Em estágio para a partida

E pronto, já estou em contagem decrescente para o dia da partida para Santiago de Compostela, que terá lugar na próxima sexta-feira às 8.00 horas e não às 7.00 horas como está no contador aqui ao lado.
Esta coisa das bicicletas é uma coisa engraçada, tão depressa a limpamos com paninhos e líquidos especiais para que não se constipem, como a seguir a queremos entregar ao primeiro cigano que passe, tal é a fartação que temos da bicha; de qualquer modo, é uma relação de grande afectividade, que serve de denominador comum a pessoas que se não fosse por elas, nunca se cruzariam nas veredas da vida.
Prestada a homenagem ao veículo pedalante, voltemos ao percurso que se tudo correr bem terminará em Santiago de Compostela no dia 12 de Junho lá por essas quatro da tarde.
A razão que me leva a efectuar esta viagem (já escrevi isto algumas vezes, mas não resisto a este exercício de repetição), foi o facto de ter em Agosto encontrado o Joaquim Miguel em Castro Verde, aquando do acompanhamento deste ao José Leonês que percorreu o país num triciclo a pedal, chamando a atenção das autoridades para as dificuldades e assimetrias das pessoas com dificuldades motoras.

Cá estou depois de ser abalroado e já depois de tratado no hospital de Évora.

Eu havia sido abalroado no dia anterior e o Joaquim Miguel havia beijado o alcatrão nesse dia, portanto, e por mais que não fosse, estávamos irmanados desse inevitável senão ciclista, que passa por de vez em quando deixarmos a nossa marca gravada em forma de pele no quente do asfalto.
Entabulámos conversa e Santiago de Compostela veio de imediato à baila. Dei-lhe conta de que esse era um dos meus destinos em carteira, e logo ali fui convidado a juntar-me ao seu grupo que partirá de Graça do Divor no próximo dia 7 de Junho, partindo eu de Entradas no dia anterior, portanto senão me despachar a escrever este post ainda me atraso.
Sou um céptico. É lógico que sou aquilo em que acredito, mas também tenho o meu lado místico, gostando de me surpreender com possíveis interrogações para as quais não encontro resposta óbvia. Tenho um especial prazer em me sentir náufrago de incertezas, de navegar na jangada da solidão à bolina dos pensamentos. Gosto de medos e de abismos em forma de desafio e gosto de me reencontrar e de novo partir, assim como que essa fosse a minha inevitável missão.
Será que é assim que sou feliz?
Ou isto faz parte da incessante busca de mim por um outro eu?
Deixo aqui as interrogações e volto à razão lógica desta viagem ciclistica.
Em tempos idos, Entradas chamou-se Santiago de Entradas. Julgo mesmo ter ouvido falar de que por aqui também passava uma das rotas que ia dar a Compostela.
Não sei se isso corresponde à verdade ou não, mas foi este o ponto de partida que levou este agnóstico a pensar: se não existia vai passar a existir porque irei ligar Santiago de Entradas a Santiago de Compostela por caminhos secundários já que efectuarei esta ligação em bicicleta.
Como o meu apelido materno é Santiago, ainda temperava melhor a coisa, só faltava mesmo (conforme conselho do José Mestre) chegar lá, ou cá, no dia 25 de Julho, que é o dia do santo. Pronto. Não se pode ter tudo, chegamos uns tempos adiantados, o que é que se há-de fazer!
Como amanhã não vou ter computador, fica aqui a primeira crónica em jeito de antecipação, para que possam acompanhar em detalhe as peripécias duma viagem da qual não vejo a hora da partida.

!º Etapa

Entradas – Nossa Senhora da Graça do Divor
140 Km

O percurso será o seguinte
(Para o Luis Filipe que disse aparecer na etapa)

8.00 horas: Partida de (Santiago de) Entradas
Carregueiro
Aljustrel
Ervidel
Ferreira do Alentejo
Odivelas
Alvito
Viana do Alentejo
Évora
Nª Srª da Graça do Divor