terça-feira, janeiro 14, 2014

Laos - Rio Mekong 13 de Dezembro de 2013

 Panorâmica do nosso transporte rio abaixo

Dentro de uma hora partimos para o Laos, esse misterioso país de cuja memória histórica apenas recordo a parte sangrenta duma guerra sem quartel. Natália diz-me que é uma terra de sonho. Aumentam-se-me as expectativas!

Esta noite trovejou. No silêncio da madrugada uma chuva impressionante desabou sobre esta zona. Fiquei acordado a ouvi-la derramar-se sobre a terra, não sem antes tocar a sinfonia da mesma sempre que cai nos telhados.

 Pequeno Almoço na Casa Tammila ainda em Chiang Kong


No momento em que escrevo (ao pequeno almoço na casa Tammila) desatou de novo a tombar dos céus uma chuva quente e sincopada. Olho enternecido para a Natália de volta do Facebook. Um gato feito estátua de silêncio abeira-se de nós e pousa no corrimão. O rio correndo para o mar. O tempo passando sem passar. O sonho a cumprir-se devagar, e eu... a molhar o pão na gema do ovo, como se fosse o melhor manjar. Momentos feitos magia a sete fusos horários de distância.

 Nova ponte em Chiang Kong sobre o rio Mekong

A viagem de Chiang Kong até à (a nova ponte foi inaugurada ontem!) fronteira Lao-Tailandesa é feita em apinhado tuc-tuc. Chove copiosamente. O céu vestiu-se de chumbo. Uma cortina de névoa espessa pouco nos deixa ver. A Natália que já fez anteriormente este percurso, diz-me que uma tarefa que anteriormente não demorava mais de uma hora, agora, são necessárias três para cumprir as formalidades alfandegárias. Algo está errado neste processo de modernização!

Já no Laos, um guia local de aspecto duvidoso, debita aos gritos ordens a uma velocidade estonteante. Logo ali este individuo se me afigurou suspeito. Não sei porquê, não gostei da pinta do artista. Não sei se pela sua maneira quase militar de lidar connosco, se pela cara, se pela insipiência do discurso. Como não podíamos atravessar a nova ponte a pé, esta curta viagem era feita em autocarro, falo de uns meros 300 a 500 metros. Já no Laos, o calvário do visto para entrar no país. 35 € era o custo para um português. Outras nacionalidades chegavam a pagar 40 ou mesmo 50 €, curiosamente os russos tinham acesso gratuito. Uma descriminação sem explicação visível!

Esperámos ali mais de uma hora até que o último passageiro tivesse sido atendido. Depois, uma série de controlos fronteiriços onde o passaporte era visto e revisto, até que finalmente chegámos ao outro lado. Estávamos no Laos!

Uma viagem em pick up atulhada de passageiros, dentro e fora da cabina, deu-me logo a entender que as regras por aqui também são do género “tudo ó molho e fé em deus”! Chegados ao local de embarque fomos conduzido a uma espécie de restaurante, onde o fala-barato do guia improvisado, nos dava indicações acerca da viagem e dos perigos da mesma. Nomeadamente, no que diz respeito ao roubo de passaportes e sobrevalorização do preço do alojamento caso o não adquiríssemos ali.

A minha intuição dizia-me que estava na presença de um charlatão de segunda. Como não conhecíamos as regras do país e jogando pelo seguro, lá adquirimos o alojamento (500 baths), assegurando um sítio para dormir e um banho quente.

Aspecto do ancoradouro de onde partimos rio abaixo - já no Laos

Embarcando - Alguma preocupação no rosto
Aspecto do interior do barco


 Na barcaça onde agora viajamos rio abaixo, seremos umas duzentas almas sedentas de aventura. Descer o rio Mekong da Tailândia até Luang Prabang, neste meio de transporte chamado de slow boat, é uma experiência e peras. O barco é assim uma espécie de piroga gigante onde foram plantados uns bancos de autocarro entretanto abatido ao efetivo. Olho ao meu redor e reparo que devo ser o mais velho dos passageiros. Fico a pensar se não estarei já fora de prazo para estas andanças, ou se, pelo contrário, não será ainda espírito juvenil que felizmente possuo o condimento essencial para estas andanças.

O Laos é uma República Popular Democrática (RPD), portanto um governo comunista. Ainda não tive oportunidade de avaliar esta gente, mas se a bitola for a do guia que ficou lá para trás, fico um bocado com a pulga atrás da orelha.

Viajamos há duas horas rio abaixo. Um ruidoso Neozelandês, vomita para um Catalão argumentos negativos acerca do nosso Mourinho. É impossível concentrar-me na leitura que trouxe para a viagem. Tenho cá um vontade de intervir que nem vos passa pela cabeça! Este gajo vindo lá da terras dos kiwis, só sabe dizer bacoradas. Apenas diz que o nosso compatriota é uma arrogante, que com os jogadores à sua disposição também ele fazia um figuraço. O Catalão, culé por certo, vai-lhe alimentando a fogueira do ódio, deitando nela apenas umas pitadas de combustível. Também não era preciso. O Neozelandês arde por si nas labaredas do rancor.

 O meu companheiro de banco (a Natália já não conseguiu que ficássemos juntos!) é um simpático alemão, de seu nome Patrick, que, a par de muitos outros, também viaja sozinho. Ao reparar na capa do livro que leio, A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón, puxa do seu audiobook e mostra-me que tem para ler o mesmo livro que eu. São estas pequenas coincidências de gostos, que tornam próximos os viajantes e, o Patrick, foi uma constante nesta viagem. Sempre altivo no seu porte germânico, era a nós que sempre regressava, depois de trocar umas balelas com os outros viajantes. Eu, meretriz antiga, claro que dei conta disso!

 Vida à beira-rio


Aldeia encravada na selva

O verde do denso matagal, rasgado por esta serpente de água de cor lamacenta, é a cor que impera numa e noutra margem. Nelas, alguns búfalos de água e outros tantos pescadores, pintalgam de vida a paisagem que o meu olhar abrange. A barcaça multinacional e multicultural, já aportou a uma das margens para deixar mercadorias.





Vidas da beira-rio

De referir que o Mekong para estas povoações ribeirinhas, é a única forma de acesso à chamada civilização. Aldeias de colmo. Vidas de silêncio e verde. Redes piscatórias de finíssimos losangos, trazem à tona na hora da recolha o sustento em forma de peixe. Mulheres feitas estátuas vivas com água pelos joelhos, golpeiam em movimentos sincopados nas pedras marginais as peças de roupa. Crianças em desalmada correria acompanham até onde podem o percurso do barco, encenando e acenando um demorado até amanhã. Até o barco se perder na curva do rio. O barco é uma espécie de ponteiro das horas deste relógio imaginário que marca o compasso destas vidas à beira-rio plantadas.


Agricultor à beira-rio e barco casa, com 1º andar varanda e vasos de flores


Na altura em que escrevo, mais ou menos a meio do percurso para o dia de hoje, impera a bordo o frenesim da descoberta. Na verdade esta descida é uma das maiores atrações desta viagem. Desta aquática vertigem.

 Chegada a Pak Beng

Estava eu envolto nestes pensamentos quando, numa volta do rio, deparámos com a aldeia onde iriamos pernoitar. Pak Beng assim se chama. Quando ao entardecer a olhamos da barcaça, esta até parece uma simpática localidade, com os seus moradores a acenarem sorridentes aos recém chegados. Nas margens novíssimas casinhas de madeira em banda, denunciam a chegada do turismo a estas paragens. À medida que nos aproximamos de terra, esse idílico quadro vai-se aos poucos esvaecendo. Os Lao(letanos) desta terra são de desconfiar. Pouco simpáticos, tratando-nos como mercadoria ou mesmo gado, já que nos fizeram subir para uma carrinha de caixa aberta de taipais ao alto, em tudo a lembrar o transporte de animais. Deste modo fomos distribuídos pelos alojamentos pré contratados.

Guest House Monsavanah - Se forem para estas bandas é de evitar.

 O que nos tocou em sorte, ganhou (para já!) passou ao primeiro lugar em termos de pardieiro, destronando o de Bangkok por larga margem. Um minúsculo quarto, com uma cama grande, quase do seu tamanho é certo, mas com um colchão onde as molas se enfiavam no corpo. Uma casa de banho a roçar o decrépito onde nem direito a espelho tínhamos. Na única janela vidros não havia. Apenas uma rede mosquiteira, ainda por cima furada. A iluminação era uma lâmpada fluorescente, só para fazer pandan com o resto do equipamento ao nosso dispor. Fora-nos prometido um alojamento condigno pelo tal chico-esperto antes de partirmos. Confirmam-se as minhas suspeitas. O artista é um pantomineiro de primeira apanha! Mas do que é que estávamos à espera? Não era isto que procurávamos?

Jaime - o simpático madrileno com quem fizémos amizade.

Neste percurso fizemos um novo amigo. O Jaime. Um espanhol de Madrid, polícia, de 37 anos que viajava sozinho. Jaime vendeu os móveis da casa alugada, a mota e o carro e partiu à descoberta de si mesmo ao mesmo tempo que calcorreava outros mundos. Com a vantagem que ser um funcionário público lhe confere, tirou uma ano de licença sem vencimento e por aqui anda a cumprir-se. Invejo-lhe a coragem!

 Pak Beng

 Confidencia-nos conseguir viver e viajar por estas paragens por pouco mais de 500 € por mês, o que faz com que, provavelmente, ainda chegue com dinheiro a casa e recomece a vida, já que emprego assegurado o mantém. Fez-nos mesmo um breakdown dos seus gastos diários. 4€ para dormir em dormitório colectivo ou em quarto compartido com outro viajante ocasional. Se comer na rua, consegue fazer três refeições por menos de 5€, o aluguer de uma bicicleta ou de uma scooter levam-lhe o resto do seu pressuposto diário, que apenas em dias especiais excede os 15€. É claro, quando tem de pagar viagens, vistos, transferes etc...tem de ir ao saco do aforro, mas é para isso que ele serve. Sublinha. Sujeito curioso este Jaime nuestro hermano, e que agora ascendeu à classe de amigo.

Escrito por pulanito @ janeiro 14, 2014   2 comentários

2 Comments:

At 11:17 da tarde, Blogger Unknown said...

Boa noite,

Nós iremos fazer Tailândia, Laos e Cambodja em julho. Como tal, gostaria de saber como foi tratado a viagem no rio Mekong para Luang Prabang. Será melhor ir já com o alojamento reservado em Pak Bang.

 
At 11:20 da tarde, Blogger Unknown said...

Boa noite,,

Nós iremos fazer Tailândia, Laos e Cambodja em julho. Como tal, gostaria de saber como foi tratada a viagem para Luang Prabang pelo rio. Será melhor ir já com o alojamento reservado para Pak Beng?

 

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