O Elogio da Mine - Reeditado
Ora aqui está o melhor elogio que se pode fazer a uma "mine" - Tatuá-la na pele, como se fizesse parte de mim.
A “mine” está para os Alentejanos como a sua homónima está para o Rato Mickey. São dois indefectíveis casos de avassaladora paixão!
A “mine” é o motivo porque nos reunimos. É um excelente desbloqueador de conversa, acompanhando mesmo qualquer uma, e à medida que as “vieiras” se vão juntando e as grades esvaziando, adensa-se o sururu e o paleio sai mais fluente.
A “mine” é, por esse Alentejo fora, a rainha das cervejas nas ancestrais tabernas que garbosamente se recusam a aderir ao modismo imperialista.
Acompanhada de rigorosa meia dúzia de alcagoitas, derramadas ao acaso no tampo de fórmica da taberna do Cagaita em São Marcos da Ataboeira, do Zé da Conceição nos Geraldos ou da Cavalariça em Entradas, bebê-la não passa de um acto repetido vezes sem conta mas, para nós, é como se fosse homenagem à nossa maneira de estar no mundo, como que um regressar a casa, olhar em volta, e dizer para si: «Sou daqui!»
A “mine” é uma instituição regional candidata a património da diáspora alentejana. É estandarte simbólico dum povo que se celebra entremeando o cante com rodadas de vivas lourinhas, que por ser objecto de culto e identidade, até já poderia ter sido eternizada em forma de monumento numa qualquer rotunda da pátria Alentejana.
Uma “mine” ao lado do coração acompanha a “moda” com mais sentimento, especialmente se já for para lá da décima.
Uma “mine” ao peito em “balhos” de Verão, é sinal evidente de que os mancebos estão mais interessados neste fresquíssimo romance, do que em aquecer o corpo em rodopios nos braços de qualquer moçoila dançarina.
Os seus vinte centilitros são a dose certa. Há quem a beba de um só gole inundando, de uma vez só, todo um império de sentidos. Outros ainda preferem-na aos solvinhos, intermediadas de tremoço ou alcagoita; dizem os entendidos que é a combinação perfeita!
É motivo de aposta, serve de pino em jogo da falha, é prémio para vencido e vencedor, é pífaro de pastor, jarra para única flor e para qualquer outra coisa que o valha.
A “mine” acompanha-nos em tudo e para todo o lado, normalmente em forma de grade, porque a dose individual mal dá para os preliminares. É vê-la em casamentos, feiras e baptizados. Nas matanças, festanças e outras andanças, até em funerais e outros rituais. Apazigua a dor e o mais que for, faz-nos rir e até carpir. É cura para muitas maleitas, desculpa para outras receitas, razão para comemorar, difícil para conduzir em vias estreitas e, sem querer, faz-nos rimar.
1 Comments:
Caro Napoleão
Faz uns tempos que nao passava por aqui,computador avariado,falta de vontade tambem,não sei se é dos dias serem pequenos mas tenho andado um pouco vadio.
Fico contente, pois verifico que continuas a deliciar-nos com as tuas palavras. o gosto pela escrita continua aceso,.
Um abraço
jmatos
Enviar um comentário
<< Home