domingo, novembro 29, 2009

Shopping Shoes!


- Querido vens comigo ás compras?
- Anda lá, preciso que me ajudes a escolher um novo par de sapatos.
Contrariado Jeremias apresta-se a uma daquelas secas a que o contrato matrimonial obriga. Como “o que tem de ser tem muita força” e fazendo um esforço quase sobre-humano lá abandona o quentinho do sofá, as bejecas que já começavam a fazer fila na mesinha de apoio, e o pior de tudo; o jogo entre o Barça e o Real que estava quase a começar, mas é melhor nem sequer negociar o convite, caso contrário teríamos o caldo entornado durante pelo menos quinze dias de amuo; o que significaria quinze longas noites a pão e laranjas, coisa que um homem na pujança e idade do Jeremias achava ser a pior das punições a que um ser se pode sujeitar.
Chegados à Baixa, logo deparam com a montra duma sapataria recheada de novidades onde a dificuldade maior seria eleger um de entre as centenas de pares de sapatos expostos.
Um caixeiro simpático apresta-se a não deixar fugir a cliente e atira com um treinado sorriso profissional, logo seguido do costumeiro – Posso ajudar nalguma coisa? Esteja à vontade, é só dizer!
Julieta devolve-lhe o sorriso e diz – Por acaso até pode! Tem aqueles sapatos que estão na montra com o enfeite na ponta em trinta e oito ou trinta e oito e meio, mas na versão castanho galão com pouco café?
O caixeiro afirma que sim, afasta-se e daí a pouco regressa com duas caixas na mão e o sempre presente sorriso na cara.
- Posso ajudar a calçar? – Pergunta com ar profissional e calçadeira na mão.
- Claro que sim - responde Julieta.

Eu, Jeremias que já sei o que a casa gasta, sei que vou aqui gramar um belo pedaço da minha arruinada tarde, por isso apresto-me a fazer um dos meus jogos mentais favoritos, que consiste em adivinhar pelo tamanho das mamas das mulheres que entram na sapataria, o coeficiente de inteligência do gajedo que por aqui circula como se de um formigueiro se tratasse.
O meu avô ensinou-me: mamas grandes em corpo magro, é sinal de burrice.
Quando era petiz ficávamos sentados a rir e a contar mamas, seleccionando e contabilizando aquelas que considerávamos menos dotadas de massa cinzenta em virtude do seu desproporcionado aparelho frontal.
Como o meu avô já se finou há largos anos, continuo a homenageá-lo mas agora numa versão em solitário.
Para me distrair e sempre que sou obrigado a vir ás compras, faço este jogo mental, mas agora com este modismo dos implantes de silicone, comecei a notar que havia muito mais “burras” que há cinco anos atrás.
Baseado neste estudo “quase cientifico”, chego à conclusão que tenho de abandonar o meu jogo preferido porque afinal os dados começam a estar viciados, logo as conclusões não serão as mais acertadas.

- Jeremias! Jeremias! Oh homem parece que estás na lua! Replica Julieta sem saber o que me vai na cabeça.
- Qual deles gostas mais – pergunta, mostrando-me um sapato novo em cada pé.
Neste momento pressinto que vai começar o meu calvário e procuro rememorizar o último palpite aquando da última aquisição de sapatos, de modo a apostar exactamente no sentido contrário.
Sem qualquer convicção aponto o sapato direito e digo – Gosto muito desses, ficam-te bem e com a toilette que trazes, fazem com que a tua figura fique mais esguia, mais atraente, mais apetecível - Respondo com o melhor dos sorrisos, ainda com uma réstia de esperança dela aceitar a minha escolha, pagar e ainda chegar a casa a tempo de ver metade da segunda parte do Barça - Real a que tanto queria assistir.
- E deste não gostas? – Retorquiu, avançando com o pé esquerdo em voltarete, mostrando-me os diversos ângulos do sapato, procurando mudar a minha opinião.
- Gosto! Até tive dificuldade em escolher entre um e outro. Replico, na expectativa de me safar.
- Também nunca és capaz de decidir nada. Como sempre vou ter de escolher sozinha. Nem sei porque te trouxe comigo! – Devolve Julieta visivelmente agastada com a hesitação do marido.
Depois de um comprometedor silêncio e de mais um sem número de voltas ao espelho; depois do vendedor ter perdido o sorriso, a vontade e a serenidade , Julieta descalça-se graciosamente (foi uma coisa que sempre gostei de lhe ver fazer!) e num rasgado e fingido sorriso deposita os dois sapatos em cima duma das oito caixas entretanto abertas e diz ao esmorecido funcionário.
- Muito obrigado! Anda daí Jeremias, acho que aqui não têm aquilo que procuro.
O empregado de queixo caído e de sapato numa das mãos, coçava com a outra a testa, procurando encontrar o fio à meada da amálgama de sapatos desencaixotados e desemparelhados que povoavam o chão da sapataria.
Não será necessário relatar-vos todas as restantes estações da via-sacra por que um homem passa até que a mulher se decida por que par de sapatos escolher.
Naquela tarde percorremos quase todas as sapatarias da zona, e em todas elas, com mais ou menos exactidão, repetia-se o espalhafato. Um solicito empregado disposto a cativar a exigente cliente; passados mais ou menos trinta minutos o mesmo cenário de desolação, a mesma resposta com tal sorriso fingido e eu a contar mamas, como forma de distracção e a lembrar-me do meu avô materno, José Feliciano de seu nome, que embora fosse homónimo do prestigiado cantor cego porto-riquenho, tinha uma visão de ave de rapina treinada para a detecção da presa, mesmo quando esta ainda estava a mais de trinta metros. Quando tal acontecia dava-me uma ligeira cotovelada e dizia assim numa espécie de código só nosso – A trinta metros, onze horas, blusa vermelha, cabelo louro pelos ombros. Pelo tamanho do peitoril deve ser burra que se farta. Ria o meu avô a bandeira despregadas´, enquanto me abraçava, ou para ser mais verdadeiro, estrangulava, celebrando assim uma consanguínea cumplicidade, e à medida que a presa se aproximava mordia o lábio inferior num gesto de impotência de quem nasceu com genes de predador, mas que por razões óbvias se ficava pelo olhar electrizante com que brindava as suas vitimas.

Depois de calcorreadas todas as sapatarias da zona sem haver comprado qualquer par de sapatos, Julieta resolve-se pela solução que Jeremias sabia de cor e salteado e que há muito pressentia.
- Vamos regressar à primeira sapataria e comprar o primeiro par de sapatos e não quero ouvir a tua opinião, ouviste! – Ordena Julieta num misto de imperialismo e irritação por se estar a acabar o seu passatempo favorito, que passa por experimentar todos os sapatos possíveis, para adquirir invariavelmente os primeiros que experimentou e ainda por cima tentar dar-me cabo do juízo, caso não me socorresse do meu ancestral passatempo.
Chegados à Sapataria Ideal, assim se chama o estabelecimento; o caixeiro que nos atendeu horas antes revela repentinamente um maneirismo algo suspeito que me dá a entender que o sujeito afinal tem “um piquinho a azedo”, soltando alguns contidos gestos que anteriormente não denunciara, o que faz com que me ria por dentro, não pelo que penso ser a orientação sexual do vendedor, mas sim pelo caricato da situação e pelo abanar das nádegas quando se encaminhou para o armazém afim de trazer os tais sapatos trinta e oito e meio, castanhos cor de galão com pouco café e com o enfeite na ponta.
Julieta voltou a calçar os sapatos, a pedir-me opinião, coisa a que respondi com um enfadado encolher de ombros e um sopro de desagrado de quem estás prestes a rebentar.
Finalmente decide-se (como eu de resto já adivinhara!) pelos sapatos castanhos cor de galão com pouco café, coisa que repôs o sorriso na cara do vendedor.
Era já noite cerrada quando se deu o regresso a casa. Julieta estava contente com a sua tarde de compras e não se cansava de elogiar os seus mais recentes sapatos.
Nisto baixa a pala do pára-brisas, faz correr a tampa do espelho e começa a apalpar os seios que eram do tamanho de uma mão fechada em concha, volta-se para Jeremias, olhando-o fixamente nos olhos como se tivesse tido a mais brilhante das ideias e com as mãos em forma concava segurando ambas as mamas, dispara.
- O que é que tu achas se eu puser umas mamas de silicone?


Observação: Este era para ser um conto de Natal, mas acabou por resvalar para este registo. Não quis de maneira alguma ofender as mulheres, sendo antes um exercício de humor em que muitos homens se reconhecerão.
E como dizia um amigo meu quando lhe pediam a definição de mulher, este respondia – A mulher é o mais belo defeito da natureza!

Escrito por pulanito @ novembro 29, 2009   3 comentários

sexta-feira, novembro 27, 2009

Reveillon 2009 / 2010


E pronto, daqui a pouco mais de um mês já estaremos em 2010, um ano com um número redondo mas que prevejo bicudo para a grande parte dos portugueses, exceptuando naturalmente uma elite de intocáveis onde nem a economia, ou mesmo a justiça fazem qualquer tipo de mossa.

Mas deixemo-nos de lamúrias e vamos ao que interessa. A minha empresa todos os anos organiza em conjunto com uma série de unidades hoteleiras de norte a sul do país inúmeras festas de reveillon que depois comercializa via internet em www.mymultihotel.com/reveillon.

Noutros anos, amigos e leitores sabendo desta minha actividade utilizaram estes serviços, baseados na divulgação aqui efectuada, que normalmente acontece em meados de Dezembro, altura em que os “prevenidos” portugueses desatam a fazer planos para a passagem de ano.

Iniciámos esta difusão em meados de Novembro e na altura contávamos com 98 programas de reveillon em diversos locais do país, acontece que para nossa surpresa fomos este ano surpreendidos com um caudal de reservas fora do comum, o que fez com que 26 desses programas fossem desde já fechados, porque estão 100% vendidos.

Para que não me digam que não vos avisei, e depois me venham pedir reservas em cima da hora, aqui vos deixo alguns programas onde ainda há disponibilidades e que me parecem estar a um preço bastante aceitável.

No momento em que escrevo este post ainda temos 72 programas diferentes, deixo apenas aqui algumas alternativas que penso serem uma boa base de partida para a vossa escolha de festa de reveillon 2009 /2010.

Para reservar basta fazê-lo on line seguindo as instruções ou através dos telefones 282 356 162 ou 918 887 955

Hotel Imperador – Estremoz a partir de 120 euros por pessoa
https://www.mymultihotel.com/promotions/hotel/1610

Hotel de Moura – Moura - Programa de 4 dias a partir de 245 euros por pessoa
https://www.mymultihotel.com/promotions/hotel/1698

Hotel Stella Maris – Algarve –Açoteias a partir de 45 euros por pessoa 2 dias
https://www.mymultihotel.com/promotions/hotel/1676

Hotel Tivoli Lagos – Algarve – Programa de 2 noites – 245 euros por pessoa
https://www.mymultihotel.com/promotions/hotel/1681

De entre dezenas de programas escolhemos estes como forma de poderem aquilatar da diferença de preços e programas que temos para oferecer.



Escrito por pulanito @ novembro 27, 2009   0 comentários

quarta-feira, novembro 25, 2009

Silêncio!


Agora que uma a uma
As gelosias se fecham
Os carros rareiam e a vida é invisível até ao alvorecer
Sou um homem só no mutismo da madrugada
Cirandando de passeio para passeio
Preenchendo de vácuo as horas mortas
Que saboreio no imaculado silêncio
Das pedras gastas da minha rua

Viriato Ventura 11/09

Escrito por pulanito @ novembro 25, 2009   3 comentários

segunda-feira, novembro 23, 2009

DJ Cruzfader - De Volta Ao Serviço


O meu amigo Alexandre Cruz, mais conhecido no mundo artístico-musical por Cruzfader, vai no dia 1 de Dezembro lançar a sua nova mixtape a que chamou – De Volta Ao Serviço.
Contado com a colaboração de inúmeras figuras do Hip Hop nacional, bem como das melhores vozes de soul das terras lusas (vulgo: tuga!), este novo trabalho do virtuoso DJ finalmente vê a luz do dia depois de um amadurecimento que demorou mais tempo que o previsto.
Cruzfader fez questão de me endereçar convite para participar neste trabalho, coisa que foi feita há seguramente mais de um ano.
Pelo que me foi dito, o poema que escrevi para o Alexandre tem lugar de destaque no livro que acompanha o CD.
A minha modesta contribuição foi gravada em Armação de Pêra no estúdio Kimahera do meu amigo Reflect.
Piano e vozes pela extraordinária Emmy Curl e produção do Gijoe.
O poema que escrevi dá o nome ao trabalho – De Volta ao Serviço – podendo ser ouvido aqui dentro de pouco tempo.
Para quem não souber o que comprar como presente de Natal, aqui fica excelente sugestão para quem gosta do género. Tanto mais, que a grande maioria dos nomes da nova música urbana estão lá presentes.
Oportunamente aqui trarei um post mais detalhado sobre este trabalho, que demorou tempo a concluir mas que promete ser um marco dentro do género.

Escrito por pulanito @ novembro 23, 2009   2 comentários

sábado, novembro 21, 2009

Adega Folia - Um Espaço à la Pulanito!


Como estava com síndrome de abstinência da minha mátria, deixei sem pena nem temor as terras mais a sul e rumei a Entradas.
Cheguei já de noite e sem planos para jantar. Como estava sozinho, decidi-me pela companhia dum livro e fui até Castro Verde disposto a experimentar um novo conceito de casa de vinhos & petiscos há pouco tempo aberta mas que já há tempos me andava a aguçar o apetite.
De Entradas a Castro Verde são 5 minutos de viagem, o que faz com que este estabelecimento entre no meu círculo de proximidade no que se refere à escolha de última hora para refeiçoar.
A Adega Folia (gosto do nome!) está situada na Praça da República em Castro Verde. Localizada no antigo café / pastelaria Bate Papo, estabelecimento de que tenho também saudades, visto ter sido o melhor sitio para se comer torradas gigantes em pão caseiro a um preço verdadeiramente simpático. Como o negócio não vive só de simpatias, foi por água abaixo, mas em seu lugar surgiu um novo conceito tabernal que me agrada de sobremaneira.
A Adega Folia tem apenas uns 40 lugares no interior o que lhe confere um ar acolhedor. Decorada com toques da rusticidade taberneira que deixa no olhar do comensal um certo perfume de saudade por esses templos vínicos de que já só restam meia dúzia de gloriosos resistentes.
A Adega Folia tem este conceito de “ Vinhos & Petiscos” como as antigas vendas, mas ao mesmo tempo acrescentou-lhe alguns toques de contemporaniedade, no que diz respeito à eficiência e gestão negocial. No caso presente, oferece um sem número de petiscos, que agora se chamam “tapas” que são vendidos em doses de mini prato o que permite a um reduzido grupo provar uma série de excelentes petiscos tradicionais alentejanos e outros.
Os mariscos são outra das novidades destes empreendedores castrenses que em boa hora abraçaram este projecto. Sapateiras, bivalves, perceves, navalheiras, camarões de vários calibres e proveniências são outra excelente alternativa de oferta.
Para além disso tem os melhores néctares vínicos da região, que poderão ser saboreados neste ambiente apropriado à sua degustação.


Interior da Adega Folia

Por fim falo de outra excelente inovação que estou "careca" de recomendar a restaurantes da região; tem uma excelente banda sonora. Quando por lá passei, Deolinda e Gotan Project faziam as honras da casa, ouvi ainda outros sons excelentemente escolhidos para o ambiente em causa, de que o único reparo que deixo é que estava um tudo nada alto, o que obrigava as pessoas a falarem mais alto para se poderem ouvir. Creio que às oito da noite ainda não se justificavam os decibéis impostos, apesar da música não poder ser mais do meu agrado.
Neste tipo de estabelecimentos, é um trunfo contemplar todos os sentidos, e neste particular, para além do paladar, do olfacto e do olhar, agora também podemos degustar excelente música bebendo um bom copo de vinho.
Para quem quiser beber vinho de qualidade a copo, pode por exemplo experimentar um Monte Velho Tinto por dois euros.
Este é o conceito de wine bar, tão em voga nas grandes urbes europeias e não só, mas aqui em Castro Verde os responsáveis da nova Adega Folia souberam ir um pouco mais longe e fizeram uma mistura de conceitos que me agrada de sobremodo.
O preço é justo e simpático, mas ao contrário da anterior gestão, parece-me que para além da simpatia esta rapaziada tem saber e pernas para andar.
Tem ainda uma notável esplanada em frente ao estabelecimento, que será uma excelente mais valia em dias de calor; coisa que não falta no local onde está instalada.
Por último e falando serviço. Achei-o apenas: Excelente!

Por isso recomendo vivamente este novo conceito de taberna que vem engrossar os locais de predilecção deste escriba, portanto mais um estabelecimento à la Pulanito.

Escrito por pulanito @ novembro 21, 2009   4 comentários

segunda-feira, novembro 16, 2009

Feliz Natal!


Nas terras mais ao sul ainda se vêem turistas de calção e chinelo a caminho da praia de toalha ao ombro, sinal de que o Verão terminou no calendário, mas não nos termómetros cujas temperaturas sugerem mergulhos e passeios à beira-mar.
Ao mesmo tempo que “pinto” este sugestivo e estival quadro, reparo que as iluminações de Natal inundaram as ruas de Portimão sugerindo uma festa, que para a sua celebração máxima faltam precisamente dois meses, já que escrevo no dia 24 de Outubro.
Compartilho em absoluto da grande máxima criada por Ary dos Santos que diz: “Natal é quando um homem quiser” e em Outubro e mesmo em Novembro pode ser, mas dois meses, ou mesmo mais, a relembrar-nos todos os dias que a quadra natalícia está aí à porta parece-me um exagero consumista que desvirtua o espírito da coisa.
Dou uma volta por dois centros comerciais da região e já lá estão emprateleiradas todas as bugigangas decorativas da quadra que servem para “acarnavalar” a casa, só que em versão natalícia.
Lá estão as árvores de plástico, mais as luzes que piscam e catrapiscam assim à moda de stand de vendas de automóveis em segunda mão à beira-estrada plantado; mais as bolas, penduricalhos, bonecos alusivos e restantes decorações que por ali perdurarão até que o ano dê por findo o seu irrepetível ciclo.
A satisfação natalícia dos tempos que correm, chega-nos agora em contentores vindos da china, onde a populaça dos olhos rasgados trata da nossa “ plástica felicidade” trabalhando dia e noite a troco de uma malga de arroz, ou pouco mais.
Do que verdadeiramente gosto, é do Natal do aconchego; do Natal fraterno e humano, de mesa sempre posta e do contentamento da pequenada, que um dia se há-de lembrar destes natais como os melhores das suas vidas.
Num tempo em que cerca de dez por cento dos portugueses perdeu o emprego e pelo menos para esta significativa franja da população, são de dificuldade acrescida os tempos que se avizinham, parece-me até de mau gosto inundar as cidades desta desmedida sede despesista em que a festa da família se transformou.
A pressão gastadora é de tal ordem que dentro em breve, rádios, jornais, placards, internet, estações de televisão e sei lá que mais suportes serão invadidos de anúncios alusivos à época, onde o pobre cidadão faz das tripas coração para resistir ao ímpeto que tais mensagens produzem.
Contam-se os tostões, fazem-se e refazem-se contas à vida, e mesmo contando com um salário extra muitas das vezes não se consegue esticar para fazer face a todas as solicitações natalícias.
As agências financeiras, quais agiotas legalizados, já estão a afiar as garras e voltaram à carga com a promoção dos seus préstimos financeiros, cujos juros de encargo (cerca de 30%), são a meu ver um insulto, para não lhe chamar assalto ao incauto cidadão, que quase sem querer se vê envolvido numa teia de compromissos, que lhe hão-de causar amargos de boca, passada a euforia despesista dum tempo que se transformou na época alta do consumo desenfreado.
Gasta-se o que se tem e o que se não tem, incluindo esgotar o plafond atribuído ao cartão de crédito. Inundam-se as crianças de inutilidades cujo único prazer consta em rasgar uns atrás dos outros os embrulhos coloridos em que as bugigangas vêm embaladas.
Pela minha parte voltarei no Natal a fazer da minha aldeia ponto de encontro da minha consanguinidade, onde ano após ano vamos construindo e cimentado um legado familiar que tudo farei para que perdure no tempo.
Publicado na Revista 30 Dias - Edição de Novembro 2009

Escrito por pulanito @ novembro 16, 2009   1 comentários

sábado, novembro 14, 2009

Romam Abramovich - Um almoço de amigos!


Roman Abramovich, decidiu ir almoçar fora com mais cinco acompanhantes a um sofisticado restaurante de Nova Iorque e gastou qualquer coisa como 48.000 dólares, o que perfaz uma média de 8.000 dólares por cabeça, ou lá muito por perto.
Deixo-vos a foto para que possam imaginar a vida deste senhor. Se isto foi um almoço ligeiro imaginem o jantar.
Ou como diz o meu amigo Paulo Iscas – Eu só queria ficar com a gorjeta!

PS: se não conseguires ver bem carrega na foto para ampliar.

Escrito por pulanito @ novembro 14, 2009   2 comentários

sexta-feira, novembro 13, 2009

Parabéns Velhote!

Alexandre Mira fotografado pela sua neta - Catarina Mira
Faz hoje precisamente 83 anos que nascia em Entradas um menino a quem foi dado o nome de Alexandre, que por parte da mãe ganhou o apelido de Gonçalves e por parte do pai ficou-lhe o Mira como sobrenome.
Como a vida passa num sopro, olho para ele agora no ocaso da vida, mas leio-lhe nos olhos muitas das cumplicidades que repartimos e fazemos desse momento de comunhão um ritual só nosso, sabendo um, o que o outro pensa; afinal, somos sangue do mesmo sangue!
A minha filha Catarina, num raro momento de inspiração conseguiu captar-lhe o sorriso da alma; dessa alma de maltês de que tanto se orgulha e que agora convosco partilho.
Meu pai (gosto desta coisa de o ter para o poder chamar!), é um velho resmungão, que se alguém lhe ler estas palavras dirá resmungando que não é nada disso, mas ao mesmo tempo é folgazão e gosta de mangar, por alguma razão lhe chamariam de Bocage quando era novo e como é apanágio por terras alentejanas a alcunha colasse-nos à pele, como se de uma segunda derme se tratasse.
Hoje lá irei celebrar com ele esse ciclo que se fecha, no mesmo instante em que outro se abre, até que o velho da adaga um dia o venha cercear.
Não vos vou biografar a vida dele, mas retenho estes dois episódios. Já com os meus irmãos nascidos, foi de Entradas a Lisboa de bicicleta pasteleira à procura de trabalho. Diz que demorou dois dias, tendo dormido num palheiro onde lhe deram guarida, lá para as bandas do Condado de Palma.
Na sua juventude aprendeu com o meu avô Mira (seu pai) o nobre mister de alfaiate, mas aquela coisa das agulhas, linhas e botões não era para ele, assim comprou um prumo, martelo,colher e talocha, apresentou-se numa obra em Lisboa pedindo trabalho de pedreiro. E assim do dia para a noite, e apenas trocando de ferramentas se transforma um mestre noutro.
Conto estes dois episódios, porque nestas duas vertentes somos geneticamente “ farinha do mesmo saco”. No particular das bicicletas somos mais que parecidos, somos absolutamente iguais, já que do relato que me fez da viagem retenho mais o gozo da palhinha ao canto da boca admirando o silêncio da paisagem do que o esforço da viagem.
No que se refere ao trabalho e à busca dele, também eu tive profissões que simplesmente imaginei como se fariam, e também não me saí mal e ainda por cá ando inventando destinos.
De tão parecidos sermos, também haveríamos de gostar do tinto como quem gosta de uma mulher, por isso, hoje para celebrar beberemos os dois o melhor dos néctares que encontrar na garrafeira.
Parabéns velhote!

Escrito por pulanito @ novembro 13, 2009   7 comentários

quinta-feira, novembro 12, 2009

Pela Estrada do Monte

Invariavelmente, quando vou passear ao campo e o azimute aponta para aquelas bandas é obrigatório fazer uma visita à tasca do Ti Chico no Monte do Salto, lá para os lados da Senhora de Aracelis (gosto deste nome!).
Como a Inói veio passar connosco o fim-de-semana, faz parte da iniciação de quem nos visita, serem passeados ao campo e beber um cafezinho à-do-ti-chico.


Imagem dum alentejo que eu amo (senhora de Aracelis), e que por certo a Teresa Caldas Também, visto ser ela a autora do retrato.

Bem, já escrevi aqui várias crónicas acerca da vastidão da planície e de como essa imensidão influencia aqueles que nela vivem. Já aqui falei do silêncio da terra plana quando presenciado, sentido, interiorizado do adro da minúscula capela do Monte de Aracelis com todo aquele Alentejo aos nossos pés. De repente, até parece que somos o epicentro do mundo! Se calhar só me acontece a mim; mas quem dúvida, é porque anda em busca da verdade.


Ti Chico entre a Natália e a Inói.


Já aqui falei do Ti Chico e do seu insignificante estabelecimento. Nem mesmo em paragens longínquas por onde já andei, encontrei estabelecimento tão singelo.
Quando atravessamos a cortina de fitas que impedem as moscas de nos acompanharem ao interior, entramos num minúsculo espaço vocacionado para a clientela onde as duas mesas que compõem o espólio mobiliário deste estaminé, preenchem quase por completo o espaço a esta dedicado.
Nas paredes os inevitáveis calendários para o ano presente (dentro em breve começarão a aparecer os de 2010!), com imagens evocativas de fogosas jovens em sugestivas e eróticas poses, que fazem sonhar muitos dos caçadores que por aqui passam, não se importando de as “chumbar”, caso estas aparecessem ali a três dimensões.
Dentro do balcão, com o eterno sorriso do mariola que foi, Ti Chico recebe-nos com a alegria de quem não vê gente de fora amiúde.
Homem pequenino (logo, ou velhaco ou dançarino!), o nosso anfitrião é o típico alentejano meio desconfiado, que olha para a clientela desconhecida com um olho no burro e outro no cigano, mas sempre delicado e curioso.
O balcão tabernal é de pedra mármore para que o vinho corra, escorra e se entorne sem grandes estragos na mobília.
Nas prateleiras (emolduradas por duas rodas de carro de bestas!) o mostruário é parco em mercadoria; umas quantas garrafas de porto, brandy, ginja e bagaço, mais uns refrigerantes no meio dumas águas, é o que Ti Chico tem para nos aguçar o apetite.

Ao canto uma máquina de café, empresta a este peculiar estabelecimento uns ares de modernidade de que Ti Chico notoriamente se orgulha.
Lá dentro a esposa do taberneiro talha pano em cima da mesa da casa de jantar que também é cozinha e ao que parece também é atelier de costura num cenário, que de tão simples, me fascina!
A luz natural que se derrama mesa fora vinda do tecto através da telha de vidro empresta ao cenário a ambiência natural que o quadro necessita mas que não consegui fotografar, e assim, tenho de o tentar traduzir em palavras.
Meia dúzia de alcagoitas, uma água, uma ginja e um café (sim, porque aqui não há essas coisas amaricadas como adoçante, descafeinado, cerveja sem álcool etc..), foi a despesa que efectuámos.
Sacámos umas fotos ao Ti Chico, que já é um habitué destas páginas, e um destes dias passo por lá com elas emolduradas e cravo-as na parede, assim em forma de concorrência às moçoilas de mamalhal ao léu que se irão embora assim que o ano acaba, ao passo que as que lá vou pondo, serão tão eternas quanto durar o simpático senhor Chico do Monte do Salto.
Deixo-vos aqui as coordenadas de GPS para quando quiserem beber um café (descafeinado com adoçante não!) num sítio que “não existe”. Vão até ao Monte do Salto, perto de São Marcos da Ataboeira em Castro Verde e digam ao Ti Chico que vão da minha parte.

Entradas - Quando se vem do campo!

Ao regressar a Entradas por ínvios caminhos, dou-me conta de que a minha terra é linda, mesmo que seja fotografada ao pôr-do-sol de quem vem do lado do cemitério.


Coordenadas de GPS: 37º44'51.14" N 7º54'53.08"O

Escrito por pulanito @ novembro 12, 2009   3 comentários

quarta-feira, novembro 11, 2009

Queixinhas!


E pronto, na lotaria das probabilidades lá me calhou finalmente ser premiado com uma gripe sem que eu saiba ainda de que estirpe é a bicha.
De facto já há dois ou três dias que o corpinho me andava a pedir cama; isto acompanhado de alguns suores, mas ontem senti que estava mesmo atacado e tive que passar a tarde em casa com a cabeça assim um bocado para o azamboado.
Longe vão os tempos de meninice em que desejava estar doente; e desejava-o por duas razões: primeiro, para não ir à escola, ou então para poder beber leite e comer bolachas, coisa apenas acessível a meninos considerados ricos ou em caso de maleita sazonal, como era o meu caso, e na maior parte das vezes fingida.
Hoje, não gosto de leite e o raio das bolachas engordam, daí não me valer de nada fingir uma gripezita de chamar a atenção, até porque nem a isso tenho o direito que julgo merecer.
Mas voltando aqui à minha sintomatologia, vou deixar a coisa evoluir atacando-a do mesmo modo que tenho atacado surtos anteriores sem pensar de que estirpe será a bactéria que tenho hospedada no meu corpo.
Estou no trabalho. Tirei uns minutos para escrevinhar aqui um pedaço a ver se me abstraio deste nariz pingante e desta cabeça que parece querer rebentar a todo o instante.
Para compor o ramalhete, ontem fui lavar o carro, coisa que se deve fazer ocasionalmente e em especial quando a viatura é bastante recente. Vai daí, lavei, lavei e o raio da agulheta nunca mais parava, decidi então colocar a “pistola” no respectivo “coldre” e abalar à minha vida. Nisto vejo o raio da agulheta a bailar desvairadamente no ar investindo contra a minha viatura de cima para baixo. Dá três pinotes no ar, como se de um louco bailado se tratasse e zás, investe selvaticamente sobre o meu pára-brisas, abrindo-lhe ali uma brecha deixando o interior apinhado de minúsculos pedaços de vidro, que ainda não consegui limpar na totalidade. Vou hoje tentar colocar um vidro novo – mas para tal é preciso sorte, já que a viatura é de modelo recente e o vidro é provável que não exista em stock.
Para além destas fatalidades vou ter de arranjar forças para ir amanhã a Lisboa e regressar ao Algarve de seguida, numa maratona que não me estava nada a apetecer, mas compromissos são compromissos.

Y asi es mi vida
Piedra como tu!

Escrito por pulanito @ novembro 11, 2009   3 comentários

sexta-feira, novembro 06, 2009

Carmina Burana



Ontem fui à ópera. A bem dizer, ontem, em cinquenta e três anos de vida fui pela primeira vez à ópera e fiquei com a sensação de que já o deveria ter feito, há muito mais tempo.
Fui ver a ópera ou, grande cantata cénica, Carmina Burana. Fui por várias razões: porque nunca tinha assistido a um tão grandioso espectáculo, porque era uma lacuna no meu parco saber e porque sem ser melómano ou coisa que o valha, esta obra faz parte da minha vida.
Sou um gajo de impulsos, o que muitas vezes é mau, mas outras vezes é altamente gratificante.
Ouvi a primeira vez Carmina Burana, há seguramente uns trinta anos e logo me apaixonei pela mais bela das obras do compositor alemão Carl Orf. Eu, que naqueles tempos pós revolucionários, em pleno boom do rock português e morando num bairro social ocupado, onde as preocupações ditariam muitos cenários possíveis, mas decerto não contemplariam a escuta de uma obra deste género, até parecia blasfémia ouvir tal género musical!
O facto é que Carmina Burana, ocupou ao tempo muita da minha atenção, fechando-me em casa a ouvir horas a fio tão bela composição.

Abertura: Ó Fortuna !- pela Companhia Nacional da Bulgária

Depois veio a minha separação matrimonial e do parco espólio que me acompanhou fazia parte o inevitável vinil da obra que ontem fui ver e de que agora vos falo.
Quando cheguei às terras do sul (onde de resto vivo desde então!), passei a ouvir com mais intensidade esta obra que acabei por praticamente decorar à custa de tanta repetição auditiva.
Depois tive uma breve incursão pelo estrangeiro e o disco perdeu-se e nunca mais voltei a adquirir outro exemplar. Praticamente resume-se à sôfrega audição desta obra e mais umas quantas árias da grande Callas a minha ligação ao bel canto, o que faz de mim um perfeito ignorante na matéria no que se refere à música erudita, em especial aquela acompanhada por vozes, sendo que no que se refere à música sinfónica, já ouço com mais assiduidade.



Maestro Michel Tabachnick

Na minha juventude tive a felicidade de conhecer o maestro Michel Tabachnick , que era ao tempo o condutor de orquestra da Gulbenkian, tendo sido este irreverente músico suíço que me deu a conhecer e a perceber a beleza da grande música, emprestando-me discos e a ensinar-me o que eram os andamentos e outras matérias que o tempo esborratou do sitio onde a havia guardado: a memória.
Mas ontem revivi ao vivo, a cores e a três dimensões a empolgante prestação cénico-musical com que os mais de duzentos elementos de entre, músicos, cantores e bailarinos
ofereceram aos cerca de mil espectadores que esgotaram o Centro de Congressos do Arade em Ferragudo.
Revivi ali grande parte do filme da minha vida de então e fiquei com a nítida sensação de que devo aproveitar mais selectivamente a minha vida entregando-me sem reserva a acontecimentos onde imperem a descoberta dos sentidos.

Escrito por pulanito @ novembro 06, 2009   5 comentários

segunda-feira, novembro 02, 2009

Chico Italiano - Um Personagem Com Carisma.

Chico Italiano - Uma História from Fabrica de Imagens on Vimeo.



Há por esse Alentejo fora, representantes da raça transtagana que são verdadeiros exemplos duma linhagem em vias de extinção.
O Nuno Guerreiro, alentejano de Moura e meu colaborador trouxe-me a história contada em vídeo desse seu conterrâneo; uma figura impar da cidade do Alqueva.
Este alentejano tem orgulho na profissão que pratica: é técnico de recolha de resíduos urbanos, ou seja: é varredor de ruas, almeida, fitipaldi, o que se lhe queira chamar, mas o Chico Italiano desempenha com conhecimento e galhardia o "metier" que lhe foi destinado.
Este alentejano tem no seu veículo de recolha do lixo o seu objecto de culto, que também é motivo de curiosidade para visitantes e para mourenses.
O veículo do Chico Italiano está "kitado" com vários apetrechos. Nas rodas os inevitáveis cd’s que servem de reflectores conforme explica o condutor de tão peculiar veículo.
Por altura de importantes acontecimentos internacionais a bandeira verde-rubra faz parte integrante desta pseudo-instalação andante, onde o nosso Chico recolhe os detritos que os outros não depositam nos recipientes apropriados.
De entre a panóplia de "gadjets", podemos admirar ocasionalmente uma estação meteorológica, vulgo cata-vento, a imagem de Nossa Senhora prantada na frente do veículo ou ainda uma antena radiofónica que não serve rigorosamente para nada; mas quem é que anda à procura de explicações?
Cumpre o seu horário deixando num brinco a parte da cidade que lhe está destinada manter.
Pela tardinha quando o trabalho deixa de ser a sua preocupação mor, Chico Italiano transforma-se noutro homem, que sendo o mesmo que há pouco quase nos varreu os sapatos, agora apresenta-se como: O Verdadeiro Artista.
Nas tardes de Verão, quando os dias são maiores que as noites, Chico Italiano percorre os estabelecimentos vínicos da cidade, bebericando um copo aqui, uma mini acolá, ao mesmo tempo que debita muita da sua particular filosofia de vida, cuja máxima é: vive e deixa viver!
Do alto destas inquestionáveis verdades o nosso protagonista vai exibindo a extensa quinquilharia que lhe adorna braços, mãos e pescoço, e nos olhos os seus inseparáveis óculos escuros quer de dia quer de noite. Talvez tenha sido nesta prestigiada figura que Pedro Abrunhosa se terá inspirado para criar o personagem artístico que lhe conhecemos.
Ao contrário de Abrunhosa, sempre que uma caleira mourense o aborda dizendo-lhe que com os olhos lindos que tem não devia de andar de óculos escuros; Chico faz-lhe a vontade e mostra-lhe os dois faróis que lhe iluminam a face e sorri-lhe agradecido.

Depois, montado no seu ego, vai empurrando rua acima, rua abaixo a estranha viatura que já faz parte do espólio emocional da cidade.

PS: o video é um pedaço longo, mas é uma delicia, especialmente quando o Chico Italiano se transforma no: Verdadeiro Artista. Não percam!

Escrito por pulanito @ novembro 02, 2009   9 comentários

domingo, novembro 01, 2009

Tabasco - Um molho recomendável!


Há muitos anos que o meu molho picante favorito é o Tabasco. Aprendi a gostar do molho da garrafa minúscula, há seguramente mais de três décadas. Comer um prego do lombo ou da vazia em pão quente, condimentado com 3 ou 4 gotas de Tabasco acompanhado por uma imperial fresquíssima em tarde de Verão, é quase um manjar dos deuses, mas que seria apenas bom, caso não existisse o tal tempero mágico.
Aprendi a ilustrar os meus pratos e molhos com umas pitadas deste molho que ressalva e amplia o sabor natural dos alimentos. Nos pratos de peixe, mariscos ou carne umas gotas de Tabasco fazem a diferença. Quase nunca se recomenda dosear este condimento, deixando antes ao belo prazer dos convivas a quantidade que estes mais gostarem.
Há muitos anos e já sendo um ferrenho adepto do peculiar sabor deste condimento, foi-me apresentado em Estremoz, um maitre d’hotel de seu nome Eusébio que me contou a história deste raro molho vermelho.
De sabor picante mas sem ser agressivo é preparado à base de malaguetas da variedade tabasco (daí o nome!), vinagre, água e sal, macerados em barris de carvalho durante um tempo apreciável.
É um produto americano inventado no longínquo ano de 1868 por Edmund MciIlheny, um banqueiro retirado, nascido no estado de Maryland e que entretanto se havia mudado para o Lousiana por volta de 1840.
O produto tem desde sempre estado nas mão da família MciIlheny, sendo hoje um potentado que exporta para mais de 160 países, produzindo diariamente 720.000 pequenas garrafas de 57 ml, na fábrica da Tabasco em Avery Island no Louisiana- EUA.
Uma das curiosidades a que está associada, é a de ser conhecida mundialmente sem necessidade de divulgação, e tanto quanto me lembro, julgo mesmo ser apanágio deste "brand", não fazer qualquer tipo de publicidade ou campanha de marketing, o que leva os estudiosos a fazerem desta marca, um caso de estudo sem precedentes.
Mas voltando aqui ao post sobre Tabasco, devo dizer que demorou tempo, mas lá em casa, a minha mulher que durante anos me viu comprar as minúsculas garrafinhas sem nunca as provar, caiu na tentação de um dia o fazer e agora “culpa-me” por não a ter obrigado a experimentar esta iguaria mais cedo.
Quando vou a um restaurante regra geral peço Tabasco. Regra geral é também não terem, e então passamos ao caricato da situação.
Pode acontecer uma de duas ou três coisas:
“Aqui está” – Desculpe mas isto não é Tabasco, riposto!
“ Esse é o Tabasco da casa, prove e vai ver, mas recomendo-lhe que tenha cuidado é bastante picante”.
Outros à mesma rejeição respondem:
“ Este é muito melhor que Tabasco, é caseirinho, feito com whisky e piri-piri, uma bomba”
Ou ainda outros que se estão borrifando e me dizem trazendo uma imitação barata do milagroso condimento –“é o que há”.
De facto chego á conclusão que regra geral os empregados de mesa da generalidade dos restaurantes estão pouco informados acerca do melhor picante do mundo, considerando que o importante quando se pede um molho destes é que pique até as órbitas saltem dos olhos numa catarata de suor que nos escorre cara abaixo enquanto se riem ao canto da sala da figura que fazemos, e quando se aproximam para perguntar se necessitamos de algo, sempre nos dizem –“ eu avisei, não avisei?”.
Com o Tabasco estas situações jamais acontecem. Os utilizadores sabem que aquelas meia dúzia de gotas fazem a diferença.
Tenho até o caso curioso de um amigo originário do Iémen do Sul, que quando vinha a Portugal, até nos pasteis de nata punha Tabasco. Bem. Fundamentalista, mas nem tanto!
Se por acaso o leitor não for adepto de comida picante, experimente 2 ou 3 gotas e verá que o Tabasco transmite aos alimentos o mesmo tipo de sensação que um baton vermelho provoca nos lábios de uma mulher.

Etiquetas: gindungo, malaguetas, molho picante, piri-piri, tabasco

Escrito por pulanito @ novembro 01, 2009   5 comentários

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