Dia 1. Da Praia do Carvoeiro a Entradas - 112 Km
Com os olhos postos em Santiago
Com o Jorge Pardal - oficializando a partida no Largo da Praia em Carvoeiro
Cheguei ligeiramente atrasado em relação à hora prevista (8.00 horas), e preparei-me para as fotos da partida, nisto aparece o presidente da Junta de Freguesia de Carvoeiro - Jorge Pardal, que sem saber da maratona a que me proponho, ali mesmo "oficializou" a partida para Santiago conforme a foto atesta.
Pelas 8.40 horas iniciei a minha aventura pedalando pelas ruas da bonita localidade onde escolhi viver há 25 anos atrás, sendo esta também um forma de celebrar essas bodas de prata com a terra que me acolheu e onde tenho construído a minha vida.
Havia comprado uns sapatos novos bem como as respectivas travessas, que reparo estarem demasiado apertadas ao pedal não as podendo desencaixar com a rapidez necessária em caso de paragem, obstáculo ou qualquer emergência.
Parei nas bombas da Cepsa onde procurei rectificar a falha em questão, mas não fui de todo bem sucedido, mas mesmo assim decidi fazer-me ao caminho, que por esta altura começava a ficar molhado pela chuva miudinha que teimava em persistir e que me acompanhou todo o caminho.
Esta coisa de ir preso aos pedais ia-me incomodando. Apesar das múltiplas tentativas os meus pés teimavam em não se libertar dos pedais o que me fez recordar uma história já com algumas décadas e que de algum modo tem a ver com a aflição em que estou metido.
Recordo-me agora do amigo Amador, recepcionista de hotel como eu, que numa dessas noites de absoluta insanidade mental em que ao tempo vivíamos, me haver convidado para com ele viajar até ao Algarve no seu Mini Clubman a propósito de visitarmos já não sei quem.
Só que o convite era para aquele preciso momento. Apesar de após contado o dinheiro dos dois, este mal dar para a gasolina até ao Algarve (para a volta não havia: logo se via!) e o carro literalmente não ter travões (apenas podíamos contar com travão de mão), lá nos decidimos meter ao caminho que foi efectuado durante a noite.
As estradas não eram o que são hoje e para chegar a Lagos no Algarve, demorámos toda a noite, até porque, por via da falta de travões tínhamos de viajar a uma velocidade reduzida.
Resultado! Não encontrámos quem vínhamos procurar e estávamos no Algarve sem dinheiro e sem travões.
Feliz chegada a Entradas
Estou completamente encharcado e igualmente feliz. Acompanho em alta vozearia o que o meu Ipod me debita. Com esta motivação avisto Ourique, sinal de que faltam 27 km para o meu destino final. Ainda o tento fazer em menos de 4 horas, mas chego exausto a Entradas com a média que fiz questão de fotografar para convosco partilhar.
Aqui está a prova
Como havia previsto tive alguma dificuldade em adormecer, só o conseguindo fazer por volta das duas da manhã.
Pelas sete, quando o despertador mental me acordou, foi só tempo de preparar as coisas, rectificar a biclas, metê-la na carrinha e levá-la para o local de partida, que era o renovado largo da praia em Carvoeiro.
Pelas sete, quando o despertador mental me acordou, foi só tempo de preparar as coisas, rectificar a biclas, metê-la na carrinha e levá-la para o local de partida, que era o renovado largo da praia em Carvoeiro.
Cheguei ligeiramente atrasado em relação à hora prevista (8.00 horas), e preparei-me para as fotos da partida, nisto aparece o presidente da Junta de Freguesia de Carvoeiro - Jorge Pardal, que sem saber da maratona a que me proponho, ali mesmo "oficializou" a partida para Santiago conforme a foto atesta.
Pelas 8.40 horas iniciei a minha aventura pedalando pelas ruas da bonita localidade onde escolhi viver há 25 anos atrás, sendo esta também um forma de celebrar essas bodas de prata com a terra que me acolheu e onde tenho construído a minha vida.
Havia comprado uns sapatos novos bem como as respectivas travessas, que reparo estarem demasiado apertadas ao pedal não as podendo desencaixar com a rapidez necessária em caso de paragem, obstáculo ou qualquer emergência.
Parei nas bombas da Cepsa onde procurei rectificar a falha em questão, mas não fui de todo bem sucedido, mas mesmo assim decidi fazer-me ao caminho, que por esta altura começava a ficar molhado pela chuva miudinha que teimava em persistir e que me acompanhou todo o caminho.
Esta coisa de ir preso aos pedais ia-me incomodando. Apesar das múltiplas tentativas os meus pés teimavam em não se libertar dos pedais o que me fez recordar uma história já com algumas décadas e que de algum modo tem a ver com a aflição em que estou metido.
Recordo-me agora do amigo Amador, recepcionista de hotel como eu, que numa dessas noites de absoluta insanidade mental em que ao tempo vivíamos, me haver convidado para com ele viajar até ao Algarve no seu Mini Clubman a propósito de visitarmos já não sei quem.
Só que o convite era para aquele preciso momento. Apesar de após contado o dinheiro dos dois, este mal dar para a gasolina até ao Algarve (para a volta não havia: logo se via!) e o carro literalmente não ter travões (apenas podíamos contar com travão de mão), lá nos decidimos meter ao caminho que foi efectuado durante a noite.
As estradas não eram o que são hoje e para chegar a Lagos no Algarve, demorámos toda a noite, até porque, por via da falta de travões tínhamos de viajar a uma velocidade reduzida.
Resultado! Não encontrámos quem vínhamos procurar e estávamos no Algarve sem dinheiro e sem travões.
Coisas duma insensata e atribulada juventude!
Nesse tempo, havia muita gente à boleia e a nossa estratégia passou por propor boleia aos viajantes ocasionais que concordassem em pagar a gasolina ( sem lhes dizer nada acerca dos travões), e assim conseguimos 24 horas depois chegar a Lisboa.
Passados uns anos ouvi de fonte segura que o Amador havia falecido; coisa que acreditei, tanto mais que o sabia gravemente doente.
Os anos passaram e um dia tive de me deslocar ao hotel onde o meu falecido amigo trabalhava. O senhor que me atendeu, completamente calvo tinha para o meu ouvido de tísico o voz do companheiro da aventura relatada, apesar de não lhe reconhecer traços fisionómicos , até porque o sabia há muito falecido.
Entre palpitantes hesitações, enchi-me de coragem e confidenciei ao funcionário que ele tinha a voz igual à de um falecido colega dele chamado Amador.
A resposta, já a devem ter adivinhado! O Amador afinal não tinha morrido. Tinha até ultrapassado a doença que lhe havia deixado algumas sequelas, de entre elas, a perda de cabelo, para além de que o tempo abre sulcos nas feições que muitas vezes nos transformam de modo indelével, como foi o caso deste amigo e protagonista desta estória com que vos brindo já em pleno IC2; e a chuva teima em cair mais forte.
Ainda não cheguei a nenhuma subida assustadora, mas sinto-me forte e em forma.
No meu auricular, Paço Ibañez canta-me "Palavras Para Júlia"do grande Rafael Alberti e até parece que o poema me é dedicado.O principio reza assim:
Tú no puedes volver atrás,
porque la vida ya te empuja,
como un aullido interminable, interminable.
Te sentirás acorralada,
te sentirás perdida y sola,
tal vez querrás no haber nacido, no haber nacido.
Pero tú siempre acuerdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti, pensando en ti como ahora pienso…..
……………………..
Gosto muito deste poema e ouço-o repetidamente enquanto as primeiras subidas a seguir a São Marcos da Serra, me dizem que a partir daqui vai ser a doer.
Brinco com o meu conta-quilómetros e até penso que pode estar avariado. Viajo a uma velocidade média de 27 Km por hora, o que verdadeiramente me espanta, tanto mais que chove, tenho algum vento lateral para além deste sobe e desce constante que me vai derretendo os músculos.
Nesse tempo, havia muita gente à boleia e a nossa estratégia passou por propor boleia aos viajantes ocasionais que concordassem em pagar a gasolina ( sem lhes dizer nada acerca dos travões), e assim conseguimos 24 horas depois chegar a Lisboa.
Passados uns anos ouvi de fonte segura que o Amador havia falecido; coisa que acreditei, tanto mais que o sabia gravemente doente.
Os anos passaram e um dia tive de me deslocar ao hotel onde o meu falecido amigo trabalhava. O senhor que me atendeu, completamente calvo tinha para o meu ouvido de tísico o voz do companheiro da aventura relatada, apesar de não lhe reconhecer traços fisionómicos , até porque o sabia há muito falecido.
Entre palpitantes hesitações, enchi-me de coragem e confidenciei ao funcionário que ele tinha a voz igual à de um falecido colega dele chamado Amador.
A resposta, já a devem ter adivinhado! O Amador afinal não tinha morrido. Tinha até ultrapassado a doença que lhe havia deixado algumas sequelas, de entre elas, a perda de cabelo, para além de que o tempo abre sulcos nas feições que muitas vezes nos transformam de modo indelével, como foi o caso deste amigo e protagonista desta estória com que vos brindo já em pleno IC2; e a chuva teima em cair mais forte.
Ainda não cheguei a nenhuma subida assustadora, mas sinto-me forte e em forma.
No meu auricular, Paço Ibañez canta-me "Palavras Para Júlia"do grande Rafael Alberti e até parece que o poema me é dedicado.O principio reza assim:
Tú no puedes volver atrás,
porque la vida ya te empuja,
como un aullido interminable, interminable.
Te sentirás acorralada,
te sentirás perdida y sola,
tal vez querrás no haber nacido, no haber nacido.
Pero tú siempre acuerdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti, pensando en ti como ahora pienso…..
……………………..
Gosto muito deste poema e ouço-o repetidamente enquanto as primeiras subidas a seguir a São Marcos da Serra, me dizem que a partir daqui vai ser a doer.
Brinco com o meu conta-quilómetros e até penso que pode estar avariado. Viajo a uma velocidade média de 27 Km por hora, o que verdadeiramente me espanta, tanto mais que chove, tenho algum vento lateral para além deste sobe e desce constante que me vai derretendo os músculos.
Feliz chegada a Entradas
Estou completamente encharcado e igualmente feliz. Acompanho em alta vozearia o que o meu Ipod me debita. Com esta motivação avisto Ourique, sinal de que faltam 27 km para o meu destino final. Ainda o tento fazer em menos de 4 horas, mas chego exausto a Entradas com a média que fiz questão de fotografar para convosco partilhar.
1ª Etapa
Praia do Carvoeiro – Entradas
Distância – 112 Km
Dificuldade – Média
Meteo - Chuva constante
Vel. Média – 26.85 Km hora
Tempo – 4 horas e 10 minutos
Adversidades – Os malditos sapatos
1 Comments:
Tenho razões para acreditar,mas amanhã vou à estrada confirmar.
Haja saúde.
jm
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