Shopping Shoes!
- Querido vens comigo ás compras?
- Anda lá, preciso que me ajudes a escolher um novo par de sapatos.
Contrariado Jeremias apresta-se a uma daquelas secas a que o contrato matrimonial obriga. Como “o que tem de ser tem muita força” e fazendo um esforço quase sobre-humano lá abandona o quentinho do sofá, as bejecas que já começavam a fazer fila na mesinha de apoio, e o pior de tudo; o jogo entre o Barça e o Real que estava quase a começar, mas é melhor nem sequer negociar o convite, caso contrário teríamos o caldo entornado durante pelo menos quinze dias de amuo; o que significaria quinze longas noites a pão e laranjas, coisa que um homem na pujança e idade do Jeremias achava ser a pior das punições a que um ser se pode sujeitar.
Chegados à Baixa, logo deparam com a montra duma sapataria recheada de novidades onde a dificuldade maior seria eleger um de entre as centenas de pares de sapatos expostos.
Um caixeiro simpático apresta-se a não deixar fugir a cliente e atira com um treinado sorriso profissional, logo seguido do costumeiro – Posso ajudar nalguma coisa? Esteja à vontade, é só dizer!
Julieta devolve-lhe o sorriso e diz – Por acaso até pode! Tem aqueles sapatos que estão na montra com o enfeite na ponta em trinta e oito ou trinta e oito e meio, mas na versão castanho galão com pouco café?
O caixeiro afirma que sim, afasta-se e daí a pouco regressa com duas caixas na mão e o sempre presente sorriso na cara.
- Posso ajudar a calçar? – Pergunta com ar profissional e calçadeira na mão.
- Claro que sim - responde Julieta.
Eu, Jeremias que já sei o que a casa gasta, sei que vou aqui gramar um belo pedaço da minha arruinada tarde, por isso apresto-me a fazer um dos meus jogos mentais favoritos, que consiste em adivinhar pelo tamanho das mamas das mulheres que entram na sapataria, o coeficiente de inteligência do gajedo que por aqui circula como se de um formigueiro se tratasse.
O meu avô ensinou-me: mamas grandes em corpo magro, é sinal de burrice.
Quando era petiz ficávamos sentados a rir e a contar mamas, seleccionando e contabilizando aquelas que considerávamos menos dotadas de massa cinzenta em virtude do seu desproporcionado aparelho frontal.
Como o meu avô já se finou há largos anos, continuo a homenageá-lo mas agora numa versão em solitário.
Para me distrair e sempre que sou obrigado a vir ás compras, faço este jogo mental, mas agora com este modismo dos implantes de silicone, comecei a notar que havia muito mais “burras” que há cinco anos atrás.
Baseado neste estudo “quase cientifico”, chego à conclusão que tenho de abandonar o meu jogo preferido porque afinal os dados começam a estar viciados, logo as conclusões não serão as mais acertadas.
- Jeremias! Jeremias! Oh homem parece que estás na lua! Replica Julieta sem saber o que me vai na cabeça.
- Qual deles gostas mais – pergunta, mostrando-me um sapato novo em cada pé.
Neste momento pressinto que vai começar o meu calvário e procuro rememorizar o último palpite aquando da última aquisição de sapatos, de modo a apostar exactamente no sentido contrário.
Sem qualquer convicção aponto o sapato direito e digo – Gosto muito desses, ficam-te bem e com a toilette que trazes, fazem com que a tua figura fique mais esguia, mais atraente, mais apetecível - Respondo com o melhor dos sorrisos, ainda com uma réstia de esperança dela aceitar a minha escolha, pagar e ainda chegar a casa a tempo de ver metade da segunda parte do Barça - Real a que tanto queria assistir.
- E deste não gostas? – Retorquiu, avançando com o pé esquerdo em voltarete, mostrando-me os diversos ângulos do sapato, procurando mudar a minha opinião.
- Gosto! Até tive dificuldade em escolher entre um e outro. Replico, na expectativa de me safar.
- Também nunca és capaz de decidir nada. Como sempre vou ter de escolher sozinha. Nem sei porque te trouxe comigo! – Devolve Julieta visivelmente agastada com a hesitação do marido.
Depois de um comprometedor silêncio e de mais um sem número de voltas ao espelho; depois do vendedor ter perdido o sorriso, a vontade e a serenidade , Julieta descalça-se graciosamente (foi uma coisa que sempre gostei de lhe ver fazer!) e num rasgado e fingido sorriso deposita os dois sapatos em cima duma das oito caixas entretanto abertas e diz ao esmorecido funcionário.
- Muito obrigado! Anda daí Jeremias, acho que aqui não têm aquilo que procuro.
O empregado de queixo caído e de sapato numa das mãos, coçava com a outra a testa, procurando encontrar o fio à meada da amálgama de sapatos desencaixotados e desemparelhados que povoavam o chão da sapataria.
Não será necessário relatar-vos todas as restantes estações da via-sacra por que um homem passa até que a mulher se decida por que par de sapatos escolher.
Naquela tarde percorremos quase todas as sapatarias da zona, e em todas elas, com mais ou menos exactidão, repetia-se o espalhafato. Um solicito empregado disposto a cativar a exigente cliente; passados mais ou menos trinta minutos o mesmo cenário de desolação, a mesma resposta com tal sorriso fingido e eu a contar mamas, como forma de distracção e a lembrar-me do meu avô materno, José Feliciano de seu nome, que embora fosse homónimo do prestigiado cantor cego porto-riquenho, tinha uma visão de ave de rapina treinada para a detecção da presa, mesmo quando esta ainda estava a mais de trinta metros. Quando tal acontecia dava-me uma ligeira cotovelada e dizia assim numa espécie de código só nosso – A trinta metros, onze horas, blusa vermelha, cabelo louro pelos ombros. Pelo tamanho do peitoril deve ser burra que se farta. Ria o meu avô a bandeira despregadas´, enquanto me abraçava, ou para ser mais verdadeiro, estrangulava, celebrando assim uma consanguínea cumplicidade, e à medida que a presa se aproximava mordia o lábio inferior num gesto de impotência de quem nasceu com genes de predador, mas que por razões óbvias se ficava pelo olhar electrizante com que brindava as suas vitimas.
Depois de calcorreadas todas as sapatarias da zona sem haver comprado qualquer par de sapatos, Julieta resolve-se pela solução que Jeremias sabia de cor e salteado e que há muito pressentia.
- Vamos regressar à primeira sapataria e comprar o primeiro par de sapatos e não quero ouvir a tua opinião, ouviste! – Ordena Julieta num misto de imperialismo e irritação por se estar a acabar o seu passatempo favorito, que passa por experimentar todos os sapatos possíveis, para adquirir invariavelmente os primeiros que experimentou e ainda por cima tentar dar-me cabo do juízo, caso não me socorresse do meu ancestral passatempo.
Chegados à Sapataria Ideal, assim se chama o estabelecimento; o caixeiro que nos atendeu horas antes revela repentinamente um maneirismo algo suspeito que me dá a entender que o sujeito afinal tem “um piquinho a azedo”, soltando alguns contidos gestos que anteriormente não denunciara, o que faz com que me ria por dentro, não pelo que penso ser a orientação sexual do vendedor, mas sim pelo caricato da situação e pelo abanar das nádegas quando se encaminhou para o armazém afim de trazer os tais sapatos trinta e oito e meio, castanhos cor de galão com pouco café e com o enfeite na ponta.
Julieta voltou a calçar os sapatos, a pedir-me opinião, coisa a que respondi com um enfadado encolher de ombros e um sopro de desagrado de quem estás prestes a rebentar.
Finalmente decide-se (como eu de resto já adivinhara!) pelos sapatos castanhos cor de galão com pouco café, coisa que repôs o sorriso na cara do vendedor.
Era já noite cerrada quando se deu o regresso a casa. Julieta estava contente com a sua tarde de compras e não se cansava de elogiar os seus mais recentes sapatos.
Nisto baixa a pala do pára-brisas, faz correr a tampa do espelho e começa a apalpar os seios que eram do tamanho de uma mão fechada em concha, volta-se para Jeremias, olhando-o fixamente nos olhos como se tivesse tido a mais brilhante das ideias e com as mãos em forma concava segurando ambas as mamas, dispara.
- O que é que tu achas se eu puser umas mamas de silicone?
Observação: Este era para ser um conto de Natal, mas acabou por resvalar para este registo. Não quis de maneira alguma ofender as mulheres, sendo antes um exercício de humor em que muitos homens se reconhecerão.
E como dizia um amigo meu quando lhe pediam a definição de mulher, este respondia – A mulher é o mais belo defeito da natureza!
- Anda lá, preciso que me ajudes a escolher um novo par de sapatos.
Contrariado Jeremias apresta-se a uma daquelas secas a que o contrato matrimonial obriga. Como “o que tem de ser tem muita força” e fazendo um esforço quase sobre-humano lá abandona o quentinho do sofá, as bejecas que já começavam a fazer fila na mesinha de apoio, e o pior de tudo; o jogo entre o Barça e o Real que estava quase a começar, mas é melhor nem sequer negociar o convite, caso contrário teríamos o caldo entornado durante pelo menos quinze dias de amuo; o que significaria quinze longas noites a pão e laranjas, coisa que um homem na pujança e idade do Jeremias achava ser a pior das punições a que um ser se pode sujeitar.
Chegados à Baixa, logo deparam com a montra duma sapataria recheada de novidades onde a dificuldade maior seria eleger um de entre as centenas de pares de sapatos expostos.
Um caixeiro simpático apresta-se a não deixar fugir a cliente e atira com um treinado sorriso profissional, logo seguido do costumeiro – Posso ajudar nalguma coisa? Esteja à vontade, é só dizer!
Julieta devolve-lhe o sorriso e diz – Por acaso até pode! Tem aqueles sapatos que estão na montra com o enfeite na ponta em trinta e oito ou trinta e oito e meio, mas na versão castanho galão com pouco café?
O caixeiro afirma que sim, afasta-se e daí a pouco regressa com duas caixas na mão e o sempre presente sorriso na cara.
- Posso ajudar a calçar? – Pergunta com ar profissional e calçadeira na mão.
- Claro que sim - responde Julieta.
Eu, Jeremias que já sei o que a casa gasta, sei que vou aqui gramar um belo pedaço da minha arruinada tarde, por isso apresto-me a fazer um dos meus jogos mentais favoritos, que consiste em adivinhar pelo tamanho das mamas das mulheres que entram na sapataria, o coeficiente de inteligência do gajedo que por aqui circula como se de um formigueiro se tratasse.
O meu avô ensinou-me: mamas grandes em corpo magro, é sinal de burrice.
Quando era petiz ficávamos sentados a rir e a contar mamas, seleccionando e contabilizando aquelas que considerávamos menos dotadas de massa cinzenta em virtude do seu desproporcionado aparelho frontal.
Como o meu avô já se finou há largos anos, continuo a homenageá-lo mas agora numa versão em solitário.
Para me distrair e sempre que sou obrigado a vir ás compras, faço este jogo mental, mas agora com este modismo dos implantes de silicone, comecei a notar que havia muito mais “burras” que há cinco anos atrás.
Baseado neste estudo “quase cientifico”, chego à conclusão que tenho de abandonar o meu jogo preferido porque afinal os dados começam a estar viciados, logo as conclusões não serão as mais acertadas.
- Jeremias! Jeremias! Oh homem parece que estás na lua! Replica Julieta sem saber o que me vai na cabeça.
- Qual deles gostas mais – pergunta, mostrando-me um sapato novo em cada pé.
Neste momento pressinto que vai começar o meu calvário e procuro rememorizar o último palpite aquando da última aquisição de sapatos, de modo a apostar exactamente no sentido contrário.
Sem qualquer convicção aponto o sapato direito e digo – Gosto muito desses, ficam-te bem e com a toilette que trazes, fazem com que a tua figura fique mais esguia, mais atraente, mais apetecível - Respondo com o melhor dos sorrisos, ainda com uma réstia de esperança dela aceitar a minha escolha, pagar e ainda chegar a casa a tempo de ver metade da segunda parte do Barça - Real a que tanto queria assistir.
- E deste não gostas? – Retorquiu, avançando com o pé esquerdo em voltarete, mostrando-me os diversos ângulos do sapato, procurando mudar a minha opinião.
- Gosto! Até tive dificuldade em escolher entre um e outro. Replico, na expectativa de me safar.
- Também nunca és capaz de decidir nada. Como sempre vou ter de escolher sozinha. Nem sei porque te trouxe comigo! – Devolve Julieta visivelmente agastada com a hesitação do marido.
Depois de um comprometedor silêncio e de mais um sem número de voltas ao espelho; depois do vendedor ter perdido o sorriso, a vontade e a serenidade , Julieta descalça-se graciosamente (foi uma coisa que sempre gostei de lhe ver fazer!) e num rasgado e fingido sorriso deposita os dois sapatos em cima duma das oito caixas entretanto abertas e diz ao esmorecido funcionário.
- Muito obrigado! Anda daí Jeremias, acho que aqui não têm aquilo que procuro.
O empregado de queixo caído e de sapato numa das mãos, coçava com a outra a testa, procurando encontrar o fio à meada da amálgama de sapatos desencaixotados e desemparelhados que povoavam o chão da sapataria.
Não será necessário relatar-vos todas as restantes estações da via-sacra por que um homem passa até que a mulher se decida por que par de sapatos escolher.
Naquela tarde percorremos quase todas as sapatarias da zona, e em todas elas, com mais ou menos exactidão, repetia-se o espalhafato. Um solicito empregado disposto a cativar a exigente cliente; passados mais ou menos trinta minutos o mesmo cenário de desolação, a mesma resposta com tal sorriso fingido e eu a contar mamas, como forma de distracção e a lembrar-me do meu avô materno, José Feliciano de seu nome, que embora fosse homónimo do prestigiado cantor cego porto-riquenho, tinha uma visão de ave de rapina treinada para a detecção da presa, mesmo quando esta ainda estava a mais de trinta metros. Quando tal acontecia dava-me uma ligeira cotovelada e dizia assim numa espécie de código só nosso – A trinta metros, onze horas, blusa vermelha, cabelo louro pelos ombros. Pelo tamanho do peitoril deve ser burra que se farta. Ria o meu avô a bandeira despregadas´, enquanto me abraçava, ou para ser mais verdadeiro, estrangulava, celebrando assim uma consanguínea cumplicidade, e à medida que a presa se aproximava mordia o lábio inferior num gesto de impotência de quem nasceu com genes de predador, mas que por razões óbvias se ficava pelo olhar electrizante com que brindava as suas vitimas.
Depois de calcorreadas todas as sapatarias da zona sem haver comprado qualquer par de sapatos, Julieta resolve-se pela solução que Jeremias sabia de cor e salteado e que há muito pressentia.
- Vamos regressar à primeira sapataria e comprar o primeiro par de sapatos e não quero ouvir a tua opinião, ouviste! – Ordena Julieta num misto de imperialismo e irritação por se estar a acabar o seu passatempo favorito, que passa por experimentar todos os sapatos possíveis, para adquirir invariavelmente os primeiros que experimentou e ainda por cima tentar dar-me cabo do juízo, caso não me socorresse do meu ancestral passatempo.
Chegados à Sapataria Ideal, assim se chama o estabelecimento; o caixeiro que nos atendeu horas antes revela repentinamente um maneirismo algo suspeito que me dá a entender que o sujeito afinal tem “um piquinho a azedo”, soltando alguns contidos gestos que anteriormente não denunciara, o que faz com que me ria por dentro, não pelo que penso ser a orientação sexual do vendedor, mas sim pelo caricato da situação e pelo abanar das nádegas quando se encaminhou para o armazém afim de trazer os tais sapatos trinta e oito e meio, castanhos cor de galão com pouco café e com o enfeite na ponta.
Julieta voltou a calçar os sapatos, a pedir-me opinião, coisa a que respondi com um enfadado encolher de ombros e um sopro de desagrado de quem estás prestes a rebentar.
Finalmente decide-se (como eu de resto já adivinhara!) pelos sapatos castanhos cor de galão com pouco café, coisa que repôs o sorriso na cara do vendedor.
Era já noite cerrada quando se deu o regresso a casa. Julieta estava contente com a sua tarde de compras e não se cansava de elogiar os seus mais recentes sapatos.
Nisto baixa a pala do pára-brisas, faz correr a tampa do espelho e começa a apalpar os seios que eram do tamanho de uma mão fechada em concha, volta-se para Jeremias, olhando-o fixamente nos olhos como se tivesse tido a mais brilhante das ideias e com as mãos em forma concava segurando ambas as mamas, dispara.
- O que é que tu achas se eu puser umas mamas de silicone?
Observação: Este era para ser um conto de Natal, mas acabou por resvalar para este registo. Não quis de maneira alguma ofender as mulheres, sendo antes um exercício de humor em que muitos homens se reconhecerão.
E como dizia um amigo meu quando lhe pediam a definição de mulher, este respondia – A mulher é o mais belo defeito da natureza!
3 Comments:
Eh pá, estava a começar a ler,mas o jogo do Barça com Real vai começar em breve.
Vou ficar por aqui.
Quantos às mamas de silicone.
Se me for permitido dar uma opinião,direi"lá poder podem,mas não é mesma coisa".
ups!
Caro Napoleão
Quem é que de nós não passou pelo menos uma vez por Jeremias.
Não fosse o passatempo que ele arranjou,para suportar o calvário e a história não seria certamente tão calma.
Para conto de Natal e ao contrário destes, pelo menos deixa-nos a rir e bem dispostos.
Um abraço.
jmatos
A chuva estimula-te muito bem a imaginação! Ainda por cima a história teve um final feliz certamente...
A situação do vendedor, no que toca ao piquezinho a azedo, tratar-se-ia de uma opção, ou de uma orientação?
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