Dia 0 - Na Marina de Portimão.
São duas e vinte da manhã. A tripulação do Gémeos do Mar começa agora a dar de si, até porque, em breve teremos de acordar para dar inicio à nossa viagem.
O dia foi de azáfama, uma roda-viva de tarefas, que tanto eu como os camaradas tivemos de efetuar, e a principal foi: assumirmos a responsabilidade pelo abastecimento de viveres para a viagem que se aproxima.
O dia começou com a mesma desesperante espera de ontem, ou seja: a aguardar que o telefone tocasse. Coisa de principiante, está mais que visto!
Quando lá pelas três da tarde partimos em direção à embarcação, comecei finalmente a sentir a adrenalina da viagem. Esta coisa de partir está-me definitivamente entranhada do sangue!
Só o simples facto de saber que me vou embora, faz-me recuar no tempo e relembrar-me de outras abaladas que por agora não partilharei convosco. O prazer é o mesmo; o frenesim da partida; a descoberta do desconhecido; a ansiedade própria de quem vai, essa coisa estranha que é não saber se se volta e o verbo regressar fica mais difícil de conjugar.
Ao chegar ao Gémeos do Mar, Filipe, o imediato está de volta do motor do Dinky (o salva-vidas e transporte para terra). O motor parece não querer arrancar, mas noto nos gestos do mestre, uma sapiência que me deixa sossegado quanto ao sucesso da mecânica operação.
Trouxemos a nossa bagagem e partimos para a conferencia dos géneros existentes, o que, na verdade, marcou o arranque da nossa viagem embora ainda faltem algumas horas para nos fazermos ao mar.
Esta conferência subentendia ter de reabastecer o que faltasse tendo em vista os dias de jornada marítima, o número de passageiros e ainda, o calibre estomacal de cada um deles.
Foi coisa para demorar toda uma tarde, com vários carrinhos de mercas a passarem p’la caixa de uma das muitas mercearias do Ti Belmiro.
Regressados ao veleiro já noite feita depois de termos cumprido outras obrigações assumidas, então aí começámos verdadeiramente a viajar, embora o barco nem estivesse prestes a sair.
Quando chegámos ao Gémeos do Mar, a mesa estava posta com as diversas iguarias, sinal de que as hostilidades estavam prestes a ser abertas.
Amadeu Henriques- nosso comandante - em momento de recolhimento traçando o rumo do barco, já que o dos acontecimentos o transcendia.
Penso, que a primeira noite a bordo (mesmo sem navegar) já é de si um acontecimento. Fora do nosso ambiente natural, seis gajos vão ter de conviver durante uma semana, num espaço que embora grande para barco é exíguo para seis pessoas.
Este tempo é um tempo de conhecimento e reconhecimento para aqueles que menos se conhecem. Pela minha parte sou easy going ; por isso, venha o que vier, cá estarei pronto para a experimentar.
Já a noite era verdadeiramente noite quando Amadeu Henriques, me obsequiou com uma singela cerimónia de integração na tripulação através da oferta da fardamenta desta equipa.
Sou um sortudo do caraças. Há quinze dias viajava de bicicleta pelo litoral alentejano com a minha equipa de ciclismo, duas semanas depois estou a bordo deste Gémeos do Mar, tentando alinhavar umas quantas ideias, enquanto estes gajos me azucrinam a cabeça. Penso que será assim o resto da viagem. Como a necessidade aguça o engenho, vou ter de me habituar a concentrar no meio do que for.
O espaço a bordo é cheio de esconderijos, paneiros, gavetas, cavernames, “cóis”, digamos assim, por onde distribuímos com algum esforço todos os viveres necessários para esta epopeia marítima.
Sinto-me de novo um garoto de tenra idade. Que me perdoem a comparação mas não sei porquê, a sensação é igual. Só no dia em que o meu tio Joaquim Algarvio me mandou ferrar a mula ao Mestre Santos tendo eu apenas seis anos e a mula pelo menos dois metros de altura, é que me senti de igual modo: eléctrico e poderoso; altivo e sonhador!
Pronto. Já disse esta macaquice, que para quem me lê, não tem qualquer significado, mas para mim tem o valor da lembrança que me persegue.
Assim sendo, acho que me vou encostar, que amanhã também é dia e para ler isto tudo há que ter paciência.
PS: Eu avisei que ia queimar os dedinhos...
7 Comments:
Moço de sequeiro no mar! há ganda homem !
Tu põe-me o colete
bjs
Bons ventos vos levem e bons ventos vos tragam de volta.
Beijinhos
Celeste Pedro
Pulanito que inveja me vazes amigo ! Tu és mesmo um grande viajante sempre pronto para a partida ! Quer seja de bicleta, barco e bem podia ser de jumento que não arrepiavas caminho.Quem me dera andar por aí . Olha mas não te esqueças de ir debitando a tua escrita porque é uma deliçia lerte ... boa viagem
Nascimento
Ah! Ganda Nap és do caraças agora vestes a pele de navegante que nem sabe nadar...és como os ---- não podes ver a porta de uma igreija aberta que entras logo.
E eu aqui a virar frangos com este calor.
Um abraço,boa viagem e carrega na ferragem
JP
"Não sei nadar, não sei marear, não sei o linguajar dos marinheiros, em suma: só sei que nada sei! ..."
Epá,não te negues!Sabes comer ,beber,respirar,viver(como tu sabes,como é bom viver) e SABES ESCREVER e SONHAR...Epá,se as coisas não correrem tão bem,quanto se prevê,"atira-te ao mar e diz que te empurrarem"...mas com duas bóias,não vá a suplente falhar:-)))
Vai abraço e "vento em popa"
jm
António Fernandes Contreiras,
recorda-me os meus tempos que passei no mar, já lá vão muitos anos"
Nuno Paula Soares,
Muita milha por debaixo da quilha,com um beijinho da tua irmã!!Aquele abraço ao grumete Mira!"
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