sexta-feira, maio 29, 2009

Se!


Se não fosse esta doença chamada saudade

Se a razão do meu sofrimento, não se apelidasse distância

Se a vontade de partir, fosse tão forte como o desejo de chegar

Se a revolta que me aflige, não me toldasse os pensamentos

Se no espelho, não reflectisse a imagem de um inútil

Se nos pegos da minha crença, corressem as lágrimas que derramo

Se num infinito abraço, abarcasse todos os chaparros da minha infância

Se nas veredas dos sonhos, ciganos e malteses me saíssem ao caminho

Se na palma da mão, desenhasse os contornos da minha existência

Se o farol da imaginação, não fosse atraiçoado pelo feitiço da demência

Se esta dor interminável, não me corroesse as vísceras e a alma

Se não fosse um nada dentro do vazio

Se de repente enlouquecesse...talvez um dia pudesse ser feliz!


Viriato Ventura

Escrito por pulanito @ maio 29, 2009   2 comentários

quinta-feira, maio 28, 2009

Para Descomprimir...


Durante escavações recentes nos EUA, os arqueólogos descobriram, a
100m de profundidade, vestígios de fios de cobre que datavam do ano
1.000. Os americanos concluíram que os seus antepassados já dispunham de uma rede telefónica desde aquela época.

Entretanto os espanhóis escavaram também o seu subsolo, encontrando restos de fibras ópticas a 200m de profundidade. Após minuciosas análises, concluíram que elas tinham cerca de 2.000 anos de idade, divulgando triunfantes, que os seus antepassados já dispunham de uma rede digital à base de fibra óptica quando Jesus nasceu!

Uma semana depois, em Beja, num semanário local, foi publicado a seguinte notícia:

"Após inúmeras escavações arqueológicas no subsolo de de Entradas Distrito de Beja e Graça do Divor Distrito de Évora, entre outras localidades alentejanas, até uma profundidade de 500m, os cientistas alentejanos não encontraram absolutamente nada. Assim se conclui que os antigos habitantes daquela região alentejana já dispunham, há 5.000 anos atrás, de uma rede de comunicações sem-fios, vulgarmente conhecida hoje em dia pela designação de "Wireless".

Escrito por pulanito @ maio 28, 2009   3 comentários

quarta-feira, maio 27, 2009

50 000 visitas...e não ficamos por aqui!


Antes de partir para Lisboa onde vou ensaiar com o Samuel para o Festival Silêncio passo no escritório e reparo que atingimos esse mítico marco da blogosfera, que são os 50.000 visitantes.
Cin..quen..ta mil almas! É mesmo muita fruta.
A todos os que por aqui passaram durante estes anos o meu sincero obrigado. Também vos queria dizer que depois de muitos relatos, muitas história, muitas crónicas, muitos desabafos aqui trazidos muitas vezes com o coração ainda em desvairado batimento; quero-vos convidar para a segunda parte deste filme que ainda agora começou.
Obrigado por não me deixarem aqui feito Santo António a pregar aos peixes, ou então como os malucos meus amigos que passam a vida a falar sozinhos e a inventar personagens em que se desdobram e que eu tanto admiro!

Escrito por pulanito @ maio 27, 2009   9 comentários

sábado, maio 23, 2009

Contagem Decrescente Para Santiago

O relógio já começou a contagem decrescente

Estou a 10 dias da partida do Algarve para Santiago de Compostela. Qualquer coisa como mais de 1000 quilómetro a pedalar durante sete dias.
Esta vai ser a minha quarta viagem de longo curso montado na minha amiga de duas rodas que até agora só me tem deixado ficar bem.
Penso fazer mais um fim-de-semana de treino e depois, seja o que os deuses quiserem.
Hoje, regressei às estradas da planície para mais uma sessão.
Como não tenho itinerário pré-definido vou para onde o vento seja mais favorável, neste caso; em direcção ao Carregueiro.




Estrada do Carregueiro, vista panorâmica do meu cokpit



No meu Ipod ecoam as minhas músicas favoritas, tenho à minha frente a estrada deserta que une Entradas à antiga estação de onde tantos de nós abalaram, alguns para não mais voltar.
A estrada onde circulo, foi a estrada que percorri aquando da minha prematura abalada para Lisboa.
Teria os meus seis anos e recordo-me como se fosse hoje do silêncio dessa caminhada, do vazio que de mim se apoderava e da promessa que cheguei a cumprir.
Um dia hei-de voltar – confessava eu repetidamente às minhas entranhas. A raiva e a impotência marcavam a cadência do caminho enquanto que a torre sineira que vi todos os dias da minha vida, desaparecia lentamente por trás do outeiro.
Ia eu entretido com estes pensamentos quando surge ao meu lado um desconhecido ciclista.
- Bom dia
- Bom dia – respondo.
- Então dando uma voltinha de bicicleta?
- Tem que ser, há que treinar.
- De onde vem – pergunto.
- De Castro Verde. E o amigo?
- De Entradas!
- Então você deve ser o Pulanito!
- Sou sim senhor...
E assim entabulei conversa com o João Matos que é um seguidor deste espaço ciclo-pensante.
Descobri que terá lido praticamente todos os posts e que deles tinha uma boa memória, logo, um conhecimento acerca deste escriba, bastante aprofundado.
Combinámos fazer juntos o treino e decidimos dirigir-nos a Aljustrel, que de resto era a estrada onde se desenrola esta conversa de desbloqueamento pessoal.
Como não tenho muitas perguntas a que responder, sou eu quem conduz o fatídico interrogatório situacionista.



João Matos e Pulanito - É bom encontrar os nossos leitores na estrada.


O Matos é alentejano do Crato, e vive em Castro Verde, trabalha em Lisboa onde é militar de carreira e só aos fins-de-semana se pode juntar á restante família em Castro Verde.
À medida que galgávamos alcatrão íamos pondo a conversa em dia, que quer queiram quer não, é um excelente amenizador para os quilómetros que ainda nos faltam percorrer.
Por esta altura já havíamos deixado Ervidel para trás e Santa Vitória estava ali a encher-nos o olho a cada quilómetro que passava.
Costumo aqui parar, mas como me sentia bem e o Matos ia á frente, não se me afigurou de bom tom, arrastar uma pessoa que acabara de conhecer para uma taberna manhosa com o sugestivo, inovador e original nome de: Retiro dos Caçadores.
Penedo Gordo fica ali a onze ridículos quilómetros, vai daí, pusemos força nas canetas e num instante surge a terra do bom queijo baixo-alentejano.
Dali damos um pulo a Beja, onde em louvor do meu amigo Carneiro bebo uma água Frize, que como toda a gente sabe, uma massaginha e uma água Frize faz qualquer ciclista felize.
O regresso foi via IP2. Um regresso sem história, se retirarmos as duas molhas que apanhamos, mais as dores musculares que para o final se de mim apoderaram, nada de anormal.
Este será um dos últimos treinos longos que terei oportunidade de fazer e a partir de agora, estou entregue ao maldito calendário que a cada dia que passa me fará lembrar que amanhã já só faltam nove dias para a partida.
Quanto ao Matos, trocámos números de telefone e assim aos poucos já vou conseguindo uns contactos na zona para não ter de pedalar sozinho.
Curiosamente, nesta volta de perto de 90 Km que fizemos e mesmo com chuva e vento frontal, fizemos média de 25 quilómetros à hora, o que é um acontecimento cá para o rapaz.
Desculpem lá o post ser grandinho, mas é que eu escrevo como se vocês estivessem aqui na minha sala a conversar comigo e a beber um copo de bom tinto alentejano.

Escrito por pulanito @ maio 23, 2009   5 comentários

quarta-feira, maio 20, 2009

Principe Valente


- Deixa-me apartar-te essa marrafa como deve de ser - dizia minha mãe algo furiosa antes de me puxar pelo braço e em passo apressado me arrastar pela mão em direcção ao caminho que iniciava o penoso percurso que deveríamos fazer a pé até chegarmos à paragem do autocarro que nos haveria de levar até ao Bairro de Alvalade, mais propriamente, à Avenida da Igreja, nº 25.
Acompanho a minha mãe neste dia de Verão, vou tirar fotografias para a escola à Foto Cabral, já que este ano (1966) entro no ensino secundário, na Escola Técnica Elementar Eugénio dos Santos, como era então chamada.
Chegados à Foto Cabral o fotógrafo pede à minha mãe que me volte a pentear. Esta molha o pente na bacia preparada para o efeito e volta a refazer-me o risco ao lado ficando eu com um aspecto assim a dar para o lambido.
O Sr. Cabral manda-me sentar num banco e colocar a cabeça assim meio á banda, meio a três quartos e ordena-me que sorria, enquanto que este com a cabeça enfiada num pano preto que é uma extensão da sua máquina, me vai ordenando com a mão direita que me mova ligeiramente para um dos lados onde o enquadramento seja mais favorável.
- Agora não te mexas. Olha para a máquina e sorri. Pronto já está; returque o Sr. Cabral enquanto se liberta do túnel de pano preto em que estava mergulhado.
- As fotos são normal ou urgente – Pergunta o diligente retratista.
- Quer meia dúzia ou uma dúzia. Se encomendar uma dúzia oferecemos-lhe uma foto 8x10 cm.
Minha mãe decide-se pela dúzia e pelo modo normal que vai demorar quinze dias, sendo que na próxima semana devemos cá voltar para verificar as provas e escolher a pose do produto final.
O nosso destino último, é um prédio na mesma correnteza desta avenida uns quantos números mais abaixo.
Minha mãe vai trabalhar a casa de Dona Teresa e nestes dias de Agosto a família da casa estará a banhos no litoral.
Subimos ao terceiro andar onde minha tia Felícia (a criada interna) nos abre a porta escancarando também o sorriso com que nos recebe.
Como os patrões não estão em casa, posso ir brincar para o sótão onde os meninos da casa possuem uma colecção de brinquedos, livros, jogos, lápis de cor e uma enorme pista automóvel para carrinhos eléctricos que é a minha perdição.
Minha mãe recomenda-me que não estrague nada sob pena de nunca mais aí voltar.
Estou no paraíso. Para um alentejanito com pouco tempo de Lisboa, cujos brinquedos consistiam num arco, pião e bilas, ter ali à minha mercê toda aquela parafernália de divertimentos, ainda por cima num sótão e só para mim, era assim como estar no céu.
Desde pequeno que gosto de ler, foi ali naquelas águas-furtadas que avidamente consumi toda a colecção do Tim Tim publicada até então, os livros do Príncipe Valente (de longe o meu herói favorito), os Mundo de Aventuras e tantos outros.
Quando tínhamos de voltar no dia seguinte levava-os à socapa para casa, para ler e reler até que o sono me vencesse e logo que acordasse, neles voltar a mergulhar em fantasias de sonhar acordado.
Era assim a vida dum Príncipe Valente do subúrbio em que me transformei. Construi com as minhas mãos uma espada feita de madeira de cabo de vassoura, que embainhava à cintura cirandando pelo bairro à cata de cinderelas para resgatar, não sem nunca derrotar em mortíferos duelos os seus imaginários algozes.
E minha mãe, a cada manhã da minha vida teimava em humilhar-me com aquela coisa de molhar o pente na água da bacia e apartar-me a marrafa.
- Mãe...Mãe, não se aparta a marrafa a um guerreiro. O príncipe Valente não tem marrafa, esbracejava eu durante os sonhos em que me transfigurava no meu personagem favorito.

Aquando do nosso regresso à Foto Cabral para escolher as fotos, o ilustre retratista agarra uma delas e olhando para mim por cima dos óculos, diz: - Se fosse a ti escolhia esta, tens um não sei quê de cavaleiro andante.
Ao mesmo tempo sorriu, piscou-me o olho e num carinhoso afago de cabelo... destruiu-me a marrafa !

Escrito por pulanito @ maio 20, 2009   13 comentários

sexta-feira, maio 15, 2009

José Lima vai a Bruxelas em cadeira de rodas.


Joaquim Miguel Bilro, homem de causas, mandou-me este texto para divulgação de mais uma insensivel barbaridade do nosso sistema de protecção social.
Se vissem o que o José Lima faz para chamar a atenção pela brutal falta de consideração dos que sofrem na pele por assim terem nascido, ou que, por via de acidente (como foi o seu caso) terem de se movimentar numa cadeira de rodas, talvez lhe concedessem uma condecoração.

Ou será porque ele não se cala que é penalizado desta infame maneira?

José Lima, um paraplégico de Viana do Castelo, prometeu hoje ir de
cadeira de rodas até Bruxelas, numa viagem de cerca de 2.300
quilómetros, para protestar contra a decisão da Segurança Social de
lhe retirar o complemento por dependência.
"Vou a Bruxelas de propósito para perguntar ao senhor Durão Barroso
[presidente da Comissão Europeia] se acha justo que queiram obrigar um deficiente, com 80% de incapacidade, a sobreviver com €180 por mês", disse o deficiente em declarações à agência Lusa.
Sustentou ainda ser "irónico e revoltante que a Segurança Social diga
que lhe vai retirar o complemento por dependência por ter decidido
trabalhar, no caso escrever e vender livros".
José Lima, 54 anos, ficou paraplégico em 1997, na sequência de um
acidente de trabalho em Angola.
Em 2007, começou a receber uma pensão de €180, que uns meses mais tarde seria acrescida de um complemento por dependência, de €97.
"Como sempre fui uma pessoa activa, e como a miserável pensão não me permite pagar as minhas responsabilidades mensais, em 2006 comecei a escrever e editar os meus próprios livros numa gráfica que eu mesmo criei. Para que o pudesse fazer dentro da lei, inscrevi-me nas Finanças como escritor/editor, para poder passar recibos verdes",
revelou.
José Lima sublinhou que "o valor total das vendas anuais dos meus livros é uma cifra irrisória, como se pode constatar pela declaração de IRS de 2008, mas sempre era mais uma ajuda".
"Mas a Segurança Social, mal 'descobriu' que eu estava a trabalhar,
tirou-me €97, talvez por achar que eu estou rico", acrescentou.
A 6 de Maio deste ano, através de um ofício a que a Lusa teve acesso, a Segurança Social informou José Lima de que a partir de Junho deixará de receber o complemento por dependência, por este não ser "cumulável" com rendimentos de trabalho.
"Se isto se concretizar, ficarei sem os recursos mínimos para poder
continuar a editar os meus livros. Ou seja, vou passar a viver com
€180 por mês", referiu.
José Lima garantiu que a viagem de protesto até Bruxelas, em cadeira de rodas, arrancará em meados de Agosto e durará cerca de um mês.
Contactado pela Lusa, o director da Segurança Social de Viana do Castelo, António Correia, disse que o organismo "apenas se limitou a cumprir a lei".

Escrito por pulanito @ maio 15, 2009   4 comentários

terça-feira, maio 12, 2009

Morreu o Isaías

Isaías Parreiras

Vão-se-me morrendo aos poucos os ícones que ao longo da vida fui aprendendo a admirar. Isaías Parreiras era um deles!
Adegueiro galante, educação de fino recorte e humor viperino eram algumas das referências deste “monstro” da cozinha regional alentejana.
A Adega do Isaías em Estremoz, é conhecida por praticamente todos os bons apreciadores da cozinha das ervas e dos sabores, da cozinha dos ganhões de que Isaías Parreira era o seu legitimo embaixador tendo sido em diversas ocasiões e em diversos certames premiado e reconhecido como tal.
Conheci Isaías há talvez uns trinta anos, tendo sido a este apresentado por outro amigo de Estremoz, o Silvino Sardo.
Ali, naquele espaço invocativo de várias gerações de petisqueiros, rodeado das talhas onde outrora se fazia o vinho da casa e onde sobre as mesas corridas cabe sempre mais um, passei noites memoráveis.
Isaías ao final das refeições sempre vinha sentar-se connosco e entrar no jogo do "parvejo" que parece ser extensível a uma faixa significativa de alentejanos, onde me incluo.
Na Adega do Isaías degustei muitas das iguarias da terra chã. As “burras” são um ex-libris da casa (agora chamam-se por aí bochechas de porco e já vêm sem osso -modernices!), aqui provei, as melhores migas de que tenho memória incluindo as de espargos, mas dos pratos que mais gostei de aqui saborear foi a famosa lebre com nabos.
Tenho na lembrança as noites de fadistagem que ocasionalmente aqui aconteciam, até porque Estremoz é terra de boas vozes e o local propício a dar liberdade às gargantas cantadeiras da marmórea cidade.

Um recanto da adega

Muitas vezes depois de almoço fiquei á conversa com este amigo que agora partiu. Numa dessas vezes, já a meia tarde, toca o telefone. Isaías atende, do outro lado alguém diz :– fala da casa militar do senhor Presidente da República Dr. Mário Soares. O Senhor presidente gostaria de almoçar na sua casa no regresso da homenagem que vai fazer ao General Humberto Delgado em Vila Nueva del Fresno.
Depois de se certificar que não era nenhuma brincadeira Isaías responde – Mas a minha casa é uma adega, como é que vou receber aqui o Presidente da República, questionou.
- O Senhor Presidente sabe muito bem que é uma taberna e faz questão de almoçar na sua casa, e já agora gostava de comer migas.
- Mas pretende que feche a casa só para o Presidente, retorquiu.
- Não. Pode reservar uma ou duas mesas onde caibam 16 a 20 pessoas.
Fui testemunha deste episódio e posteriormente confirmei a passagem de Mário Soares por este local conforme combinado e de que Isaías guarda foto a celebrar tão importante acontecimento.
Ultimamente só via o amigo Isaías aquando da tradicional ida a Vila Viçosa para a encomenda dos cartazes para a corrida de touros de Entradas. Era então paragem obrigatória um lanche ou um jantar à do Isaías.
Depois da morte prematura de seu filho ( José Marcos), mestre Isaías ressentiu-se dessa maldade que a natureza lhe pregou, tendo desde então muita dificuldade em recuperar a mobilidade, mas mesmo assim não deixava de estar presente, recebendo os muitos amigos que lhe frequentavam a adega, mas que Isaías recebia, como se fosse o salão nobre de um palácio.
Continuarei a frequentar este local de peregrinação gastronómica, porque sei, que os que ficaram hão-de querer honrar o homem que colocou Estremoz e o Alentejo no mapa dos gastrónomos mais exigentes….e até um Presidente da República.
Quando aí for, olharei para a cadeira onde sempre o encontrei, e certamente com ele trocarei dois dedos de conversa. Espero que me volte a contar a estória do garrafão contendo aquela aguardente amarelinha que descobriu debaixo da cama e que lhe foi ofertado no dia do seu casamento há mais de 40 anos e que sempre me dava a provar de cada fez que me via, e o raio do garrafão nunca mais tinha fundo.
Descanse em paz...foi um prazer conhecê-lo amigo, se é que me concede a honra de assim o tratar.

PS: na minha agenda telefónica ainda consta assim o seu nome: Isaías - a melhor taberna do mundo.

Etiquetas: burras, Cozinha alentejana, cozinha dos ganhões, estremoz, Isaías Parreira, lebre com nabo, migas, Taberna do Isaías

Escrito por pulanito @ maio 12, 2009   1 comentários

terça-feira, maio 05, 2009

A 30 Dias da Partida Para Santiago de Compostela

A estátua de homenagem ao sapateiro em Almodôvar - dá para ver o tamanho comparada comigo.


De hoje a um mês, terá lugar a partida do Algarve em direcção a Santiago de Compostela.
Serão seguramente mais de 1000 quilómetros a pedalar por terras de Portugal e norte de Espanha que eu e os meus amigos iremos percorrer.
Estou de algum modo ansioso que tal epopeia tenha o seu inicio, até porque é uma semana em que apesar dos desafios que teremos de vencer, damo-nos conta de que afinal em cima do duro selim de uma bicicleta também se cimentam amizades genuínas.

Tenho treinado o que posso, o que não é muito nem é pouco, é quase nada!
Estive o passado fim-de-semana em Entradas com o firme propósito de treinar afincadamente. Acabei por pedalar 300 Km em 3 dias o que não é mau de todo, mas também podia ter sido bastante melhor.
A partir de agora, vai-se adensando a ansiedade. O nervoso miudinho, o medo de falhar, o acontecimento inesperado que nos obriga a desistir, uma lesão, a doença de um familiar próximo, eu sei lá…é preciso que os deuses estejam todos bem dispostos e com vontade de reunir consensos para tudo corra pelo melhor.

Lá andei às voltas pelas desertas estradas alentejanas pedalando sem cessar. Repeti trajectos, e parei em locais em que sempre fiz questão de parar. No percurso de sexta-feira fui directo de Entradas a Santa Vitória. Quando saí de Entradas já sabia que seria aqui a minha primeira e única paragem desse dia. A tasca onde costumo parar chama-se Retiro dos Caçadores, que à imagem de Café Central, deve ser dos nomes mais utilizados para estabelecimentos desta natureza que encontramos com mais facilidade em cada terra do interior alentejano.

Paro aqui no Retiro dos Caçadores em Santa Vitória porque a senhora é simpática, saúda-me efusivamente e comanda o que se passa deste lado do balcão como um maestro sem batuta comanda uma orquestra de desafinados.
Bebo um café, pago uma rodada aos presentes que normalmente serve de desbloqueador de conversa, onde uns se admiram pelos quilómetros que já percorri e pelos que ainda tenho de percorrer, outros, com o seu GPS mental, acham que é coisa que se faz com uma perna ás costas.
O pessoal já me vai conhecendo e da meia dúzia de vezes que ali parei, até já se metem comigo utilizando a famosa frase de quem se senta á beira da estrada para ver o mundo passar.
- Os outros já passaram há pedaço. Ou quando me equipo de amarelo e me dizem – Então és o camisola amarela e vais em último.

Sigo caminho em direcção à Mina da Juliana pelas estradas do interior alentejano. Aqui abro as goelas e canto, grito, guincho ou lá o que se lhe queira chamar e solto as amarras pulmonares e experimento uma sensação de alívio que recomendo.


Daniel - Guardador de sonhos

Quando passo esse marco do novo Alentejo que dá pelo nome de Vila Galé, viro agulha para Albernôa. No caminho à beira da estrada encontro o jovem pastor Daniel que me saúda. Paro para a foto que aqui vos trago e pergunto-lhe como vai a vida, ao que Daniel responde – Ele há lá melhor vida do que esta!
Nem sequer lhe respondo porque a minha concordância é total. Daniel assobia ao seu cão com os dedos mindinhos em cada um dos cantos da boca o que provoca uma estridência sonora que o cão entende no imediato, reunindo um par de cabras que se afastava do rebanho.
Tenho um especial fascínio por esta vida. Vêm-me á lembrança de imediato Alberto Caeiro, esse heterónimo de Fernando Pessoa que tinha no pastoreio e na contemplação da natureza o seu mister.
No Sábado dia 2 de Maio dou uma volta larga de 115 Km para compensar os 90 do dia anterior.
Domingo penso fazer uma volta de apenas algum desentorpecimento quando encontro á saída de Entradas um outro ciclista com quem entabulo conversa de imediato.
Como ando sempre sozinho, é um bálsamo encontrar alguém que nos amenize o caminho.
Diz-me ser de Aljustrel e ir até Almodôvar onde há uma concentração de Fiats 600. Disponho-me a acompanhá-lo, sem que antes lhe peça permissão a que este acede sem pestanejar.
Lá fomos desenrolando o rosário de quem se quer dar a conhecer. Fico a saber que o meu companheiro de viagem de seu nome Luis Alvaro, também está a treinar para ir a Fátima no próximo fim-de-semana.
Passámos Castro Verde, Rosário e em menos de duas horas estávamos em Almodôvar.
Luis pergunta-me se conheço a estátua do sapateiro. No meu registo mental tenho a ideia de ter visto uma estátua de um sapateiro, numa das múltiplas rotundas que agora inundam as nossas vilas.


Luís, meu companheiro de jornada

Luis conduz-me então para uma praça do interior da vila onde me apresenta o tal sapateiro, uma estátua descomunal feita de lixo metálico, peças velhas muita paciência e um engenho artístico do mais fino recorte.
Fiquei a saber que foi feita por um tal de Aureliano em 2001 e aqui lhe tiro o meu chapéu em forma de homenagem.
De Fiats 600 nem cheiro, de modo que fizemos meia volta e regressámos pelo mesmo caminho, triturando quilómetros atrás de quilómetros.


Curiosa estátua de homenagem aos soldados da paz

Visitámos ainda do mesmo artista a homenagem ao bombeiro, um estátua divertida, cheia de acção e movimento, relatando (a meu ver) um momento de urgência, como são afinal praticamente todos os momentos dos soldados da paz.
Gostei imenso deste trabalho, só que já tinha sido surpreendido pelo método de trabalho anteriormente, portanto o factor surpresa esvaiu-se.
Ao chegar a Entradas, trocámos telefones e combinámos futuras pedaladas juntos, o que seguramente irá acontecer e a breve trecho.
Bem sei que escrevo pouco, mas quando o faço é logo para toda a semana.
A partir de agora aqui trarei notícias mais atempadas, até porque os dias, são a partir de agora, riscados a X no calendário a uma velocidade quase estonteante.

Escrito por pulanito @ maio 05, 2009   6 comentários

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