segunda-feira, julho 20, 2009

Tabernas de Borba




Na taberna do Larga-A-Velha com o taberneiro Fernando



Texto enviado por Joaquim Miguel Bilro, borbense de alma, genes e coração, que tenho o prazer de publicar como post e não como comentário, porque para além de histórico, é um guia memorável ou uma viagem quase visceral ás entranhas do seu autor.
Bem sei que muitas destas tabernas já cumpriram o seu ciclo natural, mas outras esperam a nossa visita numa das próximas viagens que faça para aquelas bandas.
Obrigado pelo emocionante texto que produziste, de que estou seguro, te ter dado gozo relembrar em forma de letra.
A ver se fazes de anfitrião na tua “pátria” logo que tal combinemos.

Tabernas de Borba


Rifas de facas - qualquer taberna que se preze de ter as suas



Na taberna do Fernando"LARGA A VELHA", a "modernidade"( Tv a cores, à qual é retirado o som, por momentos) a par do tradicional, o ameno cavaqueio com um pequeno copo na mão, a conversa sobre futebol, política e politiquices e os assuntos emergentes a cada dia, as pedreiras e as vinhas, o mármore e o vinho em cima da mesa da tertúlia. O cartaz de prémios (canivetes, pequenas lanternas, navalhas, corta unhas com o símbolo de Fátima, em terra de agnósticos que nunca faltam á procissão anual do padroeiro da terra--O SENHOR DOS AFLITOS---cada vez há mais.
Os homens mais novos carregando o pesado andor, depois a banda entoando o hino que nos faz arrepiar. Os restantes atrás da banda. As mulheres ladeando as ruas em fila lenta, com velas protegidas. Duas horas de procissão é quanto bastava/basta para a demonstração de "sólida fé" no Padroeiro. É em meados de Agosto. Quando acaba sente-se a vontade em cada um/a de poder voltar no próximo ano, já que mais não seja para se afirmarem no grupo dos que ainda resistem. E a paciência, nem sempre presente, do padre que entre orações ia emitindo "recados aos infiéis".As melhores colchas nas janelas e sacadas, retiradas logo após a passagem do andor, porque para o ano há mais e já arejaram bastante, libertando o cheiro das bolas de naftalina.As tabernas esvaziavam-se e à passagem da procissão, semi- fechavam-se as portas e abafava-se o som e o cheiro típico dos espaços profanos, onde as mulheres não entravam por respeito a um qualquer princípio versado no código de Hamurabi.Entre o sagrado e o profano, as tabernas foram abrindo e fechando, até quase desaparecerem, restando a memória já quase apagada.Pouco interessará aos hodiernos o que é natural. Apenas a alguns"cotas"--gosto da sonoridade do termo--cabe recordar que; tascas e tasquinhas, ciber-cafés e restaurantes, bares e "pubs", são uma e única coisa; espaços de convívio e lazer, agarrados a uma conversa por vezes de treta e o abraço a um pequeno copo de vinho, quase sempre produzido em Borba... .....



Curioso anúncio do Grémio do Comércio datado de 1956, deliberando sobre a permanência de menores neste tipo de estabelecimentos.

Caro Napoleão,Amigo, companheiro de outras andanças, Alentejano de Entradas, tradicionalista convicto, aqui te envio com o tal abraço, a lista das TABERNAS da minha memória borbense.Anos50/60 do século onde quase tudo aconteceu tão rápido que o cabelo branqueou, as rugas afloraram e etc.. A saber:

ANTÓNIO DA BRANCA

BÊCO

FICALHO

CABINHO

CAROCHO

VELHO CAVACO

GODA

JOAQUIM ANTÓNIO/António da branca...Aqui, encostado ao tampo da mesa, acordou morto o "PÉ de GRAL" (engraxador de sapatos), após ter ingerido almudes de vinho e uma pequena refeição de carapaus de gato, com espinha verde, fritos há mais de 4 dias e expostos no balcão para repasto gratuito dos clientes habituais. Tinha os meus 10 anos, comecei aí a ser médico, uma vez que fui eu que, tendo passado duas ou três vezes, tendo visto o meu" PÉ "sempre na mesma posição, o fui beliscar para me engraxar um par de sapatos de um tio meu. Ao que ele me respondeu com um longo arroto de morto recente, seguido de vómito fétido. Recordo a sua face cianótica e o cheiro do seu hálito moribundo de longa data e o cigarro ainda acesso entre os seus dedos.

QUINHAS

LARGA A VELHA

RATO/agora Tasca Real

TÉNIS

TI INÁCIO...onde eu pisava uvas no tempo das vindimas e a produção artesanal da vinhaça: recordo o cheiro intenso a enxofre das mexas para desinfectar o interior das talhas de terra-cota que ainda lá moram.


Ti CAGA NA RODA....o ex-libris das tabernas de então. Recordo as ginjas feitas em frascos de boca larga e vendidas à dúzia por cinco tostões, embaladas em papel de jornal, misturadas com moscas embriagadas pelo néctar....Foi aí que fiz as minhas primeiras vacinas, contra quase tudo. Felizmente que a ASAE andava nos testículos e ovários dos meus avós.

Escrito por pulanito @ julho 20, 2009   3 comentários

3 Comments:

At 3:46 da tarde, Blogger Alberto David said...

Pois é, como cura para as maleitas surgidas, estou a planear uma visita em Setembro, com condutor ás tascas do Alentejo depois lhe pedirei o melhor itinerário. Abraço

 
At 1:28 da tarde, Blogger José Mestre said...

Nas rifas de facas de agora só funcionam dois factores : o factor sorte, minoritariamente e o factor azar, maioritariamente. Que saudades das velhas rifas de facas e de chocolates em que se "rebentava" o cartão ou em que se tiravam as últimas bolinhas o que dava direito a levar o cartão-mostruário para casa com tudo o que o mesmo ainda contivesse.Hoje não! As rifas estão em papelinhos metidos em minúsculas "bolas" que por sua vez são colocadas em recipientes que não chegam a esvaziar.

 
At 9:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Caro Napoleão
estive de férias daí o meu alheamento deste espaço.Nem calculas a saudade que eu tenho das tabernas e adegas da minha terra.Fui criado praticamente dentro de uma adega em frente á casa do meu avô.Ainda hoje, quando lá passo e a porta se encontra aberta entro e dou largas ás recordações dos meus tempos de menino.Um abraço J.Matos

 

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