No Rescaldo das Entrudanças 2008
Entradas voltou a repetir o êxito de anteriores edições deste festival alternativo de Inverno onde a dança é o fio condutor de toda a programação e que dá pelo nome de Entrudanças.
Arranjei maneira de ficar os três dias do festival e por lá andei a viajar o olhar por esta interessante fauna humana que demanda Entradas nos 3 dias que dura o Entrudo.
Os forasteiros que nos visitam são gente boa, educada e ávidas de experimentar, para além das oficinas dançantes, aquilo que Entradas tem de melhor para oferecer.
Vemo-los pelas ruas em pequenos grupos, admirando os recantos que Entradas tem para oferecer. Enchem os restaurantes de Entradas, bem como outros locais onde a gastronomia alentejana não deixa ninguém indiferente aos aromas que inundam ruas e sentidos.
Para não ficar aqui a partir cascalho, vou de novo escolher um lote de fotos, onde farei uns comentários que espero sejam suficientemente ilustrativos do que nestes três dias se passou em Entradas.
Como não pude estar em todo o lado, vou sublinhar aquilo que de mais interessante me foi dado a saborear, ver ou apreciar.
Os deuses resolveram brincar connosco o carnaval e vá de fazerem a sua partida, resolvendo chover a bom chover na hora do desfile iniciar. Ficam para a posteridade estes cinco gandas malucos, que contra deuses e tempestades se recusaram desistir da abertura das hostilidades Entrudançantes.
Os resistentes das duas rodas
No programa constava uma caminhada ambiental de 1o Km que podia ser feita em bicicleta. Como choveu, o percurso ficou completamente enlameado, o que fez com que nos entrouxássemos de lama. Meu amigo Manel Faria ensinou-me que a vida é feita de ciclos virtuosos e ciclos viciosos. Por mim já não sei o que é virtude há uns bons meses. Estou fora de forma e a viagem a Santiago de Compostela em bicicleta aproxima-se a passos largos.
Tenho que reencontrar o meu ciclo virtuoso rápidamente, sob pena de ser bastante mais penosa a recuperação. A malta Entradense já começou a ciclar e isso agrada-me de sobremaneira, pelo menos já não tenho que o fazer sozinho.
O rufar dos tambores.
Pela tarde de Sábado os tambores rufaram por toda a vila, despertando Entradenses e visitantes para a festa que havia há pouco começado.
Artesãos da minha terraOs nossos artesãos encarregam-se de nos contar a história das gentes e da terra através dos objectos por si criados.
Na montagem podemos apreciar os trabalhos de Carlos Rosa de Almodôvar. Estes traz-nos mantas, alforges, balsas, meias feitas à mão e o inevitável calçado de Almodôvar. Sapatos domingueiros, botas de atilho ou cano alto, feitas por medida, de entre outros.
Manuel da Silva de Entradas, retrata-nos a vida em forma de miniaturas. Maquetes de edificios Fntradenses em fósforos, ferramentas, artefactos agricolas, carros de bestas e outros em madeira, são a arte deste conterrâneo que dá forma a antanhos objectos com a ponta do seu canivete.
Num oportuno encontro entre Entradenses e forasteiros aproveita-se para matar o tempo e as saudades de um outro tempo em que este pequeno jogo era a play station da altura.
Este grupo de jovens estrangeiros reparte entre si um pão alentejano que come sem conduto. À pergunta, se não estavam embaçados, disseram-me: Que se na terra deles tivessem pão daquele, tinham o seu problema de subsistência resolvido..
Para que a nossa memória não seja cilindrada por uma qualquer normativa emanada lá das bandas de Bruxelas, urge que presevemos a nossa identidade. Como de pequenino é que se torce o destino, é fundamental que estas e outras crianças sejam os portadores de um saber que se quer passado de geração em geração, assim... em forma de orgulho.
O chamamento
O retumbar dos tambores foi uma constante durante a tarde e noite de sábado. Este grupo percorreu ruas, lugares, cafés restaurantes, tabernas e demais locais públicos, chamando a participar na festa toda a população.
A solenidade do cante não podia faltar. Desta feita, essa responsabilidade foi entregue às Vozes de Casével, que cumpriram na perfeição, fazendo ecoar pela Casa da Leda, o afino das suas vozes.
Trio Lam de França
O Trio Lam abrilhantou as noites de Sábado e Domingo, onde os alunos exercitavam os passes que aprendiam durante as oficinas das diversas danças. Garanto-vos...havia para todos os gostos.
Lume com café na " esculatêra" . A minha zona de perdição.
Pronto, aqui vou-me esticar um pedaço mais. Ao ler o programa deparo que as portas da Adega do Zé Duarte, foram de novo abertas á população e incluidas no programa das festividades. Fui entrando neste lindissimo espaço que o Zé projectou e reconstruiu com esmerado gosto e respeito pela traça original, como era de resto seu apanágio. A sua permatura morte não lhe permitiu gozar deste espaço na sua verdadeira plenitude. De qualquer modo, Zé Duarte fez aqui durante anos, um vinho de excelente qualidade, especialmente o branco que era de se lhe tirar o chapéu, vinho eese que distribuia por todos os amigos e população em geral que não necessitava de convite para as suas festas, porque estava por natureza convidada, tal era a genuina relação que Zé Duarte ´mantinha com a população...paz á sua alma...voltemos ao que ele nos deixou, que decerto lá de onde nos espreita deve estar feliz por os seus compartilharem este espaço, itegrando-o neste acontecimento anual.
Haviam-me dito que iria haver café de "esculatêra" com fatias de ovo, um manjar divinal, ainda por cima naquele generoso espaço. Lanchámos uma linguiça caseira com o tal café e logo ali combinámos uma almoçarada para o dia seguinte. O que há-de ser: pode ser lebre com feijão branco, remata a Fátima Feio. E onde vamos buscar as lebres? pergunta alguém! À arca do meu irmão, que tem lá muitas, volta a insistir a Fátima.
Passei por lá de manhã a comer as tais fatias de ovo com o famoso café de "esculatêra" e à uma da tarde lá estavamos para devorar o jantarinho de lebre que cheirava divinalmente cá fora.
Levámos a nossa pinga que repartimos com os amigos e os desconhecidos que entretanto vinham chegando guiados pelo intenso cheiro da cozinha alentejana que como se sabe é abrilhantada por ervas e especiarias deitadas na panela por ponderadas mãos.
Logo ali combinámos o jantar e as refeições dos dias seguintes., até que acabámos hoje com um delicioso cozido de grão e a promessa de repetir pelas festas de Verão tão interessante work shop.
A equipa maravilhaAqui fica a foto das intervenientes que tiveram o condão de participarem numas festas de que os Entradenses gostam, mas a que uma parte significativa é alheia. Julgo que com a intervenção destas mulheres se abriu um novo capitulo no que diz respeito a este tipo de voluntariado...pelo menos a avaliar pela alegria demonstrada pelas participantes.
Oficinas de Dança
As oficinas de dança atraem muitos dos forasteiros ( são raros os Entradenses que aderem ) que vêm á procura de acertar o passo com o do parceiro. São interessados e aprendem com relativa facilidade. À noite pratica-se aquilo que se aprendeu durante a tarde e manhã.
São muitas as oficinas de dança. Italiana, Alentejana, Afro- Brasileira e tantas outras...faz-se exercicio fisíco e sai-se daqui com um melhor conhecimento do nosso corpo.
Ica em acção
O Ica é um dos meus conterrâneos mais participativos. Na altura da foto cantava para forasteiros e Entradenses versos de sua autoria, o que dá sempre um toque de originalidade à coisa.
Camacho, pastor e flautista
Tenho neste meu conterrâneo dois momentos que marcaram a minha relação com Entradas. Da primeira vez, fui dar com ele a tocar a sua flauta na taberna do Carapeto...achei que era um quadro de rara beleza. Entre minúsculos copos de vinho, Camacho debitava o que tinha aprendido " lá nos campos ao rigor". Foi uma noite igual a tantas para ele, mas para mim foi a data em que decidi ter casa em Entradas....ficas agora a sabê-lo.
Da segunda vez, sou surpreendido por uma miragem. Subindo eu a Rua do Paço num dia de Inverno, mais ou menos por altura da casa onde morei antes de abalar para Lisboa, vejo surgir ao virar da esquina e em passo cambaleante uma figura vestida com um jaquetão que me pareceu militar. Vinha tocando uma flauta, coisa única que se ouvia entrecortada com o vento que casava na perfeição com a melodia.
Pensei que a guerra tinha acabado, e este ébrio flautista apregoava a boa nova....
Chamo a isto FELICIDADE... a figura que tocava o instrumento era de novo o Camacho.
Coisas minhas que agora compartilho convosco.
Ciganas Entradenses
Preparando tengarrinhas
Nem só de dança vive o homem. Estes meus dois conterrâneos foram surpreendidos pela minha objectiva quando preparavam as tengarrinhas que um deles tinha ido apanhar ao campo.
Tengarrinhas com ovos e linguiça é mais um pitéu que recomendo que experimentem. Os forasteiros que experimentaram ficaram fãs e lógicamente...deliciados.
A música sempre presente
A música foi uma constante durante os três dias de festa. Para ilustrar o postal trago-vos esta acordeonista forasteira que para além de gira...tocava bem. É que podia ser só gira, mas não..tocava mesmo bem!
Porquê destacar esta miúda?
Porque se orgulha de ser alentejana. Porque está sempre bem disposta. Porque tem uns olhos lindissimos. Porque é voluntariosa e também porque é a única que usufrui do melhor de dois mundos. Filha de Entradense assiste, participa e ajuda no Entrudanças. Como o pai é de Carvalhais (onde se faz o Andanças) está sempre em casa...diria mesmo...Não é justo!
Galandum Galandaina
Foi esta banda que fechou as festividades Entrudançinas. Originários do planalto Mirandês, surpreenderam pela sua qualidade instrumental e vocal, exprimindo-se sempre na sua lingua Mirandesa.
A gente por aqui também tem muito orgulho no nosso sotaque!
Vieram transvestidos de Village People e acompanhados pelos vertiginosos Pauliteiros do Grupo Galandum Galandaina que causaram sensação cá pelas terras mais a sul.
Esta correção foi feita por J. Bacelar em oportuno comentário, já que lhes havia chamado Pauliteiros de Miranda.
Já agora. O que quererá dizer GALANDUM GALANDAINA...quem souber é só postar.
Para o ano há mais..
Pauliteiros do Grupo Galandum Galandaina
Eu fui a Entradas ver os pauliteiros, ver os pauliteiros eu fui a Entradas.
11 Comments:
Como diz o slogan de certa marca de automóveis o festival ENTRUDANÇAS(*)veio para ficar (**)e ficou mesmo. Só já falta ter honras de televisão.
E para o ano há mais. Até lá
(*) - logo começa a ser conhecido por ENTRADANÇAS
(**) - na vila de Entradas
Bela reportangem, bem retratado. Atenção que não são os Pauliteiros de Miranda mas sim os Pauliteiros do Grupo Galadum Galundaina. Como eles referiram. beijos.
J.Bacelar
E foi de novo maravilhoso voltar a tocar e a estar em Entradas! Para mim a novidade mais agradável deste ano foi sem dúvida o espaço da Adega, acalentado pelas senhoras da "ginástica" (a piada é delas:)), que me estragaram com beijos, mimos, e leite com café feito ao lume...
O que eu digo a Entradas é que podem contar connosco o resto do ano, nós não nos importamos de aí voltar sempre que fôr preciso, para o que quer que seja!
Isto é, que espero que a vila não se sinta invadida, mas sim desejada!
E á despedida...
"vou-me embora, vou partir mas tenho esperança..."
Um abraço
Sabes que és sempre bem-vinda..julgo que para a grande maioria dos Entradenses que porventura terão olhado com desconfiança esta exótica rapaziada nos primeiros anos, já esperam mal o ano começa pela malta colorida que vai acampar no casão e no campo da bola.
Abraço e aparece...de vezem quando também temos música cá na "tasca".
Mais uma reportagem à la Pulanito.
Gosto muito da sensibilidade que pões no que escreves.
Sou provavelmente o maior divulgador deste magnifico Blogue.
Abraço
Bruno
E mais um Entrudanças passou! O exame para o qual devia ter estudado também passou!!!
Mas voltaria a fazer tudo igual: ir para Entradas, comer, beber, rir, e rir mais ainda com toda esta família que resulta da mesclagem de forasteiros e residentes...
Para quando mais festas em Entradas? O almoço de entradenses?
Vamos lá avançar com esta ideia?
Beijinhos
Howdy, senhor Pulanito!
Desta vez, sendo o tempo disponivel online bastante curto, venho apenas para agradecer a informação e o interesse. Quando vi o seu comentário com a última informação sobre o mês, e dado que tenho estado longe da internet a trabalhar no projecto de que sabe, já tinha entregue o dito. Assim, a data do concerto fictício dicou um mês adiantada, uma vez que coloquei Junho, para ficar depois do periodo que me tinha idicado anteriormente.
De qualquer forma, não há crise!
Agradeço muito ter-se demontrado tão prestável e interessado.
Queria também perguntar se é possível enviar-lhe uma imagem em "jpg" para um e-mail, para que possa dar-me, já agora, a sua opinião sobre a capa do àlbum (e já agora, se tal fosse possível, a do Sam). Sería bastante importante saber o que o senhor pensa e, claro, o que o Samuel pensa do resultado final. :D
De qualquer forma, agradeço muito a atenção que tem dado. Muito obrigado!
Com os melhores cumprimentos,
Lion
Peace ;p
Boas Lion,
O Samuel Já sabe do teu interesse e ficou sensibilizado com a escolha.
É claro que gostaria de ter uma cópia desse trabalho que pode ser enviafo para napoleaomira@gmail.com.
Lógicamente fá-la-ei chegar ao Samuel e se não for ele a transmitir o comentário ao teu trabalho, eu mesmo saberei da sua opinião e não deixarei de ta transmitir.
O facto da imprecisão do mês de Junho não é de todo relevante. É bastante mais interessante o Samuel ter sido o motivo inspirador do teu trabalho, que sem o ver, pressinto que está espectacular.
Já agora manda isso em alta resolução, pode ser que seja aproveitado para alguma coisa.
Na pio das hipóteses passará a fazer parte do espólio.
Um grande abraço e que tudo te corra bem...
e aparece...
Obrigado pelo link...
Um abraço para Entradas.
Mas olhe o Carlos (artesão), não da sua terra, é de Almodôvar.
Bem sei que o Carlos Rosa é de Almodôvar, mas o Alentejo é a minha terra, sendo que a minha mátria é Entradas.
Faço alguma distinção entre as pessoas de outras terras alentejanas e Entradas, mas só por puro bairrismo, porque no essencial, para o bem e para O mal, quer a gente queira quer não, podemos ser irmãos desavindos, mas somos irmãos.
Abraço
A minha manita caçula...
Andanças e Entrudanças Coincidencias existem???
Ora aí está...
Sempre com boa disposição e um copo cheio na mão :)
Haja sempre alegria...e o copo nunca esvazia!
Uma bom resto de semana feliz para todos e pode ser que aí vá este 25 de Abril...so de imaginar...já estou com vontade de chorar..
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