Taberna A Espanhola em Viana do Castelo, Encerra Por Morte da Sua Proprietária.
Morreu anteontem à noite Otilia Pereira, a mais antiga taberneira de Viana do Castelo. Dos 84 anos que repartiu entre nós, consumiu 63 deles a abrir diariamente a taberna A Espanhola, local de peregrinação, dos muitos que fazem destes locais símbolos duma cultura ancestral e onde humildemente me incluo.
Não conheci este templo, mas pelo que me foi dado a conhecer, era uma casa multi-geracional que servia de poiso a uma certa fauna vianense, sendo a população estudantil da cidade do Lima a sua principal fonte de receita.
Não posso aqui opinar da qualidade da pinga ou dos petiscos que Dona Otilia alquimializava (palavra que inventei agora, mas que me parece adequada a quem durante 63 anos deu o melhor de si, saciando a sede e a fome a múltiplas gerações de clientes), até porque não cheguei a conhecer o dito templo digno dos melhores seguidores de Baco.
Dona Otilia morreu e com ela morreu um dos ex-libris desta cidade, encerrando-se assim um ciclo que para quem o viveu, certamente lhe deixou vivas memórias dum local onde a vida sempre se celebrou, e agora, na hora da sua morte, a proprietária fez também questão de celebrar a sua extinção terrena exigindo ás duas filhas ser velada no afamado estabelecimento; sendo este pequeno / grande detalhe que me fez escrevinhar este post.
Fiquei na verdade impressionado com a solenidade do pedido (exigência!), sentindo que afinal lá para as bandas minhotas as mulheres taberneiras são afinal gente de uma estirpe militante, que mesmo na hora da abalada fez questão de continuar a trabalhar, apostando eu, que à volta do esquife de Dona Otilia, muita rapaziada de capa e batina se tenha dela despedido com uns eferreás no amargo da voz e um último copo elevado ás alturas como forma de agradecimento e quem sabe de recomendação às instâncias altíssimas para que a deixem continuar a tabernar lá para onde agora viajou.
Não conheci este templo, mas pelo que me foi dado a conhecer, era uma casa multi-geracional que servia de poiso a uma certa fauna vianense, sendo a população estudantil da cidade do Lima a sua principal fonte de receita.
Não posso aqui opinar da qualidade da pinga ou dos petiscos que Dona Otilia alquimializava (palavra que inventei agora, mas que me parece adequada a quem durante 63 anos deu o melhor de si, saciando a sede e a fome a múltiplas gerações de clientes), até porque não cheguei a conhecer o dito templo digno dos melhores seguidores de Baco.
Dona Otilia morreu e com ela morreu um dos ex-libris desta cidade, encerrando-se assim um ciclo que para quem o viveu, certamente lhe deixou vivas memórias dum local onde a vida sempre se celebrou, e agora, na hora da sua morte, a proprietária fez também questão de celebrar a sua extinção terrena exigindo ás duas filhas ser velada no afamado estabelecimento; sendo este pequeno / grande detalhe que me fez escrevinhar este post.
Fiquei na verdade impressionado com a solenidade do pedido (exigência!), sentindo que afinal lá para as bandas minhotas as mulheres taberneiras são afinal gente de uma estirpe militante, que mesmo na hora da abalada fez questão de continuar a trabalhar, apostando eu, que à volta do esquife de Dona Otilia, muita rapaziada de capa e batina se tenha dela despedido com uns eferreás no amargo da voz e um último copo elevado ás alturas como forma de agradecimento e quem sabe de recomendação às instâncias altíssimas para que a deixem continuar a tabernar lá para onde agora viajou.
Otilia Pereira, mais conhecida pela "avó" - Aqui fica a homenagem do Pulanito
Noticia do falecimento de Otilia Pereira no Correio da Manhã
Noticia do falecimento de Otilia Pereira no Correio da Manhã
Otília Pereira, de 84 anos, ficou conhecida por manter aberto um espaço que a Câmara de Viana do Castelo queria encerrar por falta de condições.
Para trás deixa uma vida inteira dedicada à Espanhola, a mais antiga taberna da cidade de Viana do Castelo, localizada na rua do Vilarinho, que encerra assim as portas, depois de mais de 150 anos de funcionamento.
Em 2005, Otília Pereira conseguiu evitar o encerramento da taberna com o apoio de clientes e estudantes da zona, que fizeram um abaixo-assinado à Câmara de Viana. Na altura, os serviços da autarquia atestaram que o espaço não cumpria normas de higiene e segurança, nomeadamente a falta de instalações sanitárias. Ganhou aquela batalha, sem nunca fazer obras, mas perdeu a luta contra o cancro. Trabalhou até às últimas forças.
"Foi operada a 21 de Setembro e esse foi o último dia em que a Espanhola esteve aberta", contou o neto, António Borges. Para homenagear Otília, a família fez o velório no taberna, local onde trabalhou mais de 63 anos. "Foi um dos últimos desejos dela. Logo, obedecemos", confidenciou a filha.
3 Comments:
Bonita homenagem! Era bom que houvesse alguém que continuasse a "obra" da D. Emília Pereira, alguém que mantivesse a taberna em funcionamento!
Caro José Mestre, o nome da senhora era D.Otília e não Emília, era óptimo sim se alguém se preocupar com a continuidade deste local.
Passei lá muitas noites e mesmo tardes (pois a porta estava sempre, mas sempre aberta para qualquer um) com amigos a conversar enquanto bebiamos uma malguinha de champarrião, uns dias em silêncio, outros a rir e outros em que ouviamos a Dona Otília a contar as suas histórias e os seus sonhos, dizia que se não tivesse a tasquinha que gostava de ter um talho, dizia que havia servido muitos pratos a quem não tinha possibilidades para os pagar, muitas batatas havia oferecido no Natal, custava-lhe ver o sofrimento dos outros.
E não era apenas pelo dinheiro que ela mantinha a Espanhola de portinhas abertas, aquilo era a companhia dela, era a sua vida.
Sabia tão bem ouvir sempre um "Obrigadinhos meninos, obrigadinhos..." todas as noites antes da porta fechar.
A Dona Otília sempre foi como uma avó para mim e para quase todos os que aquela casa frequentavam.
Peço desculpa por me ter alongado tanto no texto, mas foi a maneira como me consegui exprimir e muito mal, pois ha sempre muito mais para dizer desta grande mulher que é a Dona Otília.
O sonho comanda a vida e o futuro ninguém o sabe!...
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