As Andorinhas da Minha Crença
Estão de excelente saúde os quatro filhotes andorinha que os pais se desdobram em alimentar até lhes matar a fome e lhes calar o lancinante pio.
Desde tempos imemoriais que assim acontece e que nós (uns mais que outros) aprendemos a respeitar.
Quando era criança e vivia na aldeia, as nossas brincadeiras eram de algum modo cruéis. Apanhávamos cágados na ribeira, depois furávamos-lhe a rija crosta com um prego, para que este tivesse um orifício onde atar as inúmeras latas de conserva com rodas de botão que faziam de comboio e de que o pobre cágado era a locomotiva.
Uma das coisas que qualquer gaiato aldeão aprendia desde cedo, era a fazer uma fisga; com ela, melhorava a autoconfiança de quem afinal andava armado. A habilidade no manejo deste objecto em forma de forca, com dois elásticos a segurar as hastes e funda de cabedal, ditava chegar a casa vitorioso ou vencido. Com estas armas testávamos e treinávamos a pontaria, destreza absolutamente necessária para quem queria chegar a casa com um ou mais pássaros que depenávamos pelo caminho e à noitinha assávamos com um ponta de sal no braseiro do lume.
Digo isto para afirmar que éramos (aos olhos de hoje) uns verdadeiros bárbaros, mas para nós era a coisa mais normal do mundo apanhar uns quantos pássaros para comer.
Uns tantos pássaros..alto lá. Podíamos apanhar pardais, melros, calhandras, trigueirões e outra maralha da mesma igualha, mas atirar a uma andorinha seria um acto de enorme censura.
Diziam-me em casa, na rua e na escola – As andorinhas são aves de Deus, é um pecado muito grande matar uma, e comê-las nem pensar.
Desde muito pequeno que interiorizei a mensagem, e tenho feito dela regra de vida. Há muito que sou um admirador, e porque não dizê-lo, protector das aves negras da minha crença.
Aprendi a admirar-lhes a capacidade arquitectónica com que constroem os seus ninhos, mais ou menos da mesma maneira que nós construíamos as casas: com palha, barro e água. Agora fico sem saber que copiou quem!
Continuo a não compreender o mistério (e não quero que mo expliquem), das andorinhas voltarem a cada ano ao mesmo local, ao mesmo ninho, depois de percorrerem milhares de quilómetros.
Escrevo a ouvir o chilreio vespertino da refeição da tarde. Mãe e pai revezam-se em viagens vertiginosas na procura de alimento para saciar aquelas quatro bocas que dentro em breve sairão pela primeira vez do ninho, pelo menos a avaliar pelo porte que apresentam.
Desde tempos imemoriais que assim acontece e que nós (uns mais que outros) aprendemos a respeitar.
Quando era criança e vivia na aldeia, as nossas brincadeiras eram de algum modo cruéis. Apanhávamos cágados na ribeira, depois furávamos-lhe a rija crosta com um prego, para que este tivesse um orifício onde atar as inúmeras latas de conserva com rodas de botão que faziam de comboio e de que o pobre cágado era a locomotiva.
Uma das coisas que qualquer gaiato aldeão aprendia desde cedo, era a fazer uma fisga; com ela, melhorava a autoconfiança de quem afinal andava armado. A habilidade no manejo deste objecto em forma de forca, com dois elásticos a segurar as hastes e funda de cabedal, ditava chegar a casa vitorioso ou vencido. Com estas armas testávamos e treinávamos a pontaria, destreza absolutamente necessária para quem queria chegar a casa com um ou mais pássaros que depenávamos pelo caminho e à noitinha assávamos com um ponta de sal no braseiro do lume.
Digo isto para afirmar que éramos (aos olhos de hoje) uns verdadeiros bárbaros, mas para nós era a coisa mais normal do mundo apanhar uns quantos pássaros para comer.
Uns tantos pássaros..alto lá. Podíamos apanhar pardais, melros, calhandras, trigueirões e outra maralha da mesma igualha, mas atirar a uma andorinha seria um acto de enorme censura.
Diziam-me em casa, na rua e na escola – As andorinhas são aves de Deus, é um pecado muito grande matar uma, e comê-las nem pensar.
Desde muito pequeno que interiorizei a mensagem, e tenho feito dela regra de vida. Há muito que sou um admirador, e porque não dizê-lo, protector das aves negras da minha crença.
Aprendi a admirar-lhes a capacidade arquitectónica com que constroem os seus ninhos, mais ou menos da mesma maneira que nós construíamos as casas: com palha, barro e água. Agora fico sem saber que copiou quem!
Continuo a não compreender o mistério (e não quero que mo expliquem), das andorinhas voltarem a cada ano ao mesmo local, ao mesmo ninho, depois de percorrerem milhares de quilómetros.
Escrevo a ouvir o chilreio vespertino da refeição da tarde. Mãe e pai revezam-se em viagens vertiginosas na procura de alimento para saciar aquelas quatro bocas que dentro em breve sairão pela primeira vez do ninho, pelo menos a avaliar pelo porte que apresentam.
Somos aquilo em que acreditamos!
Mesmo aqueles que dizem que não acreditam em nada, acreditam, que não acreditam em nada, logo também serão fruto de algum tipo de crença.
O homem é um animal religioso, e mesmo os que se confessam agnósticos com eu, lá terão as suas convicções. A minha vai direitinha para as andorinhas. Acredito que se as minhas andorinhas regressarem a cada ano ao seu ninho (que preservo religiosamente), ou ao ninho dos seus antepassados, eu e os meus teremos um bom ano.
Bem me podem dizer que uma coisa não tem a ver com a outra, que “ o que será, será”, que a vontade divina é que manda, que nós fazemos o nosso próprio destino com as decisões que tomamos, mas se acreditar que as andorinhas me ajudam a escolher os caminhos que trilho e se estas decisões forem mais acertadas que erradas, que mal haverá em lhes atribuir uma quota-parte do êxito dessas mesmas escolhas.
Por mim, continuo a acreditar no voo rasante das aves negras de papo branco, que com a chegada da Primavera trazem mais vida à minha vida.
2 Comments:
Muito obrigado por partilhares connosco essa tua crença.
Então temos em breve partida para Santiago de Compostela.
vamos ter relato dessa viagem?
Um grande abraço
Bruno S.
Creio que estás enganado quanto à antiga denominação da actual avenida de Nossa Senhora da Esperança em Entradas . Julgo que o Rossio não correspondia à totalidade da avenida mas sim à parte próxima da ermida do mesmo nome.
Um abraço do
José mestre
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