Ceifeiras de Entradas Cantam as Janeiras
As Ceifeiras de Entradas, novíssimo grupo coral feminino, que tanto eu como a Maria Lucília fomos convidados a apadrinhar, convite a que acedemos com entusiasmo e com a convicção de que daremos o nosso melhor de forma a promover estas afinadíssimas vozes, que procuram fomentar a cultura Alentejana em geral e a Entradense em particular.
Bem, a noite era de reabilitação de uma tradição que há muito se havia perdido no tempo; o cante das Janeiras.
As Janeiras ou cantar as Janeiras é uma tradição em Portugal que consiste na reunião de grupos que se passeiam pelas ruas no início do ano, cantando de porta em porta e desejando às pessoas um feliz ano novo.Ocorrem em Janeiro, o primeiro mês do ano. Este era o mês do deus Jano, o deus das portas e da entrada. Era o porteiro dos Céus e por isso muito importante para os romanos que esperavam a sua protecção. Era-lhe pedido que afastasse das casas os espíritos maus, sendo especialmente invocado no mês de Janeiro.Era tradição que os romanos se saudassem em sua honra no começar de um novo ano e daí derivam as Janeiras.Terminada a canção numa casa, espera-se que os donos tragam as janeiras (castanhas, nozes, maçãs, chouriço, morcela, etc.). Por comodidade, é hoje costume dar-se chocolates e dinheiro, embora não seja essa a tradição.No fim da caminhada, o grupo reúne-se e divide o resultado, ou então, comem todos juntos aquilo que receberam.As músicas utilizadas, são por norma já conhecidas, embora a letra seja diferente em cada terra. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal, a enciclopédia livre
Era este o espírito que assistia ao cante das Janeiras, sendo que por estas bandas e nesses tempos, eram essencialmente cantadas às portas dos lavradores, seareiros e outros pretensos abonados residentes nas aldeias e vilas. Depois de corridas as ruas dos povoados e caso o pecúlio não fosse suficiente, partiam a pé para os inúmeros montes da vizinhança onde esperavam ter melhor sorte.
Na noite de ontem (09/01/09) em Entradas, o espírito era recuperar essa tradição dentro da presente modernidade e fazer de porta em porta o debut destas Ceifeiras Entradenses.
A primeira actuação teve lugar na Biblioteca local, de seu nome Manuel da Fonseca, que caso fosse vivo, seguramente seria um devoto destas noctívagas saídas.
O ensaiador Paulo Madureira, qual Infante D. Henrique à descoberta da noite gelada
Saídos da biblioteca, percorremos na gélida noite a terra que me viu nascer. Sem que ninguém soubesse, regredi no tempo e regressei à minha infância. Bebi deste ritual as minhas memórias de menino, e à medida que avançávamos de porta em porta cantando a moda “ do canivete a bailar, para uma chouriça ganhar”, fui cimentando no que mais de intimo tenho, o prazer de aqui haver nascido, e de com os meus percorrer as ancestrais pedras da calçada Entradense.
Lendo as quadras relativas às Janeiras à proprietária do Restaurante O Celeiro - Ana Maria Soares
Uma das primeiras paragens deu-se no restaurante Celeiro, onde os repastantes se deliciaram com a surpresa. Após a cantoria uma das cantadeiras de talêgo em punho, solicitava uma pequena contribuição aos presentes a que genericamente acediam.
Dali seguimos, qual bando errante até à taberna do Pedro, onde se repetiu a cena. Percorremos depois Entradas de lés a lés, fazendo paragens aqui e ali e em especial à porta dos estabelecimentos onde mais gente se encontrava.
Uma das paragens teve lugar numa das padarias locais, para onde entrou toda a gente a fim de se aquecer, já que o ambiente era o recomendado para um reabastecimento de calor, bem como o perfume que exala destas fábricas é um bálsamo para quem durante três horas aguentou sem pestanejar as absurdas temperaturas negativas que se faziam sentir.
Um Entradense vem à rua e oferece às cantadeiras e acompanhantes um copinho de vinho do Porto.
Na Horta teve lugar a última apresentação. No regresso parámos junto ao poço com o mesmo nome e aí, o ensaiador Paulo Madureira quis surpreender os acompanhantes com uma moda genuinamente Entradense e com a afinação quase, quase no ponto.
Como a coisa foi feita noite adentro e luz era inexistente, quase não tenho imagens, mas o troar das vozes das mulheres de Entradas fica aqui vincado de forma indelével, sendo também um presente para todos os que se interessam por todas estas coisas da alma alentejana.
Etiquetas: alentejo, Ceifeiras de Entradas, Entradas - castro verde, Janeiras
4 Comments:
Oh, compadre atão nã sabe que a madrinha chama-se Maria Lucília e não Maria Lucinda?
Boa reportagem em noite tão gelada, mas imensamente gratificante. Fiquei muito orgulhosa com este "punhado" de mulheres de Entradas que de um momento para o outro romperam com o limbo onde estavam enredadas e foram elas próprias procurar o ensaiador e tudo o que até aqui têm conseguido.Às ceifeiras de Entradas, obrigado pela noite maravilhosa de 9 de Janeiro.
Maria Lucília
Que bonito!
Mergulhar nas origens, nas ancestrais tradições:buscar de novo o rumo que nos irá levar mais além.
Com inteligência ,alegria e serenidade atravessar a noite gelada,buscando solidariedade,reafirmar amizade e cantar a esperança que terá de renascer em "jano" a cada dia.
Aquele abraço,Napoleão.
haja saúde
jm
Haja Saúde
Excelente reportagem amigo Napoleão. Aproveito para desejar os maiores êxitos âs CEIFEIRAS DE ENTRADAS. A moda que fala da fonte do Linhas tem direitos de autor. Já foi cantada (e creio que criada) pelo extinto Grupo Os Ceifeiros de Entradas.Talvez não saibas mas fui eu (passe a imodéstia) quem lançou o referido grupo, embora não intencionalmente. E como? Enviando para o Diário do Alentejo (na época ainda ainda não havia qualquer jornal ou revista no Concelho de Castro Verde)dando notícia da criação do grupo e creio que, sem querer, acabei por ser o padrinho do grupo pois referi-me ao mesmo como o Grupo Coral os Ceifeiros de Entradas por supôr que seria esse o nome do grupo embora soubesse mais tarde que o grupo era para ter outro nome pois nada tinha a ver com o grupo homónimo que tinha havido no passado e que foi um dos melhores grupos corais alentejanos. este novo grupo não era a continuação do outro, nem a sua recuperação, nada disso. Era um novo grupo que ficou com o mesmo nome pelos motivos que já citei. De qaualquer modo os elementos do grupo acabaram por aceitar o nome. Não disseram que não, o que não é rigorasamente a mesma coisa do que dizer sim. De qualquer modo o grupo ainda teve algumas actuações fora do Concelho de Castro Verde até fora do Distrito de Beja, e tiveram sempre boas classifições tendo em conta que foram convidados pouco depois que se soube da sua existência. Actuaram, nomedamente, na Cssa do Alentejo, no Centro Cultural e Desportivo das Paivas e estiveram quase a actuar na famosa Sociedade Filarmónica Incrível Almadense. mas chega de falar no passado.Renovo os votos de bons èxitos ao Grupo "As Ceifeiras de Entradas".
Um abraço
José Mestre
Boa tarde, amigo Napoleão.
Era realmente uma noite fria e como você diz no post nevou na madrugada desse dia, eram para ai umas 5 da manhã.
Vamos mas ao que interessa, eu penso que você deveria fazer um blog para o grupo, ja que é padrinho, para daqui para a frente nos trazer a agenda do grupo, a discografia, etc...
Aqui fica a minha ideia.
Um abraço do vizinho Carlos
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