Diário de Viagem – Dia 6
Diário de Viagem – Dia 6
Esta costuma ser a etapa mais maneirinha desta aventura anual que os meus companheiros já levam na sexta virada e eu vou completar a terceira.
Para ser completamente franco, este percurso para além de previsível já se vai tornando monótono e rotineiro, o que para o relator se torna cada vez mais difícil de cronicar as incidências do dia sem recorrer à repetição, e se para tal fosse, mais valia recorrer ao relato do ano anterior, ou mesmo do inicial, para assim se achar uma peça com o sumo que o escriba de si exige.
Mas esta manhã quando desci à rua para saudar dia e companheiros, dou com estes em desusado alvoroço galhofeiro, isto porque, por via da chuva que se fez sentir durante a noite os equipamentos ciclisticos não secaram, vai daí improvisaram e fizeram de uma das carrinhas um estendal o que dava à caravana um ar aciganado, apátrida, assim como se fossemos judeus ou romenos sem eira nem beira onde nos acoitarmos, e apesar do meu silêncio, gostei desta variante, mais condizente com o meu espírito errante onde aventura é sinónimo de improviso, improvável e surpreendente e isso eu gosto.
O caminho que nos conduz da Guia a Ílhavo seria assim que a modos de um ameno passeio se lhe retirássemos aquela “parede” de vários quilómetros que temos de galgar à saída da Figueira da Foz e de que já não me lembrava, mas mal aí entrámos vi logo que tínhamos “farinheira” para desmoer. Esta expressão não existe no léxico português, acabei de a inventar para vos impressionar uma beca mais.
Ricardo teve uma avaria - o nosso mecânico Vitor está sempre por perto. É assim uma espécie de anjo da guarda de óleo tisnado nas mãos.
É nesta estrada que o perigo espreita em cada curva, em cada berma, em cada buraco inesperado onde o ciclista faz gincana por entre pessoas, carros e sobretudo camions que por aqui são ás centenas e cada um deles com a buzina mais ensurdecedora que o outro.
Como vamos para Santiago (que é meu nome) e também me chamo Mira, achei engraçado que os meus apelidos estivessem envolvidos na toponímia desta viagem.
Bem sei que isto é quase uma questão bélica. Se compararmos um destes veículos de tonelagem avantajada com as nossas bicicletas peso pluma, estaremos, no que toca à contagem de espingardas, a comparar fisgas com obuses e eu se estivesse no lugar deles também me sentiria muito mais poderoso e arrogante.
É claro que esta é uma vertente psico-social que requer outra bagagem avaliativa que não possuo, e provavelmente poderia servir de estudo a ciclista versado na matéria e interesse no fenómeno.
Não sei falar muito bem desta zona do país. Certamente será a mais bela para os daqui naturais, mas eu tenho de ser franco e botar opinião verdadeira. Presumivelmente pelo que me irritam as estradas desta parte da pátria lusitana, pelo mau gosto da traça arquitectónica (sei que esta coisa do mau gosto é discutível, mas como sou eu que escrevo e vejo a coisa pelo meu gosto, mau gosto será aquilo que fere a minha sensibilidade plástica), até pela características dos seres humanos que por aqui habitam, são gente cinzenta, apática e até descrente, e sendo isto que sinto, não posso escrever outra coisa apenas para ser simpático.
Escrevo na madrugada Ilhavense à espera que o dia clareie e que partamos à descoberta doutras paragens que nos transportem a outros cenários, provavelmente mais rupestres, mais contrastantes, mas sobretudo mais genuínos e com isto já tenho em mente o verde Minho das terras mais a norte.
PS. São 21.00 horas chegámos há pouco à Póvoa de Varzim depois de um dia de romper com os nervos de qualquer um.
Foram muitas horas a pedalar a um ritmo muito lento em virtude do vento frontal que se fez sentir todo o caminho, mais a passagem do Porto que é sempre uma aventura e peras.
PS2:Fica aqui o relato do dia de ontem, prometendo que logo que tenha algum tempo colocarei as respectivas fotos e de madrugada escreverei a saga do dia de hoje que deveria ter sido um longo passeio, mas que se transformou num dos dias mais complicados. Estamos todos bem e a apenas duas etapas do nosso destino final.
3 Comments:
Eh pá, o vento deu-te volta ao miolo?e o empedrado da Lavra....
Não era suposto tomares banho a esta hora?
Que grande pedalada Nap.
Vamos jantar ao Farol.Vais gostar e vais ver o que é malta nova bem preparada no serviço de restauração.
E uma relação preço/qualidade exemplar.
Grande gente a da Póvoa!
Força companheiro, está quase, um abraço para todos dado na tua pessoa.
jmatos
Amigo Napoleão
Estou a seguir a sua fantástica viagem dia a dia, e já recomendei na Casa das Primas a leitura no seu blogue dos detalhes da mesma.
Um abraço e boa viagem
Júlio (da casa das primas)
Enviar um comentário
<< Home