Pak Beng - Rio Mekong - Luang Prabang 14 de Dezembro 2013
De partida - à espera de dois passageiros atrasados
A Natália dando o seu melhor...
Já navegamos rio abaixo . Não fora o atraso de dois jovens viajantes e teríamos saído à hora prevista, ou seja, às nove da manhã. Desta feita, os passageiros foram divididos por dois barcos o que nos confere mais comodidade e uma maior liberdade de movimentos.
Bye bye Pak Beng
A manhã apresenta-se ventosa, fazendo esvoaçar as cortinas de cor púrpura que decoram as aberturas feitas janelas desta geringonça navegante. O sol luta com as nuvens altas procurando rompê-las, quando o consegue, uma luz intensa e majestosa reflete-se no espelho de água encandeando-nos.
Viajando ou sonhando!
Contamos chegar a Luang Prabang lá para as quatro da tarde. Serão umas sete horas de viagem. Tempo de sobra para admirarmos a vida destas gentes da beira-rio. Nas margens, hábeis pescadores fluviais, homens de olhos rasgados e mãos de basalto, puxam as redes da pescaria. Desta feita, os aparelhos são colocados em forma de armadilha, que aproveitando o destino que a água leva, aprisiona os peixes, que como nós também navegam rio abaixo ao sabor da corrente.
Curiosamente os meus diabetes têm andado com leituras muito boas. Média de 120 de glicemia, o que me deixa de sobremaneira contente, tendo mesmo baixado a inevitável medicação para níveis que há muito não me lembrava. Bendita viagem que até a saúde me melhoras!
Paisagem preciosa da beira-rio
Regressando aos pensamentos que me perseguem, volto a pensar nestas gentes da beira-rio que, se por uma lado vivem uma existência básica e sem horizontes, por outro, vivem-na em perfeita comunhão e harmonia com a natureza, imunes a quase todos os malefícios do progresso.
Camponês - Guardador de Margens!
Eu que gosto da vida básica cá à minha maneira, dou por mim a pensar que teria de rebuscar cá dentro o que de Robison Crusué em mim subsiste, caso um dia me tocasse ter de viver assim. Vivem ao ritmo da luz solar. Dormem com as galinhas e despertam com o galo. Sobrevivem com o que o que o rio e a selva lhes oferecem. De algum modo, gosto de pensar que são felizes, nem que seja à sua maneira. Ou será que me é apenas cómodo pensar que assim seja? Não sei responder. Eu também sou fruto de uma existência singela. De sequeiro é certo, mas muito parecida a esta. Curiosamente, depois de haver conquistado muitos dos prazeres da vida moderna, é a ela que sempre regresso, quando me quero assomar ao postigo da felicidade.
Já passaram umas horas desde que partimos de Pak Beng, o que quer dizer que não tardará que aportemos a essa cidade de mil encantos e Património da Humanidade chamada Luang Prabang.
Deixei crescer a barba. Já lá vão quinze dias sem a cortar. A minha cara vai-se povoando de uma pilosidade acinzentada que denuncia a minha idade. Gosto deste meu novo ar. Não sei se será apenas a imagem despreocupada de um errante viajador, ou se será coisa para deixar ficar mesmo depois de acabado de ser feliz.
Tudo corria bem até aqui. Luang Prabang deveria de aparecer, mais curva menos curva. Nisto o barco faz-se à margem. Pensamos que será mais uma das suas paragens para deixar passageiros ou abastecer a populaça que desce aos magotes e em alegre alarido sempre que um barco aporta a estas paragens.
Sem nos dizerem nada, a tripulação começa a descarregar o barco e por gestos afirma ser ali Luang Prabang. A Natália que ali estivera há dois anos, sabe que não. Dizem-nos que temos de descer ali e apanhar uma tuc-tuc durante vinte minutos até ao centro de Luang Prabang.
E o barco dali já não se moveu
Sentimos que estamos a ser intrujados por esta gente. Não há razão nenhuma para que o barco não siga a viagem. Para além disso, ninguém nos avisou que o local de atracagem teria mudado. Nem faz qualquer sentido que assim seja. Gera-se um braço de ferro entre passageiros e tripulação que para mim são mais malfeitores que marinheiros. Não falam (ou não querem!) uma palavra de inglês. Estamos no meio de nada. Não podemos reclamar junto das autoridades, que se me afigura, fazerem parte deste complô.
Lao (letanos!) a assistir ao braço de ferro. Parecem divertidos os sacanas!
O pessoal do segundo barco desistiu do braço de ferro. Já aqui estamos vai para duas horas. A tarde ameaça cair a qualquer instante, e a mim, não me apetece passar uma noite numa piroga na vã esperança de resolver um assunto que se me afigura mais que resolvido.
Aos poucos a malta vai debandando. Há que carregar malas, mochilas e outras bagagens ladeira acima. Lá no alto, o resto da camarilha espera por nós. São os motoristas de tuc-tuc, que cobram 20.000 kips (2€) por passageiro até ao centro da cidade. Curiosamente deixam-nos junto ao suposto local de atracagem, onde não se vislumbra nenhum impedimento para o barco aí chegar, a não ser a “manigância artística” desta gente que, ao não saber, ou não querer saber, das repercussões que este ato vai ter na Internet nos mais variados sítios. Querem a todo o custo matar a galinha dos ovos de ouro!
Exaustos, estafados, irritados e esfomeados, ainda tivemos noite dentro de procurar alojamento. Encontrámo-lo ao preço de 130.000 Kips (12€). Comparado com o de ontem até valia um milhão!
Estou um bocado irritado com esta gente. Tinha as minhas expectativas muito elevadas. Mas, desde o guia da fronteira, passando pela recepção em Pag Beng, depois pelo pardieiro como alojamento e ainda esta malfeitoria dos tuc-tuc. Se a coisa não melhorar, amanhã mesmo apanhamos um avião e ala que se faz tarde. Adeus Laos até mais nunca!
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