Uma Tarde em Marraquexe!
Aqui há tempos fui a Marraquexe. É claro que me internei na labiríntica Medina, na esperança de me poder perder por lá, ou em última hipótese, por algum objecto que me cativasse.
Depois de percorrer muitas das ruelas da Medina, entrei numa loja de antiguidades.
Passeei os olhos pelo exposto e de repente reparo numa caixa que era a medida do meu desejo.
Abeirei-me do objecto apetecido e logo (como que por magia) um sorridente mercador beduíno se me dirigiu com o olhar de quem me desnudara o pensamento.
Agarrou a pequena caixa e começou a contar-me a história da mesma, não sem antes me dizer que esta para se abrir tinha um segredo, o que me levou de imediato a viajar para o reino de Ali Baba.
Que era uma caixa muito antiga, que tinha pertencido a um príncipe tuaregue que a tinha ofertado à sua amada como prova da sua paixão.
Chegava-me a caixa ao nariz e perguntava-me se pelas minhas narinas ainda circulavam memórias olfactivas de tal moira encantada.
A pedido de várias familias, aqui fica o objecto desta crónica...Como vêem é uma caixa banal...Excepcional foi o ambiente criado à volta de tão vulgar objecto.
Nisto foi-se abeirando uma outra cliente que também foi bebendo da história. O nosso Mohamed deixou-se empolgar pelo relato e os seus gestos eram cada vez mais expansivos e teatrais.
A sua narração era agora um “ sales pitch” muito bem elaborado. A minha atenção para com o Mohamed estava agora centrada na discussão negocial.
O árabe dizia-me que o preço não importava, pois este situava-se algures entre a sua vontade vender e o meu desejo de comprar e logo que essas vontades se fundissem estava encontrado o preço final, que poderia ser muito ou pouco, pois o resultado desses dois anseios é que condicionaria tal situação. Podia até acontecer que tais vontades jamais se encontrassem e assim num “ inchalá” nos despediríamos como dois seres civilizados.
Agora o importante era entregar à pessoa correcta um legado único e antiquíssimo e para tal tinha de me mostrar merecedor de tal tarefa.
A coisa correu bem. Eu estava “para lá de Bagdad”, logo, fui genuinamente entrando no filme produzido, realizado e dirigido por aquele figurão das mil e uma noites.
As nossas vontades fundiram-se e foi finalmente encontrado o preço da transacção de tão precioso tesouro (não me recordo quanto), Mohamed encarregou-se de embrulhar em papel pardo a minha nova aquisição eenquanto eu lhe passava para as mãos os Dirams acordados, ele focava já a atenção na outra cliente (de nacionalidade inglesa) que insistia em querer adquirir a minha caixa.
Quase que tive para vender ali mesmo o meu suado tesouro, mas quando estava para entabular conversa com a senhora em questão, Mohamed levou em leque os dedos à fronte e com os olhos fixos no céu procurava uma solução para tão insólito problema.
De repente fez-se luz e o árabe rejubilando estalou os dedos e disse ter encontrado a solução. Afinal parece que tinha outra caixa gémea desta, que ali jazia embrulhada no tal papel pardo.
À pergunta – Deves estar a brincar comigo? - 0 árabe piscou-me o olho e encolhendo os ombros sorriu e disse - É que eu tenho um primo que tem uma fábrica de antiguidades!
“Meti a viola no saco”, fiz uma vénia, levei a mão em punho fechado ao lugar do coração, sorri e disse-lhe: Que Alá esteja contigo!
Publicado no blogue http://www.mercadologia.org/
10 Comments:
Hummm... faltou aqui a foto da tão famosa caixa... acho que ficamos todos curiosos para ver tão precioso tesouro...
Noite Feliz
Kika,
Tens toda a razão...até porque tenho em casa a dita caixa.
Aos olhos de hoje e retirada do seu contexto é uma banal caixa de madeira com ar rústico e pouco mais.
Fica a memória de uma discussão negocial, onde esta gente é perita.
Fica ainda a memória de uma cidade encantadora a reexplorar em futuras visitas.
A foto vou tentar colocá-la amanhã..
Comprei uma dessas peças de madeira,com cheiro a cânfora ,em Marraquexe por oito contos(há vinte anos),após o natural despique da oferta e contra oferta de preços.
A malta gritou:AÍ BENJAMIM(canção de Sérgio Godinho)--Fiquei orgulhoso com a boa compra na Medina e na presença de alguns amigos de Lisboa e Porto.
Afinal ser de Borba sempre me colocava em melhor posição para entrar na lógica dos negócios marroquinos.Eu tinha sido um homem de sucesso:que orgulho!
Fui a Essaouira em viagem préviamente combinada com inscrição prévia nos dias anteriores para cerca de quarenta excursionistas.
Apenas os quatro Alentejanos fomos capazes de entender a tal lógica da organização e lá fomos até ao destino ,onde existem símbolos da presença Portuguesa em tempo de descobrimentos.
O almoço soberbo foi servido por simpáticos Berbéres,como se estivessem os quarenta,mas apenas para quatro.
Depois a tal visita "ocasional" a uma das muitas pequenas fábricas de artesanato.
Para gaúdio de quem me havia aplaudido no dia anterior e para meu próprio gozo comprei mais uma daquelas preciosas caixas antíquíssimas e raras, amontoadas ás dezenas na fabriqueta e acabadas de ser pintadas com cânfora virgem,por oitcentos escudos e ainda censurado pelo guia que me havia aconselhado a regatear.
Guardei para mim a que comprei mais cara e gritei "AÍ BENJAMIM".
Haja Saúde.
Joaquim Miguel
...E o último dia da marroquina estada em Marraquexe terminava em apóteose com um daqueles espectáculos típicos do rico folclore daquela cultura sui-generis.
Num grande terreiro,orlado por três dezenas de ricas tendas onde os convivas(cerca de cinco mil) se juntaram para o jantar de encerramento do Congresso Mundial,desfilaram um sem número de figurantes durante o repasto em que o prato principal era borrego com ameixas(tagines).
O majestoso espectáculo terminou com um desfile de Berbéres entoando a sua original música e fazendo elas um estridente ruído vocal e eles batendo ritualmente uns instrumentos de percurssão chamados"tantan",num ritmo frenético e entusiasmante.
Aproximei-me,juntamente com uns colegas que como eu estavam a viver momentos de grande alegria,até ao limite do espaço que circundava o terreiro.Aí fui abordado por um dos figurantes que me propôs a compra do seu "tantan".Logo acedi e de imediato entreguei em "dirans " o equivalente a mil escudos.
Recebi em troca um rasgado sorriso do marroquino que de imediato se afastou proferindo um francófono "Au Revois",levando com ele o referido instrumento a título de empréstimo ,fazendo-o soar mais alto.
Não esperava e logo fui gozado por todos os que por ali estavam.
Já todos tinham sido enganados naqueles dias ,mas este expediente era inimaginável,afirmavam.E eu divertia-me afirmando que esta coisa de ser de Borba tem vantagens e também inconvenientes.
Afinal por mil escudos eu tinha sido escolhido entre os milhares de participantes para este número de encerramento.Sem querer estava a ser alvo de uma certa atenção e até houve quem me dissesse que devia ir participar o acontecimento,já que tinha sido enganado descaradamente à vista de muita gente.
Voltámos ás mesas para os últimos toques nas sobremesas(uvas grandes,frescas e deliciosos).
Para mim que sou Alentejano de
Borba e que ,saudávelmente,tenho o gosto de acreditar até ter razões para o contrário,estava guardado o melhor do fim de festa.
Pela porta lateral,atravessando toda a tenda entrou um jovem casal,de negro e branco vestidos e com as mãos atrás das costas,até se postarem frente á mesa onde eu estava.
Vieram entregar-me o "tantan" e uma flor do deserto.
Eram estudantes de Medicina e vieram explicar o óbvio:aquilo fazia parte do espectáculo.
Vieram agradecer ter confiado neles.
E malta gritou;:AÍ BENJAMIM!
Haja Saúde.
Joaquim Miguel
Caro Joaquim Miguel,
As deliciosas estórias de Marrocos, são episódios que regra gewral fazem parte dos alicerces da nossa memória, tal o valor como experiência que lhes atribuimos.
Vejo que passaste por situação idêntica, sendo que no meu caso mais do que a caixa ( de que apresento hoje foto voilá!!)foi o filme onde me vi envolvido e a saída airosa do bérbere que me desarmou por completo, sendo que este já tinha o "graveto" do lado de lá...
Domingo pelas 8 horas lá estarei à tua porta para irmos ao encontro desse coleccionador de bicicletas que dá pelo nome de Carneiro e é um ganda Xiclista!
Abraço
PS: Tens que fazer um blogue teu, ou da malta, ou coisa que o valha...falamos disso no Domingo.
Podemos ter uma equipa a escrevinhar e assim manter vivo um meio de divulgação...
Caro Joaquim Miguel,
As deliciosas estórias de Marrocos, são episódios que regra gewral fazem parte dos alicerces da nossa memória, tal o valor como experiência que lhes atribuimos.
Vejo que passaste por situação idêntica, sendo que no meu caso mais do que a caixa ( de que apresento hoje foto voilá!!)foi o filme onde me vi envolvido e a saída airosa do bérbere que me desarmou por completo, sendo que este já tinha o "graveto" do lado de lá...
Domingo pelas 8 horas lá estarei à tua porta para irmos ao encontro desse coleccionador de bicicletas que dá pelo nome de Carneiro e é um ganda Xiclista!
Abraço
PS: Tens que fazer um blogue teu, ou da malta, ou coisa que o valha...falamos disso no Domingo.
Podemos ter uma equipa a escrevinhar e assim manter vivo um meio de divulgação...
Que bela história esta da tua caixa.
Bruno S.
Ora aqui está uma autêntica história das Arábias e ... está tudo dito.
É uma caixa com história...
Gostei do exemplar, ainda entro em negociações :))
Vendo bem não acho a caixa tão banal como tudo isso.. Aliás parece-me a miniatura de uma arca antiga ou melhor a imitação de uma arca antiga
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