Dia 3 . Da Graça do Divor a Torres Novas - 153Km
Depois de uma noite bem dormida em casa dos meus anfitriões, logo pelas oito da manhã, começaram a chegar os ciclo-peregrinos que eram os mesmos do pretérito ano e ainda o amigo Serrano de Arraiolos que está a fazer o seu debut pelos caminhos de Santiago.
Hoje (dia 7/06) era dia de eleições, o que fez com que a partida fosse ligeiramente atrasada em virtude de alguns dos ciclistas do grupo, pretenderem (e bem!) exercer o seu direito cívico.
O frenesim da partida é sempre motivo de algum stress e mais ainda porque este ano ficámos sem motoristas de apoio. O Coelho está a recuperar de grave maleita e o Maurício cangalheiro teve também um problema de saúde, que não lhe permite estar connosco nos primeiros dias de viagem. Assim sendo; temos de nos desenrascar como podemos. O pessoal da Graça do Divor vai fazer turnos de 20 Km ao volante do nosso único veiculo de apoio, o que vai tornar a viagem um pouco mais incómoda, mas quem não tem cão caça com gato e cá nos havemos de desenrascar.
À partida de Graça do Divor, era esta a malta que partiria á desfilada. O Maricio cangalheiro está na foto, porque apesar de doente fez questão de nós se despedir
A manhã apresentava-se prazenteira e lá começámos a dar as primeiras pedaladas do dia, que para a generalidade dos meus colegas era o inicio da viagem, mas para mim já é o terceiro de dia montado na minha Gertrudes – nome com que acabei de baptizar a minha bicicleta.
Fizemos o mesmo percurso do ano passado e lá fomos em direcção a Montemor-o-Novo. A estrada é ampla e o piso de qualidade o que fez com que aqui chegássemos em menos de um fósforo.
Temos pela frente a mais longa das etapas, por isso é necessário gerir as energias, mas pelo andamento que a caravana imprime parece que ninguém quer saber disso para nada.
Pessoalmente sinto-me bem e motivado, até porque não chove o que já é um excelente tónico. Passámos as terras que havíamos programado e depois de efectuada a primeira paragem do dia para repor e retemperar energias onde fizemos a foto em forma de caleidoscópio com que vos presenteio, lá seguimos viagem.
Em sintonia
Ao quilómetro 70 e sem que ninguém o pudesse prever, dá-se a primeira das três quedas do dia. Vitor Reis, o nosso ciclista mecânico não se apercebe da paragem dos ciclistas e enfeixa-se no Serrano o que lhe provocou algumas mazelas no corpo e outras na bicicleta. Felizmente nada que não se pudesse remediar.
Avaliando os estragos da queda. Uma roda empenada, manete das mudanças partida, direcção desalinhada, diz o Mercks para o Vitor...mas vais continuar.
Pelo Km 82 regressa a chuva. Não sei se para abençoar de novo a nossa caminhada, ou mesmo só para nos encharcar de novo. Temos de a aguentar e é por isso que cerramos os dentes e continuamos em frente sem nos determos. A roupa há-de secar mais á frente quando o tempo melhorar. E vão três dias de molhas consecutivas e o dia de amanhã não nos parece trazer melhores novidades, no que ao tempo diz respeito.
Serrano e Joaquim Miguel num momento de pausa. O Serrano ri-se, mas o joelho dele sangrava, fruto da queda em conjunto com o Vitor...a segunda queda haveria de ocorrer uns km mais á frente.
Lá seguimos em direcção a Coruche, onde é habitual efectuarmos outra pequena paragem. Aqui foi o Ricardo Casaca que foi às couves.
Já de saída para o nosso próximo destino, foi de novo o Serrano que em Almeirim tocou na roda do Joaquim Piteira. Resultado: novo malho. E do Serrano já eram dois!
Coisas do ciclismo que queremos evitar a todo o custo, mas por obra da distracção do cansaço ou do azar, de vez em quando lá temos de beijar o asfalto ou o empedrado conforme for a circunstância.
Dois meios de transporte de locumoção animal...por isso se saúdam!!
Chegados a Alpiarça, conto chegar a tempo de ver a reportagem sobre a minha filha caçula (Catarina Mira no Fama Show), mas deparámos com o estabelecimento fechado.
Mas que raio de dia para fechar um negócio, quando este é o dia em que mais pessoas visitam o parque das merendas. Estratégias comerciais de vanguarda. Penso para com os meus botões!
Lá montámos a tenda e em três tempos tínhamos s à disposição do esfomeado pelotão uma mesa de casamento de se lhe tirar o chapéu, isto naturalmente contando com a muito pedida e aclamada salada à Príncipe do Bolero, uma especialidade que vem ganhando adeptos de ano para ano.
Vejam só o estilo bailarino do Ricardo Casaca.
Tem ou não tem estilo?
O Serrano que é cozinheiro reformado trouxe panados e queijadas de que merendei quase sem pedir licença de tão boas que estavam. O restante pessoal também trouxe outras iguarias que fomos todos picando. O único que apenas trouxe o apetite fui eu, já que ao partir do Algarve em bicicleta não me foi permitido contribuir com a minha parte repastante. Mas neste grupo ninguém liga a pormenores dessa natureza. O importante é a amizade, o desfrute e a comunhão, e isso demonstramo-lo a cada pedalada, a cada abraço e em cada sorriso. Digo-o com toda a sinceridade; é um privilégio viajar com estes companheiros e esta é a minha forma de lhes prestar a merecida homenagem.
À passagem pela Chamusca, as rodas até zuniam no alcatrão...mas nota-se no sorriso do Piteira A. que estamos prestes a chegar.
Chegados à Chamusca deparamo-nos com a presença do Carneiro e do Bernardo, dois membros desta trupe ciclo-pedalante, que por motivos da sua vida particular não nos puderam obsequiar com a sua presença ao longo de toda a viagem, mas fizeram questão de dizer presente, juntando-se a nós nos derradeiros 20 km desta longa jornada.
O carneiro tinha um ar nostálgico ao olhar para o "ferro" do Quim Piteira...cantámos-lhe em susurro o " vou levar-te comigo" dos Duo Ouro negro!!
Chegámos a Torres Novas pelas cinco da tarde. Tomámos o banho costumeiro e fomos comer uma caracolada e beber as respectivas bejecas antes do jantar.
Saboreámos a companhia destes amigos à refeição e terminámos a noite com uma ginginha da marca Daniel’s que o Carneiro me pediu que não dissesse a ninguém, mas só vos estou a dizer a vocês e estou seguro que os meus caríssimos leitores saberão guardar segredo.
Pronto isto foi assim escrito de rajada. Amanhã rectifico umas coisas e meto umas fotos. Agora estou morto de sono. Se me levantar muito cedo ainda colocarei aqui algumas das muitas fotos que fizemos durante o dia.
3ª Etapa
Graça do Divor – Torres NovasDistância – 153 Km
Dificuldade – Média
Meteo – Alguma chuva
Vel. Média – 24,65 Km hora
Tempo – 6, 45 horas
Adversidades – As quedas do Vitor, Serrano e Ricardo
7 Comments:
Olá,
Não sabia desta vossa aventura rumo a Santiago.. de sul para norte é mais dificil. Bons ventos e boas pedaladas
Com alguns acidentes de percurso mas em boa forma....
Boa continuaçao
E a história repete-se, a epopeia já vai no segundo volume, e os heróis cansados mas felizes presenteiam-nos com actos de coragem e bravura! Corre-vos o suor, as pernas cedem, a chuva molha, as subidas são torturas, a meta parece longe, Portugal é agora grande para quem o percorre a pedal e mesmo depois de mastigadas as tortuosidades com que vos brinda esta jornada, vocês continuam a sorrir e a deliciar-nos com tamanho heroísmo! Sou suspeita porque sou filha, mas sou certamente orgulhosa.
Força!
Um beijo do teu pêssego recheado com pérolas de antigamente.
Adoro-te
Querido maridinho
fala com a Gestrudes a bem e ela que te leve a bom porto.
Cá ficamos cheias de saudades porque a nossa filhota pequenina foi embora no Domingo á noite mas já volta para junto da mumy na Terça feira.
1000 bjs e muitas saudades
Talinha
"Dois meios de transporte de locumoção animal..."
Pois...a diferença é que no caso da bicicleta(na minha,claro!) a besta puxa sentado.
E mais à frente pimba!Eheheheheh.
Haja saúde.
ups!
Hoje dia que escrevo este comentário é dia 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Sexto dia da vossa viagem (tua e dos teus companheiros de viagem. amigo Napoleão).Onde estarás neste dia? Onde estarás quando leres este comentário? Continuação deboa viagem e ... que os deuses te sejam propícios!!!...
Um abraço
Este comentáro é para a Catarina
ORGULHOSA até que ponto?|E jáagos "orgulhos" é alcunha ou é cognome à maneira dos reis (e raínhas)e nobres de tempos muito remotos?!
Enviar um comentário
<< Home