Diário de Viagem dia 2
Hoje foi um dia digno do “comboio dos duros”. 155 Km entre Graça do Divor e Torres Novas, com um calor suportável mas já a dar um cheirinho do que poderá ser o Verão que se aproxima.
Hoje vou falar um pouco do grupo que tive a felicidade de abraçar. Há muito tempo que não convivia com gente tão homogénea, civilizada, galhofeira e ao mesmo tempo respeitadora. Não o digo para ser politicamente correcto, mas de facto é um privilégio poder observar personalidades tão díspares serem ao mesmo tempo tão semelhantes no que se refere ao cumprimento das regras do jogo. Fica aqui o meu sincero elogio ao grupo que me acolheu e que a cada dia descubro e a cada dia me espanta.
Equipa da Graça do Divor á partida para Santiago de Compostela
Equipa com o patrocinador Luis Adriano da empresa Móveis Lar
Passámos Montemor-o-Novo em passe de corrida e com a animação de aí haver chegado enquanto o diabo esfrega um olho, tal a facilidade do trajecto desde a Graça de Divor.
Portugal é sem sombra de dúvida uma terra fabulosa. A surpreendente paisagem ao vir de cada curva, são para mim e restantes companheiros um excelente bálsamo e uma forma de sugarmos através dos nossos sentidos a obra da natureza que nos é dada a presenciar.
O Alentejo do Alto, é como o seu homónimo carapau: grande, suculento e apetitoso. A arquitectura tradicional das casas térreas com as suas díspares chaminés, fazem-nos adivinhar no seu interior fumeiros que perfumam a atmosfera de aromas a ervas de cá.
Rolando estrada fora
Rolamos animados pelo vento que nos leva e em pouco tempo atravessamos Lavre. Vêm-me à lembrança o romance Levantados do Chão de José Saramago e a luta dos camponeses desta região. Fico por instantes congelado no tempo recordando algumas passagens que a memória me permite descortinar.
Depois de Lavre dirigimo-nos para Coruche, agora já em pleno Ribatejo província onde permanecemos durante o resto da viagem.
O verde da paisagem faz-nos adivinhar água com fartura. Os campos de arroz a perder de vista fazem-me lembrar um jogo arquitectónico onde a simetria é a chave para a solução desse enigma de múltiplos rectângulos.
O rio Sorraia borda e beija a vila. Do alto do parque de merendas onde fizemos uma paragem estratégica, a vista é de suster a respiração. A vila persegue o contorno do Sorraia num namoro que pressinto durar há séculos. Até onde a nossa vista alcança a charneca de perder de vista que insistimos em distinguir mais longe pondo a na testa a mão em pala, à moda dos índios americanos.
Rolamos agora já com largas dezenas de quilómetros nas pernas, talvez mais de 100, quando cruzamos Almeirim. Lembro-me de imediato do celebérrimo ex-libris desta terra que é a a “ Sopa de Pedra” e que não me lembro de alguma vez haver provado.
Ao passar por Alpiarça, vêm-me á lembrança os heróis ciclistas dos Águias desta terra. Recordo-me da fabulosa equipa que Os Águias deram ao ciclismo nacional e que era constituida por: Marco Chagas, Alexandre Rua, António Marçalo, Alfredo Gouveia, Armindo Lúcio, Joaquim Carvalho, Joaquim Andrade, Florindo Mendes, Lima Fernandes (filho), Jacinto Paulinho. recordo ainda o fabuloso ciclista que foi Lima Fernandes (pai), ciclista da terra e herói intemporal para estas gentes ribatejanas.
Lima Fernandes (pai)
Do alto do selim da minha bicicleta viajo à minha meninice, altura em que não havia dinheiro para comprar bicicletas e faziamos de arame guiadores de bicicletas de corrida, peça essencial para participar nas competições que organizávamos. Sorrio e pedalo ainda com mais vitalidade!
Agora o Ribatejo impõe-nos o seu maior tesouro – O Tejo, esse “ que leva nas águas segredos de par em par” ao passarmos a ponte da Chamusca e olhando à esquerda ou à direita ficamos com a impressão da grandeza dessa artéria natural que desce desde Espanha e ao passar por aqui não deixa de nos deslumbrar.
Ponte da Chamusca
Por esta altura já falta pouco para o final desta etapa. Como rabo é o mais mau de esfolar, os últimos 15 Km são desesperantemente lentos de passar.
Por fim chegámos a Torres Novas, onde venho pela primeira vez. Comemos no hotel onde pernoitamos e agora estou morto por terminar isto para poder dormir alguma coisa de jeito.
Amanhã darei aqui uns toques na crónica de hoje.
3 Comments:
não podia faltar à visita diária para saciar esta seca curiosidade de contemplar este diário,sendo este a ponte que me une ao teu imaginário neste momento, que me mantém bem perto...
Mais uma vez glorifico esta equipa que já pisou umas largas centenas de assustadores quilometros.
Sorrio convosco a cada pedalada!
Numa contagem decrescente, num horizonte distante, num finalmente ansiado...
beijinho de coragem...
Catarina Mira
1ªetapa já está.Deu para sentir que estás nas "sete quintas".Vou ler a 2ªpois atrasei-me.........até já
http://www.cm-alpiarca.pt/alpiarca/Concelho/LocaisInteresse/Monumentos.htm
va aí ao site da câmara e pode colocar uma imagem do monumento ao ciclista que está em frente ao Clube Desportivo os águias
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