Dia 3 - Estrela do Mar
Esta parte da pátria alentejana é na verdade digna de visita demorada, coisa que a bicicleta possibilita, até porque montados nestas varandas sobre rodas sentimos os cheiros, mergulhamos na paisagem, apreciamos o momento como em mais nenhum outro meio de transporte.
Há pouco dizia o Serrano, meu companheiro de quarto e de bicicleta .
- O tempo bem que podia parar pelo menos por um mês. Deduzi que se queria saciar de liberdade, de aventura ou quiçá de emoção!
Mas regressemos ao dia de hoje e ao relato de tão interessante jornada que começou em Porto Côvo e terminou na Zambujeira do Mar onde nos aprontamos para jantar m belo peixe assado e revermos o filme de dia.
Tenho aqui de dizer isto antes que me esqueça. É para mim um privilégio pedalar com estas cinco almas errantes que algures lá nos confins da glória humana terão sido meus irmãos; e se o não foram, pelo menos gosto de pensar nessa remota possibilidade. Aqui fica a minha singela homenagem aqueles que desde cedo me integraram de corpo e alma no seu grupo.
Partimos de Porto Côvo aí pelas sete e trinta da manhã. O sol há muito havia rompido, uma leve brisa soprando de norte refrescava-nos as faces despertando-nos os sentidos, para que pudéssemos absorver o que nos era dado presenciar.
Pedalámos estrada fora, por vias secundarias, logo aquelas onde calculamos poder ser surpreendidos pelo imprevisto.
Já com Vila Nova de Milfontes no horizonte, revejo a última vez que por aqui passei. A vila desperta de um sono repousado, adormecido pelo vai vem secular do marulhar das ondas. Cheira a mar, cheira a vida esta estância balnear que por ser dia feriado e já tempo de férias começa a fervilhar de uma vida que para a qual, começa agora a despertar e que certamente durará até finais de Setembro.
Visitámos o farol da terra e admirámos o quadro vivo que é o Rio Mira acasalando, fundindo-se com o oceano enquanto nos areais dourados das margens, os primeiros banhistas ganham poiso para o dia, sem sonhar que os observo como parte integrante do quadro de palavras que aqui procuro pintar.
No regresso atravessamos a turística localidade à hora do estrugido. Adoro o silêncio da manhã misturado com o cheiro da cebola a alourar no azeite que no caso presente perfumou um pouco do nosso trajeto.
De regresso à estrada que nos conduzirá mais a sul, atravessamos a ponte que nos conduz á outra margem do rio que carrego no apelido.
Lembro-me e partilho com um dos camaradas um episódio há muitos anos aqui passado. Teria talvez vinte anos, uma mulher e uma motorizada. Um dia decidimos aventurar-nos até ao Algarve na dita. Nesse tempo não havia autoestradas e as vias existentes muito sinuosas, demoradas e porque não: perigosas.
De alguma maneira estávamos a fazer então o que hoje estamos a viver; uma aventura imprevisível mas o mesmo tempo tentadora e portanto inesquecível.
Ao tempo a ponte não existia e para atravessar o rio, tivemos de convencer um ébrio pescador que no seu minúsculo barco lá atravessou quatro pessoas e duas motorizadas num bote onde quase só ele cabia. Creio que se estivesse sóbrio nunca teria arriscado essa travessia de que agora me lembro.
Quando chegámos ao outro lado e sem eu saber até hoje porque razão, o casal que connosco viajava, decidiu ir à sua vida deixando-nos a mim e à Isabel com uma cara de espanto.
Bem, se me ponho a contar episódios da minha vida nunca mais chegamos a Almograve, outra belíssima praia alentejana (minha Catarina ia adorar!) onde paramos no centro da vila para comprar tomates.
O estabelecimento chama-se Estrela do Mar, um nome bonito para mercearia ou mesmo para uma canção do Jorge Palma, dou comigo a pensar. Gosto desta coisa chamada mercearia, tem um não sei quê de antigamente que me atrai e dona Julieta é mulher do seu oficio, só lhe faltando o lápis atrás da orelha.
Percorro com o olhar o espaço e logo encontro uma série de objetos meio kitch, meio brejeiros que não me importaria de trazer comigo.
Dona Julieta ao ver o meu interesse na sua mercadoria, saca detrás do balcão uns exemplares dos “das Caldas” que foram o momento marcante desta visita à mercearia Estrela do Mar em Almograve, para que conste e para que visitem!
Pedalando pelas dunas desta praia fomos dar a um pequeno cais de que já não me recordo o nome porque confiei na memória e não o escrevi em nenhum lado. De qualquer modo basta seguir a estrada de terra batida à esquerda e vai-se lá dar.
Dali rodámos já com a Zambujeira do Mar no sentido, não sem antes fazermos uma visita ao Cabo Sardão, uma imponente edificação de onde se destaca o seu famoso farol e acutilantes arribas com os seus ninhos de cegonha quase suspensos.
Parámos para almoçar numa mata por ali perto. O Serrano voltou a fazer milagre com três tomates e dois pepinos e nós felizes por o termos como cozinheiro destacado para esta e outras missões.
Já na Zambujeira, depois de instalados demos pela vila uma volta de reconhecimento, acabando por deitarmos abaixo uns pratos de caracóis e uma bejecas.
Agora vamos jantar que esta coisa de escrever dá cá uma fome!
PS: Já consigo carregar fotos, mas como é coisa demorada, só mais logo ou mesmo amanhã....
3 Comments:
Pois é Sr.Napoleão, acabei agora de ler todo o vosso diário de bordo desde o dia "0" está espétacular ,quem sabe se não temos aqui um Saramago ou um Eça de Queirós,ou até Fernando Pessoa pela parte que me toca no dia "0" muito obrigado pelos os ilúgios.Ó "ti" Serrano então quer que o tempo páre e depois quando voltas para casa? como companheiro de quarto já nem o deve poder ouvir ressonar!.....veja só o que sofro mas com tudo isso estou desejando que os dias passem depressa é que já quase não tenho comer feito. bom desejo-vos um resto de uma boa viagem e que se divirtom, agora que já vi um lindo espétaculo de fogo de artifício durante vinte 20m no são João no Porto vou descansar porque amanhã é dia de trabalho,e para uns passearem outros tem que andar por" cima das azinheiras" ah e estive a fazer o comentário ao som do TONY CARREIRA . beijocas boa viagem ANA SERRANO
Pelo que vejo a viagem continua animada e os quilómetros vão passando sem darem por eles.Eu cá continuo, de manhã bicicleta e de tarde horta.e bom tratar e ver crescer coisas plantadas por nós,Estou gostando.
Um abraço camarada
jmatos
Amigo Napoooooleeeeeonnnn o cais chama-se Lapa das Pombas...
JP
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