Diário de Viagem - Dia 3
Diário de Viagem – Dia 3
Dia em que dedico todos os meus pensamentos à minha filha Catarina que completa hoje (18 07 2010) dezanove anos.
Ainda meio azamboado acordo com o nascer do dia. Levanto-me e saúdo as minhas andorinhas que num estranho bailado me parecem dizer qualquer coisa. Talvez estejam apenas felizes pela sua terceira criação, talvez me queiram agradecer a casa de banho que lhes fiz propositadamente, para que a ninguém passe pela cabeça derrubar o ninho das benditas aves negras da minha crença.
Minhas jovens andorinhas de 3ª criação à espera do peq. almoço. Reparem no enquadramento da casa de banho para andorinhas por mim inventada.
Já rearumei tudo, agora só espero a chegada dos meus amigos que prometeram fazer comigo este caminho no dia de brasa que se avizinha.
O primeiro a chegar foi o João Matos, e á hora prometida, Carrajeta, Ricardo casaca e Vítor ali estavam para me amenizar a etapa de hoje que se afigura acima de tudo: escaldante.
Saímos de Entradas em direcção ao Carregueiro em velocidade foguete, quando voltámos em Aljustrel para Ervidel e depois Ferreira do Alentejo a pedalada dos dois arrastões dianteiros (João e Ricardo) fez com que chegássemos a Ferreira em pouco mais de hora e meia para cobrir os 44 km em que o João Matos se comprometera a ajudar-nos, regressando de seguida a Castro Verde antes que o Sol do alto da sua fogueira de raios fizesse das suas.
Continuámos a uma velocidade interessante em direcção a Odivelas e depois Alvito, onde fizemos a primeira paragem para reabastecimentos sólidos, coisa que o meu corpo me pedia insistentemente há algum tempo.
Combinámos parar em Viana do Alentejo - que daqui dista pouco mais de dez quilómetros - para aí comermos uma bifana e voltar a seguir viagem.
Bonita rua da singular vila de Alvito de que gosto bastante. Também foi a única altura que pude parar para fazer uma foto, tal era a sofreguidão de chegar.
De Viana a Alcáçovas são uma vintena de quilómetros, coisa que fizemos quase na totalidade na aspiração de um tractor, coisa que nos facilitou a vida, já que continuando a pedalar debaixo da torreira do sol que agora se fazia sentir sem apelo nem agravo, fazíamos metade da força e isso foi uma boa ajuda durante mais de dez quilómetros.
Em Alcáçovas, terra de chocalheiros e de gente boa, revisitei a taberna da senhora Guilhermina, que apesar de só me ter visto uma vez na vida e por escassos minutos se recordava de mim, como se aí houvera estado ontem mesmo.
Um dos clientes também se recordava de mim e eu dele, o que quebrou ali de imediato o gelo. Voltei a pedir à senhora que deixasse fotografar o seu bonito estabelecimento, coisa a que acedeu, ficando nas fotos que agora vos apresento.
Nas prateleiras, as inevitáveis faquinhas em rifa, botas domingueiras e de trabalho, outras de cano alto ou de meio cano, são também alguns dos produtos que se podem por aqui adquirir enquanto se deita abaixo um copo de tinto alentejano, ou então, a princesa das tabernas alentejanas, mais conhecida por: mine.
Senhora Guilhermina quer saber como tenho passado e interessa-se genuinamente pelas minhas viagens ciclo-pedalantes. Lá lhe contei sumariamente o que tenho feito depois da última vez em que aí passei em 2007, incluindo a história do meu abalroamento em tarde de Agosto do ano em que descobri o Café Maravilha (que é o mesmo que taberna da senhora Guilhermina).
Ao meter o nariz pela porta que dá acesso ao “backstage , reparo numa antiquíssima mercearia que fazia parte deste “império” comercial. Volto a pedir que mo deixe fotografar, coisa a que a simpática senhora anui com especial prazer.
Já dentro do estabelecimento, agora de portas fechadas ao público, reparo que deve ter tido fulcral importância na vida da comunidade Alcaçovense.
Senhora Guilhermina concorda comigo e diz-me ter o estabelecimento mais de 100 anos. Pela visita de médico que lhe fiz, deu para reparar que para além do estabelecimento de vinhos e petiscos, também esta casa já teve geminada um mercearia fina e do outro lado da loja, as prateleiras vazias daquela que poderá ter sido um concorrido retroseiro de Alcáçovas, mas isto sou eu a conjecturar, dona Guilhermina me há-de esclarecer em oportuna passagem por terras chocalheiras.
Despedidas feitas e ala que se faz tarde até ao nosso destino final que é Santiago do Escoural e que daqui dista mais outros vinte quilómetros.
O grande Ricardo Compõete Casaca, aqui mais na pela de Sadam Hussein. Acho que a sra lá atrás está a gozar com ele. Pudera ele disse que a sra teria 82 anos quando afinal era mais nova que ele (58)
Vitor - Grande amigo e companheiro de viagem
O insubstituível Carrajeta - e mais não digo!
Vitor - Grande amigo e companheiro de viagem
O insubstituível Carrajeta - e mais não digo!
Contas feitas, brasa de bezerrar, água sempre a aquecer e o grande desejo de aí chegar o mais rapidamente possível.
Joaquim Miguel sai-nos ao caminho e acompanha-nos de carro até Santiago do Escoural onde nos fotografámos para a posteridade e para dizer que daqui até Compostela o único Santiago que perdurará serei eu, que conto entregar o testemunho virtual da nossa viagem aqueles a quem mais queremos e para o dia presente, voarão todos os meus pensamentos direitinhos ao coração da minha filha caçula que faz hoje dezanove anos.
Escrevo na casa do Joaquim Miguel e da Maria Adelina, casal que conheci há três anos e de quem me tornei amigo e onde venho asilar em véspera de partida para Torres Novas, nossa etapa de amanhã,
Não tenho aqui deixado dados técnicos das etapas já percorridas, mas posso dizer que com os 130 quilómetros de hoje já cá cantam e contam uns bons 370 quilómetros percorridos.
Abraços e beijos e até amanhã desde Torres Novas
PS: perdoem qualquer coisinha. A crónica foi escrita assim de jorro, mas não me apetece corrigir absolutamente nada..
PS2: Quando chegámos a Santiago do Escoural a temperatura exterior era de 37º . agora imaginem o que é pedalar debaixo deste braseiro.
3 Comments:
5ª Fª, 22, a massagem é onde ?
Calculo o que devem ter penado até Santiago do Escoural.Cheguei a Castro era 12.30 e parecia um forno.Mas com calma lá cheguei.Mais uma vez um abraço para ti, extensivo a todos os outros e votos de continuação de boa viagem.
Um abraço companheiro
jmatos
Celso Filipe Pereira,
Quer dizer que este ano não vamos poder contar com a sua ilustre e amiga presença nas festas da sua aldeia ? - Vão ser de certeza umas festas mais pobres.
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