Cecilio Lera - Um terramoto de Afabilidade.
Nos finais de Agosto, estive pela segunda vez em representação da Cortiçol num dos Castro Verdes referentes a essa geminação, no caso presente: Castroverde de Campos. Em 2011 estivera, tal como agora, com os restantes membros da direção desta cooperativa de informação e cultura, bem como com uma representação da edilidade luso-castrense liderada pelo seu presidente noutro dos Castroverdes de Espanha, o de Lugo.
Tanto nesse, como no encontro da pretérita semana, fomos muito bem acolhidos pelos orgulhosos Castrenses dessas terras mais a norte da península. Os galegos de Castroverde de Lugo, receberam-nos como se de toda a vida nos conhecessem. Mas isso foi no ano passado.
Don Cecilio Lera - Uma personagem apaixonante
Hoje quero falar da nossa mais recente visita e sobretudo desse terramoto de afabilidade que dá pelo nome de Cecilio Lera. Don Cecilio, para além de alcaide deste pequeno concelho implantado em terras de Castilla y Léon, é também, um cozinheiro de afamada reputação, sendo a sua casa Méson del Labrador, local de culto gastronómico por onde passam gradas figuras da sociedade local, nacional e internacional.
Mal lhe apertei a mão e assim que me vincou o olhar no fundo da alma, senti estar na presença de um ser invulgar, daqueles que nos apetece descobrir. Notei-lhe de imediato a sua capacidade de liderança; a sua impaciência para as coisas mesquinhas; a sua sede de brilhar!
Logo que aí chegados ficamos com a certeza que em Castroverde de Campos quem mandava era este homem com ar meio louco, meio artista, que nos conquistou desde o primeiro minuto em que atravessámos as portas del Labrador; lugar onde as alquimias culinárias da sua lavra têm lugar assegurado. Aí, nas paredes cobertas de fotos suas acompanhado de políticos, artistas, toureiros e demais gente importante da sociedade espanhola; gente que demanda este recôndito lugar, unicamente com o fito de se deleitar com o dedo gastronómico e o paleio amistoso daquele que sabe como ninguém receber, velhos e novos amigos.
Don Cecilio explicando a qualidade dos seus vinhos
“Ahora vamos a my bodega tomar unos vinos. Que os parece?” — sugeriu de imediato o nosso anfitrião antes de nos acompanhar à pousada de que é proprietário e onde ficaríamos instalados. Este estabelecimento de elevada qualificação hoteleira e de gosto requintado chamado de Senda los Frailes foi recentemente inaugurado. Aqui, ressalta a qualidade e o olho estético deste castrense que cedo partiu da sua terra, mas a ela regressou logo que o pecúlio amealhado o justificou e o chamamento da planície o exigiu.
A Pousada Senda los Frailes
Castroverde de Campos é uma terra que me faz lembrar a minha. Se exceptuarmos a traça arquitectónica, tudo o resto é Alentejo. As grandes aves da planície (abetardas) têm curiosamente aqui o seu habitat natural, tal qual no meu quinhão natal. Os rebanhos de ovelhas são também um elemento natural da paisagem. A terra é plana, seca e pobre que nem a nossa. A taipa é também o material disponível para a construção de entre outras coincidências que decerto não caberiam aqui nesta pequena crónica.
Don Cecilio não tem uma, mas sim duas adegas nesta sua pousada. Fomos ver primeiro a mais pequena, local onde “abrimos as hostilidades” com um copo de um vinho tinto jovem, irreverente como o seu criador. Depois de copo na mão (por sua recomendação!) dirigimo-nos a outra cave. Esta mais profunda e mais ampla e com várias salas escavadas na rocha mole daquela região.
Três fotos (retiradas do seu site) ilustrativas daquilo de que vos falo
Os burros. Uma paixão do nosso anfitrião.
Méson del Labrador - mais 2 fotos surripiadas ao seu site.
Quando a hora de jantar chegou, fizemo-lo numa sala recatada do seu méson. Aí, Don Cecilio pôde brilhar a grande altura, já que o menu que nos deu a degustar era de criar água na boca. Tanta, que a determinada altura me lembrei da famosa anedota daquele rapaz que à mesa de repente desatou a chorar compulsivamente. À pergunta sobre a razão que o levou a tão lastimável estado de alma, o rapaz respondeu: “É que já não consigo comer mais e ainda tanta coisa boa para mastigar!"
Quase me senti assim!
Don Cecilio ao meu lado, deliciava-nos com detalhes da sua vida. Cedo partira para a Suíça onde estudou na melhor escola de hotelaria de Lausanne. De regresso à sua terra, abriu em 1973 este espaço gastronómico que desde então não deixou de granjear fama e proveito. Refere a cada passo que a mulher Minica e o filho Luis são os outros vértices desse triângulo de sucesso que tem levado o nome de Castroverde de Campos muito para lá das suas fronteiras naturais.
É com orgulho que nos confidencia ser Gerard Depardieu (o famoso ator francês) seu sócio na vinha onde produz o tal tinto Senda los Frailes. Fala-nos com entusiasmo da sua coutada de 1500 hectares onde não entram espingardas. Aí, só se caça com galgos e falcões. Refere o labor político em prol da terra que ama. Fala-nos da recuperação da igreja matriz e do trabalho que lhe deu vê-la restaurada, até porque foi uma longa batalha que diz ter travado desde 1987.
É claro que nesta viagem encontrámos outros amigos que mereceriam referencia neste já longo cronicar, mas propositadamente quis dar relevo a esta figura que tem nos suspensórios vermelhos e na sua cabeleira de maestro a sua imagem de marca.
Pela minha parte foi um enorme prazer conhecer tão grata figura, esperando na próxima primavera retribuir a hospitalidade com que nos brindou, e que, através deste escrito, passa à galeria dos inolvidáveis com quem me tenho cruzado ao longo da vida.
1 Comments:
Se o jeito para a escrita me tivesse bafejado eu teria escrito uma crónica tal como esta! Resta-me dizer e com tua licença faço minhas estas linhas! Três dias de agradável convívio como há muito não passava foi mesmo bom passar por Castroverde de Campos. Gente Gira e o nosso Alcaide não há muita gente assim .
Abraço
C. Vitoriano
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