Alter Ego
Belisário Marçal, José Leite, Fernando Cruz, Napoleão Mira, Mestre Dias Pinto
A inexorável máquina do tempo sulcou-nos no rosto a cinzel, os rios de rugas que desaguam na foz da idade que cada um ostenta.
Há perto de quarenta anos que não nos víamos!
Foi uma experiência vincadamente “ back in the days”, uma espécie de máquina do tempo que de repente nos transporta a finais dos anos sessenta onde quatro adolescentes são marcados, cunhados, influenciados para sempre, pelo homem que hoje veio connosco jantar.
Falo do Mestre Dias Pinto, nosso professor, mentor, alter ego e muitas vezes pai.
Passo devagar junto ao Largo do Chafariz em Alfama (local previamente combinado para o encontro), vejo sentados na esplanada um dos meus companheiros, Fernando Cruz de seu nome, acompanhado de um senhor que reconheço de imediato ser Mestre Pinto.
Enquanto o músculo essencial bate descompassadamente na pressa do inevitável abraço com quase quarenta anos de atraso, revejo no filme das nossas vidas essa época gloriosamente irresponsável que teve neste homem o fiel da balança das nossas vidas de então.
O Arquitecto Fernando Eugénio Dias Pinto, foi nosso mestre de cinzelagem ao longo de vários anos enquanto estudámos na Escola de Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, mas para alem de leccionar, também nos dava lições de vida, lutava por nós junto dos outros professores na hora de negociar as notas académicas e no meu caso pessoal, de entre muitos e muitos episódios, foi no último dia do prazo buscar a minha mãe a casa para me justificar as faltas e assim salvar-me de perder o ano por esse motivo. Do que não me livrei foi de uma valente tareia mais que merecida, mas que não é para esta crónica chamada.
Sendo nós estudantes, Mestre Pinto arranjava maneira de nós estudarmos e ganharmos algum dinheiro, lembro-me assim a talhe de foice de uma grande encomenda de cinzeiros em cobre feita por nós os quatro a pedido da escultora Dorita Castelo Branco.
Outras vezes em vez de me dar a aula estipulada, levava-me a jantar e em vez de cinzelagem, cimentava a nossa amizade em forma de lição. Ensinamentos estes que eram extensíveis aos meus colegas com quem hoje me reencontro e que também não vejo há perto de quarenta anos.
Sempre que vou a Lisboa e me encontro com o Fernando Cruz, meu amigo de longínqua data, falamos do Mestre, assim como quem pergunta por um familiar que há muito não vimos.
Até que nos surgiu a ideia de o juntarmos aos seus alunos desses anos distantes. Fizemos algum trabalho de investigação para detectar os dois elementos em falta (o José Leite e o Belisário Marçal) e logo que os encontrámos, marcámos a data de 18 de Setembro para tão emotivo encontro.
A coisa teve lugar numa tasca de fado vadio em Alfama, em ambiente de uma certa Lisboa de que afinal Mestre Pinto é filho, e a condizer de algum modo com a atmosfera dos anos em que habitámos o tempo da nossa mocidade.
Recordaram-se histórias, reavivaram-se memórias, avaliaram-se os estragos causados por essa intempérie chamada tempo, actualizámos vidas, rimos, emocionámo-nos e prometemos reencontrar-nos com uma periodicidade mais razoável, mas acima de tudo, regozijámo-nos por estar vivos, por poder homenagear tão importante figura nas nossas vidas.
Para celebrar tal acontecimento mandámos lavrar placa a condizer. No momento da entrega, Mestre Pinto experimenta a emoção do homenageado, aperta a placa junto ao peito e diz-nos com os olhos – Vocês continuam a ser os meus meninos. Estão-me aqui no coração!
Há perto de quarenta anos que não nos víamos!
Foi uma experiência vincadamente “ back in the days”, uma espécie de máquina do tempo que de repente nos transporta a finais dos anos sessenta onde quatro adolescentes são marcados, cunhados, influenciados para sempre, pelo homem que hoje veio connosco jantar.
Falo do Mestre Dias Pinto, nosso professor, mentor, alter ego e muitas vezes pai.
Passo devagar junto ao Largo do Chafariz em Alfama (local previamente combinado para o encontro), vejo sentados na esplanada um dos meus companheiros, Fernando Cruz de seu nome, acompanhado de um senhor que reconheço de imediato ser Mestre Pinto.
Enquanto o músculo essencial bate descompassadamente na pressa do inevitável abraço com quase quarenta anos de atraso, revejo no filme das nossas vidas essa época gloriosamente irresponsável que teve neste homem o fiel da balança das nossas vidas de então.
O Arquitecto Fernando Eugénio Dias Pinto, foi nosso mestre de cinzelagem ao longo de vários anos enquanto estudámos na Escola de Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, mas para alem de leccionar, também nos dava lições de vida, lutava por nós junto dos outros professores na hora de negociar as notas académicas e no meu caso pessoal, de entre muitos e muitos episódios, foi no último dia do prazo buscar a minha mãe a casa para me justificar as faltas e assim salvar-me de perder o ano por esse motivo. Do que não me livrei foi de uma valente tareia mais que merecida, mas que não é para esta crónica chamada.
Sendo nós estudantes, Mestre Pinto arranjava maneira de nós estudarmos e ganharmos algum dinheiro, lembro-me assim a talhe de foice de uma grande encomenda de cinzeiros em cobre feita por nós os quatro a pedido da escultora Dorita Castelo Branco.
Outras vezes em vez de me dar a aula estipulada, levava-me a jantar e em vez de cinzelagem, cimentava a nossa amizade em forma de lição. Ensinamentos estes que eram extensíveis aos meus colegas com quem hoje me reencontro e que também não vejo há perto de quarenta anos.
Sempre que vou a Lisboa e me encontro com o Fernando Cruz, meu amigo de longínqua data, falamos do Mestre, assim como quem pergunta por um familiar que há muito não vimos.
Até que nos surgiu a ideia de o juntarmos aos seus alunos desses anos distantes. Fizemos algum trabalho de investigação para detectar os dois elementos em falta (o José Leite e o Belisário Marçal) e logo que os encontrámos, marcámos a data de 18 de Setembro para tão emotivo encontro.
A coisa teve lugar numa tasca de fado vadio em Alfama, em ambiente de uma certa Lisboa de que afinal Mestre Pinto é filho, e a condizer de algum modo com a atmosfera dos anos em que habitámos o tempo da nossa mocidade.
Recordaram-se histórias, reavivaram-se memórias, avaliaram-se os estragos causados por essa intempérie chamada tempo, actualizámos vidas, rimos, emocionámo-nos e prometemos reencontrar-nos com uma periodicidade mais razoável, mas acima de tudo, regozijámo-nos por estar vivos, por poder homenagear tão importante figura nas nossas vidas.
Para celebrar tal acontecimento mandámos lavrar placa a condizer. No momento da entrega, Mestre Pinto experimenta a emoção do homenageado, aperta a placa junto ao peito e diz-nos com os olhos – Vocês continuam a ser os meus meninos. Estão-me aqui no coração!
Publicado na Revista 30 Dias de Setembro de 2009
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