sábado, setembro 29, 2007

O meu Encontro com o Capitão Roby

O famoso Capitão Roby, mais ou menos no tempo em que o conheci

Não sei precisar o ano, mas foi seguramente ali no bordejar dos anos oitenta. Na altura era recepcionista de hotel em Lisboa (Hotel Príncipe) e fazia o turno da noite.
Por lá passei muitos episódios que por aqui hei-de desfiar, mas hoje quero-vos falar de um em especial: o meu encontro com o Capitão Roby.
Tinha acabado de entrar de serviço às 23.30. Depois do colega que me antecedeu me ter passado o serviço, fui como sempre dar uma volta ao bar para ver como paravam as modas.

Naquela noite de Inverno o ambiente estava inusitadamente vivo. Clientes conhecidos que ali faziam poiso diário em animada cavaqueira com o barman de serviço, mais ao fundo na sala, pequenos grupos de estrangeiros bebericando cálices de porto e outras especialidades cá da "tuga" preenchiam a totalidade dos assentos disponíveis, mas ao canto do balcão pontuava uma cara nova, que pelo tom da voz ou pela sua minimal gaguez faziam com que a minha atenção fosse aprisionada por este novo e intrigante personagem, que por natureza ou insistência do discurso teimava em protagonizar a noite.
O individuo era emproado, vestia sobriamente e conversava fluentemente em várias línguas e sobre qualquer assunto, o que por razões (que só a ciência poderá explicar) atraía a atenção do mulherio de uma forma melosamente subtil.
Num tempo em que os telemóveis ainda eram ficção científica, os clientes eram chamados ao telefone pela recepção. Recordo que muitas dessas chamadas eram dirigidos a este enigmático personagem e como eu atendia a maioria delas, estranhava serem sempre mulheres que por ele demandavam.
Comecei a estranhar o tom das imperceptíveis conversas, o que me levou a cometer um acto que não devia revelar; passei a escutar parte desses diálogos na central telefónica onde abria um canal de escuta.
Recordo que as conversas tinham sempre um carácter apaixonado por parte de quem telefonava, sendo que o nosso interlocutor esbanjava charme da mesma forma com generosamente me gratificava, ou seja: aos montes.
Jorge Verissímo Monteiro, era o nome deste furacão que por ali se instalou nesse Inverno de há mais de 25 anos. Por essa altura teria uns 35 anos e um porte distinto, altivo, sendo o centro das atenções por onde quer que passasse, e neste particular para atrair atenções e admirações apresentava-se como adido naval da embaixada de Portugal em Estocolmo na Suécia,de onde era suposto ter acabado de chegar.
Era este o papel que representava, era esta a personagem que encarnava, não sem que, pelo menos a mim, me deixar sempre de pulga atrás da orelha, já que algumas das suas atitudes não eram condizentes com a do posto que se gabava de possuir.
De qualquer modo o nosso adido naval era um poço de generosidade, mandando-me servir copos dos mais finos maltes, até chegando a oferecer-me garrafas de Chivas Regal, um néctar caríssimo à altura.
Jorge, possuía um Opel Ascona (ou Manta, já não me recordo bem) verde onde me deixava dar umas voltas, o que para mim era um acto de extrema consideração. Um dia perguntou-me se gostava de ver uns filmes de “mariolice”. Respondi que sim. Este subiu ao seu quarto e trouxe-me uma máquina de projectar com uns filmes mudos a que na minha terra hoje chamam “cassetes de chumbança”. Estas mini-bobines eram o regalo das nossas noites. A estas sessões privadas assistia eu, o Serras (meu colega de turno) o velho Amadeu (chefe de bar já falecido) a Tita, o Engenheiro das Couves (clientes residentes do hotel) e demais clientes que entretanto fossem chegando e em quem nós depositássemos confiança.
Fizemos assim, muitas sessões de cinema "late night", tendo os lençóis do hotel servido de ecrã, de modo a visualizarmos todas as bobines que o Jorge Verissímo nos havia emprestado.
A vida deste personagem era a cada dia que passava mais intrigante, e muita da bota deixou de bater com a perdigota, especialmente quando começou a dizer a alguns clientes que pretendia adquirir o hotel, a outros que já estava em negociações e a outros ainda que o negócio já estava concluído.
Neste entrementes a vida do adido namoradeiro começa a levantar sérias suspeitas, especialmente no dia em que a Tita e um outro cliente do Hotel de seu nome Amado Estriga, foram convidados pelo nosso protagonista a visitar um apartamento na Av. Columbano Bordalo Pinheiro, onde pontuava uma senhora desconhecida que vestia de cabedal negro da cabeça aos pés, maquilhagem a condizer e na mão uma trela com que segurava dois poderosos cães de raça doberman aquando da altura em que esta lhes franqueou a porta.
O quadro foi-me descrito como insólito, algo temeroso e sobretudo desconfortável, só descansando quando dali se puderam pirar.
Entretanto já circulavam algumas manigâncias do nosso Jorge, com uma ou outra mulher a meter a boca no trombone.

Estava na altura de sair de cena!
Não me recordo se saiu de fininho sem pagar a conta, mas estou em crer que nada ficou a dever.
Regressou fugazmente noutras alturas mas já sem a pose inicial. Pela minha parte tinha por ele a admiração que tenho pelos personagens que do “ Planeta Agostini” descem á terra, vestem uma ou várias peles e passeiam-se pela vida, ostentando a personagem encarnada que por sua vez cilindra umas quantas inesperadas vidas, que afinal não passam de danos colaterais deste turbilhão que a determinada altura já só pede que o parem, pois por si só, já o não consegue fazer.

Uma noite Jorge telefonou-me a marcar um quarto, posteriormente voltou a telefonar e a desmarcar. Por portas e travessas, ou mesmo coincidência, soube que estava hospedado no Hotel Jorge V.
Nessa mesma noite fui abordado por dois inspectores da judiciária que o procuravam.
Embora sabendo onde este se encontrava, disse-lhes que de facto tinha tido uma reserva para aquele dia, mas que entretanto havia cancelado, omitindo deliberadamente a preciosa informação que possuía.
Passados dois dias sou confrontado com a notícia de 1ª página com a prisão do foragido “Capitão Roby” nesta unidade hoteleira.

Tinha nascido o mito que haveria de perdurar por mais de uma década, cujas façanhas foram descritas em livros e seriados de TV, mas que não têm o sabor e o élan de com ele ter compartilhado a vertigem dos abismos que este protagonizou.

Escrito por pulanito @ setembro 29, 2007   21 comentários

quinta-feira, setembro 27, 2007

Fernando Cruz - O Chupa

Quando nos cruzámos nos corredores da vida, teria eu, não mais de sete anos. O acentuado sotaque alentejano era motivo de chacota entre a maralha da mesma igualha que desaguava em Lisboa proveniente de outras interioridades portuguesas, mas que este novo amigo respeitava e tanto quanto me lembro até gostava.

Por causa de um jogo de berlinde desentendemo-nos e guerreámos. Lembro-me dessa luta motivada numa unha desmesuradamente crescida do dedo mindinho, que fazia com que o seu palmo se agigantasse, e assim, conseguisse atirar aos “bilas“ de uma distância que me parecia mais do que injusta, especialmente no jogo das três covinhas.
Numa dessas recusas em entregar uma “cebola” que valia nada mais nada menos que 10 “bilas“ de plástico, enrolámo-nos numa briga sem tréguas, que ainda recordamos aquando dos nossos ocasionais encontros.

Desse quase mortal combate, nasceu uma sólida amizade que perdura há mais de quarenta anos e apesar de passarem anos sem nos vermos, reatamos sempre a conversa onde a havíamos deixado, sem darmos conta de que por vezes, o tempo corre muito mais depressa do que aquilo que pensamos e se há pouco falávamos de dez ou vinte anos atrás, agora, falamos d
e quatro respeitáveis e assustadoras épocas, o que muda invariavelmente o teor das nossas trocas emotivas.
Fernando Manuel Cardoso da Cruz. Para mim o “ Chupa”.

A alcunha com que o rotulei, assentava-lhe como uma luva, já que os seus traços fisionómicos denunciavam duas enormes covas no rosto que lhe conferiam um ar assim a dar para o cadavérico.

Tínhamos o nosso quartel general montado no quintal do Mestre Cruz seu pai, num amplo espaço subterrâneo por nós sorrateiramente escavado, onde penetrávamos por uma entrada secreta disfarçada dentro da casota das ferramentas e onde guardávamos o nosso espólio, de que fazia parte entre outros mútuos pertences, a colecção de bonecos da bola, a que só faltava o “ número da bola” Espírito Santo, jogador do Braga, para ganharmos a tão
almejada bola de “catchú”, caso conseguíssemos completar a colecção, o que veio a acontecer, quando recrutámos temporariamente o Luís, filho do taberneiro, onde adquiríamos os ditos bonecos da bola, que se encarregou de convencer o pai a arrebatar as últimas dezenas de rebuçados e por consequência “ o número da bola”.

Major Alvega e Kit Carson- dois dos nossos heróis

Os livros do Kit Carson e do Major Alvega eram guardados e lidos religiosamente à luz da vela no nosso “ bunker” a que também passou a ter acesso o Luís, que para além da bola de couro, também trouxe a sua colecção de “ bilas” onde pontuavam as cebolas, “meias luas”, “olhos de boi”, “mapas mundo” e o tão almejado “abafador”, admirável peça, que permitia a quem a possuísse, “ abafar” todos os berlindes que estivessem no terreno de jogo.

Uma mão cheia de "bilas" - O equivalente a um poder infinito

Com a nossa nova bola de “ catchú” decidimos fazer um clube de futebol.
De modo a arranjarmos dinheiro para equipamentos, decidimos montar um circo com restos de cenários da televisão, (RTP) que um nosso amigo desviava de casa e que emprestou ao espaço do espectáculo um aspecto impressionante e de que justamente nos orgulhávamos.
Eu fazia de apresentador e tinha um número de palhaço. O Chupa fazia uns contorcionismos estranhos que resultava num dos momentos mais aplaudidos. O Luís e duas meninas entretanto aderentes à trupe de saltimbancos que passámos a ser, faziam o que podiam, mas pelo riso da assistência, deviam de o fazer bem.
O Circo demorou algumas apresentações e com o dinheiro das entradas e peditório, em vez do clube de futebol, gastámo-lo em vinho tinto com gasosa – especialidade aparecida por aqueles tempos – e bolachas baunilha, que devorámos avidamente no nosso refúgio secreto e que resultou numa enorme bebedeira colectiva de que vos poupo os detalhes.
Entre experiências, peripécias e aventuras, gastámos toda uma juventude, só nos afastando do caminho que juntos trilhávamos, aquando do surgimento desse animal curvilíneo chamado mulher, que muda o rumo dos acontecimentos, sem nós darmos por isso.
Já não vejo o Chupa há uns bons cinco anos. Quando for a Lisboa vamos jantar os dois e continuar aquela conversa que deixámos a meio, onde ele afirmava o seu desejo partir e correr mundo, mas o mais longe que lhe ouvi dizer que tinha ido, foi a Madrid e pelo empenho que pôs no relato, mais parecia ter ido à “tongadamirongadocaboleté”, que é assim o sitio mais longínquo para os brasileiros, uma espécie de “cu de judas” para nós.

Publicado no Jornal O Campo

Escrito por pulanito @ setembro 27, 2007   5 comentários

domingo, setembro 23, 2007

Mariana da Estação - A Nossa Calamity Jane


É do conhecimento geral a minha preferência por tabernas antigas, que se tiverem rifas de facas e venderem botas, sou para elas aliciado como o mel atrai as moscas.
No caso presente, trata-se de uma promessa que fiz aos meus leitores, quando há tempos passei de bicicleta por Ourique Gare e me deparei com um dos meus “antros” favoritos: uma taberna absolutamente decadente e que ainda por cima tinha como proprietária essa lenda da planície que dá pelo nome de Marianita da Estação.
Aquando dessa passagem prometi ali voltar com mais tempo; foi o que aconteceu no passado sábado já assim ao lusco-fusco.
Saí de Entradas em direcção a Aljustrel, depois Messejana, logo ali Conceição, e um pouco mais à frente onde se cruzam as linhas férreas que demandam estas e outras paragens, podia-se ler a placa toponímica, Ourique Gare. Bolas, podiam ter chamado à povoação Estação de Ourique, assim não estariam sujeitos à cacofonia brejeira que a junção dos nomes insinua.
Ali mesmo junto à estação ferroviária podemos encontrar este templo que dá pelo nome de “Café Primavera“ que como veremos mais à frente de café só tem mesmo uma máquina e um moinho que não vi funcionar, e acredito que se tal acontecer deve ser de tempos a tempos, pelo menos a avaliar pela qualidade e inspiração de confiança que tal equipamento promete.
Aí entrados somos confrontados com um cenário absolutamente indescritível, mas com a ajuda das palavras e de algumas fotos procurarei transmitir o espectáculo com que sou presenteado.
Este é um local que não “existe”. Duas das paredes estão pintadas com actividades alusivas à protagonista que não se encontrava presente aquando da nossa chegada. Numa das paredes uma cena de caça, e noutra, uma cena campestre de dimensões assinaláveis cujo pintor deve ter estudado na mesma escola dos pintores de restaurantes de “retornados” mas desta feita, em vez de Africa, o cenário é o Alentejo.

O escaparate desta magnifica taberna - o Monge do " bacamarte" ao lado da rifa das facas.


Decoração de parede (sic)!!

Nas restantes paredes, dezenas de miniaturas de alfaias e outras
ferramentas e artefactos, misturam-se com inevitáveis pares de cornos e cabaças secas de formas fálicas que são óptimos desbloqueadores de conversa para qualquer visitante inesperado.
No escaparate do estabelecimento, podemos admirar bebidas fora de prazo, rifas de facas, o sempre presente monge em estabelecimentos deste gabarito, cujo “bacamarte” surge quando lhe puxamos o cordel, e de entre outras coisas interessantes, 3 garrafas do pirolito original, que de imediato me transportaram para a minha meninice.

Quem se lembra do pirolito?

Atrás do balcão pintado de vermelho e branco, está o exemplo de um profissional condizente com o panorama que me é dado presenciar. Fiquei a saber tratar-se do neto da protagonista desta nossa incursão. Sérgio Miguel de seu nome, é o exemplo de taberneiro sacado de

Sérgio Miguel o taberneiro com o meu pai, meu companheiro destas incursões.


um qualquer filme de época. Barba de várias semanas e cabelo de vários meses emprestam-lhe um ar condizente com o cenário deste templo de que (vá-se lá saber porquê) sou um incorrigível viciado.
Dona Mariana não estava, tinha ido dar de comer aos borregos, mas que regressaria daí a instantes – segundo palavras de outros convivas que se preparavam para deitar abaixo uma travessa de camarão trazida por um dos parceiros de petisco.
Mal esta chegou, meteu de imediato conversa afirmando lembrar-se de mim, aquando da minha anterior passagem de bicicleta.
Como com esta mulher a conversa não tem que ser tirada a saca rolhas, conta-nos a sua história sem que a tenhamos que questionar.
-Chamo-me Mariana Maria e não tenho mais nenhum nome, nasci a 11 de Abril (mesmo dia que eu) de 1932, e sou uma de 12 filhos nascidos da barriga da minha mãe no Monte do Atravessado (mas não nasci de atravessado, diz zombando, sabendo que o nome do monte se permite a estes trocadilhos) perto do Encalho ali a 3 Km de Ourique.
Aí vivi e cresci até aos 17 anos, altura em que conheci o pai das minhas 3 filhas, mas aos 25 já estava sozinha, afirma.
Trabalhei sempre em estações de caminho de ferro. Vila Nova da Baronia, Torrão, Feijó, Algarve, Beja e por fim no Carregueiro, antes de vir para aqui em 1982.
Mariana da Estação, como é conhecida, é uma personagem sui generis. Sempre vestida de forma masculina, cuja calça e camisa de homem, bem como a inseparável boina fazem parte da peculiar indumentária.

Mariana da Estação mostrando a sua carta de caçador.

No seu estabelecimento ainda hoje desafia qualquer um para cantar ao baldão, despique ou a vozes. Eximia caçadora e faz alarde em nos mostrar os documentos comprovativos desta sua actividade, que infelizmente nos diz já não praticar vai para três anos.
No bilhete de identidade que nos mostrou, um facto curioso ressalta: a ausência de nome materno, ou seja; é filha mas (segundo os registos), não tem mãe, é unicamente descendente de Eusébio Manuel, nome do seu progenitor.

À conversa com a nossa Calamity Jane

De entre muitos episódios e aventuras, registamos aquele acidente que teve com o seu compadre Chico Brissos de Entradas, onde ficou muito maltratada tendo permanecido 3 meses e 3 semanas hospitalizada em Lisboa. A amizade manteve-se e Chico Brissos convidou-a para “padrinho” sim padrinho, afirma com orgulho – ponha aí que eu sou padrinho e não madrinha daSusana, filha mais nova deste companheiro de muitas caçadas.
Mariana conta agora 75 anos, a nossa Calamity Jane das pradarias alentejanas, ainda nos confidencia que deixou de fumar há dez anos, que agora bebe menos mas o seu copinho ninguém lho tira.
Decadência não é sinónimo de higiene, e é por isso que muita gente ao referir-se a este espaço o fazem sempre com algum desdenhoso carinho, conforme atestam as histórias e anedotas(umas verdadeiras, outras inventadas) acerca desta peculiar mulher que hoje aqui vos trouxe na primeira pessoa.
Uma das mais conhecidas, é a de um cliente que lhe pede uma bifana. Mariana esfrega as mãos, cospe em cada uma delas e diz – Vamos à puta! (como que a dizer: é para já!)
Entretanto lá de dentro ouve-se Mariana gritar - Raio do cão não perde a mania de lamber o prato da manteiga!

Já de saída perguntei se aquela era a única taberna da aldeia, respondeu-me que havia mais, mas que café com licença até às 2.00 horas só o dela (sic!).

PS: Não quis aqui ferir quaisquer susceptibilidades, gosto genuinamente deste tipo de locais, cultivo-os, venero-os e não os troco por nenhum mega centro comercial com cheiro a perfume, miúdas giras e horários de limpeza afixados nas portas das casas de banho.
Espero sinceramente que os novos mentores da ordem (ASAE) nunca passem pela Estação de Ourique.

Escrito por pulanito @ setembro 23, 2007   19 comentários

quarta-feira, setembro 19, 2007

Adiafa do Pátio Árabe


Joaquim, Pardal, Billy, Páscoa ( participou mentalmente)e Soares



A palavra adiafa entrou no léxico do dia a dia e em todo o Portugal, por via desse fantástico grupo de música tradicional que com a moda “As Meninas da Ribeira do Sado” pôs Portugal a cantar de lés a lés, tendo passado cá por Entradas ainda quando só eram um êxito local, numa altura em que as festas de Entradas tinham outras características, mas isso são contas doutro rosário!
A adiafa era uma festa que celebrava o final dos trabalhos sazonais agrícolas: a monda, a ceifa, a apanha da azeitona, a vindima, a tiragem da cortiça, etc.
Como estas actividades são agora perpetradas por máquinas e um ou outro rosto humano, torna-se difícil compartilhar um cucharro de vinho com uma ceifeira debulhadora, ou com uma apanhadora automática de azeitona, mas se falarmos de repartir o conduto com uma avioneta mondadeira, aí é que a porca torce o rabo.
Isto tudo para dizer que hoje em dia, as adiafas que existem resumem-se a celebrações de alguma placa de betão em que os amigos à força de balde ajudam a preencher, ou como no caso da que vos falo hoje, à conclusão de um trabalho que todos os intervenientes ficaram orgulhosos de nele participar.
A adiafa estava prometida para logo que o pátio árabe estivesse concluído, era para ser lá nesse mesmo pátio, mas (por razões logísticas) não pôde ser fizemo-la no Restaurante O Celeiro em Entradas, outro dos magníficos sítios para comer na minha plana pátria.
Ficou combinado que logo que possível repetirmos a função mas no local agora transformado pelas hábeis mãos de quem nela participou.
Lá estava o inevitável Pardal, o nosso inevitável carpinteiro(em dia de nervo vermelho), o Soares, o homem que há mais de um ano compartilha e mastiga comigo este sonho agora tornado realidade e que se encarregou da obra, o Billy – homem de sete ofícios que empregou o que de melhor sabe para que a obra ficasse um brinco, com especial relevo para o trabalho de paciência de rejuntar tanta pedra, o Joaquim, mestre pedreiro que passou noites sem dormir à procura da solução para aquela chaminé “Gaudiana”.
Do núcleo da pedra, pau e cimento, faltou o Nelson, servente para toda a obra e que trabalhou que nem um mouro para que o pátio árabe ganhasse forma.
Faltou o meu amigo Raul Arco, desenhador da incrível chaminé. Por fim o meu grande obrigado à minha irmã, ao meu cunhado e á Maria Evangelina pelo empenho que puseram em imacular de branco o trabalho da trupe acima referida.



De referir ainda o trabalho de electricidade do Luis Soares, que confere um brilho especial ao ambiente nocturno criado.
Bem hajam!

Escrito por pulanito @ setembro 19, 2007   1 comentários

terça-feira, setembro 18, 2007

O tempo que o tempo tem!


O tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem.
O tempo respondeu ao tempo que não tem tempo
para dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.


Tempo é aquela medida que se começa a esgotar desde o dia em que nascemos e que durante toda a vida lutamos para dele dispor, mas quando a vida se esvai fica a sensação de que o tratámos de forma displicente.
Uma das coisas de que os alentejanos são acusados é de serem lentos, ou seja: de tratarem as coisas com o tempo que o tempo merece, e não passarem por este, como cão por vinha vindimada. Aqui o tempo ainda é tratado como um bem precioso a preservar e que se quer saboreado pausadamente. Diria mesmo, que deveria ser elevado a património da Alentejanidade.
Nunca a frase “nos tempos que correm” foi tão propriamente aplicada. Na verdade tudo se faz hoje a correr numa frenética ânsia de o fintar, de lhe ganhar a corrida, de o derrotar, embora saibamos ser esta uma tarefa impossível.
Ao rebobinar algumas das memórias “além tejanas” recordo um tempo em que para se fazer uma viagem por mais pequena que fosse, esta era sempre atempada e marcada com rituais de despedidas ou de chegadas, hoje vamos por exemplo a Lisboa e voltamos no mesmo dia, sem que na vila disso se apercebam, ou seja: Não lhe damos tempo!
Noutras latitudes temporais que bem recordo, vivia-se em acordo com a natureza. O melão e o tomate e demais legumes e frutos vinham na sua época, portanto, no seu tempo; eram degustados com a avidez de quem tinha saudades desses sabores há muito aguardados e era sempre uma festa a comparação de tamanhos e paladares das espécies por uns e outros cultivados, sendo que os nossos eram sempre os melhores!
Agora temos de tudo a toda a hora e em todo o lugar, que sendo um beneficio inquestionável, é também um significativo prejuízo para a magia das coisas. Pessoalmente não tenho necessidade de comer tomate ou melão o ano inteiro, e no ordenamento cósmico do universo, nem sequer sei se tal não será contraproducente, pelo menos uma coisa eu sei; perderam-se as expectativas temporais de quem sabe que algo de bom está para chegar.
Tomando-me a mim como cobaia, sei que sou um muito mau exemplo, tão mau que um meu conterrâneo recém-falecido de alcunha “Janito das Fezes” quando soube que assim o chamara, o que detestava de sobremaneira, tratou logo de me baptizar com uma alcunha que tem a ver com o tema deste post; passou a chamar-me o “Pára Pouco”, coisa que ao contrário dele, não me apoquentava de todo, mas é sintomático que só me chamou assim porque o meu comportamento indiciava que era uma pessoa que usufruía do tempo como o tal canito em vinha vindimada.
Ainda não estou curado, mas juro que me estou a tentar tratar, e a alcunha com que o “ Sr. João dos Cuidados” me baptizou foi um excelente sinal de alarme.
Escrevo ás 8.30 horas da manhã, altura em que posso desfrutar de um tempo sem azáfama, em que só se ouve o ruído dos dedos percorrendo o teclado, debitando palavras ao ritmo dum tempo que terminará logo o telefone toque pela primeira vez, o que malogradamente acabou de acontecer.

Escrito por pulanito @ setembro 18, 2007   1 comentários

segunda-feira, setembro 17, 2007

Queca á la Super Bock



Só para descomprimir!

Um tipo levou a namorada para uma praia deserta.Desaperta-lhe o top do biquini e ela começa a refilar porque ali não dava jeito, que havia muita areia, que ainda se arranhavam e ia entrar areia por todo o lado, etc!O rapaz disse então:- Calma Não há nada que não se resolva!!! E foi ao carro buscar uma grande toalha da Super Bock, que estendeu. A namorada deitou-se em cima da toalha. Ao puxar-lhe a cueca do biquini, uma rajada de vento levantou a ponta da toalha e ela reage novamente, dizendo que lá se iam encher de areia, que a toalha voava, que se arranhavam, etc !? E ele:- Calma! Tudo se resolve.
Foi ao carro e trouxe 4 latas de Super Bock, colocando uma em cada canto da toalha, para esta não esvoaçar. Como ela estava sempre a implicar com tudo, teve a ideia de trazer também uma venda do carro e pôr-lha à volta dos olhos. Continuaram. Já a rapariga estava nua, quando perguntou:
- Trouxeste preservativo? E o namorado:
- Aqui não tenho, vou buscar ao carro.
Enquanto foi ao carro, passou um gajo que andava a fazer "jogging". Ao deparar com a tipa nua e vendada deitadana toalha, primeiro aproxima-se, começa a mexer e, como ela não se nega, não hesita e "por aqui me sirvo": salta-lhe para cima!!! Está ele muito entretido a comer a menina e diz:
- Fxxx-se ! Com uma campanha destas, agora é que eles rebentam mesmo com os gajos da Sagres !

Escrito por pulanito @ setembro 17, 2007   3 comentários

quarta-feira, setembro 12, 2007

Sam The Kid -À Procura da Perfeita Repetição.

Para ouvir segue este link: http://www.mtvserver.com/exclusivo/samthekid.html


É claro que tenho o maior dos orgulhos nos meus 3 rebentos. Dois deles são vocacionados para as artes, vai daí o Samuel convidou a irmã mais nova, a Catarina, para cantar com ele esta extraordinária música do seu último álbum ( Pratica(mente), chamada de “À procura da Perfeita Repetição”.
Esta música fala do trabalho que dá criar um som desta natureza. Para aqueles que pensam que isto é “atar e pôr ao fumeiro” ouçam com a devida atenção, provavelmente mais que uma vez e ficarão a saber o que o Samuel também pensa em relação à própria legislação sobre a matéria de samplers.
A música foi gravada há quatro anos e o clip há talvez um ano e só agora viu a luz do dia.
Este meu filho faz música, como um enólogo faz vinho, deixa-a amadurecer em cascos de vinil, depois oferece-a a provar aos mais chegados, embrulha-a num clip de se lhe tirar o chapéu e passados 5 anos surge em forma de som e de imagem como se de uma verdadeira “reserva” se tratasse.
Prestem ainda atenção ao contrabaixo desse mestre chamado Carlos Bica e partam à desfilada na procura da vossa perfeita repetição, porque ouvir uma única vez não vai dar para que se apercebam da beleza deste tema. Deleitem-se.

Escrito por pulanito @ setembro 12, 2007   6 comentários

segunda-feira, setembro 10, 2007

Na festa do Avante após 25 anos de ausência




Velho comunista aguardando a palavra do secretário geral.

O meu visceral amigo Luís Pardal, de quem já aqui tenho postado algumas passagens, havia-me desafiado para ir á Festa do Avante. Dizia ele que gostaria de beber comigo uma imperial nessa gloriosa mostra comunista onde é indefectível voluntário, tendo nesta edição oferecido dez dias do seu trabalho para ajudar a pôr de pé aquela que para ele é a maior festa do mundo.
Como o meu filho Samuel (Sam The Kid) era uma das atracções do cartaz, juntei a fome com a vontade de comer e lá fui à festa mais vermelha (tirando as noites europeias do Benfica!!) que existe em Portugal.
Confesso. Já não ia á festa do Avante há mais de 25 anos, aliás nunca tinha posto os pés na Quinta da Atalaia, mas lembro-me perfeitamente da festa da FIL (penso que foi só uma) e das outras na Ajuda e em Loures, onde quando morava em Lisboa marcava anualmente presença.
Aí chegados, reparo que o meu amigo Pardal está no seu paraíso e fala daquele local com tão cego entusiasmo, que só lhe posso gabar a crença.
Faz questão em ser meu cicerone e em contar-me pormenorizadamente a história da aquisição do espaço que, segundo suas palavras, foi obra do actual Ministro das Obras Públicas – Mário Lino, ao tempo um fervoroso comunista, entretanto convertido ao capitalismo – na perspectiva do amigo Pardal.
Vimos o país num ápice, ali Aveiro, mais acima Viseu e Vila Real, no Algarve comia-se marisco, o do pavilhão do Porto enchia o olho de quem passava na rotunda do ponto de encontro, mas a menina dos olhos do Pardal era o pavilhão do Alentejo, local onde empregou a força do seu trabalho, a par de outros camaradas seus, durante dez dias em que ia e vinha de Entradas (150Km).
Fomos ainda à parte internacional que na visita de médico que lhe fizemos, pareceu-me ser a mais pobrezita.
Como me sabe interessado nas artes, e ainda antes de vermos o Samuel fomos ver a Bienal de Artes aí presente, onde de facto são apresentados trabalhos que encaixavam na perfeição com o meu gosto artístico.

Concerto de Sam The Kid na festa do Avante 2007

Daí fomos para o meio da maralha, já que o concerto estava a começar. Eu queria ir lá para a frente para sentir a vibração das palavras que conheço de cor e experimentar a sensação única de que é sentirmos sangue do nosso sangue a brilhar ao mais alto nível e ainda por cima num palco com a responsabilidade desta natureza, enquanto que o meu compincha queria que eu fosse lá para trás para poder apreciar e sentir a pujança daquela moldura humana. Nada de choques; vimos um pedaço no meio e o resto mais atrás.
O Samuel e o resto da banda também sentiram que estavam na presença duma plateia especial e entregaram-se de corpo e alma aquela gente que sabia na ponta da língua a maioria das músicas que foram cantadas.

Aspecto da moldura humana pela hora do comicio - um mar de gente


Deu para apreciar que o PCP ainda consegue mobilizar muita gente, embora pessoalmente discorde daquela cinzenta nomenclatura, tenho que tirar o chapéu à capacidade organizativa deste partido político.
O meu amigo é que estava nas sete quintas. As centenas de esvoaçantes bandeiras vermelhas, mais o rufo das centenas de tambores da malta do Tocá’rufar e ainda as tradicionais palavras de ordem que a malta da JCP fazia ecoar através dos seus megafones iam criando ambiente e expectativa para o comício que pelo fim da tarde havia de chegar.
Ouvimos o discurso (mais do mesmo) pelo sistema de som da festa à medida que nos íamos afastando do espaço nobre da festa.
Foi um Domingo diferente, com alguma nostalgia de outros tempos, mas com a certeza que o momento que vivo já não se compadece com simbolismos desbotados.

Escrito por pulanito @ setembro 10, 2007   6 comentários

terça-feira, setembro 04, 2007

Água Santa da Herdade - Um SPA à Alentejana!

Esta é uma parte da “pátria” alentejana que nesta altura do ano tem tanto de bela como de deprimente. É o tempo em que os campos se apresentam numa nudez quase desértica e, se trocássemos as minis por chá e os chapéus por turbantes, bem poderíamos estar num qualquer recanto berbere.
Hoje quero-vos levar numa viagem à profundeza da terra transtagana, a um sítio onde o tempo continua imutável. Hoje como há dezenas de anos tudo continua igual; aqui não há electricidade, nem água canalizada, nem estradas alcatroadas, aqui, o único sinal de que estamos no século presente, é-nos trazido pelo ruído sincopado de um pequeno gerador. Mas comecemos pelo princípio, para isso peço-vos que venham daí comigo.
Saindo de Castro Verde em direcção a Mértola, depois de passada a pequena povoação da Galeguinha, um pouco mais à frente encontramos placas que nos indicam a direcção de Rolão e Viseus. Percorridos alguns quilómetros havemos de fazer agulha para a Figueirinha, que nos há-de conduzir a Tacões, depois Penilhos e um pouco mais à frente Martinhanes, onde á entrada da pequena povoação e antes do “ Café Grilo” existe uma placa indicadora de que devemos aqui voltar para “ Água Santa da Herdade” um SPA à Alentejana perdido na imensidão da planície, logo que tenhamos percorrido os quatro quilómetros de terra batida que separam esta aldeia daquilo que considero ser um dos últimos paraísos por aqui existentes.



A caminho da água santa - Um deserto a lembrar outras paragens!

Percorrida esta distância deparamo-nos com o leito seco da Ribeira de Oeiras, onde quando tal acontece surge uma fonte de águas sulforosas, razão pela qual múltiplas gerações de alentejanos e não só, se têm aqui deslocado ao longo de várias décadas à procura de melhoras ou até de cura para as maleitas que os apoquentam.
Reumático e doenças de ossos são aqui tratados em banhos diários da milagrosa água que quando bebida também (apesar do cheiro intenso a ovos podres) proporciona excelentes resultados a quem sofre de doenças do foro intestinal.
Panorâmica do SPA da Água Santa da Herdade

Aqui chegados somos confrontados com um cenário absolutamente medieval. Dum lado e doutro da ribeira erguem-se casas tipicamente alentejanas que servem de alojamento a pacientes banhistas e seus acompanhantes. No leito da ribeira é todos os anos construída uma cabana que forrada de troncos e buinhos serve de centro de convívio, onde entre minis e degustações da água bendita se confraterniza conversando, comendo ou jogando ao burro, cartas ou damas.

A cabana - Centro de Convivío - construída no leito da ribeira.

Para aqui vir e alugar uma destas casas que custa o “disparate” de 3€ por dia, é necessário vir com outra casa atrás. Das vezes que cá vim trazer familiares também tive de trazer as camas, fogão, cadeiras (mesa existe), loiças, talheres, detergentes, roupa de cama e cozinha e respectivos viveres e pasme-se: galinhas, patos e coelhos vivos (forma única de garantir alimentos frescos).
Nas casas nuas existe em cada quarto uma mesa e uma banheira pintada de azul índigo que lhe confere um aspecto assaz interessante. É nestas banheiras que reside muita da
esperança daqueles que procuram estas inóspitas paragens.
O tratamento normal é entre sete e nove banhos, segundo nos confidencia João Domingos (“técnico termal” entre Junho e Setembro, apanhador de fruta até finais de Outubro e tosquiador de ovelhas na Primavera, de entre outros misters que exerce consoante o tempo e as necessidades).




Aspecto das casas e equipamento de aquecimento de àguas - acima - a fonte com balde e tarro para se beber a água milagrosa.

A água é aquecida a fogo de lenha (como nos tempo dos seus antepassados) em bidons de 200 litros, depois carregada a balde escarpa acima até ás banheiras de cada quarto.
-Os termalistas não devem ficar em cada banho mais de 30 minutos para que beneficiem das propriedades destas águas – diz-nos João Domingos, que cobra €6 por cada um destes banhos milagreiros.
Pelo meio do “rebanho” de minis que emborcámos acompanhadas de excelente presunto da sua lavra, lá nos foi dizendo que os banhos começam a 24 de Junho ( chamado de banho de S. João que segundo a lenda valia logo pelos nove), também nos disse que no tempo de seu pai, ou do seu avô, juntavam-se ali dezenas de famílias; tantas, que num ido 7 de Agosto, para além das casas existentes, estavam erguidas nas margens da ribeira 22 barracas que albergavam outras tantas famílias; nisto veio de lá uma inesperada cheia, que embora não tento provocado vítimas, levou 20 dessas barracas ribeira abaixo. Dá para imaginar o dilúvio que se terá por aqui abatido. Estando no local podemos pressentir o pânico sentido nesse fatídico 7 de Agosto de um ano que ninguém me soube dizer qual.

A fabulosa banheira azul índigo - acima - João Domingos. Hoje como sempre enchendo a banheira a balde.

Maria Francisca, de Castro Verde, banhista de final de época disse-nos ir à Água Santa da Herdade há mais de 20 anos, tendo conhecido toda a geração dos “ Domingos” afirma que estes banhos são um bálsamo para a sua saúde, mas cujos efeitos se fazem estender no tempo, passando melhores invernias, altura em que os reumáticos mais a atacam.

Petiscando na cabana . Alexandre Mira e Manel das Couves após o banho.

O tempo foi voando e o sol desaparecendo atrás do outeiro. Era tempo de abalar, não sem antes o João Domingos nos deixar com água na boca confidenciando-nos que as noites de Verão ali eram também excelentes para saúde, já que nesse noctívago turno se apreciava o canto da natureza, e bastas vezes também o do homem, muitas delas acompanhado de um bela caldeirada de rãs que por aqui se ouvem coachar às centenas.
Pelo caminho de regresso e enquanto a estrada não ganhava o negro da civilização, perdizes e lebres corriam à frente do carro como que a desafiar o destino em manobras de arrepiar.
Com a alma prenhe de Alentejo regressei a casa com vontade de convosco compartilhar este dia de cortar a respiração.

Crónica a publicar no Correio Alentejo de 8 de Setembro de 2007

Escrito por pulanito @ setembro 04, 2007   15 comentários

segunda-feira, setembro 03, 2007

O Pátio Àrabe de Mestre Joaquim Martins



Quem me conhece sabe que sou assim um bocado para o obstinado, o que quer dizer que quando me proponho a uma tarefa dificilmente a largo, mas depois de pronta deixa de ter a importância que inicialmente lhe atribuía. Talvez a minha ascendência astrológica carneiral explique este feitio execrável, mas é assim; tenho que viver com ele.
Há mais de uma dezena de anos visitei pela primeira vez as ruínas de S. Cucufate em Vila de Frades, próximo da Vidigueira. Andei por lá um par de horas sozinho a absorver as vidas que por ali passaram, procurando em cada recanto um canal que mentalmente me transportasse no tempo e me fizesse sentir o palpitar dessas antiquíssimas vivências.



O pátio àrabe - quase acabado

Tenho no quintal um limoeiro
Junto ao canteiro da hortelã
Ele dá limõeso ano inteiro
Eu em troca rego-o todas as manhãs

Fiquei de imediato atraído pela beleza plástica das enormes paredes feitas em pedra faceada, sendo esta de metro a metro entrecortada por uma ou várias fileiras de tijolo burro, que ainda apresentam um estado de conservação bastante aceitável.
Um dia hei-de ter uma destas paredes – dei comigo a pensar – inicialmente tinha-a programado para uma adega que me baila na cabeça há alguns anos, mas a oportunidade de construir um pátio de inspiração árabe no meu quintal surgiu e a parede foi lá parar.
Aproveitando a construção da parede, pedi ao meu amigo de sempre, Raul Arco que me desenhasse um grelhador inspirado noutro que ambos viramos em Chef Chauen – no Rif Marroquino, mais um chão de tijoleira feita manualmente em Beringel e ainda um telhado novo em caniço no quarto e alpendre do quintal e a obra ganhava contornos de rara beleza, pelo menos para o meu gosto.

.É muito Gaudi esta chaminé...só falta pintar de branco imaculado

E uma semana depois já de branco vestida - dá para imaginar a altura pelo tamanho do pintor.

Existem vários “culpados” para que o resultado tenha sido o que agora brilha no meu quintal em Entradas, entretanto transformado em pátio árabe onde não falta o inevitável limoeiro.
Sem querer deslustrar a entrega de quem lá trabalhou, não posso deixar de realçar o entusiasmo de Mestre Joaquim Martins, que desde a primeira hora abraçou este pequeno projecto como se de um filho seu se tratasse.


Mestre Joaquim - Um artista surpreendente

Ainda outra perspectiva do trabalho de Mestre Joaquim Martins - Fabulástico!!

Este Entradense “fundamentalista” é um jovem artífice (35 anos) que se nota estar de bem com a vida que abraçou, já que tendo experimentado outras, foi aqui em Entradas que se veio a redescobrir. Andou lá pelas Suíças a tentar amealhar algum, mas o apelo da torre sineira da igreja matriz de Entradas é uma visão que persegue qualquer Entradense quando daqui é forçado a partir.
Joaquim é um jovem pedreiro á moda antiga, gosta de deixar a sua marca naquilo que faz, e o que faz, fá-lo com tal empenho e dedicação que no resultado final nota-se a olho nu a abnegação com que maneja, prumo, régua e esquadro.
Nas horas vagas, e de meias com o seu amigo “Páscoa” é apicultor, o resultado da produção, traduzido em mel e água mel é vendido nas Noites de Santiago e a cada ano que passa os produtos que extraem dos favos são cada vez mais variados e apetitosos. Para além disso ainda gosta de coleccionar velharias que vai acareando de monte em monte e que guarda religiosamente.
Antes da obra terminar, perguntou-me o que é que eu gostaria de ter feito por ele em madeira de azinho, (outro dos materiais em que gosta de trabalhar) sugeri-lhe um banco para me sentar à roda do lume nas longas noites de Inverno que por aí se aproximam.
É desta cepa, de gente como o Joaquim, que vou ocasionalmente descobrindo e assim acrescentando mais um motivo de orgulho de pertença a esta terra e a estas gentes.

Escrito por pulanito @ setembro 03, 2007   8 comentários

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