Um Vulcão Chamado Susie
Hoje apetece-me contar uma história de generosidade, de garra, de paixão e sobretudo de muita alma.
Susie Keene e sua mãe Gerda Alma Ida (uma judia alemã refugiada da II grande guerra em Inglaterra, mulher de fina sensibilidade artística, amante do simples e do belo), viajam até Silves num dia de Abril de 1980.
Ao chegarem à zona do castelo a jovem Susie de 21 anos, apercebe-se duma casa apalaçada, paredes-meias com a altaneira fortaleza que domina a cidade.
Numa das janelas o letreiro “vende-se”, capta a atenção da jovem, que herdou da mãe o espírito observador pelas muitas visitas a museus, monumentos e exposições onde a progenitora faz questão de a levar.
Susie tem especial e intuitiva apetência pelo belo e convence a mãe e regressar a Silves e visitar a casa.
Apaixonam-se pela casa e decidem-se a adquiri-la. Gerda, decide transformar a casa num café a que dá o nome de Café Inglês.
Ao tempo, para um estrangeiro abrir um negócio tinha de ter um sócio português, coisa que Gerda propõe ao pedreiro que lhe efectuou as obras necessárias.
Susie regressa a Inglaterra, mas visita a mãe várias vezes ao ano e apercebe-se de que algo corre mal na sociedade, tendo-lhe segredado uma colaboradora que o sócio estaria a tentar envenenar a mãe, facto nunca provado, mas altamente suspeitado, visto Gerda ver o seu estado de saúde debilitar-se a passos largos, especialmente de cada vez que ingeria alimentos ali confeccionados.
Susie aconselha a mãe a desfazer-se da sociedade, coisa que lhes terá custado uma boa maquia e demorado seis longos anos a pagar.
Agora Susie (1986) é quem comanda as operações e rapidamente o estabelecimento ganha vida e alma nova, impulsionado por este vulcão chamado Susie Keene!
Na praça todas as vendedeiras a conhecem, respeitam e admiram. Susie era o sol de Silves, conforme lhe chamavam carinhosamente as peixeiras do mercado.
Certo dia, estava uma turista a escrevinhar num bloco de notas, e Susie com o seu espírito generoso ofereceu-lhe uma fatia de tarte de amêndoa acabada de fazer. A cliente era uma escritora que estava a efectuar um Guia Turístico do Algarve, achou a nobreza do gesto digna de registo e destaca o Café Inglês no seu livro.
A coisa ganhou ainda mais proporção quando no início dos anos 90 se popularizam os seus almoços domingueiros com música ao vivo, coisa que ainda hoje acontece.
De resto o Café Inglês é hoje um local onde a doçaria e gastronomia são largamente aplaudidas, e onde a cultura tem o seu espaço privilegiado. Música, exposições, têm calendário marcado nesta secular casa senhorial, a que Susie chama “o palco da minha vida”, - porque lá no fundo sinto que nasci para ser actriz!
Agora, está empenhada noutro dos seus múltiplos sonhos. Na Cumeada (uma aldeia do interior algarvio) adquiriu outra casa antiga onde pretende materializar mais umas quantas ideias que lhe bailam nos expressivos olhos com que me fixa.
- Quero criar um espaço vocacionado para a contemplação, ioga e outras vertentes da paz de espírito. Quero que a minha casa seja um santuário para artistas!
No fundo o que ela quer, é repartir o seu coração com todos os que puder abraçar.
Publicado na revista 30 Dias - de Julho 09
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