Alentejanando em casa do Zé Manel
Estamos no Inverno, é altura de matança em casa do primo Zé Manel em Albernôa. Este é um ritual que se repete ano após ano.
Os homens seguram o barrasco que pressente ter chegado a sua hora e se debate contra ela, com todas as suas forças.
Zé Manel segura o focinho do bicho enquanto prepara a estocada que lhe há-de roubar a vida. O bicho num último desespero consegue abrir a boca e dar uma dentada no seu algoz que lhe há-de arrancar um pedaço do dedo.
É fundamental que quem ajuda a segurar o animal, saiba o que está a fazer. Para que este tenha uma morte rápida e o menos dolorosa possivel é necessário que sangre bem e rápido. A prestação dos ajudas é essencial nesse capitulo desde que a facada do mestre matador tenha cortado a jugular.
Bem sei que tem um aspecto cruel ver o animal a sangrar, mas acontece que por estas bandas as pessoas sabem que os animais não crescem nas prateleiras dos supermercados. Nascem, vivem e morrem com um propósito: alimentar-nos.
Respeita-se o animal, proporcionando-lhe uma morte rápida, cujo sangue quente é aproveitado para os enchidos e para a famosa moleja. Um caldo de sangue com figado frito, algo pesado, por isso só se come por altura da matança.
Depois do sacrificio dos animais, é necessário prepará-los, para tal são queimados a poder de maçarico e raspados até ao couro, são depois lavados e de novo raspados sendo de especial maestria a raspagem dos pés, focinho e orelhas.
Em post de Janeiro do ano passado já fiz o relato da matança anual do Zé Manel. Leia aqui de novo: http://pulanito.blogspot.com/2008/01/o-natal-do-z-manel-alberna.html
Fazendo das "tripas coração"
Aprendiz de feiticeiro
Ao lume já estão a fritar os belissímos torresmos do rissol. Este aprendiz de alquimista repara atentamente como as coisas se fazem. Um dia será ele a fazê-las. De reparar que ao lume estão, para além dos torresmos, duas panelas de ferro com água fervente e a famosa "chocolateira de barro" que afinal é cafeteira e onde se faz um dos melhores cafés que a memória palata deste escriba soube registar.
Temperando o Entrecosto
Cada um tem a sua função. Neste caso os mestres cucas, dão o seu melhor para que a carne do bicho seja cozinhada, temperada e apaladada da melhor maneira. A fazer fé na sua fama, não duvidem; estes sabem mesmo da poda.
Depois o pessoal senta-se à mesa ( no caso presente eram mais de 30), e vá de enfardar porco e mais porco. Um dos habitués é o Senhor Campinas. Como o apanhei em contra-luz achei graça á foto e cá vai disto que amanhã não há.
Cantando a Moda
Aqui a tradição ainda é o que era. Depois da matança e da comezaina, segue-se a cantoria. Como bons alentejanos, os homens desembrulham da alma as melodias que passaram de geração em geração.
Fazendo Queijinhos
Nesta pequena unidade familiar onde tudo o que se produz é de excelente qualidade, também se fazem queijinhos de cabra de maneira artesanal, mas dentro de todos os preceitos exigidos por lei.
Como têm de ser feitos todos os dias, enquanto uns cantam a moda, outros transforam em queijo o leite ordenhado do rebanho de cabras do casal.
No caso presente, passa-se o conhecimento de pais para filhos. A Rita, aprende com a mãe a fazer o melhor queijinho de cabra da região.
Daniel - Guardador de Rebanhos
Já a noite se tinha feito noite, até já tinhamos comido a açorda do Sássá, quando vejo surgir porta dentro este jovem guardador de rebanhos de seu nome Daniel.
Tenho por esta profissão a maior das admirações e carinho. O Daniel estava contentissimo na sua nova pelica que Zé Manel lhe ofertara aquando da feira de Castro. Nota-se nos olhos deste jovem o orgulho que tem em ser pastor, guardador de gado, paisagens e solidão.
Esta é uma profissão dura e sem horários. Quer chova quer faça vento, o rebanho tem todos os dias de comer e atrás dele haverá sempre um Daniel, que pode não saber muito do que se passa no planeta, mas conheçe melhor que ninguém o mundo onde se movimenta. Conheçe cada monte e cada vale, conheçe todos os caminhos e veredas, maneja o seu rebanho com ordens de assobio que o seu cão cumpre na perfeição reunindo, parando ou dando volta ao rebanho consoante a ordem assobiada por mestre Daniel.
À noitinha regressa a casa, mas com pressa de novo regressar ao seu rebanho, ao seu lugar, onde para além de o guardar, também as ordenha duas vezes por dia (ao romper da aurora e á tardinha), ajuda as cabras a parir e mais das vezes faz de veterinário para além de muitas outras tarefas repetidas 7 dias por semana.
6 Comments:
Deus ter inventado colesterol elevado, diabetes e outras merdices é que foi um erro imperdoável! Porque é que não se lembrou por exemplo dos israelitas se darem bem com os árabes? Os padres cristãos podem comer porco preto do bom, aí como esses. Mas pelos vistos os rabinos não abdicam de comer livremente outras coisas bem mais gostosas... em detrimento dos porcos.
Alimentem-se bem!Não deixem o Zé Manel ficar mal visto, sem concorrência.
desgraçado do bicho...
mas porra!! moleja é tão bomm
Nap,
as tradições como base da nossa cultura e também como forma de auto suficiência,neste caso alimentar.
Depois vieram os fundamentalismos dos chamados “perfeccionistas”que vão impondo novas regras e exigindo quimeras,em defesa de determinados interesses económicos,invocando sempre o interesse da saúde pública.
Por aqui vai-se perdendo o belo ritual da matança do porquito,principalmente por receio de represálias das autoridades .Até há 3/4 anos assim vinhamos fazendo.
Nessa altura um desgraçado de um velhote que criou dois porquitos no seu espaço,apanhando bolotas(boletas) pelos campos abandonados e junto às estradas camarárias,foi espoliado dos seus víveres,após todos os esforços de criação e abate dos bichos...revoltante!!!
È também por isso que temos as crises que temos.Abomino ouvir os políticos proferir as palavras “critérios de excelência”:cheira-me sempre a hipocrisia e a sementes de mentiras doutorais,desfasadas das necessidades e da realidade,quase sempre a soldo de grupos de amigalhaços...revoltante!!!
Não se pode pescar ,não se pode produzir leite ,carne ,batatas ,pão,doces regionais,frutas e legumes ,sem que se cumpra regras impraticáveis para a maioria dos tradicionais pequenos produtores,sem que os produtos sejam apenas de determinado calibre(normalizado/plastificado) e depois avoluma-se a dependência dos mercados protegidos e ao serviço exclusivo do
Lucro..revoltante!!!
As crises também se superam com manifestações de indignação .Não nos destruam!Deixem-nos viver!
Em 2009 vamos estimular a produção nacional,gastar pouco mas em produtos nacionais
calçado,roupas,música,férias,etc.etc....Vamos lá,a crise e os seus fazedores que se danem!
Haja saúde
jm
Caro Joaquim Miguel,
Comungo completamente das tuas palavras.
Existe uma paranóia regulamentar absolutamente deprimente.
Ontem fui parado pela GNR..documentos entregues, volta ao carro à procura de anomalias.
Depois a célebre frase: Vou ter de o multar.
Porquê? -pergunto ao garboso militar - O senhor tem de conduzir com òculos.
Resposta - Peço desculpa e mostro a carta do Professor Doutor Joaquim Murta que me operou onde consta que vejo na perfeição.
Resposta- isso para mim não me interessa, o que interessa é o que está no código.
Bem a coisa continuou, mas o G'NRoses de serviço teve um ataque de generosidade e ápós lhe dizer que desde que uso lentes de contacto (1978) e que fui operado (2000)lá me mandou embora, mas com o aviso de que se me apanha sem óculos da próxima vai ter de me autuar.
É claro que não posso usar óculos, porque aí sim, passaria a ver mal.
Enfim...apelei ao bom senso, ao não uso da prepotência e ao saber aplicar a lei do bom senso...mas o agente da autoridade, lá me disse para me ir embora antes que a paciência dele se esgotasse.
E pronto...abram alas p'ro Nody, que é o presidente deste país de faz de conta.
Caro Joaquim Miguel,
Comungo completamente das tuas palavras.
Existe uma paranóia regulamentar absolutamente deprimente.
Ontem fui parado pela GNR..documentos entregues, volta ao carro à procura de anomalias.
Depois a célebre frase: Vou ter de o multar.
Porquê? -pergunto ao garboso militar - O senhor tem de conduzir com òculos.
Resposta - Peço desculpa e mostro a carta do Professor Doutor Joaquim Murta que me operou onde consta que vejo na perfeição.
Resposta- isso para mim não me interessa, o que interessa é o que está no código.
Bem a coisa continuou, mas o G'NRoses de serviço teve um ataque de generosidade e ápós lhe dizer que desde que uso lentes de contacto (1978) e que fui operado (2000)lá me mandou embora, mas com o aviso de que se me apanha sem óculos da próxima vai ter de me autuar.
É claro que não posso usar óculos, porque aí sim, passaria a ver mal.
Enfim...apelei ao bom senso, ao não uso da prepotência e ao saber aplicar a lei do bom senso...mas o agente da autoridade, lá me disse para me ir embora antes que a paciência dele se esgotasse.
E pronto...abram alas p'ro Nody, que é o presidente deste país de faz de conta.
Nap,
usa os óculos do cicloturismo,para enfrentar as autoridades.E até te ficam bem.
Ups!
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