Vermelhinha da TV
Não sei se somos todos distraídos, se nos querem tomar por lorpas ou mesmo se nos querem meter os dedos olhos dentro.
Começo assim esta crónica matinal para falar duma modalidade muito em voga nas televisões de sinal aberto incluindo aquela paga por todos nós, que consiste em telefonar para um número de valor acrescentado para participar em tudo o que é programa, sondagem, concurso ou mesmo só para sortear uma bugiganga qualquer.
Talvez as pessoas não saibam, mas este estratagema ajuda a pagar (e de que maneira!) a produção dos programas, ao mesmo tempo que nos impingem a ilusão de que que com o nosso telefonema, televoto, telepalpite ou o que lhe queiram chamar, que estamos a participar no programa. De facto estamos mas é a participar economicamente na produção desses conteúdos, como é fácil de verificar. De outro modo, se apenas pretendessem a colaboração do telespectador, as chamadas não seriam invariavelmente 0.60€ mais IVA, o que dá a módica quantia de 0.74€ por chamada, na moeda antiga 150$00, uma pequena fortuna por um telefonema!
Contou-me alguém da produção de uma das televisões que esta fórmula é para muitos conteúdos a única forma de se manterem no ar.
O jogo da "vermelhinha" até com urina se pode fazer, como no caso da atleta alemã caricaturada, por ter trocado a sua urina com a de uma colega.
Os jogos de ilusão de que saliento a velha “vermelhinha” são proibidos (e bem!) e punidos por lei, já que induzem os incautos a apostar na carta errada através dum logro em que, quanto mais se olha menos se vê.
Isto para dizer que me lembrei deste jogo quando no outro dia chego a casa e ligo a TVI e está uma senhora a jogar com os espectadores pedindo-lhes que adivinhem a palavra C_M_O, e depois deixa pistas (só ouvi duas ou três, mas conheço o estratagema) como: é aquele sitio onde se vai fazer piqueniques, agora na Primavera está repleto de flores, é lá que se respira o ar puro, e para lhe dar mais ajuda vamos pedir mais uma letra CAM_O. E agora – continua a croupier da vermelhinha televisiva – diga lá que não sou amiga, dou-lhe ainda mais uma pequena ajuda; é lá que se planta o que comemos, que crescem as árvores etc.
Esta ladainha própria de quem vende “banha da cobra”, acontece na televisão de sinal aberto. O que eles não explicam, é que lá em casa existem milhares de pessoas sozinhas, homens, mulheres, velhos, crianças que têm à mão de semear um telefone ou um telemóvel, objecto que os pode catapultar para o almejado prémio.
-Quantas mais vezes telefonar, mais possibilidades tem de ganhar – debita a vendedora de chamadas telefónicas, aos pobres incautos.
Agora a verdade nunca dita. Conheço não uma, nem duas mas várias pessoas que na inocência da sua participação no tal inocente concurso que receberam contas telefónicas superiores a mil euros mensais e num dos casos que conheço, ultrapassou os dois mil euros.
Dir-me-ão que as pessoas são livres e responsáveis e que ninguém as obrigou a telefonar, mas o que não podem dizer é que não sabem que lá no monte alentejano no meio de nenhures está um individuo a ver o programa e na sua santa ignorância pensa para com os seus botões: CAM_O, onde se pastam as ovelhas, nascem as flores, se dorme uma folga à sombra dum chaparro, isso é no CAMPO. O ignorante é invadido por uma onda de euforia. Pensa que é o único a saber, e vá de fazer chamadas.
Quantos casos desses não existirão. Eu conheço três pessoalmente e outros tantos de que ouvi falar. Se multiplicarmos isto pela população portuguesa, podemos facilmente concluir que existem muitos “pastores alentejanos”, encerrados em apartamentos das grandes cidades, onde a tal caixa que mudou o mundo e que para muitos é a única companhia, deveria (a meu ver!) ter uma responsabilidade ética e pedagógica na introdução de conteúdos, já que desempenha um papel fundamental na formação dos cidadãos.
E vendo a coisa por outro lado que, embora metafórico, não deixa de ter o seu quê de verdade. Diz-se que a televisão nos entra casa adentro sem pedir licença. Se esta nos desperta impulsos (provocados!) para lhe entregarmos o nosso dinheiro, então qual é a diferença entre esta televisão onde vale tudo para sacar a “massa” aos incautos e os batoteiros do jogo da “vermelhinha”.
A meu ver existe uma única diferença. Os da “vermelhinha” têm de fugir à policia!
2 Comments:
Saudade da "vermellinha" nas Festas anuais do São Mateus em Elvas...mas os grandes jogos que marcaram a minha adolescência madura foram o Xadrez e o Póker(sintético- a dinheiro) na Sociedade em Borba....Ambos ensinados por um Mago,senhor Juca...
Xadrez,jogo de estrategia.
Póker,jogo de cálculo de risco e muito "bluf"...Jogos da vida!...
Quanto ás Tvs,optei por desligar à hora das notícias(das 13 às 14 e das 20 às 21 horas)...estou farto de ser enganado...Servem apenas para sintonizar o Canal Panda e aos fins-de-semana o Dysnei-Kids....e as transmissões desportivas ,em geral,claro....
Haja Saúde!
jm
realmente é aproveitar-se da ignorância das pessoas
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