Viriato Ventura e Sam The Kid - Festival Silêncio 2009
Existem momentos na vida de cada um de nós que nos marcam indelevelmente.
Recuando no tempo que tenho de vida, lembro-me assim a talhe de foice de uns quantos que agora convosco compartilho.
Lembro-me do dia que me arrancaram ao Alentejo e que agora revejo na empoeirada estrada da memória.
Lembro-me ainda do dia em que regressei a Entradas e da noite que passei em êxtase calcorreando os cantos da minha nova casa saboreando os cheiros e memórias de um tempo irrepetível.
Vêm-me à lembrança as tardes de calor infernal, amainado pelo fresco da tardinha quando a sombra galgava terreno no empedrado irregular das ruas calçadas da minha terra.
Lembro-me dos lanches de peixe frito, café da "chocolatêra" e pão mole acabadinho de cozer na casa da matriarca da família, a minha saudosa tia Francisca, que sendo uma coisa aparentemente banal, é daquelas que mais me marcaram e das que mais saudades sinto.
E lembro-me das mulheres por quem me apaixonei, amei e sofri.
E lembro-me dos filhos que me deram e de que tanto me orgulho, e do dia em cada um deles veio ao mundo.
Mas hoje vou centrar-me no meu filho varão, Samuel Mira de seu nome. Nasceu no dia 17 de Julho de 1979, eu trabalhava de noite e a sua mãe tinha horas antes entrado em trabalho de parto.
Quando perto da meia-noite me telefonaram a dizer que o Samuel havia nascido, exultei de alegria como é normal e de prever.
Estava uma noite de calor escaldante e eu estava sozinho de serviço no hotel onde trabalhava. Abri uma garrafa de vinho verde Casal Garcia e fui bebê-la para a porta do hotel, nisto aparece o velho Américo, motorista de táxi com o número 115 da Autocoop.
Ao verificar a minha efusiva alegria, sentou-se comigo no degrau da entrada e bebeu pelo mesmo gargalo, a garrafa com que celebrámos tão importante marco na minha vida.
Foi ao carro, e não sei a que propósito deu-me um golfinho em vidro, ou cristal, ou coisa que o valha. Uma peça sem importância, mas que para mim simbolizava o nascimento do meu único filho varão.
Conto esta história, para dizer que trinta anos passados fui de novo visitado pelo espírito do velho Américo de quem (num momento de recato, mas já em cena ) me lembrei quando ontem eu e o Samuel subimos ao palco do Music Box para actuar numa performance de slam poetry.
Serve esta longa introdução para dizer que ontem (19/06/09) foi um dos dias mais felizes da minha vida à imagem dos exemplos com que comecei esta crónica.
Recuando no tempo que tenho de vida, lembro-me assim a talhe de foice de uns quantos que agora convosco compartilho.
Lembro-me do dia que me arrancaram ao Alentejo e que agora revejo na empoeirada estrada da memória.
Lembro-me ainda do dia em que regressei a Entradas e da noite que passei em êxtase calcorreando os cantos da minha nova casa saboreando os cheiros e memórias de um tempo irrepetível.
Vêm-me à lembrança as tardes de calor infernal, amainado pelo fresco da tardinha quando a sombra galgava terreno no empedrado irregular das ruas calçadas da minha terra.
Lembro-me dos lanches de peixe frito, café da "chocolatêra" e pão mole acabadinho de cozer na casa da matriarca da família, a minha saudosa tia Francisca, que sendo uma coisa aparentemente banal, é daquelas que mais me marcaram e das que mais saudades sinto.
E lembro-me das mulheres por quem me apaixonei, amei e sofri.
E lembro-me dos filhos que me deram e de que tanto me orgulho, e do dia em cada um deles veio ao mundo.
Mas hoje vou centrar-me no meu filho varão, Samuel Mira de seu nome. Nasceu no dia 17 de Julho de 1979, eu trabalhava de noite e a sua mãe tinha horas antes entrado em trabalho de parto.
Quando perto da meia-noite me telefonaram a dizer que o Samuel havia nascido, exultei de alegria como é normal e de prever.
Estava uma noite de calor escaldante e eu estava sozinho de serviço no hotel onde trabalhava. Abri uma garrafa de vinho verde Casal Garcia e fui bebê-la para a porta do hotel, nisto aparece o velho Américo, motorista de táxi com o número 115 da Autocoop.
Ao verificar a minha efusiva alegria, sentou-se comigo no degrau da entrada e bebeu pelo mesmo gargalo, a garrafa com que celebrámos tão importante marco na minha vida.
Foi ao carro, e não sei a que propósito deu-me um golfinho em vidro, ou cristal, ou coisa que o valha. Uma peça sem importância, mas que para mim simbolizava o nascimento do meu único filho varão.
Conto esta história, para dizer que trinta anos passados fui de novo visitado pelo espírito do velho Américo de quem (num momento de recato, mas já em cena ) me lembrei quando ontem eu e o Samuel subimos ao palco do Music Box para actuar numa performance de slam poetry.
Serve esta longa introdução para dizer que ontem (19/06/09) foi um dos dias mais felizes da minha vida à imagem dos exemplos com que comecei esta crónica.
Viriato Ventura, Adolfo Luxuria Canibal, Henrique Fernandes, António Rafael..para a posteridade
O Samuel havia-me convidado para este evento há alguns meses. Para mim era um acto de grande responsabilidade, até porque os artistas que nos precediam eram Adolfo Luxúria Canibal, o carismático líder do decano grupo de Braga - Mão Morta, John Banzai um performer Franco-polaco e Mark-Uwe Kling outro monstro deste género de espectáculo com provas dadas e prémios arrecadados em certames desta natureza.
Viriato Ventura, John Banzai, Davido e Sam the Kid...after the show!
Jantámos juntos, convivemos, ficámos a conhecer-nos melhor, chegando eu à conclusão que deste naipe de intérpretes de gabarito todos tinham uma qualidade em comum; eram todos gente humilde e respeitadora do género e arte de cada um.
Eu queria muito ver o Adolfo e o seu “Estilhaços” um espectáculo de Spoken Word cujas ambiências sonoras foram criadas por António Rafael coadjuvado pelo contrabaixista Henrique Fernandes. De facto, uma performance a todos os níveis aconselhável, cuja voracidade poética e prosaica é sublinhada com maestria pelos três excelentes executantes com natural relevância para o autor de tão eloquentes textos.
Primo Luis Fernando, ( fotógrafo de serviço) Viriato Ventura, e Sam The Kid
John Banzai fazia-se ouvir em Francês e pelo ruído que nos chegava ao interior tinha a sua claque de apoio que o aclamava a cada final de texto.
Tony e Mikael Carreira..heheheh!!!
Quando chegou a nossa hora, avançamos para o palco. Para nossa surpresa a maioria dos espectadores estavam sentados no chão do velho Texas Bar, hoje Music Box, que diga-se de passagem estava à pinha.
Sou invadido pelo natural nervosismo de estreante, mas juro para comigo e prometo ao velho Américo do golfinho que o não vou deixar ficar mal.
Dizendo o poema Tabacaria de Fernando Pessoa
Não vou fazer aqui a apologia do nosso trabalho, isso deixamo-lo para os críticos e para quem lá esteve presente, o que sei é que no fim da nossa prestação o Alex Cortez, dono do espaço e guitarrista dos Rádio Macau entre milhentas outras coisas em que se envolve, nos veio
Final da nossa actuação
abraçar e cumprimentar dizendo que se tinha emocionado como há muito não lhe acontecia.
Nisto entrou o John Banzai que me abraçou e me disse textualmente: Não percebi uma palavra do que disseste, mas conseguiste comover-me..como é que consegues isso?Bem sei que estou a ser um pedaço egocêntrico, vaidoso, narcisista, umbiguista, o que lhe quiserem chamar, mas isso não impede de que a noite de 19 de Junho de 2009 tenha sido uma das mais belas noites da minha vida, presumivelmente graças ás garrafas de Casal Garcia que eu e o ti Américo partilhámos pelo gargalo faz agora 30 anos e mais provavelmente, graças ao golfinho mágico que me ofertou naquela noite e que penso ainda andar lá por casa a pregar-nos partidas que afinal atribuímos ao culpado do costume. O destino!
PS: resta-me dizer que o público era conhecedor da palavra dita, educado, silêncioso o que ajudou e de que maneira a prestação de todos os performers.
PS1. tenho um video para converter em DVD e que porei no you tube e aqui no blogue mas isso só para a semana.
PS2. Peço desculpa pela imodéstia, mas hoje posso e tenho de me dar ao luxo de ainda não ter descido à terra......o que é muito, muito bom!!!
Fotos do primo Luis Fernando que fez questão de presenciar o espectáculo.
9 Comments:
Passou-me grande parte da sua emoção...
as maiores felicidades e parabéns pelos seus temas no Pratica(mente).
Um abraço.
Viriato Ventura voando ao mais alto nível,experimentando o exercício da superação pessoal,acima da poeira que, cá mais abaixo, nos faz sentir a alegria e o privilégio de o conhecermos cada vez melhor na pele sensível,culta, educada e divertida de Napoleão Santiago Mira.Amigo e "compagnon de route",ou seja, dos caminhos e "senderos" da vida terráquea que nos faz reencontrar a cada momento.
Parabéns Viriato Ventura .Parabéns Samuel Mira....
"La bohemia,la bhoemia,
Era mirar amanecer
La bohemia,la bhoemia
Era soñar com un querer"
-Charles Aznavour/BUIKA-
Haja saúde .
jm
Só uma reparo...Luis Fernando, era assim que a minha avó me chamava, eis a justa homenagem que fazes à Tia Francisca. Quanto ao facto de estares contente, é assim,..., devemos dize-lo para contagiar a vontade de fazer coisas bonitas. Parabéns ao Pai e ao Filho. Um abraço,...até ao proximo espetaculo
Foste enorme ontem à noite.
Não cheguei a falar contigo, mas senti o poder da tua mensagem e as brutais rimas do Sam.
Tal pai tal filho..tal pai tal falha...
O velho Américo (se for vivo) há-de estar contente.
Adorei o vosso espectáculo. Emoção do principio ao fim.
Não se notava que o Viriato era um novato nestas andanças.
Já agora: Viriato, Pulanito, Napoleão...quem de facto és tu?
Gabriela
Para a Gabriela,
O velho Américo já morreu há muitos anos...talvez 20.
Quem sou eu?
Talves todos...talvez nenhum!!
Sam the Kid e Viriato Ventura estão a tornar-se numa dupla de sucesso, coleccionadora de êxitos.
se eu fosse comentarista num jornal escreveria o meu comentário em "lua cheia" "positivo" "para cima" et. etc. etc.
Parabéns pelo vosso trabalho.
Espero que não tenha sido a última vez que actuam juntos.
Dois estilos diferentes que afinal têm entre sim muito em comum, nem que seja só o mesmo sangue que vos corre nas veias.
Fui ao Music Box de propósito para vos ver e foi uma agradável surpresa. Bebi cada uma das vossas palavras como se de uma experiência única se tratasse.
os meus sinceros parabéns.
Bruno S.
Napoleão, parabéns!
Quando no dia 6 de Junho/08,na véspera da tua primeira caminhada em direcção a Compostela,em minha casa,ao serão, ensaiáste a declamação do poema Tabacaria senti a alma de Fernando Pessoa por aqui,na voz poético- melodiosa de Viriato Ventura(teu heterónimo).
Sorte minha ter podido assistir à "ante-estreia" dessa tua sensacional representação.
Acabo de ver o CD que chegou no dia do meu aniversário---Fabulástico!
Aquilo que hoje recebi é "UM BRINDE À AMIZADE".Muito mais do que mereço mas que muito agradeço.
HAJA SÁUDE.
Joaquim Miguel
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