Dia 7 Da Póvoa de Varzim a baiona - 112 Km
Saímos da Póvoa de Varzim envoltos em sebastiânica neblina depois da experiência “ kusturico-gastronómica” no restaurante Galo Dourado.
Viajo debruçado sobre o varandim ambulante desta janela por onde filtro o mundo e a que alguém decidiu um dia chamar: bicicleta!
Estamos no Minho, região que não conheço como gostaria, mas do que enxergo gosto com olhos de gostar. Gosto deste verde eterno que se prolonga até onde a vista desagua, gosto dos regatos de água fresca correndo debaixo das pontes que atravessamos. Gosto das hortas à beira da estrada e das pessoas que as trabalham e que à força de braço, retiram do seu seio o sustento de uma vida.
Gosto da arrumação do casario, das casas apalaçadas, dos solares imponentes que nos remetem para tempos senhoriais. Gosto do bom gosto dos azulejos invocando vidas d’outrora e gosto das pessoas, simpáticas, humildes, verticais e integras.
Gosto dos espigueiros, construções graníticas em forma de estreitas ermidas e onde se guarda vida, milho e centeio.
Gosto do sorriso das mulheres de Viana cujos colares e brincos de ouro em dia de romaria, realçam no negro e branco do traje de cerimónia uma beleza singular, única, apetecível.Gosto deste Minho onde as localidades são assim em carreirinho, umas as seguir ás outras como se fossem carruagens cuja locomotiva é a cidade dominante da região.
São tantos os nomes por onde passámos, que na retina registei alguns desses postais invocativos da região mais a norte e onde afinal…nasceu Portugal.
Esposende surge-nos após alguns quilómetros de aquecimento, logo a seguir Ofir que estava em dia de festa pelo que deu para reparar nos cantares ao desafio tão característicos desta região debitados por aparelhagem que de longe se deixava ouvir e que nos acompanhou durante alguns quilómetros.
Chegados a Viana do Castelo, já o Zé Lima (o conhecido paraplégico bastas vezes aqui referido) nos esperava no seu dinâmico veículo de três rodas onde treina todos os dias umas dezenas de quilómetros para que possa estar em forma aquando o mês de todos os calores chegar e partir então para a terceira volta a Portugal em bicicleta, coisa que este corajoso amigo iniciou há três anos. Em 2008, teve a companhia da Rosa (outra grande e corajosa maluca!), e este ano penso que serão cinco os “indomáveis patifes”, que de novo voltarão a chamar a atenção desse género politico - peçonhento, que por esta altura estará a banhos, pouco se importando com os Zés Limas deste país. Mas “suor duro em estrada de alcatrão; há-de um dia chamá-los á razão” – olha, acabei de inventar um provérbio…vai-se chamar o provérbio do Lima.
O Zé fez questão de pedalar connosco pela arejada ciclo via de Viana, a quem dou os parabéns pelo excelente equipamento colocado á disposição dos vianenses.
O Zé prontificou-se a vir connosco até Caminha retribuindo a companhia que lhe fazemos quando passa por terras alentejanas.
Lá nos falou dos seus projectos, desventuras, lutas inglórias, mas sempre com uma centelha de esperança em cada uma das sílabas do seu discurso.
Chegados a Caminha, verificámos não haver condições de almoçarmos com o Zé Lima, vai daí, foi logo colocado em acção o plano B, que consistia em voltar para trás 12 quilómetros e ir almoçar a Vila Praia de Âncora onde decorria o Festival da Sardinha e do Mar, mas decorridos os primeiros 4 quilómetros verificámos que seria difícil concluir o projecto almoço em tempo útil. Vai daí, pusemos em prática o plano C, que consistia em ir ao tal festival buscar as sardinhas e restante acompanhamento, sólido e líquido e assim pouparmos tempo. Essa tarefa coube-me a mim e ao Maurício Cangalheiro que este ano andava um pedaço abatido. Sem me querer alongar em detalhes, lá conseguimos os nossos intentos no espaço de uma hora.
Regressados a Moledo onde éramos esperados, fizemos então esse repasto em comunhão com o Zé Lima que após o almoço regressou pelos seus meios a Viana do Castelo, coisa que lhe terá demorado mais umas três horas, segundo relato posterior.
De regresso a Caminha apanhámos o barco que nos haveria de conduzir à terra fronteiriço do Minho galego; estávamos em La Guardia ou A Guarda em língua galega de que tanto os oriundos da região se orgulham.
A viagem até Baiona não teve muita história, só os 40 quilómetros que faltavam galgar até ao nosso poiso, onde nos esperava o banho mais que merecido.
Por esta altura sinto que o meu olho direito lateja e que se formam umas bolhinhas nos braços e pernas a que não dei grande importância….amanhã é que são elas…é só ler o próximo e último episódio de mais esta viagem ciclo pedalante a Santiago de Compostela.
2 Comments:
Nap,
gosto de ti,bom Amigo, e da tua prosa poética.
Gosto do ZÉ LIMA e do exemplo que nos dá em cada recanto da nossa vivência comum,quando com ele nos é dado a possibilidade de respirar esperança em dias melhores para todos,sobretudo para os que mais necessitam.
Gosto de todos os "malucos" que à estrada se metem a caminho de uma viagem de sonho.
Gosto de sonhar e acreditar que o melhor da vida é ,mesmo, viver e poder sonhar.
SANTIAGO espera por nós no próximo ano.
Ano do Jacobeu.Vamos lá!
Para mim,começa neste momento a próxima caminhada e ,então, gritarei:
A CAMINHO DE SANTIAGO!!!!!!
Haja saúde.
jm
AMIGO NAP
já sinto saudades das nossas maluquices e de aprender contigo algo mais do que tu tens para nos ensinares, cada dia que passo contigo supreendes-me sempre pela positiva, és um BOM AMIGO e com uma educação fora do normal.
Ah! GRANDE JM
ainda mal acabou esta já está a preparar a próxima, é um GRANDE SER HUMANO e com um ENORME CORAÇÂO, só graças a ELE é que se conseguem estes dias maravilhosos.
OBRIGADA JM
e a todos os caminheiros.
JP
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