João Aguardela Morreu
Não me terei cruzado com o João Aguardela mais que meia dúzia de vezes. Mas das vezes que com ele me cruzei, guardo o seu olhar azul acutilante, a sua vontade acérrima de lutar contra a corrente e acima de tudo percorrer caminhos inovadores na música universal e especialmente a portuguesa.
Com Os Sitiados, este autêntico animal de palco misturava a música rock com a música tradicional portuguesa numa sonoridade única que valeu cinco trabalhos de longa duração enquanto o projecto durou. Deste marco da música do final do século passado ficam os êxitos: Esta Vida de Marinheiro, A Noite ou a Cabana do Pai Tomás de entre muitos outros.
Depois com o projecto Megafone fez um trabalho ímpar de reinvenção da música popular portuguesa mergulhando nas recolhas de Giacometti e José António Sardinha numa sequela de álbuns que não sendo do grande conhecimento do público, são testemunho vivos que o João que com a sua capacidade inventiva nos legou.
Vejam aqui a genialidade que faz com que se conquiste a imortalidade
Seguiram-se outros projectos com destaque para a Linha da Frente onde musicou poetas de renome de onde se destacam Ary dos Santos, Pessoa ou Manuel Alegre.
O seu último projecto era A Naifa, um grupo que já conta com três trabalhos originais e de que João Aguardela era o incontestável alter-ego.
Vi o João já doente num show case da FNAC há uns meses atrás. Perguntei-lhe pela saúde, parecendo-me ele com coragem e capacidade para dar a volta ao infortúnio que sobre ele se havia abatido.
Assisti ao espectáculo mas não pude esperar pelo final para dele me despedir.
Uma das melhores passagens de ano que terei passado, foi saboreada na sua companhia e da Sandra sua companheira de sempre. Para essa noite memorável fui convidado pelos meus amigos Raul e Celeste, seus amigos de longa data.
Aí chegados o João e a Sandra logo nos puseram á vontade. Durante a noite algumas vezes ficámos os dois á conversa falando essencialmente de música e dos seus novos projectos de que falava entusiasticamente.
Durante a noite chegou gente aos magotes, essencialmente artistas que vinham fazer uma perninha à interminável Jam Session em que aquela primeira noite daquele primeiro dia se tornou.
Pela manhã fomos recolher os cadáveres das centenas de garrafas e embalagens que haviam ficado como inertes testemunhos daquela inesquecível noite de excessos.
Hoje soube do falecimento deste enorme artista. Tinha 39 anos, faria 40 em Fevereiro. Sabia que era uma notícia que haveria de chegar a qualquer momento pelo que ia sabendo através do Raul e da Celeste.
Foi na tarde de hoje a cremar conforme seu desejo. A música portuguesa fica mais pobre.
À Sandra, à Naifa e aos seus familiares os meus sinceros sentimentos.
Curvo-me sentidamente em sua memória.
Etiquetas: João Aguardela, Linha da frente, Megafone, Sandra Batista, Sitiados
2 Comments:
infelizmente pertenço ao grupo dos que não sabem (sabiam) que foi João Aguardela. Já o grupo (não sei se é a denominação correcta) "Os Sitiados" me diz alguma coisa,especialmente no que diz respeito à canção "Esta vida de Marinheiro" que no momento em que escrevoeste comentário estou a trautear mentalmente.
Curvo-me sentidamente perante a sua memória. Que descanse em paz.
pulanito: A rever mais uma vez este post do João Aguardela e o magnifico vídeo que colocaste no teu pos. Também estive a ouvir "A Noite" (canção de que também gosto muito).Como se costuma dizer. Morra o homem mas fique a fama.Morreu João Aguardela.Talvez muitos não o conhecessem,mas as canções dos "Sitiados", de que foi fundador, ainda hoje se ouvem (pelo menos no que me diz respeito) com muito agrado.
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