terça-feira, fevereiro 26, 2008

Taberna - A Cavalariça


A Cavalariça em 1997

Não sei quantas vezes me fiz à estrada só para ali poder estar. Não sei que estranha força era aquela que me empurrava naquela direcção, até porque muitas das vezes quando aí chegado nem gostava de lá estar, outras… nem queria de lá sair!
Não sei que impulso era aquele que me levava a partir, só para poder de lá abalar.
Falo-vos de um dos santuários da minha vida – a taberna “ A Cavalariça” em Entradas.
Tenho seis anos, entro a medo na Taberna do Madeira. Minha prima Zé (mulher do taberneiro) carrega cântaros de água que há-de misturar com lixívia de modo a expurgar o cheiro a homem, vinho e tabaco acumulados dos dia e noite anteriores.

Cantando a moda

Lava incessantemente o chão de cimento, limpando mesas, bancos e balcão.
Arruma meticulosamente as garrafinhas que hão-de mais à noite andar de mesa em mesa, alinha os copos de vidro grosso que mais tarde serão emborcados vezes sem conta até que uma das vozes se solte, não demorando muito que outra e depois outras (da mesma ou doutra mesa) se lhe juntem num ritual antigo de espantar os males em forma de cante. Como se de repente todo um universo fosse um enorme e eterno abraço; forma única de sentir o troar das vozes que desenham melopeias arabescas vindas do mais profundo das nossas vísceras. Mas isso só acontecerá lá mais para a noite!
Agora são onze horas da manhã de um dia de Verão; dum Verão escaldante do início dos anos sessenta. Venho pedir qualquer coisa para comer desculpando-me com o facto de não ter ninguém em casa. Minha prima não engole a patranha mas não me recusa de comer.
Fico por ali na brincadeira com um carrinho de brinquedo que achei em cima duma mesa, mas que logo o seu recém-chegado proprietário reclama posse. Acho que não lho devo dar e envolvemo-nos numa luta fratricida só separada pelo par de tabefes distribuídos a um e a outro de forma salomónica, acompanhados do respectivo ralhete e ainda a promessa de relato alterado (para pior) do acontecimento junto dos nossos pais, o que faz adivinhar mais pancadaria.
Conto este episódio para lhe juntar o cheiro matinal destes estabelecimentos, que sem ser um cheiro dos mais agradáveis, é à lembrança olfactiva que vou buscar muitas das imagens e memórias que me perseguem.
Daqui a nada começam a chegar os homens para o seu etílico ritual matinal. Juntam-se em mesas onde os camaradas são quase sempre os mesmos. Sacam das navalhas e de um ou outro minúsculo pedaço de conduto que com os demais repartem, e há-de fazer de mata-borrão ao vinho que entornarão nesta sessão matinal.
As conversas giram em volta da interminável crise em que a região está mergulhada há gerações. Apagam-se, afagam-se ou afogam-se as mágoas consoante o estado de descrença de cada um. Fala-se da inevitável partida de mais uma família inteira “ à procura duma vida boa, que por cá buscam e não encontram” mote este, que será inevitavelmente cantado quando a noite se fizer verdadeiramente noite, e das gargantas se soltar o grito dilacerante do cante da terra.
Esta é agora a taberna do Madeira, que já foi do Manel do Carmo (este, taberneiro e acordeonista de ocasião), há-de ser ainda do Santiago, da Ti Aurora e por fim: do Pardal, altura em que foi baptizada de A Cavalariça e também altura em que regresso a Entradas (depois dum interregno de mais de 30 anos) para de novo ter com este espaço uma relação de profunda fraternidade.
É aqui que reencontro este meu amigo de infância atrás do balcão daquele que foi um dos espaços que marcou indelevelmente a minha infantil existência. Mais de trinta anos passados o espaço continua igual. O mesmo chão de cimento. O mesmo balcão de fórmica com o tampo vermelho. A mesma mobília. Aqui parece que nada mudou.

Aspecto da Cavalariça em 1998

Exceptuando o emparedamento duma porta que dava acesso à habitação tudo continua igual, como se eu tivesse abalado a semana passada, só que agora em vez de jogar ao arraiol com o Pardal este serve os mesmos minúsculos copos de vinho que a minha prima servia.
É com estes detalhes que me espanto. O Pardal denota uma genuína alegria no nosso reencontro e relata logo ali algumas das nossas proezas de gaiatos.
Sou completamente absorvido por um turbilhão de memórias, que me fazem miraculosamente recuar no tempo, com a inevitável ajuda do cheiro que as coisas ainda preservam.


Luis Fernando e Pereirinha (1998) dois indefectiveis da Cavalariça.

Dou de repente comigo a pensar no dia em que estreei o meu primeiro par de botas feitas por mestre Mariano. Lembro-me perfeitamente dele me segurar o pé descalço em cima dum papelão e com um lápis moldar em forma de desenho o meu pé de petiz.
Tenho memória de as haver previamente provado, e depois, em determinado e ansiado dia de as ter ido buscar. Regressei a casa com elas calçadas e fazer um inusitado barulho por via da carrada de cardas que meu pai havia mandado colocar, na esperança de que estas durassem no mínimo até o pé crescer e não caber naquele que foi o meu primeiro par de botas.
Sou chamado “à terra” pelo Pardal para o inevitável jogo do “ adivinha quem é este” posto a circular junto dos presentes.
A maralha cliente olha-me com alguma curiosidade e começa a aventar palpites que têm sempre a ver com compartimentação genética que existe nesta e noutras terras.
Diz um: a boca é dos Miras, pista esta que faz com que um dos convivas avente um nome que por acaso não é o meu, mas sim, do meu irmão. É a altura do Pardal desfazer o novelo genético e desvendar a minha identidade. Retomam então os cumprimentos e o inevitável interrogatório acerca da família, procurando matar uma natural curiosidade.
Sinto-me bem aqui. Dou comigo a pensar!
Estes reencontros são sempre regados e se não nos precavemos, acabamos “com as botas molhadas”, como se diz por aqui. É claro que “molhei as botas”.
Por essa altura, a Cavalariça ainda não se tinha transformado no célebre restaurante que hoje é. É uma taberna ancestral que o Pardal compenetrado no seu papel de taberneiro cumpre na perfeição, enquanto que Maria João se ocupa daquilo que a distingue e há-de distinguir ao longo dos tempos, ou seja: um dedo culinário a roçar a genialidade.
A Cavalariça é por assim dizer, a sala de visitas de Entradas. Aqui aportam Entradenses e forasteiros dos arredores ou de um pouco mais longe, à procura dos afamados petiscos de fim-de-semana, comidos na mesmíssima sala onde são confeccionados e onde em mesas de correr os convivas se vão sentando à medida que vão chegando.
É inevitável que se cante!
Vem gente cantarrista de Castro e Aljustrel a que se lhes junta o pessoal de Entradas, e de repente há todo um Alentejo de emoção no ressoar das vozes que invadem a Cavalariça.
Este foi para mim dos melhores tempos que Entradas viveu nos anos mais recentes, e como em todos os ciclos, este teve o seu tempo e dele resta uma memória boa em que tive a felicidade de estar presente em muitos desses inapagáveis momentos.
Entretanto a Taberna foi acrescentada tendo sido feita uma sala de refeições onde era um antigo palheiro. Sala aconchegada, onde se come muito bem e em dias de inspiração: divinalmente.
Para minha tristeza e a de muitos Entradenses, a Cavalariça (taberna), depois de sofrer obras de remodelação fechou.
Bem sei que quem “ está no convento é que sabe o que lá vai dentro”, mas não posso evitar dizer que ao fechar-se a taberna, mata-se um pouco da identidade de Entradas.
Faço daqui um apelo. Nem que seja noutros moldes, mas a reabertura deste espaço seria uma mais valia para Entradas, e quem sabe se o inicio de um novo ciclo, agora que Entradas começa a ser terra de vinho e um espaço centenário como é a Cavalariça bem podia ser o santuário onde desembocam todas as castas, ou seja: um espaço de venda e prova desses néctares que nas redondezas se produzem; isto sem nunca descurar a vocação de taberna desta casa, até porque sem ela, este filme não tem graça nenhuma.
E como sempre disse ao Pardal: Este filme só com actores de “papel”, não funciona, os figurantes aqui, têm reservado para si o “papel principal”.

Escrito por pulanito @ fevereiro 26, 2008   18 comentários

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Com os Olhos Postos na Estrada

Pulanito e Cãndido Barbosa


Não sei porquê, mas esta coisa das bicicletas faz-me sonhar.
Desde o meu abalroamento as minhas saídas têm sido esporádicas, e para falar francamente, ainda não ultrapassei o trauma de ter sido abalroado, mas também sei que só passa se o esquecermos em cima do selim da bicicleta.
Ontem de manhã passei por Lagoa e só então me lembrei que a 2º etapa da Volta ao Algarve começava nesta cidade.
Reorganizei a minha vida e fui ver a partida dos ciclistas. Não sei porquê, mas fui assolado por uma vontade inabalável de me montar na bicicleta e partir de novo estrada fora.
Andei ali pelo meio das figuras do pelotão, onde o ruído metálico das correntes a passarem nos carretos soavam a música para os meus ouvidos.
De repente lembrei-me das minhas tiradas ciclistas de Verão. Lembrei-me do sofrimento das intermináveis subidas conquistadas a músculo e suor. Lembrei-me da infindável solidão das estreitas estradas secundárias onde não se vê vivalma. Lembrei-me do reencontro comigo e do gozo de terminar uma etapa depois de seis ou oito horas a pedalar galgando vagarosamente os quilómetros que nunca mais passam.
Lembrei-me das pessoas que ao longo destes percursos fui conhecendo e que me incentivaram a continuar. Lembrei-me do Carneiro, aquela figura que um dia vi aparecer com um veículo estranho numa rua empedrada de Mourão e que me fez sentir que afinal “ não sou um caso isolado, não sou o único a olhar o céu”. Lembrei-me do orgulho que senti de ter chegado ao fim, com as virilhas em carne viva, mas feliz.
E por me lembrar de todas estas sensações, mentalmente também parti com este pelotão, porque mesmo salvaguardando as devidas distâncias, creio que do pão que o diabo amassa, e que estes comem a diário, também eu já tive o meu quinhão.
Ficou-me a vontade de recomeçar e de afincadamente treinar, para que no dia 9 de Junho possa partir de (Santiago de) Entradas e terminar em Santiago de Compostela.
A missão passa por fazer o encontro entre estes três Santiagos: Eu, minha terra e Compostela.
E para incentivar a coisa, aqui fica o campeão Cândido Barbosa que se dignou ser fotografado com este vossos amigo.

Escrito por pulanito @ fevereiro 22, 2008   5 comentários

domingo, fevereiro 17, 2008

De Regresso à Taberna da Marianita

A insubstituivel Mariana da Estação

Num destes passados fins-de-semana em que o Entradense não jogava em casa, portanto com o programa domingueiro assim para o limitado, desafiei o meu amigo António José brito para uma mini á da Mariana da Estação.
Não é tarde nem é cedo, vamos embora - disse ele – e assim nos fizemos á estrada.
Aí chegados ficámos momentaneamente aliviados por ver a porta aberta, sinal que a "brigada dos costumes " ainda deixa respirar a pobre da Mariana.
Entrámos e pedimos duas minis ao inenarrável taberneiro, neto de Mariana Maria.
Olhámos ao redor e vislumbrámos na penumbra a personagem que nos havia feito deslocar de Entradas à Estação de Ourique.
Sentámo-nos á conversa junto ao lume onde a nossa “Calamity” se aquecia; ao ouvirmos uns ruídos estranhos que nos despertaram a curiosidade abri um saco cujo movimento ondulante, denunciava alguma criatura no seu interior.
É um bacorinho que ando a criar – respondeu-nos Mariana matando de vez a nossa curiosidade.
O bicho não teria mais que 3 ou 4 dias e o calor emanado da lareira substituía na medida do possível a falta da mãe porca.
Junto a uma das paredes da dita lareira (assim a amornar) estava uma garrafa de mini meia de leite e com uma tetina de borracha que fazia de biberão. E assim, num ambiente surreal - maternal, temos uma taberna onde a estalajadeira no mesmo espaço onde cria o porquinho também vende as suas minis.
Não sei se Kusturika teria a ousadia de se lembrar de um cenário deste gabarito!
A conversa decorreu sobre as maleitas que a apoquentam, a gripe que não a larga vai para dois meses e pelo meio, estórias ingénuas, deliciosas, que bebemos de forma sôfrega.
Deixo-vos duas.

Mariana Maria ainda é assídua ouvinte do programa “ Património” da Rádio Castrense (programa de índole cultural de grande longevidade e de enorme implantação junto da comunidade rural da região). Ouvinte e participante ( conforme fez questão de mencionar), mas ultimamente não tem conseguido ligação apesar do muito tentar.
Conclusão de Mariana Maria: Isto nã tá bein. Antão aquelas maganas lá da serra conseguem a ligação, e pra mim que tô aqui a dôs passos o telifone está sempre impedido. Só pode ser avaria. Tenho que dezêr ô mê Sérgio para ligar pra companhia dos telifones pra ver o que se passa.

Doutra vez adquiriu um lote de pacotes de lixívia que podia vender mais barato que os vendedores ambulantes que visitavam a aldeia. Apesar da lixívia ser muito mais barata que aquela que os vendedores ocasionais vendiam, as mulheres da aldeia não arrimavam à sua porta. Mariana ferida no seu orgulho fechou de vez a mercearia que a custo mantinha aberta. - Agora mesmo que queiram uma lata de conserva emprestada, não lha empresto. Tenho ali mas é para os meus fregueses. Às vezes pode aparecer aí alguém para almoçar ou jantar e assim já os posso servir, tá a perceber?

Rematou, despeitada a nossa anfitriã daquele tarde de Domingo.

Escrito por pulanito @ fevereiro 17, 2008   3 comentários

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

No Dia dos Namorados


Instituiu-se desde há uns anos a esta parte que o dia 14 de Fevereiro seria o dia dos namorados. Desde então, esta pegajosa moda vem-se celebrando ano após ano e cada vez com mais alternativas, a que o pobre contestatário das imposições não tem como fugir.
Porque é que o dia dos namorados não há-de ser o dia em que se celebra uma semana, um mês ou um ano de namoro, ou então como diz o poeta em relação ao natal e que bem se pode aplicar em relação aos enamorados; pode ser quando estes (needs two for tango) assim o entendam.
É que isto de ser romântico tem que ver com estados de espírito, e pode ser que muita gentinha, seja lá porque razão for, pode não estar sintonizado na frequência romântica, acabando por fingir prazeres, orgasmos e sentimentos, que são coisas, que sendo programadas têm de facto muito menos graça.
Não me amarrem a datas, fronteiras ou compromissos, as minhas celebrações vêm de dentro, do fundo do meu ser e quando acontecem (se acontecem) são nobres, transparentes, raras, mas genuínas.
Tenho sempre grande relutância em celebrar datas que convêm a restaurantes, floristas e hotéis e são emanadas lá do lado de lá do atlântico, mais propriamente da capital do império.
No Brasil existe desde há muito esta instituição, mas que se celebra a 12 de Junho véspera do dia de Santo António. Este sim, um santo casamenteiro, logo, com uma ligeira ligação a este prólogo das relações a longo prazo a que determinámos chamar namoro.
É provável que existam outros países que se tenham rebelado a esta ditadura imperialista do modismo americano, mas francamente não os conheço e ao ler que no Brasil esta data era celebrada num dia diferente, fiquei algo admirado.
E pronto, assim sem querer e só para desopilar a cabeça acabei por escrever um post onde acabei de dar importância a uma coisa que para mim a não devia de ter.
Mas quem é que disse que não sou cheio de contradições!

Escrito por pulanito @ fevereiro 14, 2008   3 comentários

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Catarina Mira - A Shining Star


Esta é a Catarina, minha filha caçula que para além de ser uma filha espectacular, tem vindo a estudar com o fito de um dia vingar no dificil mundo das artes.

Vai segunda-feira iniciar as filmagens da segunda longa metragem onde participa, só que desta vez num dos papeis principais, no novo filme de Marco Martins ( quem se lembra do filme Alice de sua autoria) um dos nomes emergentes da cinematografia portuguesa.

O filme terá por nome " How to Draw a perfect Circle" não sei se será este o titulo final, portanto se não for, as minhas desculpas.

Catarina tem praticamente jeito para tudo. Dança lindamente, fotografa como os melhores http://www.catarinamira.com, a escrever é excelente e na escola é aluna de quadro de honra.

Se tal acontece na escola, porque não destacá-la aqui no Pulanito ?

Bem sei que me podem chamar baboso, ou mesmo coisas piores, mas digam lá....sejam sinceros...tenho ou não razão para me orgulhar?

Escrito por pulanito @ fevereiro 12, 2008   5 comentários

terça-feira, fevereiro 05, 2008

No Rescaldo das Entrudanças 2008

Entradas voltou a repetir o êxito de anteriores edições deste festival alternativo de Inverno onde a dança é o fio condutor de toda a programação e que dá pelo nome de Entrudanças.
Arranjei maneira de ficar os três dias do festival e por lá andei a viajar o olhar por esta interessante fauna humana que demanda Entradas nos 3 dias que dura o Entrudo.
Os forasteiros que nos visitam são gente boa, educada e ávidas de experimentar, para além das oficinas dançantes, aquilo que Entradas tem de melhor para oferecer.
Vemo-los pelas ruas em pequenos grupos, admirando os recantos que Entradas tem para oferecer. Enchem os restaurantes de Entradas, bem como outros locais onde a gastronomia alentejana não deixa ninguém indiferente aos aromas que inundam ruas e sentidos.
Para não ficar aqui a partir cascalho, vou de novo escolher um lote de fotos, onde farei uns comentários que espero sejam suficientemente ilustrativos do que nestes três dias se passou em Entradas.
Como não pude estar em todo o lado, vou sublinhar aquilo que de mais interessante me foi dado a saborear, ver ou apreciar.


A abertura das hostilidades

Os deuses resolveram brincar connosco o carnaval e vá de fazerem a sua partida, resolvendo chover a bom chover na hora do desfile iniciar. Ficam para a posteridade estes cinco gandas malucos, que contra deuses e tempestades se recusaram desistir da abertura das hostilidades Entrudançantes.


Os resistentes das duas rodas

No programa constava uma caminhada ambiental de 1o Km que podia ser feita em bicicleta. Como choveu, o percurso ficou completamente enlameado, o que fez com que nos entrouxássemos de lama. Meu amigo Manel Faria ensinou-me que a vida é feita de ciclos virtuosos e ciclos viciosos. Por mim já não sei o que é virtude há uns bons meses. Estou fora de forma e a viagem a Santiago de Compostela em bicicleta aproxima-se a passos largos.

Tenho que reencontrar o meu ciclo virtuoso rápidamente, sob pena de ser bastante mais penosa a recuperação. A malta Entradense já começou a ciclar e isso agrada-me de sobremaneira, pelo menos já não tenho que o fazer sozinho.


O rufar dos tambores.

Pela tarde de Sábado os tambores rufaram por toda a vila, despertando Entradenses e visitantes para a festa que havia há pouco começado.

Artesãos da minha terra

Os nossos artesãos encarregam-se de nos contar a história das gentes e da terra através dos objectos por si criados.
Na montagem podemos apreciar os trabalhos de Carlos Rosa de Almodôvar. Estes traz-nos mantas, alforges, balsas, meias feitas à mão e o inevitável calçado de Almodôvar. Sapatos domingueiros, botas de atilho ou cano alto, feitas por medida, de entre outros.

Manuel da Silva de Entradas, retrata-nos a vida em forma de miniaturas. Maquetes de edificios Fntradenses em fósforos, ferramentas, artefactos agricolas, carros de bestas e outros em madeira, são a arte deste conterrâneo que dá forma a antanhos objectos com a ponta do seu canivete.


Jogo do Galo

Num oportuno encontro entre Entradenses e forasteiros aproveita-se para matar o tempo e as saudades de um outro tempo em que este pequeno jogo era a play station da altura.
A descoberta do pão alentejano

Este grupo de jovens estrangeiros reparte entre si um pão alentejano que come sem conduto. À pergunta, se não estavam embaçados, disseram-me: Que se na terra deles tivessem pão daquele, tinham o seu problema de subsistência resolvido..
Grupo Coral Infantil " Os Carapinhas"

Para que a nossa memória não seja cilindrada por uma qualquer normativa emanada lá das bandas de Bruxelas, urge que presevemos a nossa identidade. Como de pequenino é que se torce o destino, é fundamental que estas e outras crianças sejam os portadores de um saber que se quer passado de geração em geração, assim... em forma de orgulho.



O chamamento

O retumbar dos tambores foi uma constante durante a tarde e noite de sábado. Este grupo percorreu ruas, lugares, cafés restaurantes, tabernas e demais locais públicos, chamando a participar na festa toda a população.

Grupo Coral Vozes de Casével

A solenidade do cante não podia faltar. Desta feita, essa responsabilidade foi entregue às Vozes de Casével, que cumpriram na perfeição, fazendo ecoar pela Casa da Leda, o afino das suas vozes.

Trio Lam de França

O Trio Lam abrilhantou as noites de Sábado e Domingo, onde os alunos exercitavam os passes que aprendiam durante as oficinas das diversas danças. Garanto-vos...havia para todos os gostos.


Lume com café na " esculatêra" . A minha zona de perdição.

Pronto, aqui vou-me esticar um pedaço mais. Ao ler o programa deparo que as portas da Adega do Zé Duarte, foram de novo abertas á população e incluidas no programa das festividades. Fui entrando neste lindissimo espaço que o Zé projectou e reconstruiu com esmerado gosto e respeito pela traça original, como era de resto seu apanágio. A sua permatura morte não lhe permitiu gozar deste espaço na sua verdadeira plenitude. De qualquer modo, Zé Duarte fez aqui durante anos, um vinho de excelente qualidade, especialmente o branco que era de se lhe tirar o chapéu, vinho eese que distribuia por todos os amigos e população em geral que não necessitava de convite para as suas festas, porque estava por natureza convidada, tal era a genuina relação que Zé Duarte ´mantinha com a população...paz á sua alma...voltemos ao que ele nos deixou, que decerto lá de onde nos espreita deve estar feliz por os seus compartilharem este espaço, itegrando-o neste acontecimento anual.

Haviam-me dito que iria haver café de "esculatêra" com fatias de ovo, um manjar divinal, ainda por cima naquele generoso espaço. Lanchámos uma linguiça caseira com o tal café e logo ali combinámos uma almoçarada para o dia seguinte. O que há-de ser: pode ser lebre com feijão branco, remata a Fátima Feio. E onde vamos buscar as lebres? pergunta alguém! À arca do meu irmão, que tem lá muitas, volta a insistir a Fátima.

Passei por lá de manhã a comer as tais fatias de ovo com o famoso café de "esculatêra" e à uma da tarde lá estavamos para devorar o jantarinho de lebre que cheirava divinalmente cá fora.

Levámos a nossa pinga que repartimos com os amigos e os desconhecidos que entretanto vinham chegando guiados pelo intenso cheiro da cozinha alentejana que como se sabe é abrilhantada por ervas e especiarias deitadas na panela por ponderadas mãos.

Logo ali combinámos o jantar e as refeições dos dias seguintes., até que acabámos hoje com um delicioso cozido de grão e a promessa de repetir pelas festas de Verão tão interessante work shop.

A equipa maravilha

Aqui fica a foto das intervenientes que tiveram o condão de participarem numas festas de que os Entradenses gostam, mas a que uma parte significativa é alheia. Julgo que com a intervenção destas mulheres se abriu um novo capitulo no que diz respeito a este tipo de voluntariado...pelo menos a avaliar pela alegria demonstrada pelas participantes.


Oficinas de Dança

As oficinas de dança atraem muitos dos forasteiros ( são raros os Entradenses que aderem ) que vêm á procura de acertar o passo com o do parceiro. São interessados e aprendem com relativa facilidade. À noite pratica-se aquilo que se aprendeu durante a tarde e manhã.

São muitas as oficinas de dança. Italiana, Alentejana, Afro- Brasileira e tantas outras...faz-se exercicio fisíco e sai-se daqui com um melhor conhecimento do nosso corpo.


Ica em acção

O Ica é um dos meus conterrâneos mais participativos. Na altura da foto cantava para forasteiros e Entradenses versos de sua autoria, o que dá sempre um toque de originalidade à coisa.

Camacho, pastor e flautista

Tenho neste meu conterrâneo dois momentos que marcaram a minha relação com Entradas. Da primeira vez, fui dar com ele a tocar a sua flauta na taberna do Carapeto...achei que era um quadro de rara beleza. Entre minúsculos copos de vinho, Camacho debitava o que tinha aprendido " lá nos campos ao rigor". Foi uma noite igual a tantas para ele, mas para mim foi a data em que decidi ter casa em Entradas....ficas agora a sabê-lo.

Da segunda vez, sou surpreendido por uma miragem. Subindo eu a Rua do Paço num dia de Inverno, mais ou menos por altura da casa onde morei antes de abalar para Lisboa, vejo surgir ao virar da esquina e em passo cambaleante uma figura vestida com um jaquetão que me pareceu militar. Vinha tocando uma flauta, coisa única que se ouvia entrecortada com o vento que casava na perfeição com a melodia.

Pensei que a guerra tinha acabado, e este ébrio flautista apregoava a boa nova....

Chamo a isto FELICIDADE... a figura que tocava o instrumento era de novo o Camacho.

Coisas minhas que agora compartilho convosco.

Ciganas Entradenses

Na amálgama de gente que nos visitou nestes dias, não podiam faltar os ciganos...essa gente errante que pintalga a paisagem alentejana emprestando-lhe um ar de aventura que (pelo menos a mim) nos faz suspirar.

No caso presente são moradoras cá na terra, completamente integrados...ou será, domados??

Preparando tengarrinhas

Nem só de dança vive o homem. Estes meus dois conterrâneos foram surpreendidos pela minha objectiva quando preparavam as tengarrinhas que um deles tinha ido apanhar ao campo.

Tengarrinhas com ovos e linguiça é mais um pitéu que recomendo que experimentem. Os forasteiros que experimentaram ficaram fãs e lógicamente...deliciados.

A música sempre presente

A música foi uma constante durante os três dias de festa. Para ilustrar o postal trago-vos esta acordeonista forasteira que para além de gira...tocava bem. É que podia ser só gira, mas não..tocava mesmo bem!

Tânia Santiago

Porquê destacar esta miúda?
Porque se orgulha de ser alentejana. Porque está sempre bem disposta. Porque tem uns olhos lindissimos. Porque é voluntariosa e também porque é a única que usufrui do melhor de dois mundos. Filha de Entradense assiste, participa e ajuda no Entrudanças. Como o pai é de Carvalhais (onde se faz o Andanças) está sempre em casa...diria mesmo...Não é justo!

Galandum Galandaina

Foi esta banda que fechou as festividades Entrudançinas. Originários do planalto Mirandês, surpreenderam pela sua qualidade instrumental e vocal, exprimindo-se sempre na sua lingua Mirandesa.

A gente por aqui também tem muito orgulho no nosso sotaque!

Vieram transvestidos de Village People e acompanhados pelos vertiginosos Pauliteiros do Grupo Galandum Galandaina que causaram sensação cá pelas terras mais a sul.

Esta correção foi feita por J. Bacelar em oportuno comentário, já que lhes havia chamado Pauliteiros de Miranda.

Já agora. O que quererá dizer GALANDUM GALANDAINA...quem souber é só postar.


Para o ano há mais..


Pauliteiros do Grupo Galandum Galandaina

Eu fui a Entradas ver os pauliteiros, ver os pauliteiros eu fui a Entradas.

Escrito por pulanito @ fevereiro 05, 2008   11 comentários

Deixe aqui a sua opinião sobre o Fado!

Links

  • Jardins de Inverno
  • um e o outro - blog do Tim
  • Casa Das Primas
  • Oxiclista
  • correio alentejo - um jornal a ter em conta
  • Mokuna
  • Alojamento grátis em mais de 1300 hotéis. 17 países da Europa
  • Insomnia - Um blogue alentejano a visitar
  • Prova Escrita
  • Alvitrando
  • A Cinco Tons
  • NeuroNewz
  • Tricotar o Tempo
  • Entradas Anteriores

    • Lugar Nenhum Ed Hoster e Napoleão Mira
    • Passagem Para a Índia
    • Incongruências
    • Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid
    • Napoleão Mira na RTP
    • A Fé e o Medo
    • Napoleão Mira - AS Portas Que Abril Abriu - (Ary ...
    • Esta Lisboa Que Eu Amo Houve um tempo (lar...
    • Ribeira de Cobres
    • A Velha Pasteleira
    • Reveillon

    Arquivo

    • agosto 2006
    • setembro 2006
    • outubro 2006
    • novembro 2006
    • dezembro 2006
    • janeiro 2007
    • fevereiro 2007
    • março 2007
    • abril 2007
    • maio 2007
    • agosto 2007
    • setembro 2007
    • outubro 2007
    • novembro 2007
    • dezembro 2007
    • janeiro 2008
    • fevereiro 2008
    • março 2008
    • abril 2008
    • maio 2008
    • junho 2008
    • julho 2008
    • agosto 2008
    • setembro 2008
    • outubro 2008
    • novembro 2008
    • dezembro 2008
    • janeiro 2009
    • fevereiro 2009
    • março 2009
    • abril 2009
    • maio 2009
    • junho 2009
    • julho 2009
    • agosto 2009
    • setembro 2009
    • outubro 2009
    • novembro 2009
    • dezembro 2009
    • janeiro 2010
    • fevereiro 2010
    • março 2010
    • abril 2010
    • maio 2010
    • junho 2010
    • julho 2010
    • agosto 2010
    • setembro 2010
    • outubro 2010
    • novembro 2010
    • dezembro 2010
    • janeiro 2011
    • fevereiro 2011
    • março 2011
    • abril 2011
    • junho 2011
    • julho 2011
    • setembro 2011
    • outubro 2011
    • dezembro 2011
    • fevereiro 2012
    • março 2012
    • abril 2012
    • maio 2012
    • junho 2012
    • julho 2012
    • agosto 2012
    • setembro 2012
    • outubro 2012
    • novembro 2012
    • dezembro 2012
    • março 2013
    • abril 2013
    • maio 2013
    • junho 2013
    • julho 2013
    • outubro 2013
    • janeiro 2014
    • fevereiro 2014
    • março 2014
    • abril 2014
    • maio 2014
    • junho 2014
    • agosto 2014
    • setembro 2014
    • outubro 2014
    • fevereiro 2015
    • março 2015
    • abril 2015
    • fevereiro 2016
    • março 2016
    • julho 2016
    • agosto 2016
    • setembro 2016
    • outubro 2016
    • novembro 2016
    • abril 2017
    • maio 2017
    • junho 2017
    • julho 2017
    • fevereiro 2018
    • outubro 2018
    • Current Posts

    Powered by Blogger


 

 visitantes online