Contagem Decrescente Para Santiago
Estou a 10 dias da partida do Algarve para Santiago de Compostela. Qualquer coisa como mais de 1000 quilómetro a pedalar durante sete dias.
Esta vai ser a minha quarta viagem de longo curso montado na minha amiga de duas rodas que até agora só me tem deixado ficar bem.
Penso fazer mais um fim-de-semana de treino e depois, seja o que os deuses quiserem.
Hoje, regressei às estradas da planície para mais uma sessão.
Como não tenho itinerário pré-definido vou para onde o vento seja mais favorável, neste caso; em direcção ao Carregueiro.
No meu Ipod ecoam as minhas músicas favoritas, tenho à minha frente a estrada deserta que une Entradas à antiga estação de onde tantos de nós abalaram, alguns para não mais voltar.
A estrada onde circulo, foi a estrada que percorri aquando da minha prematura abalada para Lisboa.
Teria os meus seis anos e recordo-me como se fosse hoje do silêncio dessa caminhada, do vazio que de mim se apoderava e da promessa que cheguei a cumprir.
Um dia hei-de voltar – confessava eu repetidamente às minhas entranhas. A raiva e a impotência marcavam a cadência do caminho enquanto que a torre sineira que vi todos os dias da minha vida, desaparecia lentamente por trás do outeiro.
Ia eu entretido com estes pensamentos quando surge ao meu lado um desconhecido ciclista.
- Bom dia
- Bom dia – respondo.
- Então dando uma voltinha de bicicleta?
- Tem que ser, há que treinar.
- De onde vem – pergunto.
- De Castro Verde. E o amigo?
- De Entradas!
- Então você deve ser o Pulanito!
- Sou sim senhor...
E assim entabulei conversa com o João Matos que é um seguidor deste espaço ciclo-pensante.
Descobri que terá lido praticamente todos os posts e que deles tinha uma boa memória, logo, um conhecimento acerca deste escriba, bastante aprofundado.
Combinámos fazer juntos o treino e decidimos dirigir-nos a Aljustrel, que de resto era a estrada onde se desenrola esta conversa de desbloqueamento pessoal.
Como não tenho muitas perguntas a que responder, sou eu quem conduz o fatídico interrogatório situacionista.
O Matos é alentejano do Crato, e vive em Castro Verde, trabalha em Lisboa onde é militar de carreira e só aos fins-de-semana se pode juntar á restante família em Castro Verde.
À medida que galgávamos alcatrão íamos pondo a conversa em dia, que quer queiram quer não, é um excelente amenizador para os quilómetros que ainda nos faltam percorrer.
Por esta altura já havíamos deixado Ervidel para trás e Santa Vitória estava ali a encher-nos o olho a cada quilómetro que passava.
Costumo aqui parar, mas como me sentia bem e o Matos ia á frente, não se me afigurou de bom tom, arrastar uma pessoa que acabara de conhecer para uma taberna manhosa com o sugestivo, inovador e original nome de: Retiro dos Caçadores.
Penedo Gordo fica ali a onze ridículos quilómetros, vai daí, pusemos força nas canetas e num instante surge a terra do bom queijo baixo-alentejano.
Dali damos um pulo a Beja, onde em louvor do meu amigo Carneiro bebo uma água Frize, que como toda a gente sabe, uma massaginha e uma água Frize faz qualquer ciclista felize.
O regresso foi via IP2. Um regresso sem história, se retirarmos as duas molhas que apanhamos, mais as dores musculares que para o final se de mim apoderaram, nada de anormal.
Este será um dos últimos treinos longos que terei oportunidade de fazer e a partir de agora, estou entregue ao maldito calendário que a cada dia que passa me fará lembrar que amanhã já só faltam nove dias para a partida.
Quanto ao Matos, trocámos números de telefone e assim aos poucos já vou conseguindo uns contactos na zona para não ter de pedalar sozinho.
Curiosamente, nesta volta de perto de 90 Km que fizemos e mesmo com chuva e vento frontal, fizemos média de 25 quilómetros à hora, o que é um acontecimento cá para o rapaz.
Desculpem lá o post ser grandinho, mas é que eu escrevo como se vocês estivessem aqui na minha sala a conversar comigo e a beber um copo de bom tinto alentejano.
5 Comments:
Ganda Nap,
25 kapas(à Carneiro) contra o vento!!!Estamos lixados contigo,ou tu connosco.Ou seja,quem está lixado sou eu:este ano estou menos preparado e mais gordo.
O meu"orçamento" dá apenas para 23 Km/hora,de preferência sem vento.
Vamos a isso Napoleão"A Caminho de Santiago".
Haja saúde.
jm
Finalmente o tal amigo João chegou ao teu contacto. A sua companheira já me havia dito, que o joão também tinha a paixão da bicicleta e consultar o Pulanito. Certamente o teu companheiro já há muito que desejava esse encontro.
Um abraço e boa forma nas canetas.
1. "23 Km/hora,de preferência sem vento."
Pois eu estou orçamentado em 23, MAS COM VENTO PELAS COSTAS...
2."Então você deve ser o Pulanito!"
Foste reconhecido pelo pedalar de trivela....ehehehe...
3.Pelas provas acumuladas, têm sido estes encontros na estrada que têm resultado....
Buen viaje hasta Santiago de Compostela y también a correr así biene , o incluso mejor, que el de (Santiago de) Entradas hasta Santiago de Compostela.
Buen viaje y buena suerte compañero
sao os chamados encontros imediatos. o meu pai, joao matos, ja me havia falado do dito pulanito e do seu blog. tambem me tornei leitora, nao tao assidua quanto o meu pai, mas leitora de qualquer modo.
espero que o passeio tenha sido bom, e que mais se repitam!!!
Boas viagens :)
Maria Joao Matos
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