Dia 2 - De Entradas à Graça do Divor 132 Km
Estou instalado em casa do Joaquim Miguel e da Maria Adelina onde pernoitarei nesta minha segunda etapa rumo a Santiago de Compostela.
O grande Joaquim Miguel Bilro abrigando-se da trovoada depoi da queda
Tenho de abrir aqui um parêntesis e falar do meu anfitrião, não só para lhe agradecer a estada, mas para dar a conhecer quem é este desprendido alentejano, uma alma mais que solidária, quase irmã, que o destino fez comigo cruzar num ardente dia de Agosto de 2007.
Joaquim Miguel Bilro, 62 anos, natural de Borba, médico obstetra no Hospital de Évora é o personagem que vos dou hoje a conhecer.
É ele que organiza de A a Z toda a viagem até Santiago, fazendo muitas vezes às suas expensas o reconhecimento do percurso, marca hotéis, restaurantes, delineia itinerários, gere conflitos, põe água na fervura, age com subtileza e leva há anos a bom porto esta viagem ciclistica a Santiago, que é ao mesmo tempo uma viagem ao interior de cada um, e que cada um gere à sua maneira, no que ao objectivo diz respeito.
Aqui trarei o Joaquim Miguel noutras ocasiões da viagem, mas julgo que já é mais do que tempo de vos falar do dia de hoje.
Dormi o sono dos justos, daqueles que necessitam do descanso mais do que do pão para a boca. Acordei pelas 6,30 da manhã e vá de num só salto raspar-me da cama antes que a vontade de ficar se suplantasse à vontade de abalar. Penso que já vos disse noutros posts, o quanto gosto deste verbo – abalar – que não é a mesma coisa que partir, embora o significado seja gramaticalmente o mesmo.
Abalar, para um alentejano é mais desprender, romper laços. Abalar, é ir e não voltar, é assim uma coisa épica que vive dentro de cada um de nós e que nos distingue dos demais.
Abalar é dizer adeus à torre sineira das nossas aldeias, despedir-nos dos amigos, das açordas, migas e vinagradas, e abraçá-los e comê-las como se fosse pela última vez. Abalar é o destino alentejano que conjugamos em forma de verbo.
Mas vamos lá ao que interessa. O João Matos apareceu lá por casa antes das oito e vai daí, metemo-nos ao caminho em direcção a Ferreira do Alentejo passando por Carregueiro, Aljustrel e Ervidel.
A viagem foi feita em bom ritmo, mais de 25 km por hora, tendo chegado a Ferreira em pouco mais de hora e meia. Aqui o João deveria, como combinado, regressar a Castro Verde.
Ao despedir-nos, as nuvens que nos vinham há muito ameaçando cumpriram a promessa e derramaram dos céus o primeiro esgarrão do dia. Escapámos deste porque havíamos parado para beber uma água, mas mal me fiz de novo à estrada em direcção a Odivelas não lhe pude escapar e tive de suportar a purificadora molha que dos céus jorrava generosamente.
Quando a bonança veio já eu estava meio seco, mas este era sol de pouca dura. Ao chegar a Odivelas nova carga desabando céus abaixo, só que aqui pude abrigar-me no único estabelecimento aberto à beira da estrada.
Como as temperaturas estavam baixas e ovinho era verde, suponho que mais do que transporte este é um frigorifico à alentejana.
O Carrajeta continuou viagem para Entradas onde iria recolher a minha bagagem e reunir-se-ia a nós mais tarde já em Aguiar, onde havíamos de novo parado para abastecer.
Voltámos à estrada e á estrada voltou a chuva e o vento, que de tão forte que era deitou ao chão o Joaquim Miguel (pena não ter registo fotográfico do momento), enquanto eu e o Joaquim Piteira nos abrigávamos da tempestade na carrinha.
Se tivesse feito o percurso sozinho, por esta altura já teria três senhoras molhas em cima, assim consegui sobreviver, apenas com uma a sério e umas quantas mais pequenas.
Chegámos à Graça do Divor por volta das 15.00 horas, fomos ao Bezica comer umas burras e aqui estou a tentar descrever o que tem sido este segundo dia de caminho para Santiago.
Resta-me dizer que irei de novo provar ao jantar as iguarias da Maria Adelina, cuja qualidade já merecem o esforço de vir de Entradas à Graça do Divor só para as poder degustar.
Os vossos comentários são um bálsamo necessário. Por favor não deixem de nos presentear com os vossos comentários e sugestões, não interessando que sejam positivos ou negativos, o importante é que não nos leiam apenas.
2ª EtapaEntradas – Graça do DivorDistância – 132 Km
Dificuldade – Média
Meteo – Chuva, vento
Vel. Média – 23,85 Km hora
Tempo – 5, 30 minutos (mais ou menos…não tenho a certeza. Depois rectifico)
Adversidades – A maldita chuva
5 Comments:
1ª foto: eu sabia que o gajo não usa papel quando vai atrás da árvore...
Oh Piteira é bom que te escondas na carrinha para não andares na estrada nessas figuras...
Onde é que o grande Joaquim Miguel aprendeu a abrigar-se da trovoada debaixo de uma árvore? Isto normalmente não dá oportunidade a aprender com os próprios erros.
Amigo Napoleão
espero que a 3ª tirada seja mais seca que a anterior,por aqui o tempo melhorou.Boa viagem e cá fico atento aos relatos diários.
Um abraço
jmatos
Olá, Peixe Boi!
A "trovoada" não era.
Chuva de granizo e rajadas de vento violento,aconselham a busca de algum abrigo, junto a um tronco robusto que permita protecção momentânea.
Não se ouviu nenhum trovão(os ecos das campanhas de intoxicação não chegam onde não há massa crítica ).
Muito menos o relâmpago que apenas ilumina e atinge quem desconhece o princípio físico da GAIOLA DE FARADAY.
Aprender com os próprios erros?
Tem razão!
Não temo errar.Estou sempre disponível para os corrigir,sempre que os detecto.
Não navego nas águas dos "peixes" que só têm certezas e nunca têm dúvidas...
A "duvida metódica" também proteje das tempestades,por vezes num copo de água,de preferência não turvas.
Os meus cumprimentos.
jm
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