sexta-feira, março 28, 2008

Caminhos de Santiago

Oh p´ra mim todo entusiasmado!!!

Gosto desta coisa de decidir. Gera-se dentro de mim um mecanismo, que entrando num enorme reboliço elege esta ou aquela opção, algumas das vezes contra a minha escolha racional.
Digo isto porque tenho andando em baixo de forma há largos meses e de repente sou sobressaltado pelo meu grilinho das decisões que me aconselha mudar de agulha em relação aos meus hábitos de vida e me ordena entrar num novo ciclo, desta vez, um ciclo virtuoso em detrimento do ciclo vicioso em que tenho andado enredado.
Estava eu nesta grande disputa com o grilinho da minha consciência, quando recebo do Joaquim Miguel de Évora uma chamada dando-me conta da data marcada com partida para Santiago de Compostela que haviamos combinado no Verão passado.


Esta chamada, fez com que optasse de imediato entrar num programa de rejunescimento acelerado, ou seja; obrigatoriedade de perder rapidamente as gorduras acumuladas (uns 8 kg) e recuperar a forma ciclistica que me permita pedalar cento e tantos quilómetros sem um sofrimentos exagerado...por isso toca a treinar.
Partiremos de Évora dia 7 de Junho mas eu partirei de Entradas no dia 6 de Junho para fazer a ligação de Entradas (que já se chamou Santiago de Entradas) a Santiago de Compostela, coisa que rondará aí uns 800 Quilómetros e de que obviamente vos trarei aqui notícias a diário, tanto mais que vou poder levar comigo o computador.
Como devem ter reparado aqui ao lado já tenho um relógio que marca a contagem decrescente para a próxima epopeia.
Algumas (muitas) pessoas com quem falo acerca deste tema, fazem o percurso mentalmente e não acham que seja grande fineza percorrer estas distâncias em bicicleta, mas acreditem, imaginando não dói, mas em cima das duas rodas a coisa às vezes é muito dura.
De qualquer maneira, não estou aqui para me lamentar, mas sim para convosco compartilhar a alegria que é vencer um desafio com este fôlego, e dele fazer mais um marco na lista dos objectivos alcançados.

Percurso (as distâncias não estão 100% calculadas)

Entradas – Évora 140 Km
Évora – Torres Novas 150 Km
Torres Novas – Guia 80Km
Guia – Ílhavo 100 Km
Ílhavo – Póvoa de Varzim 120 Km
Póvoa de Varzim – Baiona 110Km
Baiona – Santiago de Compostela 110Km

Percurso total: cerca de 800 Km

Escrito por pulanito @ março 28, 2008   15 comentários

domingo, março 23, 2008

As Andorinhas da Minha Crença


Estão de excelente saúde os quatro filhotes andorinha que os pais se desdobram em alimentar até lhes matar a fome e lhes calar o lancinante pio.
Desde tempos imemoriais que assim acontece e que nós (uns mais que outros) aprendemos a respeitar.
Quando era criança e vivia na aldeia, as nossas brincadeiras eram de algum modo cruéis. Apanhávamos cágados na ribeira, depois furávamos-lhe a rija crosta com um prego, para que este tivesse um orifício onde atar as inúmeras latas de conserva com rodas de botão que faziam de comboio e de que o pobre cágado era a locomotiva.
Uma das coisas que qualquer gaiato aldeão aprendia desde cedo, era a fazer uma fisga; com ela, melhorava a autoconfiança de quem afinal andava armado. A habilidade no manejo deste objecto em forma de forca, com dois elásticos a segurar as hastes e funda de cabedal, ditava chegar a casa vitorioso ou vencido. Com estas armas testávamos e treinávamos a pontaria, destreza absolutamente necessária para quem queria chegar a casa com um ou mais pássaros que depenávamos pelo caminho e à noitinha assávamos com um ponta de sal no braseiro do lume.
Digo isto para afirmar que éramos (aos olhos de hoje) uns verdadeiros bárbaros, mas para nós era a coisa mais normal do mundo apanhar uns quantos pássaros para comer.
Uns tantos pássaros..alto lá. Podíamos apanhar pardais, melros, calhandras, trigueirões e outra maralha da mesma igualha, mas atirar a uma andorinha seria um acto de enorme censura.
Diziam-me em casa, na rua e na escola – As andorinhas são aves de Deus, é um pecado muito grande matar uma, e comê-las nem pensar.

Desde muito pequeno que interiorizei a mensagem, e tenho feito dela regra de vida. Há muito que sou um admirador, e porque não dizê-lo, protector das aves negras da minha crença.
Aprendi a admirar-lhes a capacidade arquitectónica com que constroem os seus ninhos, mais ou menos da mesma maneira que nós construíamos as casas: com palha, barro e água. Agora fico sem saber que copiou quem!
Continuo a não compreender o mistério (e não quero que mo expliquem), das andorinhas voltarem a cada ano ao mesmo local, ao mesmo ninho, depois de percorrerem milhares de quilómetros.
Escrevo a ouvir o chilreio vespertino da refeição da tarde. Mãe e pai revezam-se em viagens vertiginosas na procura de alimento para saciar aquelas quatro bocas que dentro em breve sairão pela primeira vez do ninho, pelo menos a avaliar pelo porte que apresentam.

Somos aquilo em que acreditamos!

Mesmo aqueles que dizem que não acreditam em nada, acreditam, que não acreditam em nada, logo também serão fruto de algum tipo de crença.
O homem é um animal religioso, e mesmo os que se confessam agnósticos com eu, lá terão as suas convicções. A minha vai direitinha para as andorinhas. Acredito que se as minhas andorinhas regressarem a cada ano ao seu ninho (que preservo religiosamente), ou ao ninho dos seus antepassados, eu e os meus teremos um bom ano.
Bem me podem dizer que uma coisa não tem a ver com a outra, que “ o que será, será”, que a vontade divina é que manda, que nós fazemos o nosso próprio destino com as decisões que tomamos, mas se acreditar que as andorinhas me ajudam a escolher os caminhos que trilho e se estas decisões forem mais acertadas que erradas, que mal haverá em lhes atribuir uma quota-parte do êxito dessas mesmas escolhas.
Por mim, continuo a acreditar no voo rasante das aves negras de papo branco, que com a chegada da Primavera trazem mais vida à minha vida.

Escrito por pulanito @ março 23, 2008   2 comentários

segunda-feira, março 10, 2008

Pai Chão

A essa coisa a que nos agarramos e que chamamos de bairrismo, chamo eu de: pai-chão, que é assim uma forma de nos expormos ao ridículo mas sem nos importarmos de ser lamechas, triviais ou mesmo repetitivos.
Hoje, deixo correr o pensamento pelas caras que povoam a minha avenida e que fazem dos meus dias alentejanos, um ritual que tem tanto de banal como de admirável.
Aqui na Avenida de Nossa Senhora da Esperança em Entradas, que nos tempos de mocidade dos meus pais era um enorme largo (chamado então de Rossio), encimado por um cruzeiro, o poço da vila mais abaixo e uma ponte sobre o barranco a demarcar o limite mais a sul. Foi por aqui que a Vila de Entradas se começou a expandir no início do século passado, formando duas filas uniformes de casas térreas caiadas de branco que ladeavam esses imenso largo.


Belmiro Isidro Caeiros, era ao tempo da minha infância o presidente da Junta de Freguesia e um corporativista assumidíssimo, que deixou em Entradas uma obra de envergadura se atendermos aos meios de então e à dimensão da pequena vila.
O Rossio de Entradas, passou a Avenida por via da pertinácia deste homem, que esteve para Entradas como Duarte Pacheco terá estado para o país.



Entradas em 1955 - ainda com o Rossio


Entradas em 1975 - vista da torre da igreja



Entradas em 2007 -panorâmica vista da torre da igreja

Com os escassos meios económicos e materiais de então, conseguiu alterar substancialmente a fisionomia da vila de Entradas. Mandou construir o edifício da Junta de Freguesia (uma referência arquitectónica de Entradas no estilo Raul Lino) ordenou o calcetamento de todas as ruas principais, engendrou criar um espaço verde na nova avenida, dividindo assim em duas vias com um excelente jardim central, o ancestral Rossio Entradense.
Dessa radical modificação, nasceu uma Avenida que é hoje o ex-libris de Entradas ( com citações em vário livros da especialidade como um exemplo de arquitectura popular) e motivo de admiração para quem nos visita e que a nós, nos enche de orgulho.

Sou guiado por cheiros!
Aqui nesta ampla alameda reconheço os odores matinais dos produtos que os vendedores ambulantes nos trazem à porta de casa. Um luxo nos dias que correm!
Pelo fresco da manhã, por uma greta, ou por um postigo entreaberto, pressinto o cheirinho a café que vem quase sempre lá da cozinha ao fundo da casa, percorrendo o corredor e penetrando nas minhas intrusas narinas.



Custódio Feio - o último peixeiro de canastra

Quando o peixeiro passa, deixa no ar o perfume de um mar distante, que à força de gelo, mantém frescos os produtos oceânicos que nos vende de porta em porta.
Há carapau e pêxe – era o grito de guerra de Custódio Feio, peixeiro antigo, montado na sua Famel com a canastra no suporte tapada com serapilheira molhada. Há alguns anos retirou-se destas lides, cedendo lugar a outra geração, que continua a servir-nos de porta em porta, mas com um equipamento mais condizente com os tempos e exigências de agora.
Ainda pela manhã e a distintas horas passam padeiros daqui e doutras terras. Quando abrem as portas para aviarem a freguesia, brota do cavername destes veículos um cheiro intemporal a pão fresco que invade o espaço e dependendo da hora da aquisição, marca o começo do dia de cada uma dessas famílias.

Mais à frente reparo no Pardal empurrando o seu carro-oficina. Diz-me que vai reparar umas portas a uma velhota que não tem com que lhe pagar. Agarro-me a esta vulgaridade que é a generosidade Entradense e volto a um antiquíssimo pensamento de quem já correu mundo: É bom estar de volta!



Pardal e o seu veículo oficina

Quando vejo o Pardal empurrando o seu carrinho de madeira carregado de ferramentas de carpinteiro, é inevitável que viaje no tempo (que me desculpem, os que me acham lamechas e repetitivo). É para mim inevitável fazer este percurso às minhas entranhas e revisitar os vendedores ambulantes que me povoam a memória.
Lembro-me do Sr. Celestino que teria um carro doutro formato, mas que com a mesma forma de locomoção, percorria as (poucas mas longas) ruas de Entradas vendendo panos, botões, fitas e cordões na sua retrosaria ambulante, também possuía um pequeno estabelecimento de venda dos mesmos produtos, que para se fazer assinalar tinha pendurado à porta um chapéu domingueiro feito de lata; chapéu esse, com que vezes sem conta me reencontro nas revisitações entradenses que me perseguem.
Lembro-me (e lambo-me só de neles pensar) dos vendedores de batata-doce cozida que deambulavam pela vila, procurando com a venda deste produto compor o parco orçamento familiar.

Grupo de ourives de abalada ( de Vilamar) para mais uma campanha...de reparar que se vestiam "de grave "para o negócio.

De quando em vez aparecia um homem bem trajado montado na sua bicicleta pasteleira e no suporte uma caixa metálica verde escura; mal se apeava retirava de imediato as molas metálicas que lhe prendiam às pernas as bocas das calças. Era o ourives ambulante, que vindo lá de Alcanena ou Vilamar (terras de onde estes profissionais era originários) percorria o Alentejo até às cercanias do Algarve. Andava de terra em terra vendendo essencialmente ouro, mas também trazia relógios de pulso e de bolso, e por vezes, também fazia de oculista, trazendo as lentes dióptricas em falta para aqueles que delas necessitassem.
Na minha povoada lembrança há ainda lugar para o Baltazar Madeira Coelho, acordeonista e animador de “balhos” desde que me lembro, mas que também retenho por outros nobres motivos.


Baltazar acordeonista - foto em 1992

Baltazar (gosto deste nome!) cedo ficou cego, mas tal incapacidade nunca foi impedimento para o governo da sua vida, quer no que diz respeito à parte musical, como à lida e labuta do dia a dia. Falando da fauna que povoava a avenida, Baltazar era quem nos chegava com os produtos frescos da horta de seu pai (agricultura biológica, nesse tempo não se conhecia outra; hoje é um luxo!) que com a sua carrinha puxada por uma velha burra, vendia a colheita dos produtos que estavam no seu tempo.
Também aqui, corria atrás deste conterrâneo, unicamente com fito de me deliciar com o cheiro dos produtos que este a diário trazia à venda. Ainda hoje tenho a mesma mania que é considerada má educação, mas continuo a meter primeiro o nariz, e só depois os olhos.
Quando o Verão chegava, meu tio Joaquim Algarvio ia a Alvalade comprar uma carrada de melancia. Aparelhava a besta à carrinha e abalava noite cerrada levando sempre um ou dois dos sobrinhos mais velhos como companhia para ele, e aventura para estes.
Regressava ao fim da tarde, onde o resto da prol sobrinhal aguardava para ajudar à descarga, pesagem e marcação dos valores a cobrar por cada uma das deliciosas melancias de Alvalade, que seriam vendidas no dia seguinte de porta em porta, pelos que não tinham ido na viagem. Era uma aventura e peras!

Devemos estar mais ou menos a meio deste post…portanto se pretenderem abandonar, voltar outro dia ou coisa que o valha, é este o momento. Caso contrário continuemos este anárquico passeio pelas memórias deste escriba que passam inevitavelmente pela Avenida de Nossa Senhora da Esperança em Entradas.


Num tempo em que a electricidade ainda não havia chegado a Entradas (chegou em 63..se não me engano) os entretenimentos da população eram completamente diferentes daquilo que hoje são. Não havia electricidade, logo não havia televisão e radiotelefonia só para uns quantos abastados.
Os que só se tinham a si, só consigo podiam contar, ou então, com os da sua igualha, daí que muita da entretenga de crianças, jovens e adultos passasse por ouvir contar histórias ao serão.
De Inverno à roda do fogo, imaginando os protagonistas dos relatos na dança flamejante das labaredas; de Verão, sentados ao fresco ouvindo em silêncio as peripécias de heróis nossos conhecidos, aqui e ali interrompidas pelos cumprimentos de outros que tinham como entretenimento passear ao sereno nas noites quentes de Verão.
Das situações que mais desconforto causavam à população, era a visita da Guarda Nacional Republicana, que montada nos seus cavalos, faziam com que à sua chegada toda a gente recolhesse a casa, e aguardasse a sua passagem com o coração a bater descompassadamente, enquanto os mais afoitos, sustendo a respiração, os espreitavam pelas frestas da janela.
Nunca mais gostei desta gente, e ainda hoje, tenho alguma repugnância em falar com muitos deles.
Por outro lado não tinha qualquer receio dos malteses, essa gente libertária que percorria os campos e terras do Alentejo, fintando um destino incerto e essa mesma guarda, que eram afinal os seus (e os nossos) piores inimigos.
Ao tempo “andar na maltesaria” era essa coisa de andar sem destino, sem horários, sem patrão, enfim, eram seres livres que pagavam o preço da sua opção vivendo do que lhes davam, dormindo onde e com quem calhava, fazendo aqui e ali um trabalhozito temporário, e quando tal não aparecia, não restava outra alternativa que não fosse surripiar um borrego ou uma galinha para comerem junto à ribeira, zona preferida desta tribo onde se costumavam reunir e muitas pernoitar.
Josué dos Galos, Maria Franca, Folha de Couve, Xarata, Bia, Cagote, Pinta Cagada, Zé Pequenino e José do Corno eram alguns dos nomes que faziam poiso por estas bandas, mas do que me lembro com mais clareza é do Manel de Santa Bárbara, porque o conheci pessoalmente, mas também porque eram dele, muitas das histórias com que éramos presenteados nesses serões entradenses.

Regresso á avenida de hoje e onde não vou há três semanas, daí este meu provável exercício feito em forma de compensação.
A partir de agora, quando o calor começar a apertar e sempre que no calendário for dia de Sábado, umas quantas portas acima da minha, o vizinho Marques há-de em alto e bom som pôr uma aparelhagem a tocar unicamente “ modas” alentejanas que escutará resfaltado na sua cadeira de praia que pranta em pleno passeio; “modas” essas, que perfumarão o ar com um cante que é nosso.
Este quadro Entradense era até há pouco completado com o vizinho Elesiário (morreu recentemente) que do lado sul da minha casa acompanhava ao vivo as “modas” que o Marques debitava mais acima nos seus altifalantes.
Olho para o outro lado do passeio e vejo caminhar pelo passeio os 3 manos Guerreiro Mestre, sempre em carreirinho atrás uns dos outros e pela mesma ordem. Parecem aquela banda de SKA, chamada Madness. Devem ir beber café, penso!
Primo Zé das Pestanas, acena-me e diz-me lá de longe que tem uma coisa para mim. Não tarda em aparecer com uma couve portuguesa de encher o olho. Faço de imediato uma troca e ofereço-lhe uma garrafa de vinho para o almoço.
Este hábito de ofertar coisas entre si, é na vizinhança Entradense uma coisa há muito enraizada e demonstrativa do apreço que uns nutrem pelos outros.


O meu sonho é ser aldeão.
Levantar-me pela manhã quando o dia raia
Partir por aí à bolina das veredas
Entranhar-me nelas sem destino
Descobrir prados verdejantes e penedos agudos
Regressar pelo sereno ao povoado
E com o meu bordão de caminheiro
Num gesto de insanidade
Contar uma a uma, as pedras desta calçada

Escrito por pulanito @ março 10, 2008   14 comentários

Sam The Kid Negociantes

Finalmente entrou no circuito da Net o extrordinário clip do Samuel retirado do álbum Pratica(mente) e referente á faixa "negociantes".
De relembrar que a reedição deste disco que atingiu o galardão ouro pelos mais de 10.000 discos vendidos ( é obra...no mercado de hip hop) está aí, com remixturas de temas nele contidos e ainda algumas novas faixas que tinham ficado de fora aquando do seu inicial lançamento.
Esta é uma edição para coleccionadores e se comprares o disco na FNAC este vem autografado pelo Samuel, o que lhe confere um estatuto de objecto de culto para aqueles que acompanham e vibram com a obra do Samuel.
Pela minha parte deixo aqui o link para este extraordinário videoclip, que não fica nada atrás do que se faz por esse mundo fora.
De realçar que o o realizador é o mesmo que filmou o " poetas de Karaoke".
Ouçam, vejam, comentem e......divirtam-se.

Escrito por pulanito @ março 10, 2008   4 comentários

quinta-feira, março 06, 2008

Sam The Kid - Ultimas Noticias


Enquanto não consigo o novo video do Samuel, chamado "Negociantes" e que poderão muito em breve ver aqui no Pulanito.
Encontrei este fabuloso texto do André Lamelas, que penso ser de rara sensibilidade e que gostaria de compartilhar com os clientes deste botequim.
Só duas ou três pequenas curiosidades para aqueles que não o saibam. O Samuel vai para os Estados Unidos participar num grandioso festival -Trinity International Hip Hop Festival.
É em Março o artista do mês na MTV.
A Reedição do Pratica(mente) com mais três faixas e com versões de músicas suas feitas por outros artistas.
Para além disso está a produzir um novo Clip deste mesmo disco, sobre uma ideia original do escritor alentejano José Luis Peixoto.

E pronto, aqui fica o texto do André Lamelas.


Sam the Kid faz hip-hop, rap, whatever you want to call it. Contudo isso não é forçosamente mau. No seu último album, escondida entre a revolta contra os que cantam em inglês, podemos encontrar um belíssimo diamante (de sangue, não como o filme mas daqueles que se fazem com o sangue de toda uma vida) chamado "Slides (Retratos da Cidade Branca)" (um bem haja à Cachucha pela sugestão). Valeria certamente debruçarmo-nos sobre ela. Ouvi-la muitas vezes, beber-lhe cada palavra, cada sílaba como uma lição preciosa sobre o passado que não volta, sobre as vulgaridades que preenchem a vida e que, no fundo, são aquilo que mais recordamos aquando do seu ocaso.Mas Sam the Kid já conseguira ser mais melancólico e ainda mais imenso. Em 2002, com "Beats Volume 1 - Amor", Sam conquista o seu lugar na minha atenção. Para alguém que, como eu sempre odiou o hip-hop e tudo o que vinha daquelas zonas, foi um rude golpe ter de dar a mão à palmatória e admitir a paixão imensa por tão belo album.O Amor segundo Sam the Kid, em batidas, 17 faixas dedicadas aos seus progenitores (clip alma gémea)a representar a sua visão sobre mais importante história de amor da vida de qualquer um de nós: a dos nossos pais. Mas Beats soa a mais do que isso. Imaginemos a concepção mais esterotipada do hip-hop. Bairros suburbanos, caixotes ao alto a que alguns chamam de "casa", cinzento, paredes pintadas de grafittis, gente simples, com sonhos, com necessidades como qualquer um de nós. E é para o meio de todo esse mundo que este album nos transporta. Não soa ao amor heróico do cavaleiro que derrota monstros mitológicos com a sua espada para salvar a princesa, não soa ao amor daqueles que um dia chocaram um contra o outro na rua e nunca mais se largaram. Soa ao amor do rapazinho que interrompe o futebol dos intervalos do recreio para ir dar um beijo à miuda que surge nas bancadas, soa ao mesmo casalinho que vai para o parque namorar quando ainda mal sabem quem são, soa aos bilhetinhos nas aulas, à inocência de tudo isso, à descoberta da adolescência. No fundo, soa ao amor mais vulgar do mundo, ao amor mais comum e mais incaracterístico de todos, ao amor que podia ser o de qualquer um de nós. Talvez por isso este album valha tanto a pena. Porque no fim de contas, de que nos serve o amor do herói e da sua espada e do seu cavalo quando tudo o que somos é um miudo na fila do fundo, a mirar a rapariga da primeira fila e a enviar-lhe um bilhete com dois quadradinhos: um para o sim, outro para o não. O que muda é apenas o bilhete.

Escrito por pulanito @ março 06, 2008   8 comentários

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