Pela Estrada do Monte
Como a Inói veio passar connosco o fim-de-semana, faz parte da iniciação de quem nos visita, serem passeados ao campo e beber um cafezinho à-do-ti-chico.
Imagem dum alentejo que eu amo (senhora de Aracelis), e que por certo a Teresa Caldas Também, visto ser ela a autora do retrato.
Bem, já escrevi aqui várias crónicas acerca da vastidão da planície e de como essa imensidão influencia aqueles que nela vivem. Já aqui falei do silêncio da terra plana quando presenciado, sentido, interiorizado do adro da minúscula capela do Monte de Aracelis com todo aquele Alentejo aos nossos pés. De repente, até parece que somos o epicentro do mundo! Se calhar só me acontece a mim; mas quem dúvida, é porque anda em busca da verdade.
Ti Chico entre a Natália e a Inói.
Já aqui falei do Ti Chico e do seu insignificante estabelecimento. Nem mesmo em paragens longínquas por onde já andei, encontrei estabelecimento tão singelo.
Quando atravessamos a cortina de fitas que impedem as moscas de nos acompanharem ao interior, entramos num minúsculo espaço vocacionado para a clientela onde as duas mesas que compõem o espólio mobiliário deste estaminé, preenchem quase por completo o espaço a esta dedicado.
Nas paredes os inevitáveis calendários para o ano presente (dentro em breve começarão a aparecer os de 2010!), com imagens evocativas de fogosas jovens em sugestivas e eróticas poses, que fazem sonhar muitos dos caçadores que por aqui passam, não se importando de as “chumbar”, caso estas aparecessem ali a três dimensões.
Dentro do balcão, com o eterno sorriso do mariola que foi, Ti Chico recebe-nos com a alegria de quem não vê gente de fora amiúde.
Homem pequenino (logo, ou velhaco ou dançarino!), o nosso anfitrião é o típico alentejano meio desconfiado, que olha para a clientela desconhecida com um olho no burro e outro no cigano, mas sempre delicado e curioso.
O balcão tabernal é de pedra mármore para que o vinho corra, escorra e se entorne sem grandes estragos na mobília.
Nas prateleiras (emolduradas por duas rodas de carro de bestas!) o mostruário é parco em mercadoria; umas quantas garrafas de porto, brandy, ginja e bagaço, mais uns refrigerantes no meio dumas águas, é o que Ti Chico tem para nos aguçar o apetite.
Ao canto uma máquina de café, empresta a este peculiar estabelecimento uns ares de modernidade de que Ti Chico notoriamente se orgulha.
Lá dentro a esposa do taberneiro talha pano em cima da mesa da casa de jantar que também é cozinha e ao que parece também é atelier de costura num cenário, que de tão simples, me fascina!
A luz natural que se derrama mesa fora vinda do tecto através da telha de vidro empresta ao cenário a ambiência natural que o quadro necessita mas que não consegui fotografar, e assim, tenho de o tentar traduzir em palavras.
Meia dúzia de alcagoitas, uma água, uma ginja e um café (sim, porque aqui não há essas coisas amaricadas como adoçante, descafeinado, cerveja sem álcool etc..), foi a despesa que efectuámos.
Sacámos umas fotos ao Ti Chico, que já é um habitué destas páginas, e um destes dias passo por lá com elas emolduradas e cravo-as na parede, assim em forma de concorrência às moçoilas de mamalhal ao léu que se irão embora assim que o ano acaba, ao passo que as que lá vou pondo, serão tão eternas quanto durar o simpático senhor Chico do Monte do Salto.
Deixo-vos aqui as coordenadas de GPS para quando quiserem beber um café (descafeinado com adoçante não!) num sítio que “não existe”. Vão até ao Monte do Salto, perto de São Marcos da Ataboeira em Castro Verde e digam ao Ti Chico que vão da minha parte.
Entradas - Quando se vem do campo!
Ao regressar a Entradas por ínvios caminhos, dou-me conta de que a minha terra é linda, mesmo que seja fotografada ao pôr-do-sol de quem vem do lado do cemitério.
Coordenadas de GPS: 37º44'51.14" N 7º54'53.08"O
3 Comments:
É mesmo verdade, quanto mais conheço o Alentejo mais eu gosto de o visitar. Está a fazer 2 anos que descobri Entradas e fui muito bem recebida pelo Napoleão, que me levou a conhecer também os arredores. Voltei mais ou menos há 1 ano com o meu marido, autor dessa foto e de outras igualmente fantásticas, e no sábado passado fiz-me à estrada com uma amiga e lá fui mostrar-lhe o que me tinha encantado da 1ª vez. Pelos visto ciclicamente tenho que ir aí; da próxima vez prometo bater á porta quer o postigo esteja aberto ou fechado.
Caro Napoleão
Essa volta ainda não dei de bicicleta mas depois desta descrição será certamente a próxima.Agora com a estrada Castro/Mértola arranjada até apetece.
Um abraço
jmatos
Mais à frente,após Alcaria Ruiva,mesmo antes do cruzamento que leva a Corte Gafo( o Pulo do Lobo vai por aí...),há uma elevação soberba,encimada por um marco geodésico:paisagem soberba!
Numa noite de luar,há muito ,muito tempo,sei de um que teve aí um encontro imediato de 3º grau(OVNI)...ainda lá está!O marco,claro!
Lamentávelmente não há nenhum local,próximo,onde se possa comer uma patanisca,que seja...E mines nem vê-las.
Haja saúde!
jm
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