Diário de Viagem dia 3
Esta coisa de andar na estrada, altera-nos completamente as rotinas, o que faz com que perca a noção dos dias da semana e outras trivialidades que o comum dos mortais nunca iria esquecer.
Aqui, pedala-se, come-se, pedala-se, come-se e dorme-se para no dia seguinte voltarmos para cima das nossas máquinas e voltarmos a repetir a dose até chegarmos ao destino a que nos propusemos e que dista do local de onde escrevo cerca de 450 Quilómetros, o que significa que só lá chegaremos na próxima quinta-feira pela tardinha, depois de enfrentarmos a etapa mais dura desta viagem ciclopenante.
À partida de Torres Novas
Hoje saímos de Torres Novas por volta das 8.00 Horas da manhã depois de termos dado grito de Santiago como forma de expurgarmos todos os anticorpos que nos pudessem atrapalhar no nosso indefectível propósito.
Fui avisado (mais uma vez) que hoje era dia da “subida da Serra D’aire”, que dista do nosso local de partida cerca de 10 Quilómetros. De facto são uns bons vinte minutos a trepar uma parede de alcatrão com uma bicicleta entre as pernas, mas se os outros chegam lá acima, nós também o faremos. Começamos a respirar menos ofegantemente quando passamos pela placa toponímica indicando a localização das pegadas de dinossáurios existentes no local e que também representam para nós o final do nosso calvário.
O Joaquim Piteira e o Vítor Reis são os trepadores da nossa equipa, mal chega uma destas subidas prantam-se na frente e é vê-los subir como quem barra manteiga em pão mole (não sei onde fui arranjar este exemplo mas pareceu-me bem!).
Depois desta subida paramos numa gasolineira de modo a reabastecer sólidos e líquidos que a maldita montanha exigiu de cada um de nós como forma de portagem para quem ousa galgar as suas íngremes artérias.
Aí chegados soubemos que outro grupo de Évora estava a subir também a Serra D’aire Como são amigos da nossa rapaziada esperámos por eles e fizemos juntos um boneco para a posteridade.
Encontro de Eborenses em plena Serra de Aire
De seguida rolámos em direcção a Fátima, terra que não visitava há mais de vinte anos e que me impressionou pela sua grandiosidade, tanto mais que soube recentemente que em todo o território português, é este o destino turístico mais visitado.
Em Fátima
Como hoje é Domingo o recinto, bem como as ruas da cidade estavam pejadas de gente o que me deu uma ideia bastante precisa da pujança do negócio da fé.
De Fátima rolámos prazenteiramente até Batalha. Digo prazenteiramente porque o fizemos quase sempre a descer; o que, para quem anda de bicicleta é uma dádiva do deus que gere o negócio na povoação que acabámos de visitar, ou de outro qualquer em que queiramos acreditar.
Mosteiro da Batalha
O Mosteiro de Santa Maria da Vitória continua magnânime. O trabalho que Mestre Afonso Domingues por ali fez tem resistido através dos séculos, apenas os vendilhões do templo, são-no agora dos arredores do templo conforme atesta a foto que tirei de ângulo onde decorria uma feira da ladra.
Depois de nos abastecermos dos artigos em falta: pão, tomate, cebola e restantes consumíveis diários dirigimo-nos, aquela que foi uma das grandes obras desse rei com rara visão de seu nome Dinis e que o povo chamou de “Lavrador”: o famoso pinhal de Leiria.
Percorremos a frondosa estrada ladeada por pinheiral e um pouco sem darmos conta fomos dar a Vieira de Leiria, outra estreia para mim em termos de localidades por mim nunca visitadas.
Em Vieira de Leiria ( já é muita foto de grupo, não é?)
No largo fronteiriço à praia voltámos a juntar-nos para o retrato, depois dirigimo-nos às vendedeiras de marisco e abastecemo-nos do que havia à venda: navalheiras, camarão e perceves e dirigimo-nos ao parque de merendas, onde desfrutámos deste magnifico e merecido repasto que toda a gente apreciou.
Simpática vendedora de peixe seco - uma especialidade da região.
Como estávamos a poucas dezenas de quilómetros do hotel, deixámo-nos ficar mais que o habitual. O Ricardo Casaca fez-nos uma demonstração de como uma banal salada de atum, poderá ser uma excelente proposta de almoço, que afinal era o que nos estava destinado caso não encontrássemos os soberbos mariscos entretanto mencionados.
Rolando em direcção ao nosso poiso do dia, somos confrontados com a falta de civilidade e cidadania de muitos condutores desta região. Apesar da estradas serem estreitas, temos o mesmo direito a andar nelas, como os automobilizados, mas parece que alguns deles se comportam com tal agressividade, que não restam quaisquer tipos de dúvida que nos fazem uma declaração de guerra que pelo menos para mim não faz qualquer sentido.
Bem, continuámos rolando estrada fora tentando não ser atirados borda fora, quando o António Piteira teve uma avaria irreparável na sua máquina que o fez momentaneamente abandonar a prova até à reparação da sua “biclas”.
Como já estávamos a chegar ao hotel a coisa não foi dramática, tanto mais que na equipa temos um mecânico e outro que faz tudo e que trarei aqui em futuros post, dá pelo nome de Maurício e é cangalheiro…e mais não digo!
E pronto…por hoje a coisa fica por aqui.
4 Comments:
Pensava eu vir ainda a tempo de desejar-lhe boa viagem e afinal já vai no 3ºdia. Estou convidada para o ir ver na praça do comércio dia 13 até lá força, coragem e boa sorte pulanito.
cá estou eu.Simplesmente magnifico estou a beber a tua viagem como um livro de aventuras on line.É um espetaculo......Força Pulanito e companheiros.
O Maurício uhhh...cangalheiro....
É incrivel o gosto e a motivação com que descreve e defende esta causa :D
Desejo-lhe toda a sorte na sua viagem
tenho acompanhado.
Força no pedal.
O caminho de Montemor-Coruche-raposa-Almeirim- Aliarça-Golegã-Torres Novas, é-me familiar.
Para Fátima é que nunca fui pela serra de Mira. A abordagem do meu lado, faz-se por Alcanena, Minde e Covão do Coelho (antes de Boleiros) que também é uma famosa 'parede'.
Vai relatando pormenores da ciclistica de cada um que é para eu estar prevenido quando for passear com a malta. Convém saber quais são os sprinters, os escaladores e os fugitivos..eheheh.
Abraço grande. Estou roído de inveja, agarrado á contestação de um providencia cautelar de Oeiras... (Ontem fiz 172 Km para rodar o prato grande.)
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