Rua Dos Dias Que Voam
Numa manhã domingueira de passeio por Lisboa, dou com esta placa toponímica: Rua Dos Dias Que Voam.
Fiquei a pensar no autor do nome da rua, em quem teve a sensibilidade de aceitar para nome de rua uma frase tão singela, mas ao mesmo tempo tão profunda e a calhar com esta significativa mudança de ciclo temporal.
Na verdade, os dias meses e até os anos parecem ter aprendido a voar, tal a velocidade com que passam por nós sulcando-nos no corpo e na pele a sua indelével e definitiva marca.
Escrevo no dia primeiro do ano de 2009. Saúdo o novo ano que entra e que jamais sonhei vir a viver. Todos os semblantes me recordam que este vai ser um ciclo tormentoso e que grandes convulsões sociais se avizinham, daí termos entrado neste novo ano, mas se calhar preferindo passar por cima dele, apagá-lo das nossas vidas, abdicar de 365 dias, desculpem: 366, porque este 2009 é bissexto, anulá-lo, sei lá, fazer com que não existisse, tal é a convicção que as pessoas têm no mau augúrio que esta combinação anual nos pode vir a trazer.
Mas voltemos aos dias que voam. Ainda ontem era 2008 e hoje já é 2009. Ainda ontem tinha começado a escrever um post de despedida de 2008, mas o tempo voou tão rápido que quando dei por mim a mensagem que queria passar já estava desactualizada.
Desunhei-me a escrever qualquer coisa para começar o ano, mas que simbolizasse isso mesmo: a entrada de um novo ano.
Para tal, e ao contrário dos outros mortais, levantei-me cedo e pus-me em frente ao computador. Abri o Word e no menu horizontal ordenei que este me desse uma nova folha em branco. Fiquei ali a olhar para o branco imaculado da folha virtual, ginastiquei os dois únicos dedos com carrego no teclado, transformando em palavras as múltiplas combinações de teclas onde pressiono.
Devo ter começado uns bons cinco textos sobre o ano que se avizinha e como foi bom deitar para trás das costas esse 2008 de má memória.
Após dois ou três parágrafos o branco da página atraía-me mais do que as baboseiras que procurava alinhavar em forma de pensamento e a que procurava incutir alguma dignidade, até que me lembrei da placa toponímica duma rua dum bairro tradicional, imortalizada na foto que lhe tirei naquele domingo demorado enquanto Lisboa se espreguiçava languidamente como só as cidades mulher o sabem fazer.
Na verdade, os dias meses e até os anos parecem ter aprendido a voar, tal a velocidade com que passam por nós sulcando-nos no corpo e na pele a sua indelével e definitiva marca.
Escrevo no dia primeiro do ano de 2009. Saúdo o novo ano que entra e que jamais sonhei vir a viver. Todos os semblantes me recordam que este vai ser um ciclo tormentoso e que grandes convulsões sociais se avizinham, daí termos entrado neste novo ano, mas se calhar preferindo passar por cima dele, apagá-lo das nossas vidas, abdicar de 365 dias, desculpem: 366, porque este 2009 é bissexto, anulá-lo, sei lá, fazer com que não existisse, tal é a convicção que as pessoas têm no mau augúrio que esta combinação anual nos pode vir a trazer.
Mas voltemos aos dias que voam. Ainda ontem era 2008 e hoje já é 2009. Ainda ontem tinha começado a escrever um post de despedida de 2008, mas o tempo voou tão rápido que quando dei por mim a mensagem que queria passar já estava desactualizada.
Desunhei-me a escrever qualquer coisa para começar o ano, mas que simbolizasse isso mesmo: a entrada de um novo ano.
Para tal, e ao contrário dos outros mortais, levantei-me cedo e pus-me em frente ao computador. Abri o Word e no menu horizontal ordenei que este me desse uma nova folha em branco. Fiquei ali a olhar para o branco imaculado da folha virtual, ginastiquei os dois únicos dedos com carrego no teclado, transformando em palavras as múltiplas combinações de teclas onde pressiono.
Devo ter começado uns bons cinco textos sobre o ano que se avizinha e como foi bom deitar para trás das costas esse 2008 de má memória.
Após dois ou três parágrafos o branco da página atraía-me mais do que as baboseiras que procurava alinhavar em forma de pensamento e a que procurava incutir alguma dignidade, até que me lembrei da placa toponímica duma rua dum bairro tradicional, imortalizada na foto que lhe tirei naquele domingo demorado enquanto Lisboa se espreguiçava languidamente como só as cidades mulher o sabem fazer.
Na verdade, o voo do tempo é tão sublime que mal damos por ele passar.
Saía no outro dia da casa de um amigo meu que tinha combinado encontrar-se com outros amigos que vim a descobrir durante o jantar, que haviam quase todos sido companheiros de escola. Durante o jantar perderam-se a rebobinar o tempo à procura de episódios de um tempo que também voou, que se esfumou quase repentinamente, mas que mesmo assim, deixou no ar um perfume de memória que estes revisitavam com inegável e sôfrega satisfação.
No caminho de regresso a casa, dou comigo a pensar nos meus colegas de escola e tirando três ou quatro da primeira classe, são raros aqueles de que me recordo no meu percurso estudantil. De repente, sinto-me uma errante alma circense, que não teve tempo para aprender quanto mais para fazer amigos. Fiquei ensimesmado e até enciumado pelo facto do meu amigo ter podido assistir à ascensão e declínio das várias formas que os corpos vão sofrendo ao longo da vida e ainda por cima celebrando amiúde tal acontecimento.
Fiz um esforço para me lembrar de algum nome de escola nem que fosse só para me compensar. Vinha-me á memória um tal Lontrão, eterno aluno da António Arroio, mas esse não era do meu campeonato.
Revi mentalmente o pátio de entrada da minha velha escola na Rua Almirante Barroso, junto ao Liceu Camões (com quem de resto tínhamos acesas disputas), e lembro-me de todos nos erguermos reverencialmente à passagem do Pintor Lino António (eterno director desta escola), artista que todos os candidatos a essa condição respeitavam.
De repente no meio da sebastianina nebulose da minha ténue memória aparece uma figura loura de cabelos compridos e olhos claros. Juntando os cacos do puzzle da memória e depois de descodificado só me dava um nome - Atilano.
É pá, este é o nome do gajo – pensei para com o meu fecho eclair. No dia seguinte ponho o nome Atilano a Googlar e aparece-me em primeiro lugar “ a página do Atilano” que para minha surpresa tinha fotos que fundidas com a memória daquele rapazito loiro de olhar aguçado com as fotos daquela página, eram uma e a mesma pessoa.
Não cabia em mim de contentamento! Mas, tal euforia foi-se esvaindo porque no seu website não havia forma de o contactar. Até que, numa página interior encontrei um e-mail que fazia referência ao seu nome e sem hesitar contactei -o de imediato.
Pensei que a resposta nunca chegasse, ou pelo menos que demorasse, mas o dia de S. Supresino, estava a fazer jus ao seu nome. Passados minutos um pedido de aceitação no MSN – era o Atilano Suarez - Reatámos ali uma conversa suspensa no tempo. Mesmo via MSN (e à imagem dos meus amigos) rebobinámos ali muita da nossa lembrança, fazendo neste caso, voar os dias no sentido ascendente do ponteiros da memória.
O Atilano prometeu com a sua pá de garimpo e a sua lanterna de mineiro, procurar no espólio da sua vida, nomes e fotos dum tempo que num ápice se esvaeceu.
Talvez que com esta informação possamos também cavar no tempo um espaço de lembrança recuperada e assim, qual achado arqueológico, possamos reacender a centelha do património da nossa existência.
Este blogue é um excelente depositário de memórias, estando certo de que muitas já as teria perdido se num belo dia de 2006 não me tivesse decidido a convosco partilhar episódios, curiosidades e paixões que doutro modo se perderiam na espuma da memória em forma Dos Dias Que Voam.
5 Comments:
Napoleão,
amigo e companheiro aqui temos mais uma postagem à Pulanito para ler,saborear e reflectir.
“Na verdade,o voo do tempo é tão sublime que mal damos por ele passar” na “ Rua dos dias que voam”.
Sendo de acreditar nas previsões pessimistas e tão preocupantes para os comuns dos bons mortais,parece-me boa ideia usar estes conceitos e anular o ano de 2009 do imaginário colectivo.
Vamos fazer que isto tudo passe rápido.Vamos em conjunto inventar qualquer coisa.As crises também podem fazer crescer.Teremos que atravessar o deserto?
Vamos lá!
Desejo-te e a todos os /as leitores/as QUE O PRÓXIMO ANO 2010 SEJA O MELHOR DA VIDA DE CADA UM
Haja Saúde
jm
Bem sei que há milhares de blogues e muitos deles, muito melhores do que o Pulanito, mas para mim que passo por aqui vai para dois anos, passou a ser um vicio diário aqui vir na esperança de ser surpreendido e para começar o ano surpreendes-me com um excelente texto onde a tua prosa poética jorra em todo o esplendor.
O teu amigo Atilano também deve ter ficado contente com com o vosso reencontro.
Abraço e bom ano
Bruno. S.
Mas que nome tão poético para uma rua. E já agora em que parte da capital se situa essa rua de tão excêntrico nome?1 Tu tens um carisma (??!!) especial para descobrir nomes inéditos. Ele é nomes de ruas, ele é nomes de estabelecimentos comerciaís!!! Que mais irás tu descobrir?!
Pois estou escavando! A minha mulher, arquivista-chefe da casa, já localizou o paradeiro de uns envelopes de fotos.
Depois de as desempoeirar, dou notícias. Século passado, aqui vamos!
Olá
Sou a T dos Dias que voam. O nome do blogue foi criado por mim e a placa toponímica pelo Manuel do Blog Gasolim. A Rua é ficção, mas bem que uma artéria de LIsboa podia ser baptizada assim.
Cumprimentos:)
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