A Solidão é Uma Coisa Tramada.
Os blogues são um pouco como os velhos. Já ninguém lhes liga.
Lembro-me perfeitamente de quando este espaço de liberdade de escrita era jovem. Vinham visitas de todo o lado. Ele era gente do norte, do centro e do sul. Ele era gente do estrangeiro e de terras tão estranhas que até pensava não existirem. Choviam comentários e interagia-se com os leitores. Uns aclamavam, outros criticavam e, destas ondas de participação, redescobria-se e reinventava-se o escriba de serviço que tinha de responder à crítica mais frequente que passava por exigir material novo e com mais constância.
Vivia-se um tempo de descoberta!
Muitos leitores começaram a ter contacto com este extraordinário mundo novo da Internet, precisamente via blogues. De repente, havia um fórum onde a sua opinião era gravada a caracteres imperecíveis; onde se podiam exibir, quase sempre atrás da cortina do anonimato, e aí, era o local ideal para destilarem ódios e antipatias.
Durante anos, esgrimiram-se assuntos de toda a ordem e feitio. Desde o calor da famigerada política à proclamada paixão clubística mais das vezes dividida pelas três cores predominantes. Vermelho, azul e verde.
Depois esvaziou-se o assunto, esvaiu-se o entusiasmo e, vítimas de um modismo que demora em passar, a malta do diz que disse, passou-se em massa para o Face Book, e por lá conspurcam agora aquele espaço.
Aos poucos, a maralha blogueira foi deixando de postar e, um atrás do outro, foram fechando esses espaços outrora visitados por centenas de pessoas, hoje espaços confinados às traseiras das traseiras das nossas preferências. É a lei da vida!
Aqui o Pulanito, não se deixa iludir por modismos ocasionais. Não contabiliza visitas, views ou likes. Aqui, passados seis anos ainda se escreve o que a alma dita, apesar de saber que cada vez são menos a querer saber o que nela vai. Gosto do espírito do “últimos dos moicanos”, desta espécie de resistência passiva, desta coisa de escrever textos longos e de um só jorro. Dizem-me que já ninguém se interessa por isso. Pois é quando os faço ainda maiores!
Um destes dias a malta dos “likes” muda-se para outro “sítio” da moda, outras docas virtuais e, de pouso em pouso, lá vão deixando as ruas do bairro da Net pejadas de lixo (vómito electrónico a bem dizer), para se mudarem de armas, teclados, câmaras e bagagens para um qualquer outro paraíso onde possam continuar a derramar tretas e balelas, trocas e baldrocas, altas engenhocas que eles sabem inventar , como diria o Carlos Paião através da voz da suicidária Cândida Branca Flor.
Enquanto isso, aqui, numa rua das traseiras das traseiras, pelo sítio onde já quase ninguém passa, os dias agora demoram-se.
O escriba continua a cumprir o seu horário, mas grande parte do dia passa-o à porta do estabelecimento sentado numa cadeira voltada com as costas para a frente onde possa apoiar os braços, onde se notam os manguitos da alpaca roçados pelo tempo. E de lápis atrás da orelha, continua a procurar assuntos para postar nas folhas embaladas pelo vento que sopra lá da outra ponta da rua.
A solidão é uma coisa tramada!
2 Comments:
Estou plenamente de acordo contigo! Mas que com o facebook, twitter etc. a "blogosfera" levou grande "machadada", lá isso levou! Um abraço!
Sou un pouco pata en isto de los blogs, mas vou aprendendo e me gustan.
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