Luang Prabang - Bangkok - Ko Si Chang 18 de Dezembro de 2013
O relógio despertou-nos ainda a noite era senhora de provecta idade. Eram cinco da madrugada. O voo de regresso a Bangkok estava marcado para as 7.40 horas. Logo, e de modo a respeitarmos a norma de estarmos no aeroporto duas horas antes, tínhamos de nos apressar.
Medi a glicemia. 111 pontos... fantástico! Os valores continuam a descer, o que me leva a crer que a minha doença muito terá a ver com a alimentação que faço em Portugal. Aqui tenho comido à base de arroz e massa e em quantidades ditas normais . Vamos ver como me comporto aquando chegar a Portugal. Gostaria em meu próprio benefício de manter estes valores. Julgo que o meu médico também!
O transfer apareceu à hora marcada. Quando pensei que a cidade dormia, esta está mais desperta do que eu. Parte dos estabelecimentos estão já de portas abertas apesar de ainda serem 5.45 horas e ainda ser noite cerrada.
Penso para comigo que esta gente não dorme!
Monges em cerimónia de alimentação matinal
Alimentado monges pela manhã
De repente, saídos de um templo uma mancha laranja de umas dezenas de monges caminha em silêncio e em fila indiana em direção a lugar desconhecido.
Alguém me diz dentro da carrinha que vão ser alimentados, ritual que acontece todas as manhãs e por vontades beneméritas de quem se sente agraciado pelas suas preces, pensamentos e presença.
De partida de Luang Prabang
O aeroporto é pequeno. Dizem-me que esta ala onde me encontro é de construção recente, o que leva a pensar, que antes seria pouco mais que um aeródromo. Reencontrámos o Patrick que também viaja para Bangkok e posteriormente para as ilhas mais a sul. No caminho a pé para o avião diz-me que na semana passada uma aeronave desta companhia (Lao Airlines) se despenhou algures na selva, morrendo todos os ocupantes. Não conto à Natália. Não a quero alarmar. Em vez disso recorro à minha lógica. Não me lembro de qualquer companhia aérea a quem dois aviões tivessem caído na mesma semana. Logo, esta, é para mim a linha aérea mais segura do mundo. Lógicas minhas para afastar o medo!
Como tenho de matar o tempo resolvo escrever. Como estou parco de ideias, “encho chouriços”, escrevinhando acerca de trivialidades que não mereceriam uma linha, caso a ocasião fosse outra.
Por falar em “encher chouriços”. Ontem vi em Luang Prabang uma senhora sentada no passeio que tinha à sua frente um alguidar de uma massa assim a dar para o acastanhado. De seguida vi-a literalmente meter a mão na massa e começar a encher uma tripa. Enchia salsichas em plena rua, de mãos nuas, sem qualquer dos preceitos de higiene a que no ocidente estamos obrigado e desde há muito habituados.
Sentei-me num café por perto a admirar o espetáculo do enchimento das ditas salsichas, coisa que fazia aos colares. Quando tinha um colar composto, atravessava a rua e colocava-as numa armação para o efeito, à esquina, ao sol, e à exposição do fumo das motorizadas e tuc-tucs que passavam no local às gorpelhas.
A razão porque atravessava a rua e as colocava naquele preciso local, não tenho para tal, qualquer explicação lógica. Ainda cheguei a pensar que aquela esquina fosse uma espécie de fumeiro. Já comi salsichas fumadas e gostei bastante. Mas isto sou eu a variar enquanto o sacana do avião não aterra, vai daí que me pus aqui a “encher chouriços”, na verdadeira acepção da palavra. As coisas que o medo nos obriga a fazer!
Aterrámos finalmente em Bangkok e em absoluta segurança. Dali teríamos de arranjar transporte para o nosso destino desse dia. Uma ilha a 120 km da capital e de seu nome Ko Si Chang. Escolhemos esta ilha, por ser perto de Bangkok, logo não nos obrigando a longas estiradas, que seriam sempre duas, tanto para lá chegar como para regressar. Feitas as contas consumiríamos dois dias de férias apenas em deslocações. Vai daí e apesar do que lemos acerca da ilha para onde nos dirigimos não indiciar um local de grande beleza, resolvemos arriscar.
Tínhamos várias indicações como lá chegar, mas sempre implicando apanhar vários transportes. Vai daí a opção táxi, afigurou-se-nos fazível desde que o preço fosse comportável.
No aeroporto perguntámos pelo preço da corrida. Foi-nos respondido 1.300 baths. Agarrei na calculadora mental e a coisa dava menos de 30 €, ou seja 15 € cada um de nós. Ainda fizemos e refizemos as contas, não se fosse dar o caso de estarmos enganados. Mas não! Era mesmo esse o valor. Metemos as malas no porta bagagens e ala que se faz tarde.
O problema que tivemos no caminho foi comunicar com o pobre do motorista que nos conduzia a Si Racha, onde depois apanharíamos um ferry, e depois... fosse o que deus quisesse!
Como vínhamos do Laos, não tínhamos moeda local. Trocar no aeroporto estava fora de questão, já que cá fora a diferença cambial quase dava para pagar o táxi , caso trocasse por exemplo 400 €. Como apenas troquei 140 € ganhámos 300 baths em relação ao câmbio oficial do aeroporto. Portanto trocar dinheiro no aeroporto, só mesmo em último caso. (aqui fica uma das poucas dicas que arrisco!)
Tentámos com o pobre do motorista comunicar de forma a pararmos num qualquer banco. Em inglês mesmo a palavra bank era para ele ininteligível. Optámos então pela mímica. Não sei o quê nem o porquê, mas ele só se ria. Supus ser engraçado, mas o resultado continuava igual: negativo! Mostrámos-lhe o dinheiro. Mudámo-lo de uma mão para a outra em sinal de conversão de moeda. Nada! O homem era um autêntico cepo no que diz respeito ao entendimento.
Até que, teve uma excelente ideia. Telefonou a alguém. Provavelmente um amigo, que sabia qualquer coisa de inglês. Passou-me o telefone, expliquei ao amigo do outro lado da linha que por sua vez lhe traduziu o nosso desejo. — Ahh... Benk !!! — exclamava contentíssimo, ao mesmo tempo que com o polegar em riste afirmava finalmente ter entendido o nosso desejo. De vez em quando olhava para trás sorria mostrando os poucos dentes que possuía e dizia. — Benk, benk !!
Ainda pus em causa a sanidade mental do senhor, mas depois reparei que era mesmo assim. E quando assim é, nada melhor do que sorrir também e retorquir com o polegar em riste: — Benk, Benk!! Depois de várias voltas a Si Racha à procura do porto onde se apanhava o ferry, mas sempre na direção oposta ao mar, a Natália ganhou coragem e numa linguagem gestual que nunca lhe vira, assim à laia de polícia sinaleiro ¬ mostrando a palma da mão , virou-se para o motorista e disse — STOP! — E não é que resultou!
A primeira parte estava conseguida. O homem parou o carro. Depois por gestos fez-lhe sinal para que abrisse o vidro da janela do pendura. Nova vitória! O homem percebeu.
De seguida e sem perder a embalagem, sempre com a mímica como linguagem de referência, colocou-lhe a mão à frente dos olhos, fazendo deslocar quatro dedos que chocavam contra o polegar colocado por baixo, como se fosse uma boca a falar.
Novo acesso de lucidez do homem do volante acompanhado da elevação do polegar em sinal de compreensão. O homem finalmente abriu a janela e perguntou em tailandês a direção do porto a uns locais que pareciam ali ter sido plantados exatamente para que isso lhes fosse perguntado.
Afinal, era mesmo ali ao lado. É lógico que se íamos apanhar o ferry, este tinha que ser à beira-mar e não no centro da cidade como o microcéfalo do nosso motorista insistia em fazer. Enfim grotescas situações de quem se mete nelas!
De partida para Ko Si Chang
Já estamos a bordo do ferry. Até agora nem um único turista. Apenas gente local. Situação que nos deixava antever que escolhêramos o local errado para terminarmos as nossas férias. O ronfeiro barco lá foi galgando onda atrás de onda até que quarenta minutos passados começámos a avistar a ilha por que optáramos.
Com um ar assim para o circunspecto a caminho de K Si Chang
Ao aproximarmo-nos da ilha, apenas vislumbrávamos barcaças às dezenas, mais outras tantas plataformas com gruas, indiciando uma atividade marítimo-industrial nada condizentes com o paraíso esperado. Confirmando de algum modo as suspeitas geradas aquando da entrada no ferry.
O barco lá se abeirou do porto de Ko Si Chang. Saltámos com a nossa bagagem para terra firme tendo de imediato sido abordados pelos nativos acerca das alternativas locais. Como sabíamos que a ilha só tinha uma praia, alugamos um tuc-tuc para ali nos transportar. Este pequena porção de terra rodeada de água por todos os lados, não terá mais de uns cinco quilómetros de extensão e de um lado ao outro da ilha menos de dois.
Aspecto da ilha à chegada
A primeira imagem que vos posso transmitir é de inesperada desolação. Assim à primeira vista, esta é uma terra feia, desordenada e com gente malparecida. Já que aqui estamos, vamos lá desbravar esta Ko Si Chang!
Imagem dos estragos provocados pelo acidente. Guarda lamas, farol e farolim pró maneta
O nosso motorista conduz-nos por artérias virgens ao nosso olhar. Ao atravessar a aldeia e na tentativa de ultrapassar um veículo cuja lentidão o fazia exasperar, arriscou a transposição da pachorrenta camioneta , só que do outro lado vinha uma carrinha pick-up. Resultado! Um choque semi-frontal, já que o tuc-tuc ficou entalado entre o camião e a carrinha provocando danos quer num, quer noutro veículo. Pela nossa parte, para além do susto a única coisa que pensei, foi : — Pronto temos o balho armado!
O que me surpreendeu foi o modo como os três condutores resolveram a contenda. Sem descerem dos seus veículos berraram uns com os outros. Gesticularam que se fartaram, mas, apesar dos danos visíveis, nada de polícia, nada de seguros, nada de declarações amigáveis. Apenas fizeram marcha atrás, e logo que arranjaram caminho livre, fizeram-se a ele como se nada tivesse ocorrido. Curiosa esta maneira de se resolverem as disputas de trânsito acompanhadas de acidente. Afinal esta ilha pode ser uma excelente caixa de surpresas, dei comigo a pensar!
O meu olhar vai consumindo o que se me é dado a observar.
Aquela ideia que temos duma ilha tropical perdida nos confins do mundo, com praias intermináveis de finas areias, coqueiros e palmeiras quase debruçados sobre o mar, que em preguiçosas e lentas investidas, faz desmaiar na praia as ondas que dão vida ao cenário imaginado.
Talvez mesmo com uma bebida estupidamente gelada na mão só para compor o ramalhetes, ou mesmo posar para a fotografia.
Estão a ver, não estão? Pois aqui é tudo exatamente ao contrário.
Ao passarmos pela povoação principal, fiquei com aquela sensação que fora transportado para a Cova da Moura ou quiçá para a Pedreira dos Húngaros, mas...com praia!
Lá seguimos a estrada em direção à única praia da ilha. Todas as nossas esperanças estavam aí depositadas. Já não esperávamos uma descrição como a que fiz acima, mas que, pelo menos, tivesse condições mínimas para aqui fazermos os nossos últimos dias de férias.
A nossa casinha para os próximos dias
Chegados à praia, o motorista do tuc-tuc, logo chamou uma senhora, para que nos mostrasse os alojamentos disponíveis. Bastou uma breve olhadela para o interior do que se nos era apresentado, para que rejeitássemos taxativamente a oferta que nos era feita. Falo de um quarto ao nível daquele de Pak Beng e por um disparate de 1200 Baths.
Pedimos ao motorista que nos levasse a outros sítios já que aquele não satisfazia minimamente as nossas pretensões. Pelo caminho uma jovem ilhoa, pede boleia ao motorista.
Ao saber-nos à procura de alojamento logo nos aconselhou uns bungallows um pouco longe da praia, mas com a vantagem de o alojamento ter duas chaves. Uma para a porta de casa, outra de uma scooter que fazia parte do pacote.
Conseguimos este alojamento com moto incluída por 800 baths diários. Pareceu-nos um excelente negócio, até porque as comodidades oferecidas eram, para o nível a que estávamos habituados, excelentes.
Ko Si Chang - vamos lá descobrir-te!
Por ali fizemos poiso. O dia era de calor, como de resto todos os que aí passámos. Daí decidimos ir a uma loja de conveniência comprar umas cervejas, até porque queríamos dar uso ao frigorifico instalado na nossa casinha.
Entre outras coisas adquirimos duas garrafas de Chang. Ao chegarmos à caixa a simpática funcionária diz-nos, não podermos adquirir as cervejas, pois álcool , só se vende entre as 11 e as 14 horas e depois das 17. Não tinha como não aceitar a imposição, ao que julgo, legislativa, mas há quase três semanas que andamos por aqui e é a primeira vez que dela ouvimos falar . Por outro lado, se eu quiser beber uma cerveja, esta, está à venda em todo o lado e a toda a hora e, inclusive, as cervejas que pretendia adquirir nem sequer eram para beber de seguida. Eram para termos no frigorifico para quando as quiséssemos beber, no terraço da casa, que me pareceu ter sido concebido para que alguém desfrutasse de uma cerveja gelada enquanto saboreia o sereno da noite. Como em Roma se deve ser Romano, lá deixámos as cervejas por mais ou menos vinte minutos, já que era o tempo que faltava para as cinco da tarde.
Nesse nosso primeiro dia em Ko Si Chang, pouco mais fizemos. Demos umas voltas de motoreta, jantámos numa espécie de restaurante, onde voltei a comer arroz frito, prato onde me refúgio face ao meu pouco aventureirismo no que à gastronomia local diz respeito.
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