quinta-feira, agosto 21, 2008

Dia 2 - Por Terras do Grande Lago

Já a aurora havia rompido há um belo par de horas quando abalámos de Moura, capital do melhor azeite alentejano e agora cidade de referência do grande lago do Alqueva, que era o nosso destino principal para este segundo dia pedalante, ou seja visitar algumas das aldeias e vilas ribeirinhas desta impressionante massa de água, que tem um perímetro maior que a totalidade da costa portuguesa e que será em anos vindouros um bálsamo rejuvenescedor para periclitante economia desta região.


Na Póvoa de S. Miguel fotografei este curioso catavento.
Percorrendo as estradas desertas que circundam o grande lago, fomos visitar a aldeia da Estrela (nosso primeiro destino).


Aqui está a prova de que passámos pela aldeia da Estrela..


Aqui chegados, impunha-se a tradicional foto a assinalar a nossa passagem por esta aldeia ribeirinha, que de resto era primeira visita para os meus companheiros de viagem, mas para mim a recordação de uma outra viagem (2006) onde havia ali ficado prisioneiro do imenso calor que se fazia sentir nesse Agosto infernal.
Como a Aldeia da Estrela não tem saída, regressámos à estrada que nos há-de conduzir a Mourão, não sem antes regressarmos às margens deste mar alentejano para visitarmos a nova Aldeia da Luz.


Na aldeia da Luz

A aldeia é bonita, e impressiona o trabalho de reconstituição levado a cabo pelas entidades responsáveis pelo realojamento dos habitantes da agora submersa aldeia.
Os Luzienses continuam descrentes com a incerteza que o futuro lhes pode oferecer, mesmo com esta imensa riqueza que à porta lhes veio bater, continuando a demandar outras paragens por via da ausência de futuro imediato que para eles continua a ser uma miragem.

Nas fraldas do Alqueva


O trajecto até Mourão foi feito em pedalada passeante e em debate a três sobre as causas, efeitos e potencial que esta bonita povoação poderá oferecer num amanhã não muito longínquo.
Chegados a Mourão, fomos à procura da famosa Adega Velha, esse mítico santuário gastronómico de que ouvira falar, mas que nunca tivera a oportunidade de visitar.
Como falamos de um local “ à la Pulanito”, mas de impressionante valor gastronómico e patrimonial, vou aqui alargar-me um pedaço, para vos deixar com água na boca e vontade de por lá aparecer assim que demandarem aquelas paragens.



Adega Velha

À porta um ramo de louro pendurado, (o ramo pode ser doutra coisa que não louro) que o dono aproveita para secar, indica-nos (como em tempos imemoriais) que estamos à entrada de uma casa onde se servem vinhos e petiscos.

Engenheiro, perdão! - Adegueiro Joaquim Bação - o nosso anfitrião


Estas casas eram frequentadas por homens, já que as mulheres que aqui faziam poiso eram chamadas de “rameiras” (por via do tal ramo à porta), com a mesma conotação negativa com que o adjectivo atravessou os tempos.


O Adegueiro, perdão, o Engº Joaquim Bação, fazendo o que lhe dá mais prazer: anfitrionando na Adega Velha.


Lá dentro e atrás do balcão a figura de um homem calvo que se nota à distância, amar aquilo que faz. Conta-me o Joaquim Miguel que o conhece, que é engenheiro, mas que por vocação, é na verdade adegueiro, e isso transparece na luz que irradia da figura deste homem que se destaca tanto atrás do balcão, como quando se mistura com os clientes em cantoria alentejana de arrepiar corações aos clientes menos habituados ao cante da terra.

Um cantador residente


As talhas, o lajeado do chão, os imponentes móveis antigos, a colecção de rádios, de pintura, de fotos e de um sem número de artefactos, mais o abobadado da adega fazem deste local um museu vivo por onde os nossos olhos passeiam em vertiginosas viagens a um passado que de repente renasce em vigorosas e presentes memórias.
“ Eu quero é morrer aqui” debitava eu metaforicamente, entre copos de um branco de se lhe tirar o chapéu, enquanto os meus comedidos companheiros de viagem se assustavam com as proporções etílicas do meu empolgamento, tanto mais que ainda tínhamos pela frente umas boas dezenas de quilómetros para calcorrear.
Debicámos (a convite da clientela habitual) tomate com sal e orégãos para acompanhar os minúsculos copitos de branco.


Os três "astronautas" deliciando-se na Adega velha - Foto de João Pedro

Depois do cante veio o repasto e posso-vos garantir que do que provei, é tudo excepcional. As azeitonas, o queijinho, o chouriço, o vinho e o cozido de grãos absolutamente divinais.
Por mim teria ficado por ali, mas outro destino esperava por nós e foi com redobrada vontade de ali regressar que montámos as nossas máquinas pedalantes e partimos em direcção ao entardecer.

Em breve voltaremos!


Ainda em Mourão deparámo-nos com este " Tuti Frute"!!!


Depois foram sessenta dolorosos quilómetros até ao Redondo onde pernoitámos.
Como não tínhamos nada marcado e o cansaço era por demais evidente ficámo-nos pelo primeiro local onde nos aceitaram e que se verificou ser um verdadeiro pardieiro.
Reparti com o Carneiro aquela coisa chamada quarto com uma minúscula casa de banho (fora do quarto) que nos recusámos a utilizar quando a manhã chegou, tal o estado em que estava, visto os restantes utilizadores (muitos) desse espaço serem verdadeiros sabujos.
Regressarei em breve para a jornada derradeira por terras do Alentejo.

Quilómetros percorridos: 112

Etiquetas: Aldeia da Estrela, Aldeia da Luz, Alqueva, Mourão, redondo, Serra d'ossa

Escrito por pulanito @ agosto 21, 2008   7 comentários

domingo, agosto 17, 2008

Pulanito, Carneiro e Joaquim Miguel à Descoberta dos Lagos Alentejanos.

Aqui está a minha máquina pronta para partir, com o respectivo "zingarelho" montado

Este ano, temos como desculpa para pedalar “por aí”, partirmos à descoberta duma rota imaginária das barragens alentejanas.
Partirei logo que amanheça ao encontro dos meus companheiros de viagem Helder Carneiro e Joaquim Miguel, com quem me cruzarei lá para as bandas da Vidigueira em direcção às terras do grande lago, terras estas, que revisitarei depois de aí haver estado em 2006 por altura da viagem inaugural e comemorativa dos meus 50 anos de idade.
Nessa altura levava uma bicicleta que pesaria, depois de carregada de armas e bagagens, qualquer coisa como 30 Kilos; amanhã, levarei uma bicicleta bastante mais leve e como bagagem apenas o meu novo “zingarelho” de sobrevivência, onde não transporto mais que um equipamento suplente num dos alforges, e uma roupa de verão no outro minúsculo alforge (como poderão constatar na foto).
A grande dificuldade reside precisamente aí: saber como é que me vou desenrascar apenas com um kit de sobrevivência sem conspurcar o ambiente nem provocar vómitos mos meus companheiros de viagem. Tanto o Helder como o Joaquim também apenas levarão um kit idêntico.
De qualquer modo, esta é uma excelente oportunidade para circularmos em velocidade de turista, e vermos com olhos de ver tudo aquilo que nos rodeia, efectuando paragens com fartura para podermos fotografar, conhecer, provar ou mergulhar naquilo que de melhor nos for oferecido pelas pessoas e regiões que visitarmos neste périplo imaginário das barragens alentejanas.
Não tenho a menor ideia qual será o nosso percurso, isso, fará com que seja um excelente tónico para que os leitores do Pulanito ou do Xiclista passem num, ou nos dois blogues para que se possam inteirar das “mirambulancias” destes três “cotas” aventureiros do pedal.

PS1: Acompanha aqui a diário as crónicas, fotos e opiniões desta terceira expedição por terras e lagos da planície.
PS2: Comenta e divulga este blogue, de modo a que sejam cada vez mais os que se abastecem de novidades aqui no estaminé do Pulanito.

Etiquetas: Alqueva, alvito, barragens alentejanas, monte da rocha, odivelas, redondo, Santa Clara

Escrito por pulanito @ agosto 17, 2008   2 comentários

quarta-feira, agosto 13, 2008

Pulanito de Novo Na Estrada



Como em todos os Agostos recentes, neste, também não poderia de deixar de me fazer à estrada. Desta vez e em parte do percurso (ou quem sabe na totalidade) serei acompanhado pelos amigos Helder Carneiro e Joaquim Miguel.
Como sempre, partirei de Entradas em direcção ao entardecer e depois logo se verá até onde é que a vontade e as forças me levam.
Andaremos essencialmente pelo Alentejo, num itinerário imaginário que tem como nome “ percurso das barragens” que não faço a menor ideia qual será. Penso que serão coisas decididas na hora e que têm como influência o facto de o vento estar contra ou a favor. De haver em tal sitio uma determinada tasca com boa pinga e boa comida e com gente cá da nossa. Passará pela condição física de nós os três, sendo que o Carneiro acabou de me mandar uma mensagem dizendo que acabou de subir a Torre (Serra da Estrela) o que deixa adivinhar que deve estar numa forma invejável em contraponto com a minha que tenho exercitado aos solavancos.
Mas é deste improviso que eu gosto. Eu quero lá saber de organizações com horas e locais estipulados, eu quero é mesmo “correr mundo, correr pirigo” como diz o Chico Buarque.
Quero é encontrar gente, lugares e sabores que me enriqueçam como pessoa, que me surpreendam como humano e que me façam vibrar de emoção, afinal a grande razão desta epopeia anual, e pela qual anseio, como criança que espera o seu gelado favorito.
Aqui trarei, sempre que possível, o retrato de cada dia, para que os amigos que acompanham o Pulanito tenham a possibilidade de pelo menos mentalmente pedalarem connosco.
Conto convosco, com os vossos comentários e sugestões, de modo a podermos saber que desse lado há gente que nos acompanha.

Etiquetas: alentejo, Alqueva, campo maior, circuito das barragens, Santa Clara, xiclista

Escrito por pulanito @ agosto 13, 2008   2 comentários

sexta-feira, agosto 08, 2008

Notas soltas de Verão


Agosto é uma altura do ano em que a minha mente sofre mutações que tenho de refrear sob pena de quando os dias começarem a minguar, as noites a arrefecer e o entusiasmo a desvanecer, saia dele com algumas cicatrizes permanentes.
Tenho por esta altura do ano uma esmagadora necessidade de abalar (que é diferente de partir embora queira dizer a mesma coisa), de ir “por aí” à descoberta de mim, dos outros, de silêncios, de cheiros, recantos e sabores, e sobretudo de auroras e crepúsculos, que pelas bandas alentejanas (pelo menos para mim) possuem a magia do belo e sensorial.
Depois de descobrir a independência que a bicicleta oferece, saber que hoje estou aqui mas amanhã poderei estar noutra cidade, vila ou aldeia mais adiante, conhecendo outras gentes, outros hábitos, outras terras faz com que pense que o cigano que vive em mim seja violentamente despertado no mês de todos os calores.

Por esta altura do ano e provavelmente porque sofremos da mesma doença, andam pelas estradas do Alentejo outros tantos arautos da liberdade pedalante de cujos nobres objectivos sou signatário militante. Aqui deixo as minhas homenagens aos grandes Zé Lima e Rosa Carvalho que percorrem Portugal em veículos movidos á força braçal, já que são ambos paraplégicos. O Zé do Pedal, com largo destaque aqui no Pulanito é outro exemplo de quão insignificantes e comezinhas são as nossas proezas ciclistas, comparadas com as destes verdadeiros heróis do asfalto que fazem destas viagens verdadeiros exemplos de entrega, coragem e desprendimento.

De qualquer modo, e porque já está decidido, na próxima semana vou estar a pedalar com o Carneiro e o Joaquim Miguel por essas estradas do Alentejo tendo o roteiro das barragens como itinerário imaginário desta nossa viagem.
É claro que aqui trarei a diário ou quando tal me seja possível, as crónicas e os relatos do que nos for acontecendo ao longo das jornadas que ainda não começaram e já penso que são tremendamente curtas.

Às vezes sonho (às vezes não! Todos os dias sonho) que se me sair um prémio, ou se porventura acontecer algo que me traga alguma independência, juro que abandono tudo o que tenho e me dedicarei por inteiro a viajar em bicicleta por onde for. Não terei a veleidade de um Zé do Pedal, que é naturalmente de outro campeonato, mas penso que depois de vasculhar planícies, montes e vales de Portugal, poderia partir à descoberta de outras paragens.

Acabei de falar ao telefone com o Zé do Pedal que me disse passar amanhã por Entradas, assim sendo, lá estarei para lhe oferecer abrigo nas horas em que o sol castiga mais, não sem antes repartirmos um almoço e beber de viva voz e ouvidos bem abertos a experiência de vida que este companheiro quererá comigo partilhar.

E pronto aqui ficam umas notas soltas, resultado do pensamento de quem não vê chegada a hora de abalar estrada fora, ouvindo apenas o imenso silêncio da terra plana e o zunido da corrente galgando os dentes da cremalheira numa infindável viagem à volta dos carretos.

Etiquetas: alentejo, Alqueva, entradas, Santa Clara, zé do pedal, Zé Lima

Escrito por pulanito @ agosto 08, 2008   3 comentários

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