Ayutthaya 05 de Dezembro de 2013
Debandámos de Bangkok aos alvores do dia rumo à estação de caminho de ferro. Aí, esperava-nos o comboio que nos traria até à segunda capital do reino (a primeira foi Sukhothai e a terceira Bangkok) e onde esta viagem com sabor a aventura começaria a ganhar expressão.
Os bilhetes de segunda classe apenas nos permitiam entrar no comboio e escolher um lugar caso o houvesse disponível. Havia! Free thai style, como lhe chamou o profissional que nos atendeu no operador turístico chamado Tiger....qualquer coisa (bem avisei que nomes não eram comigo!).
Toilete de monge visto da janela da nossa carruagem
Sentámo-nos e preparámo-nos para a grande viagem à descoberta do norte da Tailândia que daí a nada começava. À nossa frente um simpático tailandês entabula connosco conversa. O seu inglês é de difícil compreensão, mas o homem faz das tripas coração para se fazer entender. Não nos podemos esquecer que não dizem os “erres”, substituindo-os por “éles”, o que faz com right (direita) passe a ser light (luz) e bridge (ponte) passe a ser beach (praia) o que torna a conversa um autêntico desafio no que diz respeito à compreensão.
Dam, o homem com nome de barragem, afinal era um enorme caudal de simpatia
De qualquer modo esta gente bate-nos aos pontos em simpatia e serenidade. Talvez sejam as influências budistas a influírem no seu comportamento.
Esta é uma viagem de 70 Km. Irá durar cerca de três horas, já que o comboio vai metendo gente em tudo o que é estação e apeadeiro. Dam, assim se chama o nosso companheiro de viagem, esclarece-nos o melhor que pode e sabe, aclarando todas as dúvidas e curiosidades com que o bombardeamos. Por exemplo: ficámos a saber que estes comboios regionais são gratuitos para toda a população, coisa que a nós nos deixou de olhos em bico.
Mais uma paragem, mais gente que entra. Já não há lugares. Não faz mal, viaja-se em silêncio e sem reclamar, o que é preciso é não ficar em terra. Hoje é feriado, razão para a qual, mais gente se movimenta de um lado para outro. Vendedores de comidas e bebidas, passam a cada minuto ou dois. Não se podem perder oportunidades de negócio e este cavalo mecânico vai apinhado delas. Os outros passageiros olha-nos com alguma curiosidade. Nada a que há muito não estejam habituados. Esta é uma terra por onde passam viajantes aos milhares, muitos deles solitários, à procura do mesmo que nós ansiamos.
Passadas cerca de três horas e 70 Km percorridos despedimo-nos de Dam juntando as mãos em prece e inclinando a nossa cabeça em sinal de agradecimento. Aqui as pessoas não se tocam e esta é a forma tradicional de se cumprimentarem ou despedirem.
Aspecto da nossa guest house em Ayuthaya - Um doce!
Na estação de Ayutthaya, um tuc-tuc leva-nos ao nosso local de alojamento para essa noite. A guest house (de que de novo não sei o nome!) é interessante em termos estéticos. Exceptuando os alojamentos, tudo o resto é ao ar livre e naquele estilo descontraído a que aos poucos nos vamos habituando. O tal free style!
A estalajadeira é simpática e logo se nos propõe um passeio à cidade histórica, razão principal da paragem para quem visita estas paragens. De modo a pouparmos dinheiro, sugere-nos que partilhemos o tuc-tuc com um casal acabado de chegar.
Napoleão, Natália, Carole e Nigel (great couple!)
Aceitamos a proposta e apresentamo-nos.
Eles são Nigel e Carole, dois ingleses, na casa dos quarenta que tiveram a coragem de perseguir o sonho de uma vida. Para tal, pouparam dinheiro ao longo de alguns anos, venderam a casa onde viviam e adquiriram uma mais pequena, abandonaram os seus trabalhos e, durante doze ou quiçá dezoito meses, irão correr mundo. Irão viajar pelo planeta que habitamos e enriquecer-se mutuamente com as experiências que certamente irão vivenciar. Por agora e depois de três meses na estrada, já fizeram o comboio transiberiano partindo de Moscovo até Pequim. Posteriormente viajaram pela China, percorreram a Índia, e agora, estavam ali connosco. Morri de inveja!
Mas: curiosidade das curiosidades!
Nigel e Carole para além de Ingleses e de aí viverem possuem uma segunda casa.
Adivinhem onde?
Em Portugal, claro!
E onde em Portugal?
No Algarve. Só podia ser!
E onde no Algarve?
Em Carvoeiro!!
Aqui do outro lado do mundo, a sete fusos horários de diferença, as primeiras palavras que trocamos com um não local, são-no com alguém que é apenas....nosso vizinho, na aldeia onde moramos. Incrível mundo este!!
Lá nos montámos no tuc-tuc tentando digerir este desígnio dos deuses, e lá fomos os quatro à descoberta da tal cidade milenar. Aqui os templos são de outra época. Logo, outra escola arquitectónica que, para dizer a verdade, são-no mais de acordo com o meu gosto em termos estéticos. Os materiais em que são construídos (maioritariamente em tijolo burro) configuram-lhe uma monumentalidade diferente, embora a solenidade do espaço, seja a mesma que encontrámos em Bangkok.
Exemplo da imponência monumental em Ayutthaya
Sei que durante esta viagem, me esperam muitos templos dos mais variados tamanhos, formas e feitios para visitar. Só em Chiang Mai são cento e dezasseis. Que Buda tenha pena de mim e me poupe a tanta visita. De bom grado visitarei um dezena, mas mais que isso, parece-me Buda a mais. Não acham?
Atualizo o meu diário no autocarro a caminho de Chiang Mai. São mais cinco horas de viagem, daí procurar ocupar o tempo a registar o que não me foi permitido em dias anteriores, tanto mais que ainda não chegámos a Sukothai em termos da sequência da viagem.
1 Comments:
O nome da guest house em Ayuthaya é "Eve Boutique house" muito modesta mas um encanto!
Natalia
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