Diario de viagem dia 7
Para quem se propôs unir num imaginário e místico triângulo a ligação dos três Santiagos vértices, foi uma sensação que ao longo desta fabulosa jornada procurei aqui retratar num registo assumidamente pessoal, mas sem nunca descurar a companhia da MINHA EQUIPA, formada por gente com quem me identifiquei desde a primeira hora.
Aos: Joaquim Miguel, Joaquim Piteira, Vítor Reis, Ricardo Casaca, Arlindo, António Piteira ciclistas e aos apoios Maurício e Coelho o meu muito obrigado pela partilha, amizade e cumplicidade dispensadas.
O assalto final - fardados a rigor.
Agora o retrato da jornada: Saímos de Baiona pelas 8.00 horas. Os 130 quilómetros da jornada apresentavam-se difíceis, já que grande parte da jornada era a subir, mas bom subir.
Cada quilómetro rodado, era um a menos na nossa contagem decrescente para a contagem final.
As estradas espanholas são excelentes. Bom piso e boas escapatórias, fazem com que seja menos penoso o pedalar e mais seguro o percurso.
Depois de umas não sei quantas intermináveis subidas lá apareceu Vigo cidade capital das Rias Baixas onde ao longo do percurso circundante, podemos admirar a beleza desta cidade galega. Como íamos frescos continuámos caminho sem no determos. Pedalámos então com o vigor de quem sabe estar próximo o final da nossa caminhada, em direcção a Pontevedra, outra arejada cidade da Galicia amiga.
Curiosa perspectiva
Pedalar não tem muito que contar. É só ranger de dente, suor e determinação, o que conta é o que se vê com olhos de ver, e é desse deslumbramento que faço estas crónicas que partilho aqui convosco e que vocês fazem o favor de ler.
Destes devaneios faço o meu percurso. É daqui, do alto do meu selim que observo o mundo a que pertenço e nele busco a razão da minha existência, pelo menos enquanto pedalar mo for possível fazer.
É daqui, deste miradouro ambulante que teço a malha deste novelo em que procuro descortinar os cheiros, cores e sons da terra que um dia irei fermentar.
Las tierras las tierras de España…..a galopar, a galopar hasta enterrarlos en el mar…creio que isto pertence a António Machado,, outro eterno poeta espanhol de que agora me lembrei.
Nisto chegamos a Caldas de Rey, simpática povoação onde me deixei fotografar junto a um dos múltiplos pilares toponímicos dos caminhos de Santiago.
Junto ao ancestral marco dos Caminhos de Santiago de Caldas del Rey
Já só falta esfolar o rabo desta epopeia, mas a fome fala mais alto e ainda fazemos uma última paragem antes de chegarmos ao nosso destino final a pouco mais de 15 km do nosso ponto de chegada.
Fazer as últimas subidas das ruas de Santiago de Compostela são como um último sacrifício até à recompensa final. Percorrermos estas artérias, como se buscássemos uma saída. Nova subida e a derradeira paragem para ganhar fôlego para a entrada triunfal na Praça Obradoiro onde finalmente pisamos o quilómetro zero desta magnifica viagem.
Em frente ao Quilómetro zero - Cansados, mas felizes!!
Lembro-me de Almada Negreiros quando lhe perguntaram o quanto lhe custou a morte de Pessoa e este respondeu – Apenas três segundos. Os mais intensos da minha vida!
E que tal?
9 Comments:
Brilhante. E o final do retrato da jornada é arrepiante. Parabéns mais uma vez!
Missão cumprida.Os 7 magnificos de Santiago.Grande aventura.Pulanito foi sem duvida uma lição de vida para mim.Acredito pela escrita e pelas fotos que és um homem feliz.
Parabens. Parabens não só pela vitória desse sonho também pela coragem e pelas crónicas bem documentadas neste blog com muito realismo. Lamento não ter estado na praça do comércio mas mais oportunidades surgirão concerteza.
CAMINHAR EM DIRECÇÃO A SANTIAGO DE COMPOSTELA IMPLICA UM ESTUDO PRÉVIO DO ITINERÁRIO.TEM UM PONTO DE PARTIDA E UM DE CHEGADA...O FIM ESTÁ DENTRO DE CADA UM DE NÓS(PAULO COELHO--DIÁRIO DE UM MAGO)....
Percorrer 670/700 km,em seis dias,em bicicleta de estrada não é sacrifício.É um prazer(o trabalho mesmo feito com gosto custa mais e no meu caso envolve ainda mais riscos).
Prazer inolvidável foi ter sentido grande dificuldade em estudar o itinerário aquando da 1ª CAMINHADA,contando então com apoio logístico desinteressado e qualificado que marcou de forma indelével o futuro de todas as novas edições,tornando-as cada vez mais fáceis e desejadas...."SOMOS TODOS PROTAGONISTAS DA NOSSA EXISTÊNCIA E,MUITAS VEZES,SÃO OS FRESCOS SORRISOS QUE DEIXAM AS MARCAS MAIS DURADOURAS".
Este ano foi possível acrescentar uma mais valia:o entusiasmo ,a determinaçao,o companheirismo do Napoleão.
Contigo AMIGO conto/contamos para os novos projectos e que sei ,a seu tempo ,divulgarás no PULANITO.
CAMINHO DE SANTIAGOS ou UNIR SANTIAGOS.......Vamos POR AÍ!
HAJA SAÚDE.
Joaquim Miguel
Em Caldas de Rey faltou a tradicinal libação,a tal tortilha regada com uma ou duas bejecas(que afinal surgiu mais à frente,quando estávamos prestes a fenecer de fome--o chamado "empeno" da fome ).
Quanto a mim era alí que devíamos ter atestado o bandulho.Bem sei que também é tradicional ficarmos com azia na treta daquela subida que os sacanas dos galegos resolveram prantar logo à saída daquele paraíso(mas com é para vomitar!?!?)
O maluco do Ricardo leva sempre umas pastilhas de ranitidina(os genéricos sempre são mais baratos).
Já me tem socorrido,mas como tenho medo do controle antidoping tenho prescindido,preferindo vomitar assim que me começa a faltar o ar e os fragmentos da tal magana de tortilha resolvem,apoiados nas bolhas da bejeca,subir o canal das migas e aflorarem à luz do dia.
Depois é só dar-lhe:Padrón é na talega e para Santiago são só mais umas e mais umas e mais umas subidas e um rol de palavrões que só os que se montam nelas conseguem descortinar ...E pronto lá estamos todos nós fedorentos de suor cansado e felizes a pousar para a poterioridade frente à Catedral.
E então eu digo:Bonito!
HAJA SAÚDE
Na foto "curiosa perspectiva" o gajo que parece vir fugido,vem a olhar para trás por complexo de culpa:o Quim e o Vitor tinham acabado de lhe mudar o pneu traseiro e a respectiva câmara de ar após uma desastrosa trajectória(para encurtar caminho)por cima de entulho que no ano passado não estava lá.O gajo diz não ter jeito (e é verdade)para tais operações e logo que desenrascado pelos outros que ficaram a arrumar o material e lavar as mãos veio para estrada ensaiar o pneu(aguentou até ao fim) e pirou-se...isto tudo teria passado despercebido se o gajo não tivesse sido apanhado pel a objectiva impiedosa do Napoleão.
Entretanto o Nap pensava que o resto da cambada lhe tinha pregado uma partida e seguido por outro caminho.Isso nunca!...mas ele já havia usado aquela pequena maravilha que é o tm(que jeito dá).
Caro Joaquim Miguel,
Obrigado pela interacção...é que fica tanto por dizer, que os teus enriquecedores comentários só vêm acrescentar beleza a esta epopeia.
Obrigado por esse trabalho de pesquisa, de organização, de paciência e acima de tudo, obrigado pela paixão e nobresa que pões na causa.
As coisas podem ser ditas nos olhos, mas também devem ser divulgadas, até porque sem o teu trabalho ainda estariamos na estrada...a levar com o Coelho e com o Mauricio e provavelmente a ranger odente para o colega do lado.
Nenhum caminho é longo nem o sacrifício se torna penoso quando um amigo nos acompanha...
Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado...
Foi muitas vezes ao lado deste companheiro que eu aprendi muito com a sua experiência de vida,com os cabelos brancos (sinónimo de sabedoria)e dos tombos que já sofreu devido ao caminho árduo da vida.
Hoje posso dar-me ao luxo de dizer que tive a oportunidade de conviver durante estes dias com um grande ser humano de uma humildade fora do normal e do qual eu hoje me orgulho de chamar meu AMIGO.
Um abraço e espero continuar a não te desiludir
J.Piteira
E que tal? Pergunto eu! Qual é a sensação? (que pergunta tão simples e que resposta tão difícil) porque quase sempre é difícil explicar as coisas simple
Um abraço e ... faço minhas as palavras do comentarista J. Piteira
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