Pulseira do Equilibrio
A famosa pulseira que anda de pulso em pulso
Na verdade não tenho muito contacto com as famosas, resplandecentes e inovadoras braceletes do equilíbrio, que ao que parece, trazem aos seus utilizadores um novo bem-estar até aqui desconhecido. Penso mesmo que trazem ainda um melhor bem-estar ao esperto que desenvolveu o conceito e o comercializou, mas isso são contas de outro rosário.
Como trabalho em marketing, o aparecimento deste tipo de produtos, desperta-me sempre a curiosidade e até, quem sabe, o desejo de um dia ter a desfaçatez de introduzir no mercado um produto que não faça bem nem mal, não aqueça nem arrefeça, mas que me engorde rápida e sorrateiramente a conta bancária.
Um feirante durante a FATACIL no Algarve teve o desplante de procurar credibilizar o produto em questão via preço, dizendo-me ao ouvido, como se fosse uma dica que valesse ouro: «Se custarem menos de 70/80 euros não compre, são falsas!».
Esta abordagem ao ouvido já a tive em diversas ocasiões. A que me lembro e que mais me marcou, foi a de um vendedor de terços na Praça de São Pedro no Vaticano, que me chamou de lado para me dizer que os terços da direita eram benzidos pelo Papa mas os restantes não. À pergunta como havia conseguido tão bendita benzedura, chamou-me ainda mais para o lado e para debaixo duma coluna e olhando para um lado e para outro dando ao momento a solenidade e confidencialidade que este exigia, apertou-me o braço e disse-me ao ouvido: «Sou amigo do Cardeal Saraiva, com quem almoço de vez em quando numa tratoria aqui nas traseiras, que me leva uns quantos para o Papa benzer…mas isto fica aqui entre nós!»
Na minha fraca memória tenho ideia de nos idos anos sessenta ter havido uma coisa do género, penso que eram umas braceletes de relógio aos quadradinhos que tinham uns poderes especiais, que já não me lembro quais, mas que suponho andarem pelo mesmo registo desta pseudo-sofisticada pulseira do equilíbrio, que cada vez vejo mais nos pulsos dos portugueses e portuguesas, pequenos e graúdos, novos e velhos, ricos e pobres e até em crentes e cépticos, sem que até agora tenha lido uma linha escrita ou falada da comunidade cientifica aprovando os poderes da tal pulseira da moda.
Não há-de tardar (se por acaso não existir já!) a mesmíssima pulseira, mas de uma griff qualquer, só que custando os olhos da cara, e quem sabe se outros, mas que hão-de marcar diferença em excelsos pulsos de uma certa elite parola, mas seguramente endinheirada, daquela que só frequenta os espaços VIP das summer sessions dos clubes da moda.
Esta coisa parece que é cíclica. Se lá pelos idos anos sessenta apareceu a tal pulseira de relógio com propriedades metabólicas, já pelos anos oitenta apareceram as famosas pulseiras do Sala, que ao que se me afigura, em vez do holograma quântico, dos iões de poderes quase sobrenaturais, tinham duas bolas nas pontas da tal metálica pulseira que bailava de pulso em pulso e que tinha o condão de aliviar (para além da carteira) a fadiga, o cansaço, dores de cabeça e sei lá mais quantas propriedades milagrosas que mudavam a vida a quem adquirisse tão prodigioso penduricalho, que, se bem me lembro, até tinha anuncio na televisão e tudo.
Existem ainda outras decorações pulsares como as famosas fitas brasileiras que as pessoas usam até apodrecer, na expectativa de que o desejo formulado se realize com o natural rompimento da dita fita, que curiosamente satisfizeram o desejo de quem as criou e que consistia em ficar rico sem mexer uma palha.
Enfim, modismos etéreos que permitem a uns quantos encherem os bolsos, enquanto outros se enchem de ridículo.
2 Comments:
Pois é meu Caro Amigo, a fé move montanhas, e á falta de melhores valores em que acreditar, marcham as pulseiras.
Um abraço
jmatos
Fátima Forreta,
"as pulseiras do senhor do bonfim já não apodrecem porque deixaram de ser de algodão. Também já não são feitas no Brasil."
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