quarta-feira, janeiro 30, 2008

Apresento-vos o verdadeiro Pulanito!

Cá está o Pulanito

Chegou hoje lá a casa esta minúscula criatura. Tudo o que é pequeno é bonito, até mesmo os hipopótamos bebés. Como dizia um amigo meu!
Com a morte do meu saudoso Dimitri, que por esta altura corre sem parar lá pelas eternas pradarias onde um dia todos nos voltaremos a reencontrar, ficámos todos a sentir a falta deste companheiro dos últimos dez anos. Por via do desaparecimento do Dimitri a nosso cadela Luna andava muito entristecida e até sorumbática.
Ontem por intermédio de uma companheira de almoço a Graça, falou-me da existência de um cãozinho com mês e meio que tinha nascido duma ninhada de oito, sendo este o último cão que o dono tinha para ofertar.
Catarina e Pulanito

Esta manhã lá fui a casa da Ana e do Zé Laginha, que me fizeram prometer que o iria tratar bem o “ malandro”, nome com que entretanto tinha sido baptizado.
Para a tarefa do rebaptizo, foi unanimemente considerado ( por mim e minha filha Catarina) o nome de Pulanito.
Portanto serve este post para apresentar o mais recente membro da nossa família, o Pulanito.

PS: Não sei de que raça é o bicho, só sei que o pai é um Husky e mãe uma rafeira, o que resultou nesta bola de pelo com um olho azul outro castanho que agora vos apresento.

Escrito por pulanito @ janeiro 30, 2008   6 comentários

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Entrudanças 2008


Nos dias 2,3 e 4 de Fevereiro, Entradas volta a estar repleta de gente jovem e bonita que virá animar a vila por ocasião da 7ª edição do festival Entrudanças.

Quanto ao festival já aqui botei faladura noutro post por esta altura no ano passado e que poderá ser consultado em Fevereiro de 2007 no post Entradanças & Entrudanças. O que agora me apraz dizer; é que é para nós uma honra ver Entradas pejada de gente jovem, de sorriso fácil e de esmerada educação. Sejam por isso muito bem vindos!

Vou fazer os impossíveis por lá estar nem que seja só por um dia, mas por minha vontade e se puder fico lá os 3 dias da festança.

Estão por isso todos os leitores convidados a passar por Entradas nestes dias de Carnaval e assistir a este evento impar que já tem lugar marcado na Vila de Entradas, por alturas do Entrudo.

Aqui fica o programa para os interessados.

Faça a si mesmo um favor…..apareça!

Programa parcial

Sábado, 02 Fevereiro


15H00: Danças Europeias - Matias
15H00: Danças Africanas - Petchu
17H00: Danças Italianas - Monica Savá
17H30: Cante Alentejano - Vozes de Casével

23H00: Baile - Trio Lam (frança)

Domingo, 03 Fevereiro

11H30: Danças Europeias - Matias
15H00: Valsas Mandadas
15H00: Danças do Brasil - Erica e Pablo
17H00: Danças Africanas - Petchu
17H00: Danças Italianas - Monica Savá

22H00: Baile - Tanira
23H00: Baile - Trio Lam (frança)

Segunda, 04 Fevereiro

11H30: Valsas Mandadas
11H30: Danças Africanas - Petchu
15H00: Danças do Brasil - Erica e Pablo
15H00: Danças de Carnaval - Monica Savá
17H00: Danças Europeias - Matias
17H00: Pauliteiros de Miranda

22H00: Baile - Banda Forrozada
23H30: Baile - Galandum Galundaina

Escrito por pulanito @ janeiro 25, 2008   9 comentários

terça-feira, janeiro 22, 2008

O Interminável Banho Alentejano

Numa notícia tipo “fait divers”, leio que os Alentejanos são os que demoram mais tempo a tomar banho!
Não sei se a notícia seria notícia, caso este pódio recaísse sobre um Beirão, Minhoto ou mesmo sobre um Transmontano.
Não sei se a notícia é um elogio, ou a tradicional pacovinisse que os não alentejanos têm em relação à nossa maneira de tratar o tempo; ou seja: com tempo!
Mas o autor da notícia esqueceu-se de um pormenor de vital importância!
Os Alentejanos não “tomam” banho; os Alentejanos “dão” banho. “Tomar” é coisa para Martinis e xarengas dessas ao Domingo de manhã depois do dito,”dado”!
Tomar banho é assim uma coisa de “fastbath”, uma espécie de hambúrguer ou cachorro mas molhado. Coisa de urbano que substitui a famosa lavagem à gato, por outra do mesmo teor mas de corpo inteiro.
Por cá, damos ao corpo um tempo de prazer e luxúria, coisa que fazemos “dempelão” como por aqui se diz, ou seja: em nu integral.
Podem acusar os alentejanos de muita coisa, mas de falta de higiene é que não. Ao entrarmos numa terra, numa rua, numa casa, sentimos que a higiene e a limpeza são coisas que por aqui se levam e lavam a peito. Tão a peito, que muita gente varre, esfrega, lava e chega ao ponto de caiar o chão que todos pisamos, podendo-se em muitos casos beijar o imaculado branco das pedras da calçada.
Diz-nos Leonor Pinhão no seu bilhete postal do Correio da manhã: Os Alentejanos são os portugueses que demoram mais tempo a tomar banho. Não pensem que é por indolência. É estilo, é categoria.
Também acho!

Escrito por pulanito @ janeiro 22, 2008   3 comentários

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Ginginha do Rossio

Sempre que vou a Lisboa, tenho de fazer o itinerário da Baixa, que passa por sair nos Restauradores, percorrer as Portas de Santo Antão, entrar na Casa do Alentejo, beber um Eduardino naquele insignificante estabelecimento, engraxar os sapatos no Largo de S. Domingos e terminar bebendo uma ginginha noutro ex-libris da cidade, por toda a gente conhecido como: a Ginginha do Rossio.
Da ultima vez que lá estive chovia, daí que este passeio que faço ao lisboeta que há em mim, teve de ser acelerado por via da chuva, por levar sapatos de camurça e por deparar (pela 1ª vez na minha vida) com a Ginginha do Rossio fechada.
Lembrei-me de imediato do estardalhaço que a ASAE fez aquando do fecho desta casa que foi noticia em todas as televisões, mas sempre pensei que já estaria aberta depois de cumpridas as exigências da brigada “fascistó-higienizante”, conforme lhes chamou Pacheco Pereira.
Numa breve pesquisa descubro a razão de tão inusitado fecho: falta de condições “higiosanitárias e técnicofuncionais”, ou seja: a razão principal prende-se com a falta de casa de banho.
Então um estabelecimento que está aberto há mais de 150 anos, onde não cabem mais do que quatro fregueses de cada vez. Que já só servia o fabuloso licor em copos de vidro a pedido, e dentro do minúsculo estabelecimento, tendo optado pelos copos de plástico conforme recomendação dos novos “beatos da virtude”, também tem que ter casa de banho, ou casas de banho, para homens, senhoras e deficientes.
Como é de todo impossível meter “o Rossio na Rua da Betesga” (nunca o ditado esteve tão próximo da sua fonte de inspiração) fecha-se um dos símbolos da cidade, presente em todos os guias turísticos de Lisboa e onde os incautos turistas se dirigem às centenas batendo com o nariz na porta e abrindo os olhos de espanto quando lhes é contada a razão do encerramento.

Acho que acima de qualquer lei, tem que imperar a lei do bom senso. Ou seja; em nome da lei não se pode cilindrar um país, normalizá-lo, higienizá-lo ou leofilizá-lo ao abrigo de uma qualquer norma interna ou comunitária. Para que estas medidas tenham efeito (qual espada de Demócles sobre a cabeça de quem vive de qualquer negócio) numerosas equipas de pequenos Pilatos à medida que dão ordens de fecho, levantam autos ou contra-ordenações, vão deixando atrás de si um rasto de miséria, multas e desemprego, mas, daí lavam as suas rechonchudas mãos, enquanto o Pôncio-Mor fuma brutas cigarrilhas em lugares proibidos, ao mesmo tempo que consulta o relatório diário das desgraças alheias.
Cada vez gosto mais dos meu canitos!!

Escrito por pulanito @ janeiro 16, 2008   5 comentários

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Mestre Elesiário partiu!

Mestre Elesiário no Inverno de 2006

Recebi há pouco um telefonema que me deixou verdadeiramente triste. O amigo e vizinho Mestre Elesiário (como sempre o tratei) havia-nos deixado para sempre. Não que fosse alguma coisa que os seus oitenta e tantos anos não adivinhassem poder vir a acontecer mais dia, menos dia.
Mas como fisicamente o sentia em boa forma para a idade que tinha, sempre pensei que o haveria de ver por alguns anos mais.
Agora já não lhe posso fazer as perguntas que havia planeado, e cujas respostas haveriam de enriquecer o trabalho que queria escrever e do qual seria protagonista.
Sendo assim, curvo-me perante a sua memória e revejo mentalmente aquela figura simpática a quem me dirigia primeiramente sempre que ia a Entradas e sempre que este estava sentado à sua porta.

Gosto muito de Entradas. Gosto do cheiro das coisas. Gosto das pessoas e das casas. Gosto do cheirinho a comida feita na lareira, que pela tardinha, assim ao anoitecer, empresta ao ar uma atmosfera que me obriga a recuar no tempo, e a viajar a outras latitudes temporais, que me trazem à lembrança um gosto raro de felicidade olfactiva.
Gosto desta coisa do antigamente. Gosto de conversar com os velhos, de beber no seu saber oral, ouvindo intermináveis histórias que às vezes me cheiram mais a inventadas do que vividas.
Duas portas abaixo da minha vive Mestre Elesiário, homem que já ultrapassou os oitenta anos, mas que continua a fintar a vida ocupando-a com tarefas a dizer o quanto ainda por cá é necessário.
Até há tempos, tinha uma pequena horta nas traseiras da sua casa, onde plantava, tratava e colhia praticamente de tudo. Para a regar fazia questão de fazer inúmeras viagens ao poço da vila, carregando em cada braço um jarro de água, tarefa que repetia até saciar a sede dos seus cultivos.
Bem, isto não teria nada de especial, se ele não tivesse uma torneira no seu quintal junto à pequena horta a que poderia ligar uma mangueira e regar o que tivesse que regar.
Mestre Elesiário era de facto único. Em dias de Verão, sentava-se à porta logo pela manhã . À medida que, pedra atrás de pedra, o sol ia engolindo a frondosa sombra matinal, Mestre Elesiário perfumava a Avenida com a sua límpida voz, entoando modas que abrilhantavam a paisagem envolvente.
Aos Sábados pela manhã, mal saía de casa, o meu olhar dirigia-se instintivamente para a sua porta, caso não estivesse, já estaria a sua cadeira a marcar a posição que haveria de durar até à hora de almoço.
Muitas vezes entabulávamos conversa. Perguntava-me se conhecia esta ou aquela moda. Perguntava-me ainda se sabia quem a havia criado. Como a resposta era geralmente negativa, apontava o dedo indicador no direcção do coração e sorrindo dizia-me que estava na presença do seu criador.
Parecia-me que Mestre Elesiário divagava um pedaço neste particular, mas francamente, que importância é que isso teria. Pela minha parte adorava estes devaneios do animador da Avenida.
Dizia-me que possuía uma colecção de vassouras. Penso mesmo que algumas delas voadoras, pois quando me contava a história da autoria das modas, sentia que ia montado numa delas e quando descia desatava a varrer aquilo que à frente lhe aparecia dentro dos limites do seu território, que era afinal o passeio em frente à sua casa, esse imenso espelho de pedra em que via e revia aquilo que mais ninguém enxergava.
Das vezes que naveguei no seu olhar, Mestre Elesiário dispensou-me o corcel dos sorrisos. Galgámos nuvens em formas de seara e cantámos à sombra dum monte imaginário com um coro de anjos vindos especialmente para a ocasião. Depois, regressámos pela tardinha, assim à hora do café com peixe frito cujo cheiro imperava na Avenida, ao mesmo tempo que o sol começava a dar tréguas população.
Soube agora que nos deixou. Aposto que andará por aí montado na sua vassoura especial, rodopiando em manobras de arrepiar ao mesmo tempo que inventa novas modas, para que um dia alguém volte a animar a Avenida.

Escrito por pulanito @ janeiro 11, 2008   2 comentários

domingo, janeiro 06, 2008

No "Natal" do Zé Manel

Talvez não tenha sido talhado para a rudeza da vida campestre. Pronto, tenho a vida que tenho e dela não me posso queixar, mas quando me é dado presenciar algumas dessas duras tarefas, fico sempre com uma ponta de inveja daqueles que conseguem arrancar da terra o sustento de cada dia.
Bem sei que nesta vida não se pode pensar em fins-de-semana, horários de expediente ou mesmo reivindicações laborais. Aqui trabalha-se ao ritmo das necessidades da terra e do gado, cada um com as suas especificidades.
No passado fim-de-semana lá fui parar à matança anual que primo Zé Manel de Albernôa fazia questão a que eu assistisse.

O produto da matança pendurado e á espera de ser transformado em excelentes presuntos, paio e linguiças.

Por razões imponderáveis só pude aparecer perto da hora de almoço, o que por um lado me poupou ao sanguinário ritual (que muitos dos meus leitores abominam), sendo que assim posso saltar por cima deste.
Ao almoço compareceram os amigos que ajudaram a despachar os seis barrascos que jaziam suspensos do tecto, e ainda os penduras (como eu) que só apareceram para dar ao dente.
Zé Manel é um pequeno agricultor que ama aquilo que faz, gostando de se ver reunido daqueles por quem tem amizade e consideração numa data e função que nas suas palavras são o seu Natal, isto para sublinhar a importância que atribui a este ritual.

Cantando a moda

Almoçámos moleja, cachola e muita carne grelhada obviamente regada a tinto da região na companhia de gente boa como é regra geral a gente alentejana.
Comemos, bebemos e cantámos até que a tarde começou a definhar. Estava na hora de parar as celebrações e prestar atenção a outros misters que não podem de todo esperar.
Montados na pá traseira do tractor seguimos para o campo com o propósito de ordenhar as cabras que Manel Vitorino acabava de encaminhar para a arramada.

Manel Vitorino - Um exemplo para todos nós.

Abro aqui um parêntesis para falar desta singular figura que é o Manel Vitorino. Conta com mais de oitenta anos, todos os dias do ano se levanta de madrugada para ir tratar das cabras que estão à sua responsabilidade. De balsa às costas e de guarda chuva pendurado no braço ainda o dia não clareou do outro lado do outeiro já ele se fez ao caminho à procura da melhor pastagem para o rebanho de modo a que o leite seja de excelente qualidade o que se irá reflectir na qualidade dos queijos aqui produzidos, que na minha avalizada opinião são simplesmente os melhores de todo o Alentejo.
Manel Vitorino, corre atrás do gado melhor que muitos jovens, bebe o seu copinho para acompanhar a refeição que trás na sua balsa e que come na companhia das suas cabras à sombra da árvore por ele eleita.
É um homem de raro sentido de humor. Quando a conversa derrapa para a brejeirice ainda se gaba dos seus atributos e façanhas o que é sempre motivo de chacota. Mas para quem corre da maneira que o vejo correr, também me é fácil acreditar nas proezas sexuais de que tanto se orgulha.
Em suma: este é um homem de corpo inteiro, a quem tiro o meu chapéu e me curvo à sua passagem, porque este pastor respeita e ama a natureza e os animais, e acima de tudo, vive em paz e harmonia na paisagem onde é a figura de destaque que fica entre o céu e a terra.

Alimentando os porcos - Bela foto, sim senhor!

Depois de alimentados os porcos sobreviventes, Zé Manel dá ainda de comer às dezenas de patos e galinhas antes de se entregar à tarefa que repete duas vezes por dia pelo menos nove meses por ano: a ordenha das suas setenta cabras.

Rui ordenhando

Com a ajuda do Rui, e doutro amigo fazem a ordenha da tarde enquanto Manel Vitorino ensina a cabra mãe a aceitar as duas crias que nasceram horas antes. Um quadro onde a palavra “ternura” é a melhor que encontro para ilustrar a paciência deste ancião que faz os impossíveis para que a “cabra da mãe” não rejeite os petizes cabritos, o que consegue ao cabo de algum tempo, coisa que o faz rejubilar de alegria.

Manel Vitorino - num quadro verdadeiramente ternurento.

No regresso, a cacimba que caiu todo o dia refresca-me a alma e as ideias e diz-me que devo convosco partilhar este dia de descoberta e harmonia.
Ao chegar-mos ao Monte, Zé Manel côa o leite das barricas e juntando-lhe a ordenha da manhã seguinte, Dora, sua mulher, há-de com mão hábeis dar forma sólida aquele néctar que resultará no melhor queijo de cabra que alguma vez provei.

Zé Manel Coando o leite

Este é também um trabalho minucioso e de grande responsabilidade. Dora e Zé Manel criaram todas as condições de trabalho e higiene de modo a produzirem um produto artesanal de elevada categoria.

Rita vendendo-me uma duzia de queijos em que sou viciado...

Se passarem por esta zona e quiserem experimentar o queijo da queijaria Santiago, só tem que perguntar na aldeia onde mora esta família, que toda a gente vos dirá.
Dos porcos que foram mortos resultarão também excelentes presuntos (ai o presunto!) e enchidos, mas estes são para consumo da casa ou para dispensarem a familiares e amigos, portanto nem sequer vale a pena tentar adquiri-los.

Cá está o Sásá - grande especialista em temperos de açorda e com pinta de d'artagnan - é o da pera.
Depois destas tarefas regressámos à mesa. Para desenjoar o porco comemos uma excelente açorda de bacalhau temperada pelo Sásá, renomado açordista de Albernôa que não gosta de deixar os seus créditos por mãos alheias.
Comeu-se, bebeu-se e cantou-se a moda até que a noite já fosse adulta, depois, cada um regressou à sua casa com a certeza de no próximo ano não perder de novo o famoso “Natal do Zé Manel”.

Escrito por pulanito @ janeiro 06, 2008   6 comentários

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Cuba - Quiero bailar la salsa!

Antes do Natal eu a Natália a as minhas filhas Catarina e Susana estivemos em Cuba para uma semana de merecido descanso.
Foi uma viagem a que logo disse sim, porque tinha esta exótica curiosidade de compartilhar o espaço que mais de onze milhões de cubanos ocupam sob um regime que está comprovadamente rejeitado por esse mundo fora e pela grande maioria desses mesmos onze milhões conforme tive oportunidade de constatar.
Passámos três dias em Havana e o restante tempo em Varadero, uma península paradisíaca mas demasiado organizada para o meu gosto. Os dias de Havana foram os meus preferidos. Assim sendo aqui vos deixo o primeiro post do ano em forma de foto-reportagem feita pela genial fotógrafa Catarina Mira de quem tenho a felicidade de ser seu pai.
E assim ao correr da pena debaixo de cada foto farei o comentário que me der na bolha ou veneta...vamos lá ver o que sai!
Ultimamente quando me proponho a estes desafios só tem saído bosta, portanto preparem-se para o pior. Uma mascarazita seria até o aconselhável. Como já me livrei de todas as responsabilidades cá vai disto que amanhã não há!



Plaza de la Revolución - Aqui os turistas papalvos (como eu) fazem fila para se fazer fotografar à frente do inventor do " Homem Novo" Ernesto Rafael Guevara de la Serna de seu nome. Che, para todos os corações gurrilheiros que um dia ousaram pensar mudar o mundo.
Este médico argentino que antes de dedicar a sua vida à utopia do " Homem Novo" de arma na mão, já havia percorrido a América Latina com o seu amigo Alberto Granado na sua Norton 600 e de cujo diário resultou um livro e posteriormente um excelente filme.
Resta-me dizer que Che foi, é, e será um dos ícones da minha existência.
Curiosamente na Cuba de hoje "vomita-se" Che em todo o lado. Posters, fotos, calendários, T-shirts, cadernos e em sei lá mais o quê está estampada a célebre foto de Korda, onde o Che qual Cristo guerrilheiro é apanhado num momento feliz pelo obturador deste afamado fotógrafo.
Aprendimos a quererte/Desde la historica altura/Donde el sol de tu bravura/Le puso cerco a la muerte/:Aqui se queda la clara/La entraniable transparencia/De tu querida presencia/Comandante Che Gevara canta-se em cada esquina, em cada bar, restaurante, praça ou palco. É Che Guevara a mais..penso eu de que!


Na ilha do crocodilo há música por todos os lados. Nas ruas, nas praças, ao virar duma esquina, à entrada de um bar, nos bairros populares, eu sei lá. Dei comigo por exemplo à procura dum restaurante que não tivesse música.
Curiosamente não encontramos músicos solitários (excepto o da foto abaixo). São sempre mini orquestras que debitam salsas e boleros caribeños com algum fervor revolucionário já muito destemperado.
De qualquer modo o que lhes falta em pão, sobra-lhes em música e bamboleo, e isso não é de todo censurável.

Este regime com todas as suas virtudes e defeitos não regateia esforços para que todos tenham acesso à educação, e isso nota-se.
Os cubanos são gente instruída e de entre essa instrução ressalta a componente musical. Em cada cubano há um músico. O da foto calculou mal o instrumento a estudar, já que tem que o carregar todos os dias por Havana fora para ganhar qualquer coisita que faça crescer o fraco pecúlio que o velho Fidel lhes concede....

Velho Osmar, bandeia-se na nossa direcção. Catarina quase que por impulso abre o obturador da máquina e dispara. O resultado desse mistico momento é a foto de um velho dançarino que se nos dirije de sorriso franco e hospitaleiro.
Na loucura que se permite aos velhos, rouba-me a mulher para dançar. Afirma-se professor de salsa- uno de los mejores del pays - nas suas palavras. Agora utiliza a sua arte para animar turistas e transeuntes, mas no fundo dos seus olhos cavados consigo vislumbrar a tragédia que se abate sobre este ancião, que a procura disfarçar num dos 102 passes dessa estonteante dança que dá pelo nome de salsa.

No fim pede uma moedinha....

Dou-lha, mas fico triste por ele..


Com o seu olho de lince a fotógrafa consegue isolar do resto este pedaço de beleza. A roupa estendida é uma constante que empresta a Havana um ambiente bairrista. De boa vizinhança. De raminho de salsa.
Os edíficios perderam o brilho. As gelosias pedem urgente intervenção, mas o porte colonial dos edificios em fase de pré ruina ainda lhes confere uma restea de dignidade.

Algumas ruas de Havana velha já se têm os seus edificios recuperados o que lhes permite sorrir de uma outra maneira. As casas de traça colonial ganharam de novo majestade. As ruas são agora um caleidoscópio de cores berrantes que casa na perfeição com a sensualidade do clima.
De repente até parece que "liberdade" poderia ser o nome duma destas ruas.

Em Havana os transportes públicos são um desafio à imaginação dos cubanos e um regalo para o olho de quem congela imagens para a posteridade.
Dos carros americanos tão falados já falaremos mais adiante, agora quero-vos falar destes dois meios de transporte: o bicitaxi e o coco taxi, dois excelentes exemplos do desenrascanço cubano.
Nos bicitaxis só podem andar cubanos (vá-se lá saber porquê), mas nos coco taxis já podemos sentar os nossos alvos e turisticos rabiosques.
Não andei em nenhum deles, mas achei que emprestavam à cidade um exotismo e alguma da cor que falta a esta Havana que parece ter sido recentemente bombardeada.


Havana tem este encanto, apesar de nela viverem dois milhões de cubanos e esta foto ter sido tirada no centro da cidade, tem esta capacidade de nos surpreender. Não sabemos se é um cenário de novela, se uma minuscula cidade de provincia num amanhecer domingueiro de um transportador multifunções ciclomobilizado.
Eu por mim gosto. E vocês?

Os cubanos são gente de cultura e ao contrário das nossas cidades onde os cafés são transformados em bancos (uma perversão da nossa sociedade, cá no meu humilde pensar) dedicam-nos a vários temas ou pessoas. No caso presente este é dedicado a Eça de Queiróz que para quem não sabe foi consúl neste país nos finais do século XIX. Aí podemos encontrar um painel de azulejo feito em Portugal com a figura da pai do hiper realismo português. Aquando da nossa passagem a orquestra residente, ou coisa que o valha, para ilustrar tão lusitano lugar tocava peças musicais portuguesas de renome internacional. Um docinho a 8000 km de distância. Touché!!

Aqui na Bodeguita del Medio, local de romaria a que Hemingway deu fama pelos seus "Mojitos" e que vive da feliz casualidade de ter tido como cliente esse mago das letras e prémio Nobel da literatura em 1954 que um dia disse: Na Bodeguita del Medio bebo o melhor Mojito, mas o melhor daiquiri é no El Floridito.
Esta frase é talvez o melhor slogan publicitário alguma vez feito a dois cocktails em simultâneo. Tanto que quem visita Havana é imprescindivel passar por estes dois miticos locais. Na Bodequita del Medio, podemos rabiscar nas paredes a prova da nossa passagem por tão eloquente lugar.

No El Froridito, à hora que ali chegámos ainda se podia saborear o tal daiquiri com o Heminguay, já que este se encontra imortalizado em forma de bronze ao fundo do balcão, assim à laia de Fernando Pessoa na Brasileira do Chiado, só que aqui é dentro de portas.
El Floridito é um tipico bar nocturno. Com a sua decoração anos 50, é um apelo à nostalgia e com o Heminguay à mão de semear, é mesmo de fazer mais um risco na coronha da pistola do viajante.

O único senão: os 6 pesos que pagámos por cada daiquiri....um insulto (ou será que é assalto?) às nossas carteiras, quando sabemos que o empregado que nos serve não ganha mais que o valor de um destes cocktails por semana.
Em Cuba somos penalizados capitalisticamente pelos comunistas. Um contrasenso!!!



O edificio grená é o El Floridito, mas não é dele que vos quero falar. Quero que prestem atenção ao edificio por trás onde moram dezenas de familias e onde o estado de degradação é perigosamente avassalador. Mas o mais curioso é que no cimo deste edíficio (se assim lhe posso chamar) cresce uma esplenderosa àrvore, cujas raízes descem pela empena do dito e se enterram na terra na busca insaciável do alimento necessitado.

É só uma curiosidade....mas que dá que pensar, lá isso dá.


Na minha opinião esta foto ilustra o estado da revolução cubana: velha e desavergonhada.


Esta imagem sugere aquilo com que todo o povo cubano sonha: Liberdade...mas o velho guerreiro de sierra maestra ainda não parece estar disposto a abdicar da sua grande máxima: Pátria o Muerte, Venceremos....e com ele vai arrastando para o abismo o sonho que um dia Huber, Camilo e Che ousaram sonhar.

Nos dias que passámos em Havana levantou-se um temporal vindo do mar que permitia este cenário dantesco. As ondas insurgiam-se contra o Malecón (passeio marginal de 7 Km) levantando a espuma das águas a várias dezenas de metros. Foi-me dito que foi num cenário muito semelhante que Luis Represas aquando duma visita a Cuba escreveu a canção " Neve Sobre a Marginal"

Os antigos carros americanos (todos anteriores a 1959) são o ex-libris da cidade capital. Alguns destes carros são mantidos irrepreensiveis, outro nem por isso, mas é um luxo aterrar numa cidade onde o trânsito parece ser um qualquer cenário de filme dessa época.

Depois habituamo-nos e parece que é normal, mas não é!!!

Só coloco esta foto de Varadero, porque na verdade não me parece um lugar com grande história. É um lugar igual a tantos outros que existem por essas caraíbas e pronto.

Só a ponho porque é a única foto onde estamos os quatro.

Divirtam-se, viagem e já agora....comentem!

Escrito por pulanito @ janeiro 03, 2008   18 comentários

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