Uma Espera Desesperante
Estou num bafiento departamento de finanças em Chelas, Lisboa, mesmo por baixo do prédio onde vivi durante muitos anos e onde ainda mora o meu filho Samuel.
O ambiente é deprimente a fazer lembrar um velório onde os acompanhantes do féretro têm eles mais caras de moribundos que o imaginário defunto.
Estou aqui há duas horas à espera de efectuar uma entrega de documentação que não demorará mais de dez segundos a satisfazer, mas regras são regras, e vá de estoicamente aguentar até à exaustão.
Penso no processo que aqui me trouxe e receio que este seja apenas o inicio de um longo calvário burocrático para o qual não tenho jeito nem paciência.
O ambiente é deprimente a fazer lembrar um velório onde os acompanhantes do féretro têm eles mais caras de moribundos que o imaginário defunto.
Estou aqui há duas horas à espera de efectuar uma entrega de documentação que não demorará mais de dez segundos a satisfazer, mas regras são regras, e vá de estoicamente aguentar até à exaustão.
Penso no processo que aqui me trouxe e receio que este seja apenas o inicio de um longo calvário burocrático para o qual não tenho jeito nem paciência.
À minha volta dezenas de cidadãos resignados esperam a sua vez com ar de quem se dirige para o cadafalso, exceptuando uma senhora de provecta idade, que insiste em revelar à amiga que encontrou, e a toda a plateia, as suas últimas andanças pelo mundo, incluindo uma viagem a Roma com pormenores, custos, itinerários e demais minudências que a ninguém interessavam, nem sequer á pobre que não sabia como se livrar daquela praga em forma de gente que teimava em obstruir-lhe o caminho e torrar-lhe a paciência.
De quando em vez, o apito electrónico a imitar uma campainha de casa obrigava toda a gente voltar-se para o quadro electrónico e consultar o papelinho em forma de boomerang onde o número mágico da vez de cada um está inscrito.
Há um murmúrio de sofrimento no olhar desta gente. Há um prenúncio de multa em cada papel entregue. Há uma interminável sensação de automatismo robotizado na cara de quem nos atende.
Ao meu lado (e talvez usando o mesmo truque que eu) uma jovem debita incessantes SMS’s, provavelmente copiando o que escrevo, até porque tenho a sensação que deita o olho ao meu caderno e invade a minha privacidade, coisa de que até nem me importo e transformo num jogo mental para me entreter, pena que não consiga ler o que escreve no ecrã do seu PDA, mas aposto que fala de mim, ou pelo menos assim o desejo, segundo o meu lado mais narcisista.
Nisto uma cigana de negro trajada da cabeças aos pés, incluindo sapatos, não liga nada a esta vaga de gente que ordeiramente aguarda a sua vez, qual gado que espera no redil a sua vez de entrar no prisco para ser vacinado ou mesmo marcado.
Entra e pergunta – Oiça lá, ondi é que se faz o Ierreessi?
Um insensível funcionário sem qualquer expressão no rosto responde-lhe: - Tem que tirar a sua senha e aguardar a sua vez.
:- Quali?- Pergunta a cigana.
:- A amarela…no seu caso
:- Esta genti está toda aqui à espera de ser atendida? – questiona de novo a representante da raça cale.
:- Claro. Acha que estamos aqui p’ró cafezinho!!. Remata um insatisfeito cliente do Teixeira (dono deste tipo de estabelecimentos, onde o pessoal paga e não bufa), e que pelos vistos, só de ver um cigano já o dia lhe corre mal, quanto mais conviver com ele no mesmo espaço.
Começam a ser audíveis os sinais de insatisfação dos utentes.
Levanta-se uma voz feminina que não consigo identificar.
:- Não há direito. Está uma pessoa Há duas horas a secar e ainda por cima para pagar, ainda se fosse para receber. Interiormente concordo em absoluto com o comentário.
De repente o velório transformou-se num mercado onde toda a gente desatou a botar faladura. Uns com razão outros não, mas a vozearia invadiu o espaço e lá apareceu mais um funcionário que fez toda a diferença.
Sou o 47, vai no 45, portanto estou quase a poder sentar-me à frente desse gélido humano que pressinto me irá dizer que a documentação que pretendo entregar não está em conformidade.
Ok. Lá vou eu….
De quando em vez, o apito electrónico a imitar uma campainha de casa obrigava toda a gente voltar-se para o quadro electrónico e consultar o papelinho em forma de boomerang onde o número mágico da vez de cada um está inscrito.
Há um murmúrio de sofrimento no olhar desta gente. Há um prenúncio de multa em cada papel entregue. Há uma interminável sensação de automatismo robotizado na cara de quem nos atende.
Ao meu lado (e talvez usando o mesmo truque que eu) uma jovem debita incessantes SMS’s, provavelmente copiando o que escrevo, até porque tenho a sensação que deita o olho ao meu caderno e invade a minha privacidade, coisa de que até nem me importo e transformo num jogo mental para me entreter, pena que não consiga ler o que escreve no ecrã do seu PDA, mas aposto que fala de mim, ou pelo menos assim o desejo, segundo o meu lado mais narcisista.
Nisto uma cigana de negro trajada da cabeças aos pés, incluindo sapatos, não liga nada a esta vaga de gente que ordeiramente aguarda a sua vez, qual gado que espera no redil a sua vez de entrar no prisco para ser vacinado ou mesmo marcado.
Entra e pergunta – Oiça lá, ondi é que se faz o Ierreessi?
Um insensível funcionário sem qualquer expressão no rosto responde-lhe: - Tem que tirar a sua senha e aguardar a sua vez.
:- Quali?- Pergunta a cigana.
:- A amarela…no seu caso
:- Esta genti está toda aqui à espera de ser atendida? – questiona de novo a representante da raça cale.
:- Claro. Acha que estamos aqui p’ró cafezinho!!. Remata um insatisfeito cliente do Teixeira (dono deste tipo de estabelecimentos, onde o pessoal paga e não bufa), e que pelos vistos, só de ver um cigano já o dia lhe corre mal, quanto mais conviver com ele no mesmo espaço.
Começam a ser audíveis os sinais de insatisfação dos utentes.
Levanta-se uma voz feminina que não consigo identificar.
:- Não há direito. Está uma pessoa Há duas horas a secar e ainda por cima para pagar, ainda se fosse para receber. Interiormente concordo em absoluto com o comentário.
De repente o velório transformou-se num mercado onde toda a gente desatou a botar faladura. Uns com razão outros não, mas a vozearia invadiu o espaço e lá apareceu mais um funcionário que fez toda a diferença.
Sou o 47, vai no 45, portanto estou quase a poder sentar-me à frente desse gélido humano que pressinto me irá dizer que a documentação que pretendo entregar não está em conformidade.
Ok. Lá vou eu….
De regresso, só para vos dizer que me diverti com esta espera e que afinal a senhora que me atendeu era simpática, aceitou-me a documentação e tudo correu na perfeição.
Eu ás vezes faço uns filmes!!!
2 Comments:
Ehpá, continua lá mais um bocadinho a congeminar com a contribuinte do PDA...e nãtaralis ca cigana...AI!Isso é o simplex NAP.
ups!
és um fiteiro, és...
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