Dia 2- Ó Mar Salgado.....
À saída da Carrasqueira sacámos esta foto em que parece estarmos dentro de água..pura ilusão é apenas a máquina em disparo automático em cima do tejadilho de um carro.
Estou na Ilha do Pessegueiro. Tenho a famosa ilhota imortalizada por Carlos T e Rui Veloso à minha frente, o restante, é só e apenas o azul do mar; um mar imenso e um azul intenso que hoje não nos largou ao longo desta jornada pedalante.
Apetece-me dizer: Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal, e nestes mais que conhecidos versos de Fernando Pessoa, homenagear o dia de hoje.
Foi um dia absolutamente retumbante, diria mesmo quase perfeito embora fatigante como se pretende.
Saímos da Carrasqueira pelas 7 da manhã em direção à Comporta, localidade em crescendo turístico e não só. Nesta simpática localidade (pareço um speaker de circo!), no entroncamento que nos obriga a escolher novo destino, virámos para Melides que distará daqui perto de uma vintena de quilómetros.
Dou comigo a pensar neste pedaço de terra praticamente selvagem, nesta parte dum Alentejo marítimo, nesta fatia do paraíso por onde eu e os meus companheiros agora circulamos.
Não damos pelas horas passarem e de quando em vez alteramos o percurso e metemos por uma desconhecida estrada que nos ade levar à beira-mar. Nessa primeira incursão por território totalmente desconhecido, fomos dar a uma praia deserta, onde o cenário que me é dado presenciar me faz lembrar os famosos versos de Pessoa. Chama-se Praia Dourada e para lá chegar tivemos de percorrer uns bons cinco quilómetro entre alcatrão e terra batida.
Alguém alvitra seguirmos de bicicleta à beira-mar, coisa com que concordo entusiasticamente até para dar a esta aventura ciclística alguma dose de incerteza e quem sabe de adrenalina.
Carregamos as bicicletas escadas abaixo e chegamos junto à rebentação. Ensaiamos o método de pedalar neste novo piso e verificamos ser de todo impossível, já que as máquinas se enterram no areal.
Como o que tem de ser tem muita força, fomos obrigados a desistir e voltar pelo mesmo caminho, o que significou ter de carregar as máquinas ás costas, desta vez escadaria acima.
De novo na estrada, atravessamos Melides, vamos agora com Sines como destino, não sem antes passar pelo jurisdição prisional de Pinheiro da Cruz que é na verdade imensa. Aqui para além de penas para cumprir, há um excelente vinho para provar, coisa que não aconteceu mas que pessoalmente recomendo aos meus leitores.
Devo dizer que como não temos motorista, nos revezamos a cada vinte quilómetros para arrastar a carrinha onde transportamos os nossos haveres.
Com Sines no horizonte e um estômago a dar horas, decidimos refeiçoar lá para as bandas de São Torpes. Não me perguntem porquê, mas numa alucinante viagem que eu e a minha família fizemos ao Algarve nos idos anos sessenta, fiz uma birra, chorei, esperneei, implorei aos meus pais por uma paragem de meia hora neste inóspito mas atraente local. Levei a minha adiante, e sempre que por aqui passo lembro-me desse episódio de que não tenho justificação para a minha ida a banhos.
Almoçámos debaixo de um pinheiro algures por aí, por esse lugar que tem para mim uma memória que não descortino justificação.
Regressámos à estrada, comigo desta vez ao volante até Porto Côvo, seguindo os meus companheiros e especialmente as explicações e estórias do Querido Serrano, que passou aqui um glorioso ano da sua vida, quando teve de patrulhar todas estas arribas, como guarda fiscal, sua profissão de toda a vida.
Estamos instalados no parque de campismo em frente à Ilha do Pessegueiro em dois magníficos bungalows gentilmente cedidos pelo amigo Fernando que conheci esta tarde.
Continuo sem conseguir colocar fotos, o que pode ser interessante para quem gosta de ler, mas frustrante para mim e para quem apenas gosta de saber de nós assim na diagonal.
Meus companheiros estão a banhos e este pobre escriba por aqui está a cumprir o seu dever.
PS: Não sei se já disse isto publicamente ou escrevi nalgum lugar, mas se pudesse faria desta coisa de pedalar e escrever o meu modo de vida. Claro que o faria num outro registo menos imediatista, menos obrigacionista, mas como tal é impossível, por agora vou continuar a sonhar...depois logo se vê....afinal o mundo dá tanta volta...
Até amanhã...
4 Comments:
Quero conhecer essa praia, aqui por lisboa so' ha' daquelas com multidoes infinitas que asfixiam aqueles que, como eu, pretendem adormecer ao sol embalados pelo som da rebentaçao.
Vou trabalhar muitoooooo para poderes tornar esse sonho realidade.
(o meu computador n faz acentos :S tenho que ver se o Helder me resolve isto)
Um beijo com saudades.
C.Mira
Caro Amigo
Já la vão alguns anos e fiz esse trajecto mas ao volante do meu renault 12 a melhor máquina que tive até hoje.Fiz bastantes quilómetros em caminhos de terra batida rente ao mar e gostei.
Continuação de boa viagem
um abraço
jmatos.
O Serrano está com um ar comprometido e o gajo do lado assobia para o ar,o que o compromete muito mais...Irmãos metralhas,nas imediações de Pinheiro da Cruz?
Eeheheh.... grande abraço do evadido
jm
Pararam todos para mijar,já se vê!
Mas o poeta prosador dá-lhe sempre uma tónica mais adequada....Eu conheço bem esse truque.
Ou então lá em baixo havia uma praia de nudismo...Este ano eu não podia acompanhar este bando de contrabandistas de pequenos sonhos,realizáveis...pois!
Tenho pena não ter ido,já se vê!
jm
Enviar um comentário
<< Home