marítima.

Escrito por pulanito @ julho 08, 2011   2 comentários

Siga a Regata em Tempo Real


Acabámos agora de saber que poderão seguir a regata em direto. Para tal só terão de aceder ao seguinte endereço: http://www.plogp.pt/regata_pd , clicando de seguida em: siga a regata em tempo real.

Partida de Mazagón com destino a Lagos a partir das 10.00 horas (hora portuguesa)

Escrito por pulanito @ julho 08, 2011   1 comentários

Dia 4 - Cádiz - Mazagón



Saindo de Cádiz

Saímos de Cádiz já passavam das nove da manhã. O dia afigurava-se de “porrada” no linguajar marítimo, já que um incomodativo e forte vento noroeste já há muito se fazia anunciar.

Verificando o material

Ao sair da barra, senti que este era dia de prova de fogo. As vagas agigantavam-se, sinal de que iria começar esse louco carrossel, esse montanha russa com bilhete para todo o dia e eu, que não fiz nenhum mal aos deuses!

Ao principio, assustei-me, mas olhando para a cara dos companheiros, toda a gente estava serena, mas atenta...Amadeu dava gás à embarcação.
À medida que “bordávamos” para fora, as ondas eram cada vez mais cavadas, fazendo com que o Bavaria 44, tivesse de galgar uma a uma todas as que encontrou pelo trilho marítimo que perseguiu. E foram larguíssimas milhares!

Amadeu fazia o ponto da situação: - “Velejamos a nove nós com a ajuda do motor, temos mais oito horas de porrada pela frente- aguentem-se! – A festa vai começar!”

A tripulação acudia ás ordens do comandante, dando pano à vela genoa e o Bavaria 44 não navegava; agora cavalgava cada uma das vagas. E, como se diz lá pela minha terra: Ainda não tinha desaparecido o cu duma, já aparecia a cabeça da outra!

Dou comigo a pensar: Eu acho isto interessante, adrenalitico, perigoso, mas estes gajos não vêm a coisa como eu. Gozam cada momento da refrega que se desenrola entre o homem e a natureza, estando quase, quase certos, que de uma maneira ou de outra, sairão vencedores da contenda.
Talvez seja essa incerteza que os persegue. Talvez tragam o sal nas veias e o mar imenso na policromia dos olhos. Talvez os seus sonhos sejam apenas a espuma que se desfaz. Talvez roubem aos deuses o segredo da eternidade. Talvez!

Nisto, uma inesperada rajada de vento rouba-me aos pensamentos e a azáfama formigal dos meus companheiros, parecem-me afinal, não um bando de rufias mal cheirosos, mas sim um organizado pequeno exército que cumpre ordens sem pestanejar.

É preciso enrolar a genoa, mas o vento não dá tréguas e tem de ser o comandante a puxar dos galões e tomar conta da situação.
A vela fica presa no enrolador e um dos cabos não afrouxa, a ventania continua a fazer das suas. O barco continua a galgar onda atrás de onda e, de repente o momento começa a afigurar-se complicado.

O comandante consegue num último esforço soltar a vela, que ficando solta, varre tudo à sua frente nos bruscos movimentos de mudança direção do vento.
Amadeu, ainda levou uma chicotada da vela, mas como: o que tem de ser tem muita força, foi à força de pulso que conseguiram baixar a genoa, prendendo-a à embarcação de modo a não prejudicar a restante viagem. E o que faltava ainda era um bom pedaço...talvez umas cinco horas.

Bem, o resto do tempo foi porrada e mais porrada, coisa a que me fui habituando com o desenrolar da jornada, até atingirmos a barra de Mazagón.

Para compor o ramalhete, quando chegamos a esta marina, não havia lugar para a atracagem, o que vai ser uma complicação tendo em vista o número de embarcações que ainda faltam chegar.

Nota negativa para a organização que nem se deu ao trabalho de aparecer ou comunicar às embarcações inscritas a falta de lugares de atracagem disponíveis.

Amanhã começa a regata, mas ainda não sabemos se a podemos fazer, já que temos uma vela para reparar e se tal for impossível, o comandante terá de decidir o que fazer...

Não perca a emoção dos próximos capítulos....num ecrã perto de si!!

Escrito por pulanito @ julho 08, 2011   0 comentários

Dia 3 - Puerto América - Cádiz




Cadiz - matando o tempo.


Hoje foi dia de preguiçar e recuperar algumas das energias perdidas, ao mesmo tempo que pudemos desfrutar desta excelente cidade.

O bom do Filipe fazendo de tudo para animar as hostes...

Não tenho nada de excitante para vos contar. Um barco atracado numa marina, seis gajos a peidarem-se e a rirem-se constantemente, as paletes de minis a voarem, a incapacidade de decidir seja o que for, mais risota, mais tremoços e o Filipe sempre na berlinda. Ou por causa dos caracóis, ou por causa da outra fama que o persegue, ou simplesmente porque Filipe é um porreiraço e tem toda a paciência do mundo para aguentar esta gajada.



Celebrando a vida e a amizade.

Lá nos decidimos a ir à cidade, o que, colocava um problema de logística de transporte. Optámos pelo táxi; dois deles neste caso.
Lá foram estas almas penadas percorrer o calçadão de Cádiz à procura de um sítio onde aconchegar o estômago de comida verdadeira.
Optámos por um chiringuito de praia por aí ficamos a preguiçar, a comer, a apreciar as pernocas e mamocas espanholas, tendo chegado à orgulhosa conclusão de que não há material como o produto cá da Tuga.

De resto, regressámos ao barco, jogámos à lerpa a amendoins, voltamos a rir a bandeiras despregadas com os episódios que cada um ia magicando ou retirando do baú da memória.

Estamos em contagem decrescente no que diz respeito à devoragem da comida. Vai daí, começamos a fazer limpeza aos frigoríficos e quando terminámos parecíamos lontras saciadas a rebolar no tombadilho do barco.

Sinfonia do ronco

Um a um lá se foram amalhando, até que o silêncio deu lugar á sinfonia do ronco, o que demorou grande parte da noite.
Aqui não se dorme como deve de ser (a não ser o comandante!), mas também era melhor que o nosso amigo Amadeu também nos cedesse o seu camarote. Se o homem cede neste ponto, não sei qual será a reivindicação seguinte, mas uma delas talvez sugira que ele esteja a precisar de um andar novo (sic!).

Depreenderão facilmente que estou a brincar. No fundo, o que estou a fazer é a encher chouriços já que o dia não tem um interesse jornalístico por aí além...

Amanhã será seguramente melhor!

Escrito por pulanito @ julho 08, 2011   1 comentários

quarta-feira, julho 06, 2011

Dia 2 - Da Ilha da Culatra a Cádiz





Ao largo da Ilha da Culatra ao amanhecer.

A noite passada dormi sob as estrelas embalado pelas suaves ondas que faziam do Gémeos do Mar um berço balançante.
A noite estava simplesmente deslumbrante, até dava dó ir dormir, daí que só vencidos pelo cansaço um a um fosse abandonando a sua posição no poço do navio à procura de melhor lugar para passar à horizontal.

Adeus Filipe Cabral...

Hoje, como estava de resto previsto, vamos perder um passageiro, o Filipe Cabral que por motivos mais fortes que a vontade de connosco marear, é-lhe forçoso regressar à sua atividade profissional.
Para o substituir e vindo de Portimão chegou o André Silva, um jovem empresário, formado na área da gestão e proprietário de um ginásio na cidade do Arade.

Olá André Silva...

Toda esta troca de passageiros atrasou a nossa partida em várias horas o que fez que só partíssemos da Culatra já passavam das dez da manhã.
O dia estava de canícula marítima, o termómetro dizia-nos o quão absurdas eram as temperaturas e de vento, nem novas nem achadas, de modo que, tivemos de navegar a motor todo o percurso que separam estes dois pontos: um chamado partida, outro de chegada.

Sabíamos que ia ser um dia duro em termos de navegação. Sabíamos que este seria o dia que iriamos deixar de ver costa e que teríamos aquela sensação do quão pequemos nós somos.

A navegação fez-se sem sobressaltos, o mar parecia haver sido ladrilhado de tão liso se nos apresentar, aqui e ali um leve ultrapassar de um “ondajar “ resultado da passagem de algum navio de maior porte à distância.

De repente o comandante Amadeu sugere: - < Rapaziada e se fossemos dar um mergulho?> - Toda a tripulação agradece a ideia e as paragens passaram a ser uma constante para alegria destas seis almas perdidas que experimentam em pleno oceano e em doses arrepiantes; a felicidade de estar vivo e o êxtase da liberdade.

António Baião. O Inicio das Hostilidades

Até eu fui ao banho..aleluia!

Eu disse seis almas perdidas...bem eu não me poderei incluir neste rol, até porque os fantasmas que me povoam o subconsciente não me deixam usufruir dessa coisa que é mergulhar em pleno oceano. De cada vez que olho a imensidão oceânica revejo o dia em que no Rio Nabão em Tomar me foram buscar lá ao fundo já inanimado, e me trouxeram de novo à vida; e esse, é um momento que por muito que tente, até hoje não me consegui libertar.
No entanto e agarrado à boia, ou ás escadas da praia do barco, ainda consegui entrar na água por duas vezes. A ver se consigo exorcizar estes fantasmas até que a viagem acabe. Queiram os deuses que sim!

Foram doze horas a navegar. Quando pela tarde o Sol de novo se despediu de nós, deixou-nos o espetáculo do deslumbre, na felicidade de a ele podermos assistir no silêncio da tarde que se esvaece para lá da linha do horizonte.

Já de noite, ao chegarmos ás imediações de Cádiz, levantou-se um mar vagado que dificultava ligeiramente a manobra de aproximação.
Como era a primeira vez que aqui aportava, comandante Amadeu andava numa roda-viva consultando mapas e aparelhos certificando-se que iriamos aportar à marina pretendida.

As manobras de aportagem terminaram assim para o tardote. A fome apertava e era fundamental reabastecer o estômago, daí que caminhássemos até ao centro da cidade onde devorámos tudo o que nos punham na mesa.

No regresso à embarcação e vencidos pelo cansaço aterrámos só despertando largas horas depois, altura em que me dediquei a escrever este breve texto.

Ontem falei da minúscula casa de banho. Hoje vou-me referir ao poço.

O famoso Poço do Gémeos do Mar

O poço, é onde a tripulação quando está no exterior da embarcação passa a maior parte do tempo.
No caso do Gémeos do Mar é um espaço oval com assentos à volta onde cabem seis pessoas á vontade.
Ao centro uma mesa multifunções, que se abre ou fecha consoante as necessidades e ao mesmo tempo serve de espaço de arrumação para múltiplas necessidades.
É aqui que a tripulação convive, conversa, come, bebe e até dorme em alturas que as tarefas não o chamam para outro lugar.
No poço existem lugares mais cobiçados que outros. Logo, sempre que um desses lugares é desocupado nem que seja momentaneamente alguém se encarregará de o ocupar. Nunca o provérbio “ quem vai ao mar, perde o lugar” foi tão bem aplicado.
É aqui, no poço, que conversamos, contamos anedotas ou relatamos mesmo episódios das nossas vidas, assim numa espécie de terapia de grupo. Mas é aqui também, que partilhamos os silêncios da natureza numa comunhão tamanha que sabemos, não haver lugar para as palavras. Esta é a hora da fala dos olhos!
Este é também o lugar onde aqueles com mais apetência para o enjoo passam mais tempo, tanto tempo que me contaram que determinado individuo não podendo descer à cabina sob pena de alamarear de imediato, fez toda uma regata de 7 dias neste afamado poço do barco, só descendo à cabina quando aportavam nalguma marina.
Do poço nada mais tenho a dizer, só posso dizer que a viagem está a ser como primeira experiência uma admirável descoberta. A rapaziada tem enormes culpas nisso, porque para além de responsáveis pelo bom desempenho do Gémeos do Mar, também são gente com G grande.

Hoje o dia será passado a “pastar”, o que quer dizer que lá para o fim da tarde teremos aqui o relato do quarto dia desta marítima viagem.

Escrito por pulanito @ julho 06, 2011   6 comentários

terça-feira, julho 05, 2011

Dia1: de Portimão aà Ilha da Culatra




Comandante Amadeu e imediato Filipe à partida de Portimão

Navegar é preciso, viver não é preciso. Começo assim a crónica de hoje, como um dos mais famosos versos de Fernando Pessoa, para vos dizer que a sensação de liberdade que é andar ao sabor do vento é nas minhas modestas palavras, simplesmente: admirável!

Começo agora a habituar-me à vida de bordo e à partilha de espaços, mesa e cama. Por exemplo a utilização da casa de banho, é daqueles que não sendo complicado é assim um bocado a dar para o malabarismo contorcionista.

A famosa casa de banho

A Casa de Banho!

A casinha de banho é um espaço exíguo de uma forma geométrica indescritível, onde teríamos de cortar as unhas para entrar, como diria Raul Solnado numa das suas afamadas histórias, que tinham lugar de inspiração em muitos destes minúsculos lugares.
Para se poder utilizar é necessário fazer uma série de manobras de modo a rentabilizar este importante equipamento.
Para utilizar a sanita, por exemplo para urinar (para ser menos incómodo para os meus leitores), é necessário através da bomba esvaziar o receptáculo, depois é fundamental voltar a bombear água fresca para a sanita, isto sem nunca nos esquecermos de abrir as quatro válvulas para que tal operação seja bem sucedida. Ainda no ano passado, esta operação não tendo sido executada com método adequado e houve merda com fartura pelo barco todo. nas palavras de João António o protagonista da história“ havia cagalhão por tudo quanto era lado ou buraco” tendo o Amadeu (comamdante) e o Filipe Neves (imediato) de arregaçar mangas e andar à caça desse raro animal de cor acastanhada que tem no nauseabundo cheiro o seu mecanismo de defesa.
João António foi de novo instruído acerca do método de utilização de tão periclitante equipamento, tendo-lhe sido recomendado especial cuidado com os papéis, que jamais deviam ser jogados para dentro da sanita. O papel higiénico depois de utilizado na limpeza dos alvos cuzes deveria ser aventado escotilha fora.
O nosso João aquando de uma nova utilização da casa de banho, cumpriu na integra a ritual da cagada, abrindo e fechando válvulas e atirando escotilha fora o papel como lhe havia sido sugerido, só que tanto o Amadeu como o Filipe esqueceram-se de o avisar sobre a direção do vento, tendo sido então que começaram a levar com o papel higiénico na cara, não se conseguindo livrar da merda do João, nem mesmo depois deste haver aprendido a lidar com tão importante peça de relojoaria micto-cagatória.

Carvoeiro - Visto do mar

Voltando ao dia de hoje e agora em ambiente mais aliviado e com melhor ambiente olfativo, para vos dizer que navegámos sempre com a costa à vista.
Qualquer pessoa que olhe a Costa Algarvia deste ângulo onde agora me é dada a observar, tem na sua presença uma das maravilhas de Portugal.
As pequenas ou longas praias de finas areias douradas, são uma constante no cenário; as grutas e formações rochosas naturais são outro dos atrativos. O alvo casario desenhando o recorte da paisagem que na sua grande maioria casa perfeitamente com a envolvente. Noutros casos temos exemplos de como a ganância destrói um património que é de todos e refiro-me essencialmente a Armação de Pêra, Albufeira e Quarteira que, em minha opinião, são três exemplos dos atentados que esta explorada costa foi vítima.

Tó Baião- desfrutando da vela

Filipe o imediato em manobras de recolha de velas

Filipe Cabral desfrutando do que o rodeia

Regressemos pois aqui ao nosso balouçante poiso. A viagem até à Ilha da Culatra foi feita sem sobressaltos e com uma réstia de vento que permitia retirar desta viagem à vela, o prazer único que é recorrer à força da natureza para nos deslocarmos de um lado para o outro.

Já almoçámos por aqui. Depois de fundeado o barco, regressámos ás atividades inerentes á tripulação que passam essencialmente por três importantes vertentes: comer, beber e dormir!
Passámos a tarde a dormitar, tentando recuperar de uma noite quase perdida.
Quando o Sol se quis esconder para lá da linha do horizonte, deixou-nos apenas o silêncio da contemplação e, nesta certeza que é estarmos vivos, presenciámos na quietude crepuscular o esbatimento de luz que é o último raio do astro rei, como que a dizer-nos que amanhã cá estaremos de novo.

O Gémeos do Mar no banho de crepúsculo.

Com o Dinky fizemos a distância que separa a embarcação da aldeia da Culatra, uma aldeia cuja arquitetura popular denuncia a falta de ordenamento, mas que ao mesmo tempo lhe empresta uma beleza que não consigo verdadeiramente explicar. João António diz-me que estamos em Cuba, já que o tipo de construção, o colorido das casas e o próprio ambiente lhe sugere a ilha de Fidel Castro.

Jantámos amêijoas e choquinhos fritos e, agora, de regresso ao barco preparamo-nos para usufruir de uma noite de calmaria ambientada pelo gosto musical do Amadeu que é sempre uma mais valia para potenciar o ambiente.

Aprendi hoje que a energia a bordo, é coisa verdadeiramente valiosa, portanto há que poupá-la ao máximo, o que faz com que o ambiente ainda seja mais bucólico e mesmo contemplativo a avaliar pelo silêncio dos meus companheiros.

Posto isto, só me resta dizer que amanhã velejaremos o dia inteiro em direção a Cádiz de onde me pronunciarei acerca desse dia 2 que promete ser de calmaria.

Até amanhã.

Escrito por pulanito @ julho 05, 2011   3 comentários

segunda-feira, julho 04, 2011

Dia 0 - Na Marina de Portimão.

O Gémeos do Mar- Nossa casa nos próximos tempos

São duas e vinte da manhã. A tripulação do Gémeos do Mar começa agora a dar de si, até porque, em breve teremos de acordar para dar inicio à nossa viagem.
O dia foi de azáfama, uma roda-viva de tarefas, que tanto eu como os camaradas tivemos de efetuar, e a principal foi: assumirmos a responsabilidade pelo abastecimento de viveres para a viagem que se aproxima.

O dia começou com a mesma desesperante espera de ontem, ou seja: a aguardar que o telefone tocasse. Coisa de principiante, está mais que visto!
Quando lá pelas três da tarde partimos em direção à embarcação, comecei finalmente a sentir a adrenalina da viagem. Esta coisa de partir está-me definitivamente entranhada do sangue!
Só o simples facto de saber que me vou embora, faz-me recuar no tempo e relembrar-me de outras abaladas que por agora não partilharei convosco. O prazer é o mesmo; o frenesim da partida; a descoberta do desconhecido; a ansiedade própria de quem vai, essa coisa estranha que é não saber se se volta e o verbo regressar fica mais difícil de conjugar.

Ao chegar ao Gémeos do Mar, Filipe, o imediato está de volta do motor do Dinky (o salva-vidas e transporte para terra). O motor parece não querer arrancar, mas noto nos gestos do mestre, uma sapiência que me deixa sossegado quanto ao sucesso da mecânica operação.
Trouxemos a nossa bagagem e partimos para a conferencia dos géneros existentes, o que, na verdade, marcou o arranque da nossa viagem embora ainda faltem algumas horas para nos fazermos ao mar.

Esta conferência subentendia ter de reabastecer o que faltasse tendo em vista os dias de jornada marítima, o número de passageiros e ainda, o calibre estomacal de cada um deles.
Foi coisa para demorar toda uma tarde, com vários carrinhos de mercas a passarem p’la caixa de uma das muitas mercearias do Ti Belmiro.

Regressados ao veleiro já noite feita depois de termos cumprido outras obrigações assumidas, então aí começámos verdadeiramente a viajar, embora o barco nem estivesse prestes a sair.
Quando chegámos ao Gémeos do Mar, a mesa estava posta com as diversas iguarias, sinal de que as hostilidades estavam prestes a ser abertas.

Amadeu Henriques- nosso comandante - em momento de recolhimento traçando o rumo do barco, já que o dos acontecimentos o transcendia.

Penso, que a primeira noite a bordo (mesmo sem navegar) já é de si um acontecimento. Fora do nosso ambiente natural, seis gajos vão ter de conviver durante uma semana, num espaço que embora grande para barco é exíguo para seis pessoas.
Este tempo é um tempo de conhecimento e reconhecimento para aqueles que menos se conhecem. Pela minha parte sou easy going ; por isso, venha o que vier, cá estarei pronto para a experimentar.

Recebendo a camisola do Gémeos do Mar

Já a noite era verdadeiramente noite quando Amadeu Henriques, me obsequiou com uma singela cerimónia de integração na tripulação através da oferta da fardamenta desta equipa.
Sou um sortudo do caraças. Há quinze dias viajava de bicicleta pelo litoral alentejano com a minha equipa de ciclismo, duas semanas depois estou a bordo deste Gémeos do Mar, tentando alinhavar umas quantas ideias, enquanto estes gajos me azucrinam a cabeça. Penso que será assim o resto da viagem. Como a necessidade aguça o engenho, vou ter de me habituar a concentrar no meio do que for.
Vida a bordo - apertada mas emocionante.

O espaço a bordo é cheio de esconderijos, paneiros, gavetas, cavernames, “cóis”, digamos assim, por onde distribuímos com algum esforço todos os viveres necessários para esta epopeia marítima.
Sinto-me de novo um garoto de tenra idade. Que me perdoem a comparação mas não sei porquê, a sensação é igual. Só no dia em que o meu tio Joaquim Algarvio me mandou ferrar a mula ao Mestre Santos tendo eu apenas seis anos e a mula pelo menos dois metros de altura, é que me senti de igual modo: eléctrico e poderoso; altivo e sonhador!

Pronto. Já disse esta macaquice, que para quem me lê, não tem qualquer significado, mas para mim tem o valor da lembrança que me persegue.

Assim sendo, acho que me vou encostar, que amanhã também é dia e para ler isto tudo há que ter paciência.

PS: Eu avisei que ia queimar os dedinhos...

Escrito por pulanito @ julho 04, 2011   7 comentários

sábado, julho 02, 2011

Regata: Palos de la Frontera - Lagos

Comandante Amadeu Henriques ao leme do Gémeos II


Não sei nadar, não sei marear, não sei o linguajar dos marinheiros, em suma: só sei que nada sei! Serei provavelmente um pesado fardo para aqueles que insistiram em que deveria fazer parte da tripulação como cronista de bordo a regata Palos de La Frontera - Lagos.
O meu amigo Amadeu Henriques, comandante e dono do Gémeos II, um veleiro com cerca de 44 pés e capacidade para 8/12 pessoas.
Já no ano passado era para ter participado nesta viagem que, segundo relatos de anteriores jornadas marítimas é sempre um marco na vida de quem as faz e, este ano, como o convite se manteve, decidi aceitá-lo e procurar aniquilar alguns fantasmas do medo do mar que há muito me perseguem.
Aqui trarei a diário as incidências, episódios, histórias ou simplesmente o relato do que vai sucedendo, tanto mais que foi para isso (e não só!) que me convidaram.
Outro dos meus amigos do peito também vai lá estar , o João António Domingues, esse berbequim palrador ( picareta falante era o outro!), que suponho ter um contrato com a Duracell e outro com a Wikipedia, tal é o tempo que consegue estar a falar e a variedade de temas que abarca.

Aqui falarei de cada um dos tripulantes e procurarei traçar um perfil à minha maneira de cada um deles, mas pelo que vi ontem ao almoço é cada um pior do que o outro, e eu, francamente, não sei se tenho pedalada para tanto malabarismo aquático.
Para termos uma ideia do que me espera, ontem (sexta-feira 1/07) fizemos um almoço para definir algumas estratégias e rumos e ainda distribuir tarefas aos tripulantes, nomeadamente hora de partida, compra de mantimentos e limpeza da embarcação.
Resultado! O dia e hora de partida, tanto podia ser a seguir ao almoço( até porque alguns de nós mentalmente já havíamos partido!) como hoje: Sábado, como mesmo: Domingo ou ainda: Segunda-feira de madrugada, o que vos dá uma ideia da capacidade de decisão desta Montypaitiana equipa; portanto aqui estou de prevenção para o que der e vier.

A primeira de muitas páginas da famosa lista de compras - Na verdade não parece que vamos ali a Palos, mais parece que vamos dar a volta ao mundo.

A lista das compras, mais parecia um testamento e a avaliar pelo peso dos líquidos. De sede não morreremos durante largos meses senão anos.
Esta tarefa ficou a cargo do João A. Domingues e do António Baião, outro tripulante do género se alguém disser: Mata, ele remata com um pronto: Esfola!

Conheço mal os outros dois tripulantes, ambos Filipes, sendo que um deles ao que parece tem uma particularidade muito apreciada pelo género feminino: É um individuo muito reservado, muito calado só falando mesmo pela certa. E se não estou enganado é deste tipo de tripulantes que as senhoras gostam, ou será que ainda tem algum outro predicado que o torna especial. A seu tempo veremos!
O último tripulante (O outro Filipe) é um respeitável causídico Portimonense que ao que ouvi dizer quando tira a toga tem tendência para partir a loiça, e isso é verdadeiramente saudável, que o digam os gregos que em tempo de festa não fazem outra coisa.

Estou aqui por casa a fazer a mala, a procurar não me esquecer de nada, sobretudo do computador e da máquina fotográfica para poder cronicar esta minha primeira regata no papel de relator e, pelo que se me afigura, vai ser escrever até me doerem os dedinhos todos.

E como que vai para o mar, avia-se em terra, vou procurar não me esquecer de nada e sorver todos os minutos em que estiver desperto para aqui vos poder trazer a perspectiva de um alentejano de sequeiro, que nem nadar sabe, em pleno alto mar.

Vão aparecendo e comentando...

PS: Próxima crónica quando partirmos. Quando isso será? Não sei!

Escrito por pulanito @ julho 02, 2011   2 comentários

sexta-feira, julho 01, 2011

Pardal

O meu amigo Pardal, carregando o seu carro oficina pelas ruas de Entradas.

Sempre que rebobino o filme da minha vida e faço paragem no apeadeiro da infância, regresso invariavelmente a Entradas. Revejo daqui, do cume da memória as ruas desertas em tarde de canícula alentejana. Impera no ar o silêncio dos recolhidos que na sofreguidão das casas dormem o vespertino sono dos justos, que por aqui se apelida de folga.
De repente, vindo a correr dos lados da igreja matriz em direção à Rua do Paço, debaixo duma absurda soalheira, vislumbro uma criança que se aproxima de minha casa. É um menino de olhos azuis, de um azul imenso como se coubessem dentro deles os mares que nunca viu. Traja calções de peitilho, faltando-lhe um botão do lado esquerdo, o que faz com que a alça do mesmo esvoace à velocidade com que corre.
Entreabre o postigo e grita para dentro de casa.
- Vizinha Custódia, posso brincar com o seu Napoleão?
Lá de dentro à sombra do quintal onde espero que o sol amaine, ouço a voz do Pardal e regozijo-me por ter companhia para a brincadeira.
Luís José Costa Batista, mais conhecido por Pardal, é meu amigo desde que nos conhecemos, já lá vão mais de cinquenta anos, mas regressemos a essa tarde de Verão; de um Verão alentejano que mais parece que o inferno comparado com isto é brincadeira de moço pequeno.
Quando o Pardal aparece rejubilo de alegria e pergunto-lhe: - Trouxeste o teu cágado?
Diz-me que não. Respondo-lhe que não faz mal, que brincamos com o meu.
Uma das nossas brincadeiras consistia em fazer carruagens com latas de conserva e rodas de botão seguras por arame que, depois de carregadas de terra, eram atreladas umas ás outras e à carapaça do animal em buraco antecipadamente perfurado a prego e martelo (hoje seria incapaz duma atrocidade destas!), sendo que a nossa entretenga era ver onde o pobre bicho conseguia chegar. Caso tivéssemos dois ou mais cágados, pois aí, já havia feroz competição.
Por lá continuávamos com esta cruel brincadeira, ou com outra qualquer que inventássemos, que como se pode imaginar, brinquedos eram todos os que a nossa imaginação pudesse alcançar já que dinheiro para os comprar, era coisa que não havia.
Apesar dos pesares, foi este o tempo mais feliz da minha vida e o Pardal contribuiu largamente para esses momentos de felicidade e inocência.
No dia anterior à minha partida para a grande cidade, fumámos debaixo do pontão uma cigarrada de “Definitivos” que ele havia surripiado numa venda da vila.
Selámos a nossa despedida com um emotivo abraço e uma última cigarrada. Depois os anos passaram e só nos reencontrámos muitos anos depois.
No entrementes o Pardal foi carpinteiro (e ainda é!), taberneiro, “emigreiro”, politiqueiro e todos os outros “eiros” que se escondem atrás das múltiplas tarefas profissionais que desempenhou.
Depois do nosso reencontro e já homens de corpo inteiro voltámos a conviver e a celebrar esta amizade que para mim é uma irmandade de que a altiva torre sineira da nossa terra é testemunha privilegiada.
Certo dia desafiei-o para uma volta de bicicleta. Percorremos estradas, vilas e aldeias do nosso território, regressando a Entradas com cerca de noventa quilómetros nas pernas, cansados mas felizes. Nos seus olhos de azul infinito e durante o percurso ciclístico, lembrei-me do nosso enquanto gente e revi neles muitos dos episódios dessa infância partilhada.
Hoje, voltei sozinho a fazer esse mesmo percurso sentindo a falta do Pardal como companhia. Como não o tinha presente resolvi mentalmente escrever esta pequena crónica para homenagear este homem de convicções inabaláveis que faz o favor de retribuir a amizade que lhe dedico.

Da próxima vez que for à ribeira, vou à cata de um cágado para lhe oferecer. Não sei bem a que propósito, mas, parece-me bem!

Publicado na Revista 30 Dias de Junho 2011

Escrito por pulanito @ julho 01, 2011   0 comentários

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