Uma Graça esta gente de Divor!
Esta coisa de estar vivo ainda um dia vai acabar mal!
Mas assim um pouco á laia das costas que folgam enquanto o pau vai e vem e antes que isto acabe um destes dias, é melhor folgarmos os momentos de que desfrutamos, até porque a coisa só tem tendência a piorar com a irremediável passagem do tempo.
Isto para dizer que foi um enorme prazer, conhecer, pedalar e conviver com a malta da Graça do Divor, a que tenho chamado “ Grupo de Évora”, de que agora me penitencio, até porque não gostava que eles dissessem que vêm a Castro Verde (em vez de Entradas) no próximo Domingo, porque apesar da proximidade não são uma e a mesma coisa: Entradas não é Castro Verde e Graça do Divor não é Évora. Aqui ficam as minhas humildes desculpas.
Às oito e picos de Domingo (11/05/08) lá estava eu nesta preciosa aldeia deste imenso Alentejo localizada ás portas de Évora de onde dista uns míseros dez quilómetros, depois de ter percorrido cento e trinta quilómetros desde a ancestral Vila de Entradas.
Comecei logo a conhecer o pessoal que só havia visto por fotos. O Ricardo mostrou-se desde logo o mais extrovertido, o que me deixou desde logo bastante á vontade.
O grupo foi aparecendo e à medida que tal acontecia ia sendo apresentado, aos membros desta confraria pedalante.
A volta metia uma visita a uma adega, o que é sempre uma meta empolgante para quem pedala de modo a chacinar os copos de tinto convertidos em calorias que emborca desalmadamente como se o mundo não tivesse mais amanhã.
Animados por esta singularidade no percurso (especialmente este escriba) lá pedalámos afincadamente. Os quilómetros iam sendo galgados sem o esforço a que estou habituado quando treino sozinho.
De facto, sou um cão de caça cheio de pulgas, (esta é a melhor impressão que tenho da minha pessoa, só para se imaginar porque terrenos anda a minha auto estima...LOL, achei apenas que era interessante dizer mal de mim nesta altura do post…sic!!), isto para dizer que em três anos que ando de bicicleta contam-se pelos dedos duma mão de carpinteiro distraído, as vezes em que viajei ou treinei acompanhado, o que quer dizer que o que sei acerca da nobre arte de montar todo o selim, aprendi aos safanões.
Achava eu que isto de andar de bicicleta era uma coisa que exigia muito sofrimento, vai daí utilizar quer a descer, a subir ou em terreno plano os carretos mais pesados.
Quando chegámos aos Arcos (Borba) o Joaquim Piteira notando que eu pedalava de forma desarticulada aconselhou-me a utilizar os outros carretos e roda pedaleira de modo a que pudesse racionar devidamente o esforço e usufruir com outro prazer desta coisa que é andar de bicicleta, até porque ao não utilizar os outras rodas dentadas, mais valia ter comprado uma pasteleira das antigas, que apenas tinham um carreto e uma roda pedaleira.
Fixei esta explicação e não é que o percurso contrário foi feito de maneira mais suave, descontraída e com um esforço muito menor, que de qualquer maneira estava preparado para fazer.
Nasci para sofrer, o que se há-de fazer!!
Regressemos então á Adega do senhor Marcolino Sebo, personagem que de imediato adoptei e de que o Joaquim Miguel, já me tinha entreaberto o livro da vida de tão singular criatura.
Marcolino Sebo, homem de poucas letras mas de muito olho, cedo adoptou a fórmula de estar sempre ao lado de quem sabia um pouco mais que ele ( Aristóteles Onassis fez o mesmo) e assim sendo foi mastigando, triturando conhecimentos que com a sua veia de negociante e o seu sentido de oportunidade, utilizou em beneficio do seu engrandecimento.
Hoje possui uma vasta fortuna que não posso (nem devo) calcular, mas nos seus cento e muitos hectares de vinha, produz uvas que a sua ultramoderna adega transforma em milhão e meio de litros de vinho de excelente qualidade conforme foi dado a provar aos convivas desta manhã ciclista.
Marcolino Seco explicando a categoria de um dos seus melhores vinhos...e se era bom!!
Um enorme obrigado a este homem que é tão grande, como enorme é a sua simplicidade, e nos dias que correm ser simples não é só uma qualidade, mas é também uma arte de difícil manejo e de fino recorte.
O regresso foi feito com o tal abastecimento de “ gasolina super” do senhor Marcolino, mais os ensinamentos do Joaquim Piteira, a brejeira irreverência do Ricardo, o silêncio das rodas do Victor e do António, mais as excelentes conversas do Joaquim Miguel e ainda a simpatia do Serafim que nos acompanhou até Arraiolos e depois no retemperador repasto em Graça do Divor. Enfim uma papa, para aquilo que estou habituado a “penar” por essas estradas sozinho.
No final fizemos as contas. 120 Km de pedalada por terras do Alentejo do alto, com gente boa e sã.
Contrariando o prognóstico de um dos convivas que apostava “ ser esta a primeira e ultima vez “ penso que terão alguma dificuldade em se verem livres de mim.
Afinal, pedalar é preciso, viver não é preciso!
Bruno Neves - o ciclista ontem desaparecido
PS: Pelo caminho de regresso soube da brutal morte de Bruno Neves, um jovem ciclista profissional de qualidades inquestionáveis que perdeu ontem a vida no desempenho daquilo que mais gostava de fazer: correr de bicicleta.
Curvo-me perante a sua memória.
5 Comments:
Estimado Napoleão.
É no silêncio que nos quedamos hoje em memória do jovem ciclista,que em queda banal e fatal encontrou o descanço eterno.
...em nome do grupo agradecemos a sua visita e companhia e sobretudo a sua adesão qualificada ao nosso projecto:"A CAMINHO DE SANTIAGO".....joaquim miguel
Esta coisa de descobrir gente é uma actividade que me dá muito gozo.
Não sei se por defeito profissional, se por puro masoquismo pessoal, mas uma coisa sei: Encontrei no grupo Da Graça, gente em que me revejo e que de certeza passarão a integrar o vasto leque dos meus amigos.
Lá vos espero Domingo.
Abraço
saúdo, com inveja, a saudável confraria.
Não vou ter hipóteses de acompanhar a peregrinação, mas um dia destes faço-me convidado: passo por aí como se fosse sem querer...
Quanto ao Bruno, 'isto' está muito complicado. Há muito tempo que não chorava uma morte...
Regra geral, os profissionais são um bocado "inchados". Mas o Bruno era um puto tão humilde, tão simpático, com uns cortes de cabelo "à pedrada"...
Coitadinho do Bruno...e dos Pais.
Caro Napoleão
À dias num meil eu dizia: "A bicicleta causa uma ligação quase que mágica entre as pessoas, cria grandes amizades" mais uma vez isso se comprovou ontem no meu pequeno leque de amigos entrou um amigo de uma grande humildade, um enorme ser Humano em quem eu me revejo.(não é por acaso que temos o mesmo hobbi na base do sofrimento)
Espero que a vida nos cruze muitos caminhos para que possamos ter muitos encontros, como este dia que acabamos de viver ontem.
Um Abração Joaquim Piteira
Curvo-me tb à memória deste jovem a quem a vida nem a Pequim o deixou chegar.
caro Pulanito,
Cá estaremos á espera desses relatos à Mário Gil " pelos caminhos de Portugal" desta vez com uma incursão por terras de Espanha.
Bruno S.
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