Dia 4 - Cádiz - Mazagón
Saímos de Cádiz já passavam das nove da manhã. O dia afigurava-se de “porrada” no linguajar marítimo, já que um incomodativo e forte vento noroeste já há muito se fazia anunciar.
Ao sair da barra, senti que este era dia de prova de fogo. As vagas agigantavam-se, sinal de que iria começar esse louco carrossel, esse montanha russa com bilhete para todo o dia e eu, que não fiz nenhum mal aos deuses!
Ao principio, assustei-me, mas olhando para a cara dos companheiros, toda a gente estava serena, mas atenta...Amadeu dava gás à embarcação.
À medida que “bordávamos” para fora, as ondas eram cada vez mais cavadas, fazendo com que o Bavaria 44, tivesse de galgar uma a uma todas as que encontrou pelo trilho marítimo que perseguiu. E foram larguíssimas milhares!
Amadeu fazia o ponto da situação: - “Velejamos a nove nós com a ajuda do motor, temos mais oito horas de porrada pela frente- aguentem-se! – A festa vai começar!”
A tripulação acudia ás ordens do comandante, dando pano à vela genoa e o Bavaria 44 não navegava; agora cavalgava cada uma das vagas. E, como se diz lá pela minha terra: Ainda não tinha desaparecido o cu duma, já aparecia a cabeça da outra!
Dou comigo a pensar: Eu acho isto interessante, adrenalitico, perigoso, mas estes gajos não vêm a coisa como eu. Gozam cada momento da refrega que se desenrola entre o homem e a natureza, estando quase, quase certos, que de uma maneira ou de outra, sairão vencedores da contenda.
Talvez seja essa incerteza que os persegue. Talvez tragam o sal nas veias e o mar imenso na policromia dos olhos. Talvez os seus sonhos sejam apenas a espuma que se desfaz. Talvez roubem aos deuses o segredo da eternidade. Talvez!
Nisto, uma inesperada rajada de vento rouba-me aos pensamentos e a azáfama formigal dos meus companheiros, parecem-me afinal, não um bando de rufias mal cheirosos, mas sim um organizado pequeno exército que cumpre ordens sem pestanejar.
É preciso enrolar a genoa, mas o vento não dá tréguas e tem de ser o comandante a puxar dos galões e tomar conta da situação.
A vela fica presa no enrolador e um dos cabos não afrouxa, a ventania continua a fazer das suas. O barco continua a galgar onda atrás de onda e, de repente o momento começa a afigurar-se complicado.
O comandante consegue num último esforço soltar a vela, que ficando solta, varre tudo à sua frente nos bruscos movimentos de mudança direção do vento.
Amadeu, ainda levou uma chicotada da vela, mas como: o que tem de ser tem muita força, foi à força de pulso que conseguiram baixar a genoa, prendendo-a à embarcação de modo a não prejudicar a restante viagem. E o que faltava ainda era um bom pedaço...talvez umas cinco horas.
Bem, o resto do tempo foi porrada e mais porrada, coisa a que me fui habituando com o desenrolar da jornada, até atingirmos a barra de Mazagón.
Para compor o ramalhete, quando chegamos a esta marina, não havia lugar para a atracagem, o que vai ser uma complicação tendo em vista o número de embarcações que ainda faltam chegar.
Nota negativa para a organização que nem se deu ao trabalho de aparecer ou comunicar às embarcações inscritas a falta de lugares de atracagem disponíveis.
Amanhã começa a regata, mas ainda não sabemos se a podemos fazer, já que temos uma vela para reparar e se tal for impossível, o comandante terá de decidir o que fazer...
Não perca a emoção dos próximos capítulos....num ecrã perto de si!!
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