Temor da Terra
Eram uma hora e trinta e oito minutos da madrugada de hoje (17.12.09) quando a Terra revolvendo as suas vísceras num ronco cavado vindo das suas próprias entranhas, em breves segundos nos fez sentir quão minúscula é a nossa existência.
Acordar com o surdo estrondo em forma de tremor é uma experiência assustadora que nos transmite o real valor da nossa dimensão. De repente despertamos para a nossa insignificância e isso faz com que o susto com que por segundos fez a nossa vida perigar, nos faça posteriormente pensar que o que é importante é viver, ou mesmo “navegar” como dizia o poeta.
Este abanão fez com que me recordasse da noite de 28 de Fevereiro de 1969, noite essa em que esta alma contava uns imberbes catorze anos, logo com um desconhecimento total do avizinhar de qualquer catástrofe.
Recordo-me dessa noite como se fosse hoje. Eu e o meu irmão, compartilhávamos o mesmo quarto. Não sei precisar a hora a que tal aconteceu, mas se já dormíamos há algumas horas é porque deve ter sido de madrugada. Nisto ouço o mesmo ronco com que hoje fui sobressaltado, e sem saber porquê, sou assolado pelo quadro que agora vos tento descrever.
Tentei acender a luz, mas esta tinha falhado, logo o pânico ganha proporções imensuráveis (se é que o pânico se pode medir!) e recordo-me do meu pai ainda com as paredes a oscilarem, nos chamar a chorar e dizer esta frase que me marcou para sempre:
- Filhos, venham para a nossa cama para morrermos juntos!
Esta frase tem-me acompanhado ao longo da vida e ás vezes tento desmontá-la, desconstrui-la, interpretá-la, mas só chego à conclusão de que esta foi uma inequívoca prova de amor, a nossa arma contra a força bruta da natureza seria morrermos abraçados, e isso, nem a natureza teria força e engenho para nos impedir.
Ainda há pouco tempo quando estive em Pompeia e vi as figuras petrificadas que assim ficaram debaixo das cinzas do Vesúvio, havia nelas um não sei quê daquela noite em que podíamos nós também ser encontrados debaixo dos escombros unidos num único e derradeiro abraço.
Como os deuses fizeram as pazes, a Terra deixou de tremer, mas as pessoas continuaram apavoradas. Como não morremos, lá fomos também para a rua onde o espectáculo era agora bem mais agradável, mais parecendo uma mega festa do pijama, mas um bocado mais assustadora.
Recordo-me de me rejubilar por ver os meus vizinhos em trajes que jamais lhe voltei a ver vestidos. Os pijamas de flanela e os robes de lã estavam definitivamente na moda, já que apesar da gravidade da situação algumas das minhas vizinhas não se coibiam de elogiar uns e achincalhar outros que não estavam vestidos à moda de vestir para dormir do bairro onde eu vivia.
Guardo dessa noite uma imagem que ainda hoje visualizo no meu imaginário com alguma frequência como foi o caso da vizinha Julieta (olha, lembrei-me do nome!) do prédio ao lado que saiu de casa de robe cor de rosa vestido, com um caniche ao colo, o outro pela trela e o guarda jóias debaixo do braço.
Quando lhe perguntaram pelo marido, respondeu: - Ai a minha cabeça, não querem ver que me esqueci do raio do homem!
Acordar com o surdo estrondo em forma de tremor é uma experiência assustadora que nos transmite o real valor da nossa dimensão. De repente despertamos para a nossa insignificância e isso faz com que o susto com que por segundos fez a nossa vida perigar, nos faça posteriormente pensar que o que é importante é viver, ou mesmo “navegar” como dizia o poeta.
Este abanão fez com que me recordasse da noite de 28 de Fevereiro de 1969, noite essa em que esta alma contava uns imberbes catorze anos, logo com um desconhecimento total do avizinhar de qualquer catástrofe.
Recordo-me dessa noite como se fosse hoje. Eu e o meu irmão, compartilhávamos o mesmo quarto. Não sei precisar a hora a que tal aconteceu, mas se já dormíamos há algumas horas é porque deve ter sido de madrugada. Nisto ouço o mesmo ronco com que hoje fui sobressaltado, e sem saber porquê, sou assolado pelo quadro que agora vos tento descrever.
Tentei acender a luz, mas esta tinha falhado, logo o pânico ganha proporções imensuráveis (se é que o pânico se pode medir!) e recordo-me do meu pai ainda com as paredes a oscilarem, nos chamar a chorar e dizer esta frase que me marcou para sempre:
- Filhos, venham para a nossa cama para morrermos juntos!
Esta frase tem-me acompanhado ao longo da vida e ás vezes tento desmontá-la, desconstrui-la, interpretá-la, mas só chego à conclusão de que esta foi uma inequívoca prova de amor, a nossa arma contra a força bruta da natureza seria morrermos abraçados, e isso, nem a natureza teria força e engenho para nos impedir.
Ainda há pouco tempo quando estive em Pompeia e vi as figuras petrificadas que assim ficaram debaixo das cinzas do Vesúvio, havia nelas um não sei quê daquela noite em que podíamos nós também ser encontrados debaixo dos escombros unidos num único e derradeiro abraço.
Como os deuses fizeram as pazes, a Terra deixou de tremer, mas as pessoas continuaram apavoradas. Como não morremos, lá fomos também para a rua onde o espectáculo era agora bem mais agradável, mais parecendo uma mega festa do pijama, mas um bocado mais assustadora.
Recordo-me de me rejubilar por ver os meus vizinhos em trajes que jamais lhe voltei a ver vestidos. Os pijamas de flanela e os robes de lã estavam definitivamente na moda, já que apesar da gravidade da situação algumas das minhas vizinhas não se coibiam de elogiar uns e achincalhar outros que não estavam vestidos à moda de vestir para dormir do bairro onde eu vivia.
Guardo dessa noite uma imagem que ainda hoje visualizo no meu imaginário com alguma frequência como foi o caso da vizinha Julieta (olha, lembrei-me do nome!) do prédio ao lado que saiu de casa de robe cor de rosa vestido, com um caniche ao colo, o outro pela trela e o guarda jóias debaixo do braço.
Quando lhe perguntaram pelo marido, respondeu: - Ai a minha cabeça, não querem ver que me esqueci do raio do homem!
5 Comments:
Nap,
isso da ira das forças da natureza é mesmo assustador...Nada a fazer!
Mas os gajos que mandam no mundo continuam a não se entender lá para Copenhaga.
Os nossos netos merecem muito mais respeito,mas...
...Estou a ver a fita na casa ao lado.o "Romeu" da tua vizinha Julieta a poder gozar da cama toda,só para ele, pouco se importando com o terramoto que se ia afastando da sua cama...Ressonando à vontade,já que nesse tempo não havia apneia do sono.
Haja saúde!
jm
Os tremores de terra ou sismos ou ainda abalos telúricos os sismos ou também terramotos são fenómenos naturais que por vezes podem resultar em grandes tragédias mas por vezes também há situações cómicas. O caso que vou contar passou-se na simpática vila de Messejana quando do terramoto de 1968.Tendoem conta opânicoque se gera em ocasiões tais saem de suas casas quase em trajes menores e em simultâneo um homem e uma mulher primos entre si. Na aflição diz a mulher para o homem referindo-se ao terramoto:" Ai primo Fulano que coisa tão grande" ao que o homem retorquiu : "Ó mulher! cale-se , que eu vou já vestir as calças".
Para ti e para todos os teus sinceros votos de um Feliz Natal e um óptimo Ano Novo
Um forte abraço do amigo
José Mestre
Olá!
Bem,o seu relato impressionou-me bastante.Ai é que se vê a força da Natureza e os sustos/traumas que causa no ser humano. Aqui,em Viseu,felizmente,não senti nada.
Aproveito e deixo um convite: participe na Blogagem de Janeiro do blogue www.aldeiadaminhavida.blogspot.com. O tema é: “Vamos ca/ontar as Janeiras e comer o Bolo-Rei!”. Basta enviar um texto máximo 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt (+ título e link do respectivo blog) até dia 8 de Janeiro. Participe. Haverá boa convivência e prémios (veja mais no dia 29/12 no blog da Aldeia)!
Jocas natalícias
Lena
O meu comentário (que deve ser eliminado>)ficou tão mal escrito que resolvi escrever outro.
Os tremores de terra ou sismos ou ainda abalos telúrico ou sísmicos ou também terramotos são fenómenos naturais que por vezes podem resultar em grandes tragédias. Mas por vezes também há situações cómicas. O caso que vou contar passou-se na simpática vila de Messejana quando do terramoto de 1969. Tendo em conta oo pânico que se gera em tais ocasiões saem de suas casas em trajes menores e quase em simultâneo um homem e uma mulher, primos entre si. Na aflição diz a mulher para o homem, referindo-se ao terramto : " Ai primo Fulano! Que coisa tão grande !"ao que o homem retorquiu : Ó mulher,Pst cale-se que eu vou já vestir as calças. Para ti e para todos os teus vão os meus sinceros votos de um Feliz Natal e um óptimo Ano Novo com muitas "propriedades"
Um forte abraço do amigo
José Mestre
eu sou muito bom ver o seu blog e acho que é muito útil e muito informativo, eu estou indo para compartilhar isso no meu fb com meus amigos, esperança que você vai mantê-lo,
http://www.mobile-phone.pk/
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