quinta-feira, dezembro 31, 2009

Que seja um Feliz 2010


Desejo a todos os leitores do Pulanito um ano de 2010 melhor que o seu antecessor. Que continuem a passar por cá, que nos façam chegar os vossos comentários e que continuem a ser tão ou mais interventivos do que até agora.
Este foi um ano algo aziago, segundo uma perspectiva algo cínica ou mesmo individualista, mas se respirarmos fundo e pensarmos noutros homens, noutras latitudes, deveremos dar-nos por muito satisfeitos por vivermos aqui neste “ jardim à beira-mar plantado”.
Bem, deixemo-nos de lengalengas que tenho de me pôr a milhas.

FELIZ 2010 para quem por aqui passar.!

Escrito por pulanito @ dezembro 31, 2009   6 comentários

sábado, dezembro 26, 2009

Bandolero!

E pronto, estamos nos resquícios do Natal! A mesa ainda está posta para toda a família que, ou já debandou, ou está à prestes a abalar.
Assim, em jeito de balanço, posso dizer que foi um Natal surpreendente.
Recebemos presentes úteis que retribuímos com coisas que fizeram sentido. E assim, numa demonstração de consumismo moderado, exagerando unicamente nos afectos, lá passámos mais um Natal das nossas vidas.
Meu velhote tem-me deixado em cuidados pela sua saúde, vai daí as preocupações terem sido acrescidas na quadra de que agora recolhemos os despojos, mas curiosamente; sem que nada o fizesse prever, Ti Alexandre (meu pai) arribou, e de dependente passou a quase autónomo outra vez, o que foi para todos nós uma alegria ou mesmo o melhor presente deste Natal.
Voltámos a reunir-nos à lareira, a contar coisas de antanho que fizeram as delícias de quem as desconhecia; coisas do nosso espólio familiar; comparações com tempos de chão de terra e telha vã; coisas de filhoses, pupias e fartos polvilhados com açúcares imaginários; tempos de candeia e escuridão com ventanias e histórias a condizer; episódios quase trágicos de “cavelhariça*” com almocreves e ribeiras intransponíveis em noite de consoada; guardas republicanos a cavalo de monte em monte, protegendo haveres do latifúndio, amedrontando ciganos e malteses que pernoitavam lá para as bandas de Vale João Nabão.
Mas se não eram os mesmos que hoje somos, seremos seguramente os sucessores consanguíneos dessa gente de carne e osso, que também viveu, amou, sonhou e sofreu antes de nós lhes ocuparmos o lugar e carregarmos o testemunho que nos legaram e que tudo faremos para que seja entregue à geração seguinte em sessão solene à volta do madeiro do menino.
Para mim, o Natal é lume e são histórias cujos detalhes crepitam no fogo da imaginação.





A precisão britânica na hora a que Zé Pequenino (perigoso bandoleiro de então!) saía ao caminho lá para as bandas do Monte Canal a quem com ele se cruzasse, era uma das suas marcas.
Vindo da Estação do Carregueiro, conta-se que o meliante saiu ao caminho ao carroceiro Camacho que todos os dias por ali passava (por volta das cinco da madrugada!) com o correio e encomendas chegadas no comboio da noite e que tinham como destino Entradas.
Conta-se que o fatidíco encontro se deu numa noite de frio gélido como a de ontem.

Na débil claridade do lusco-fusco Camacho vislumbrou o reflexo metálico do cano do revólver do pistoleiro, paralisando-lhe movimentos e o pouco pensamento que possuía. Mas afinal, o tal de Zé Pequenino ao invés de o assaltar, apenas lhe pediu que no dia seguinte lhe trouxesse comida e umas onças de tabaco que religiosamente pagou ao Camacho que passou a ser seu correio particular e também seu protegido da maltesaria que por ali abundava, granjeando de imediato os ouvintes desta história que se quer verdadeira, uma notória simpatia pelo marginal libertino, que afinal era apenas um dos nossos a quem a sorte não sorrira, obrigando-o a passar noites e noites em sobressalto e ao relento, não sendo fácil de imaginar quantos natais não terá passado junto à ribeira, nas gélidas noites que são quase todas as que celebram o nascimento do Salvador.
Eu pelo menos imagino um homem desmesuradamente pequeno, (a fazer juz ao seu nome!), de barba, cabelo e roupa negra (assim uma espécie de zorro, mas mais p'ró sacana, menos justiceiro!), olhar frio e penetrante, com uma agilidade fora do comum e uma crueldade que lhe permitia sobreviver no ambiente mais hostil, e não sei bem porquê, uma palhinha ao canto da boca!

Porventura seria mais assustado que assustador, mais cobarde que herói, mais pilha galinhas que grande meliante, mais carente que cruel, mais "cagaloso**" que valente. Mas na hora de escolher entre os guardas a cavalo que o procuravam ,que supostamente defendiam a lei e a ordem, que protegiam pessoas e bens, que também viviam ao relento e em condições inóspitas, que numa hipotética escolha representariam o bem e o salteador o mal, eu escolho o Zé Pequenino, isto porque, no meu peito transtagano bate um coração de malfeitor que não dispensa o ar condicionado nem vinho de marca, mas mesmo assim: Bandolero!


Fossem ciganos
A levantar poeira
A misturar nas patas
Terra de outras terras, ares de outras matas

E eu bandoleiro
No meu cavalo alado
Na mão direita o fado,
Jogando sementes no campo da mente


E se falasses magia sonho e fantasia
E se falasses encanto quebranto e condão
Feitiço transe viagem…alucinação
Miragem

Lucinha – Poeta Brasileira - 1978


Cavelhariça= Cavalariça
Cagaloso = Medroso

Escrito por pulanito @ dezembro 26, 2009   3 comentários

terça-feira, dezembro 22, 2009

Boas Festas


Afazeres prioritários não me têm deixado tempo para aqui vir actualizar o estaminé do Pulanito. Assim sendo, este ano não vou aqui trazer o conto de natal a que já habituei os meus leitores, pedindo-lhes que vão aos outros Dezembros e daí escolham a literatura natalícia que mais vos aprouver.
No momento em que escrevo começo a sentir aquelas dorezinhas musculares, que ou muito me engano, ou querem dizer gripe, o que convenhamos não é nada agradável na quadra que já começámos a celebrar.
Este ano seremos menos à mesa. O Samuel vai cantar a Angola e para desgosto meu e seu, não vai pela primeira vez depois de muitos anos passar o Natal connosco a Entradas.
Os meus filhos sabem o quanto aprecio o estarmos juntos nesta quadra, de resto não lhes faço mais nenhuma exigência, tendo eles até agora sempre cumprido, salvo em situações em que é de todo impossível, o que tem sido a honrosa excepção que confirma a regra.
Serve todo este parlapié para desejar aos leitores do Pulanito um excelente Natal na companhia dos que mais desejarem e se por acaso só aparecerem por cá lá para 2010 que o ano que se avizinha seja tão redondo e farto como o desenho numérico que apresenta.

Caso estejas a ler este post e não saibas onde passar o fim de ano, a minha empresa – Multihotel – ainda tem disponíveis mais de 100 programas de norte a sul do país.
Segue o link e consulta a festa à tua medida: www.mymultihotel.com/reveillon

Escrito por pulanito @ dezembro 22, 2009   3 comentários

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Temor da Terra


Eram uma hora e trinta e oito minutos da madrugada de hoje (17.12.09) quando a Terra revolvendo as suas vísceras num ronco cavado vindo das suas próprias entranhas, em breves segundos nos fez sentir quão minúscula é a nossa existência.
Acordar com o surdo estrondo em forma de tremor é uma experiência assustadora que nos transmite o real valor da nossa dimensão. De repente despertamos para a nossa insignificância e isso faz com que o susto com que por segundos fez a nossa vida perigar, nos faça posteriormente pensar que o que é importante é viver, ou mesmo “navegar” como dizia o poeta.

Este abanão fez com que me recordasse da noite de 28 de Fevereiro de 1969, noite essa em que esta alma contava uns imberbes catorze anos, logo com um desconhecimento total do avizinhar de qualquer catástrofe.
Recordo-me dessa noite como se fosse hoje. Eu e o meu irmão, compartilhávamos o mesmo quarto. Não sei precisar a hora a que tal aconteceu, mas se já dormíamos há algumas horas é porque deve ter sido de madrugada. Nisto ouço o mesmo ronco com que hoje fui sobressaltado, e sem saber porquê, sou assolado pelo quadro que agora vos tento descrever.
Tentei acender a luz, mas esta tinha falhado, logo o pânico ganha proporções imensuráveis (se é que o pânico se pode medir!) e recordo-me do meu pai ainda com as paredes a oscilarem, nos chamar a chorar e dizer esta frase que me marcou para sempre:
- Filhos, venham para a nossa cama para morrermos juntos!

Esta frase tem-me acompanhado ao longo da vida e ás vezes tento desmontá-la, desconstrui-la, interpretá-la, mas só chego à conclusão de que esta foi uma inequívoca prova de amor, a nossa arma contra a força bruta da natureza seria morrermos abraçados, e isso, nem a natureza teria força e engenho para nos impedir.
Ainda há pouco tempo quando estive em Pompeia e vi as figuras petrificadas que assim ficaram debaixo das cinzas do Vesúvio, havia nelas um não sei quê daquela noite em que podíamos nós também ser encontrados debaixo dos escombros unidos num único e derradeiro abraço.
Como os deuses fizeram as pazes, a Terra deixou de tremer, mas as pessoas continuaram apavoradas. Como não morremos, lá fomos também para a rua onde o espectáculo era agora bem mais agradável, mais parecendo uma mega festa do pijama, mas um bocado mais assustadora.
Recordo-me de me rejubilar por ver os meus vizinhos em trajes que jamais lhe voltei a ver vestidos. Os pijamas de flanela e os robes de lã estavam definitivamente na moda, já que apesar da gravidade da situação algumas das minhas vizinhas não se coibiam de elogiar uns e achincalhar outros que não estavam vestidos à moda de vestir para dormir do bairro onde eu vivia.
Guardo dessa noite uma imagem que ainda hoje visualizo no meu imaginário com alguma frequência como foi o caso da vizinha Julieta (olha, lembrei-me do nome!) do prédio ao lado que saiu de casa de robe cor de rosa vestido, com um caniche ao colo, o outro pela trela e o guarda jóias debaixo do braço.
Quando lhe perguntaram pelo marido, respondeu: - Ai a minha cabeça, não querem ver que me esqueci do raio do homem!

Escrito por pulanito @ dezembro 17, 2009   5 comentários

sábado, dezembro 12, 2009

Zé Lima- Volta à Europa (8000 Km) em Handbike

Mapa do percurso que o Zé Lima se propõe percorrer

Para quem como eu tem acompanhado a epopeia destes gloriosos malucos das máquinas pedalantes que são as handbikes, só posso tirar o meu chapéu a quem com as dificuldades inerentes à sua condição física se propõe a efectuar uma viagem desta natureza.
Conheço a têmpera do Zé Lima, um indomável lutador que não se deixa abater pelas contingências e limitações de quem está confinado a uma cadeira de rodas.
O Zé é mais do género: mais vale quebrar que torcer, e por motivo dessa sua particular obstinação estou certo de que, com muito sacrifício, muita solidão, muita montanha para galgar, vai acabar por levar a água ao seu moinho “mandalando” os 8000 Km que esta proeza velocípédica requer nos 120 dias que a expedição irá ter.
O Zé, à imagem de Dona Otilia Pereira (do post abaixo) é natural de Viana do Castelo, terra de gente exemplar que leva até às últimas consequências os sonhos que perseguem.
Deixo-vos um texto sacado do xiclista.blogspot.com, do nosso amigo Carneiro, outro indefectível apoiante das proezas do Zé, da Rosa e de tantos outros que apesar da sua condição de diferentes, lutam obstinadamente por serem primus inter pares.


Zé Lima e Rosa Carvalho aquando da sua passagem por terras do Pulanito em Agosto de 2009

EXCERTO DE UM E-MAIL ENVIADO PELO JOSÉ LIMA A UM MEMBRO DA MINHA MATILHA.


(...) Lamento mas para 2010 não poderei ir com o vosso grupo até Santiago, como estava combinado, pois por lá passarei no meu regresso de uma viagem de aproximadamente 8.000 km por 9 ou 10 países europeus, com inicio no dia 01 de Maio de 2010 (junto um programa provisório em anexo).
Portugal, Espanha, França, Suíça, Áustria, Alemanha, Holanda, Bélgica e Luxemburgo, mas se quando chegar à Áustria estiver em forma é possível que avance um pouco mais até Praga na Republica Checa.
Iniciando em Viana do Castelo, seguindo a costa até Vila Real de S. António, Barcelona, Dijon, Zurique, Salzburgo, Munique, Frankfurt, Maastricht, Paris, Bayonne, S. Sebastião, Santiago de Compostela, Valença, Viana do Castelo. Junto em anexo um programa desta viagem, de 120 dias mínimo, que iniciarei pelo litoral, de Norte para Sul, e regressarei a Portugal pelo litoral norte, Espanha/Portugal.


Objectivos da viagem:


1 - Criar um organismo tipo federação, que inclua os diversos clubes de ciclismo adaptado (visitarei alguns) espalhados pela Europa.
2 - Promover e criar uma cooperativa para a fabricação de handbikes e afins, que facilitem o ciclismo adaptado (handcycling), a preços justos e acessíveis aos sócios.
3 - Reunir material para a edição de um livro que divulgue as diversas realidades e compare as qualidades de vida dos deficientes de cada um dos países visitados.
Junto em anexo um mapa da viagem.
Divulga a minha necessidade de patrocinadores por favor!

Contactos:
José Leones Lima
Telefone: 258 838 078 ou 969 268 970

Lê mais sobre a viagem no site: http://vpcr.planetaclix.pt/

Escrito por pulanito @ dezembro 12, 2009   1 comentários

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Taberna A Espanhola em Viana do Castelo, Encerra Por Morte da Sua Proprietária.

Morreu anteontem à noite Otilia Pereira, a mais antiga taberneira de Viana do Castelo. Dos 84 anos que repartiu entre nós, consumiu 63 deles a abrir diariamente a taberna A Espanhola, local de peregrinação, dos muitos que fazem destes locais símbolos duma cultura ancestral e onde humildemente me incluo.
Não conheci este templo, mas pelo que me foi dado a conhecer, era uma casa multi-geracional que servia de poiso a uma certa fauna vianense, sendo a população estudantil da cidade do Lima a sua principal fonte de receita.
Não posso aqui opinar da qualidade da pinga ou dos petiscos que Dona Otilia alquimializava (palavra que inventei agora, mas que me parece adequada a quem durante 63 anos deu o melhor de si, saciando a sede e a fome a múltiplas gerações de clientes), até porque não cheguei a conhecer o dito templo digno dos melhores seguidores de Baco.
Dona Otilia morreu e com ela morreu um dos ex-libris desta cidade, encerrando-se assim um ciclo que para quem o viveu, certamente lhe deixou vivas memórias dum local onde a vida sempre se celebrou, e agora, na hora da sua morte, a proprietária fez também questão de celebrar a sua extinção terrena exigindo ás duas filhas ser velada no afamado estabelecimento; sendo este pequeno / grande detalhe que me fez escrevinhar este post.

Fiquei na verdade impressionado com a solenidade do pedido (exigência!), sentindo que afinal lá para as bandas minhotas as mulheres taberneiras são afinal gente de uma estirpe militante, que mesmo na hora da abalada fez questão de continuar a trabalhar, apostando eu, que à volta do esquife de Dona Otilia, muita rapaziada de capa e batina se tenha dela despedido com uns eferreás no amargo da voz e um último copo elevado ás alturas como forma de agradecimento e quem sabe de recomendação às instâncias altíssimas para que a deixem continuar a tabernar lá para onde agora viajou.



Otilia Pereira, mais conhecida pela "avó" - Aqui fica a homenagem do Pulanito

Noticia do falecimento de Otilia Pereira no Correio da Manhã


Otília Pereira, de 84 anos, ficou conhecida por manter aberto um espaço que a Câmara de Viana do Castelo queria encerrar por falta de condições.
Para trás deixa uma vida inteira dedicada à Espanhola, a mais antiga taberna da cidade de Viana do Castelo, localizada na rua do Vilarinho, que encerra assim as portas, depois de mais de 150 anos de funcionamento.
Em 2005, Otília Pereira conseguiu evitar o encerramento da taberna com o apoio de clientes e estudantes da zona, que fizeram um abaixo-assinado à Câmara de Viana. Na altura, os serviços da autarquia atestaram que o espaço não cumpria normas de higiene e segurança, nomeadamente a falta de instalações sanitárias. Ganhou aquela batalha, sem nunca fazer obras, mas perdeu a luta contra o cancro. Trabalhou até às últimas forças.
"Foi operada a 21 de Setembro e esse foi o último dia em que a Espanhola esteve aberta", contou o neto, António Borges. Para homenagear Otília, a família fez o velório no taberna, local onde trabalhou mais de 63 anos. "Foi um dos últimos desejos dela. Logo, obedecemos", confidenciou a filha.

Escrito por pulanito @ dezembro 10, 2009   3 comentários

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Tu e Mais Esses Teus Olhos Castanhos!


Aos fins-de-semana quando me é impossível ir para o Alentejo fico em casa aqui pelas terras mais a sul. Quer dizer, fico por aqui a matar o tempo, ou à espera que o tempo a mim me mate. Fico por aqui devorando canais de televisão como quem come pevides e nem sequer chove lá fora, nem frio faz, para que possa ocupar o tempo e a mente com o abastecimento da lenha, mais o sincopado bailado das labaredas que numa dança de fogo quase hipnótica, me leve ocasionalmente para lá de mim.


E tu, mais esses teus olhos castanhos, tentando domesticar este monstro que um dia já foi gente!


Agora que voltámos a estar sós, podíamos até namorar, ir ver o mar (que está aqui tão perto), tomar o pequeno almoço ao sábado naquela pastelaria que tanto gostas com vista para as pessoas e para as pedras do chão e para o rugido invernal do marulhar das ondas. Mas não! Prefiro acordar ainda de madrugada, correr a comprar o Expresso, ler de imediato a crónica do Miguel Sousa Tavares sentado na sanita e depois passar os olhos pelas restantes noticias para em seguida entrar em maratona televisiva de fim-de-semana.


E tu, mais esses teus olhos castanhos, tentando domesticar este monstro que um dia já foi gente!


Olho-me ao espelho e noto o arredondar da minha figura. O cinto das calças a implorar mais um furo depois dos outros dois que lhe fiz nos últimos tempos. E tu a dar-me conselhos úteis sobre alimentação e prática desportiva para uma mente sã em corpo são. E eu a refilar contigo sem razão, a comer bodegas às escondidas e a dizer-te que não tens nada com isso, que o corpo é meu e que estou farto dos teus conselhos. E por dentro choro, sem saber como reagir a este demónio que me possui e atormenta.


E tu, mais esses teus olhos castanhos, tentando domesticar este monstro que um dia já foi gente!


Dizes-me que preciso de calças novas, queres-me abonecado para parecer bem ao pé de ti e por isso não te censuro, mas tenho pouca vontade de me pôr em cuecas em pleno centro comercial com uma simples cortina entre a minha nudez e a maralha que sinto passar aos magotes com vontade de espreitar a triste figura que o espelho me devolve. Ainda se as cuecas que trago fossem giras!
Chamo-te lá de dentro em aflição para que opines sobre as malditas calças. Dizes-me que não, que devo experimentar as outras, e eu, suando em bica com os nervos em franja querendo dali fugir.


E tu, mais esses teus olhos castanhos, tentando domesticar este monstro que um dia já foi gente!


Na verdade podíamos ir passar aquele fim-de-semana que te ofereceram naquela magnifica pousada. Dávamos um novo fôlego à nossa relação e entre doses de amêijoas à Bulhão Pato e pratinhos de perceves a cheirar a mar, faríamos o amor que temos por acabar e reduziríamos a sorrisos e olhares cúmplices a monotonia rotineira que aos poucos nos vai matando.
Na verdade podia fazer tantas coisas. Podia escrever alguma coisa de jeito, pedir-te desculpa, dedicar-te alguma da minha prosa, dizer que te amo, quiçá pudesses até ser musa inspiradora tanto da escrita como de uma nova atitude de vida.
Mas não! Fico ali hipnotizado com os olhos cravados no ecrã à espera que o Di Maria rodopiando à meia-volta, faça aquele golo monumental por que tanto espero desde o princípio da época.


E tu, mais esses teus olhos castanhos, tentando domesticar este monstro que um dia já foi gente!
Publicado na Revista 30 Dias - Edição de Dezembro 09

Escrito por pulanito @ dezembro 07, 2009   11 comentários

sábado, dezembro 05, 2009

Melhor foto do National Geographic


Esta foto fala por si, dispensa qualquer comentário da minha parte, mas está completamente aberta aos vossos.

Escrito por pulanito @ dezembro 05, 2009   7 comentários

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Na Apanha da Azeitona

Mana Catarina e Cunhado Zé apanhando azeitonas.

Ir á azeitona é uma prática que faz parte do calendário de alguns da minha família.
De facto a perspectiva de levantar cedo, andar pendurando nas oliveiras ou então de rabo para o ar em posições a que o corpo não está habituado, não é o melhor dos programas seja para que fim-de-semana for; agora se o frio fizer “entenguer“ os dedinhos e enregelar a alma, então é que entre ficar na cama e apanhar uma estopada destas, é sempre preferível o calor do edredão à perspectiva duma trabalheira desta natureza.

Bem, isto é vendo a coisa pelo lado do “confortozinho" urbano a que com os anos nos fomos habituado; mas se por outro lado, pensarmos que um dia no campo, no silêncio da planura respirando o mais puro dos ares e recolhendo um fruto, que mais tarde será escolhido, seleccionado, cortado, curtido e depois temperado, que sabemos haver sido apanhado por nossas mãos, o sabor é elevado à categoria de experiência gastronómico-sensorial.

Noutros anos, costumávamos ser mais, mas a idade vem pesando naqueles que no calendário do frio de Novembro, marcam um ou mais dias para que o reencontro com a natureza seja celebrado em forma de moda alentejana que um de nós começa e os restantes acompanham.

Minha avó Chica e a minha tia Francisca, sempre diziam: - moças cantem modas alegres que a apanha faz-se mais depressa e a coisa corre melhor. Hoje rimos ao recordarmos aqueles que não estando por cá fisicamente, só morrem quando a nossa memória se esvaecer.

Mais do que apanhar azeitona, este é um dia em que por entre ditos, estórias e cantigas reforçamos a fraternidade que nos une através da apanha das pequenas bagas, cujas folhas da sua árvore em forma de ramo são o símbolo universal da paz.

Escrito por pulanito @ dezembro 04, 2009   5 comentários

terça-feira, dezembro 01, 2009

Ilha do Pessegueiro


Passei neste fim-de-semana prolongado pela famosa Ilha do Pessegueiro em Porto Covo, nesse paraíso que é o Alentejo Litoral.
Este minúsculo pedaço de terra rodeado de água por todos os lados, musicado e imortalizado pelo grande Rui Veloso sobre um poema do Carlos Tê, que ao que consta nunca esteve naquelas paragens antes do escrever; o que prova que os poetas vivem numa dimensão acima do comum dos mortais.
Mas voltando aqui à ilha e à sua toponímia, dou comigo a pensar que nela nunca poderá ter existido qualquer pessegueiro, visto que as condições climatéricas e a exiguidade do ilhéu jamais permitirem que uma árvore de fruto ali vingasse, inclinando-me mais que o nome derivasse de “ ilha do pesqueiro” ou qualquer coisa parecida que com o passar doa anos adquirisse o seu actual nome.
Só mesmo o Carlos Tê poderia ter tido a liberdade poética de inventar que um tal de Vizir de Odemira o havia ali plantado pouco antes de por amor haver posto termos à vida.
Curiosamente, este Vizir de Odemira, sempre me soou a “vizinho de Odemira”, só mesmo há pouco tempo me deparei com a famosa letra e haver então reparado que o vizinho de Odemira, afinal não era um Zé-ninguém; era apenas e tão só, o Vizir da bela vila que tem no seu nome, o nome do rio que a bordeja.

Escrito por pulanito @ dezembro 01, 2009   3 comentários

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